Ontem e porque o dia foi diferente, decidi fazer mais um breve
interregno nas minhas "reportagens" de férias...
Fui a Miguel Bombrada onde decorreram as
Inaugurações Simultâneas
Havia imensa animação, muito em particular na Rua de Cedofeita.
Limitei-me
a passar. Não fiz a habitual visita às galerias, penso fazê-la com calma nos
próximos dias, pois tinha programado uma
tarde diferente, uma visita à casa Andresen.
Há
animais à solta na escuridão da Casa Andresen, a exposição Animais no Museu,
de Antonio Pérez Rodríguez
Fui com o meu filho mais velho e a família. Todos
gostámos, particularmente o meu neto Bernardo que só ficou triste porque “queria
mais...”
Outra razão que me levou à casa Andresen foi o "regresso
da poesia à Casa de Sophia”
Esta foi a segunda sessão organizada pelo grupo “Asas de
Poesia”. constituído por Carlos Andrade, David Cardoso, Libânia Madureira,
Manuela Barroso, Nuno Sá, Orlando Mesquita e Teresa Gonçalves. Do grupo
conhecia Carlos Andrade que tem participado em várias atividades levadas a cabo
pela Vivacidade e foi um dos animadores do grupo coral que ali foi criado, grupo
que integrei mas que infelizmente já não existe. Conhecia também Orlando
Mesquita que já não via há décadas. Foi professor de viola dos meus filhos a quem falei da sessão mas só o meu filho mais velho
teve disponibilidade para ir.
A sessão, com o título “É sempre poesia”, teve a
participação dos “diseurs” Alzira Santos, António Portela, Cristina Pessoa,
David Cardoso e dos músicos-compositores Carlos Andrade e Orlando Mesquita,
acima referidos. Foram ditos poemas de José Régio, David Mourão Ferreira e de
elementos do grupo “Asas de Poesia”.
Numa
das suas intervenções Carlos Andrade tocou e cantou “Só assim será poema” de Hélia
Correia, musicado por José Jorge Letria.
O
refrão foi acompanhado por vários elementos do público, nos quais me incluí.
Foi
um momento bonito mas também triste porque os ideais de Abril há muito "murcharam” como
tão bem cantou Chico Buarque
( em tempos bem menos difíceis que os de agora...)
Mas
voltemos ao poema de Hélia Coreia. Aqui fica a letra. Tentei encontrar na NET
uma versão cantada. Eis a única que consegui
Que o poema tenha carne
ossos vísceras destino
que seja pedra e alarme
ou mãos sujas de menino.
Que
venha corpo e amante
e de amante seja irmão
que seja urgente e instante
como um instante de pão.
Só
assim será poema
só assim terá razão
só assim te vale a pena
passá-lo de mão em mão.
Que
seja rua ou ternura
tempestade ou manhã clara
seja arado e aventura
fábrica terra e seara.
Que
traga rugas e vinho
berços máquinas luar
que faça um barco de pinho
e deite as armas ao mar.
Só
assim será poema
só assim terá razão
só assim te vale a pena
passá-lo de mão em mão.
Deixo
também um dos poemas de David Mourão Ferreira que ali foi dito, um soneto que é um dos poemas seus de que mais gosto
E por vezes as noites duram
meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes
encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes
ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos
E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se envolam tantos anos.
Por acaso tencionava ir a Cedofeita pois sabia que ia haver livros e cantorias nessas bandas e gosto muito da rua, bem mais do que Migue Bombarda, que nunca gostei muito, é feia, suja e com pouca luz. Das outras vezes que fui não achei as expos nada de especial e fiquei frustrada, acho que aquilo é meramente para os amigos se encontrarem e beberem um copo, não vejo grande encanto naquelas lojas e galerias.
ResponderEliminarQuanto à Casa Andersen, há meses que os bichos nos acompanham, os meus netos e filhos já lá foram mais duma vez, dado que fica mesmo aqui. A Luisa foi à noite e adorou. Tb quero ir à noite, pois acho a casa um espanto, só tenho pena que não haja onde sentar e eu não consiga estar de pé mais do que dez minutos...:)
Morar, como tua moras, em frente à casa Andresen é um privilégio...
ResponderEliminarBjs
Regina
"Já murcharam a tua Festa, pá!
EliminarMas certamente esqueceram uma semente
Nalgum canto do jardim".
E essa semente há de florir.
Quanto ao poema musicado por J,J.Letria, era uma das canções muito ouvidas na altura do nosso glorioso 25 de ABRIL.
O poema do David Mourão Ferreira, que eu admirava muito, é lindo e dolorosamente verdadeiro.
Isto tudo para dizer que o seu sábado foi muito lindo.
Um beijo, Regina.
Obrigada Graciete
ResponderEliminarBjs
Regina