Bem-vindo, bienvenido, bienvenu, benvenuto, welcome....


Silêncio cósmico

Pudera eu regressar ao silêncio infinito,

ao cosmos de onde vim.

No espaço interestelar, vazio, negro, frio,

havia de soltar um grito bem profundo

e assim exorcizar todas as dores do mundo.

Regina Gouveia

NOVO BLOGUE

Retomei o blogue que já não usava há anos.

https://reflexoeseinterferncias.blogspot.com/

Dedico-o essencialmente aos mais novos mas todos serão bem vindos, muito em particular pais, avós, encarregados de educação, educadores ...


quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Nós e o Universo

Gosto de receber e gosto ainda mais de oferecer. As prendas e ofertas preferidas são livros.
 Nós e o Universo é o título de um livro que dei ao meu filho mais velho quando fez 8 anos. Um dia em que estava a ler um texto sobre a translação da Terra, pergunta-me:
Mãe, nós só não damos por isso porque também andamos com a Terra, não é? Se andássemos mais depressa ou mais devagar apercebiamo-nos.


Achei muito curiosa a observação tanto mais que, sendo professora de Física, encontrei alguns alunos que sentiam dificuldade em perceber isso.  De facto, desde que comecei a escrever esta mensagem, há cerca de 5 min, já percorri ( já percorremos...), sem nos apercebermos, nada mais, nada menos 9.000km (300sx 30km/s)...
E recordo um excerto do poema para Galileu de A. de Gedeão

(...)Ai Galileo!
Mal sabem os teus doutos juízes, grandes senhores deste pequeno mundo
que assim mesmo, empertigados nos seus cadeirões de braços,
andavam a correr e a rolar pelos espaços
à razão de trinta quilómetros por segundo.

Tu é que sabias, Galileo Galilei.(...)

Tudo isto vem a propósito da minha visita ao Sol dos pequeninos a que referi há dias. No respectivo site já podem ser vistas algumas fotos. Basta clicar em actividades


E a propósito do Universo há pouco tempo foi divulgado que foram detectados os primeiros neutrinos  de altíssima energia vindos de fora do sistema solar

Após quase meio século de tentativas, uma colaboração científica internacional detectou pela primeira vez, graças a um “telescópio” construído nas profundezas de um glaciar na Antárctida, 28 neutrinos de altíssima energia vindos de fora do nosso sistema solar. Os resultados desta façanha científica – e técnica – são publicados na revista Science com data desta sexta-feira.


Termino com Júpiter, da obra Os Planetas de Holst.  Sendo uma obra de inspiração astrológica não tem nenhum trecho dedicado à terra

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Nem no farelo....

Eis a crónica de Carlos Fiolhais de hohe in de Rerum  Natura

O Estado português está quase falido. Um bom indicador da proximidade da falência é a falta de papel nos serviços públicos. Neste final do ano, já não há papel nas universidades e nas repartições de impostos, e só restam algumas folhas nas esquadras de polícia.

Eu sabia que, nas instituições de ensino superior, há já alguns meses que o papel estava em racionamento, em face do drástico aperto orçamental. Agora acabou. Os cursos e projectos que eram de papel e lápis passaram a ser só de lápis, aproveitando-se as costas do papel usado. O pior é que a maior parte dos cursos e projectos exigem experiências laboratoriais. O ministro da Educação e Ciência, um renomado matemático, não sentirá porventura com suficiente acuidade as necessidades dos químicos, que além de papel e lápis precisam de vidros e reagentes, pelo que foi bastante oportuna a reacção dos reitores, em nome dos docentes e investigadores.

Recentemente, numa Repartição de Finanças onde fui cumprir uma obrigação fiscal, fiquei a saber que lá também já não há papel. Quiseram não só ver o meu cartão de cidadão, um costume muito português, como também ficar com fotocópia dele, um outro costume muito nosso. Não sei por que razão os serviços do Estado querem, repetidamente, cópia de informação que, algures, lá têm e poderiam obter facilmente se acaso falassem uns com os outros. Mas, habituado que estou a passar o cartão a funcionários do Estado, autorizei o que estava à minha frente a fazer a respectiva cópia. Fiquei, porém, surpreso quando ouvi que eu é que tinha de entregar a cópia. Como contribuinte empenhado numa solução rápida, prontifiquei-me a ajudar do outro lado do balcão. Mas não, ali ninguém, nem eles nem eu, podia fotocopiar. Porquê? Porque, disseram-me, não havia papel. Ao faltar nos cofres o papel-moeda, estava a faltar nos serviços a moeda para o papel. Só então me apercebi das verdadeiras proporções da crise: As Finanças, que sempre tinham tido montes de papel, agora nem uma resma têm. Eu, que não tinha comigo nenhuma folha, ofereci-me, condoído, para ir buscar algum papel a minha casa (estaria a casa de banho deles também carente e não seria melhor trazer um rolo?). Não, não queriam o meu papel. O meu papel seria ir ao quiosque da esquina pedir uma fotocópia. Queriam de mim um contributo, ainda que modesto, ao comércio local. Estava perante uma parceria público-privada.

Foi nessa altura que me surgiu, num clique, uma saída para a falta de papel nas Finanças. Simples, muito simples. As Finanças cobrariam as fotocópias aos contribuintes que ousassem aparecer com os documentos mas sem as cópias na mão. Como nas Finanças um cidadão deixa o couro e o cabelo, pagar uma mera folha A4 não seria para ele significativo. Todos juntos pagaríamos a resma. Mas não, assim como não aceitaram o meu papel, também não quiseram saber do meu simplex. Uma vez que a negativa foi de um funcionário, que não funciona por míngua de papel, pode ser que que a ministra de Estado e das Finanças aceite o pagamento das fotocópias como uma ajuda ao Estado depauperado. O Ministério das Finanças poderia até lançar um imposto do papel. Quer papel? Paga! As florestas agradeceriam.

Estou, claro, a partir do princípio de que as Finanças, viciadas como estão em papel, não podem passar sem ele. Mas o facto é que podem, se fizerem um conveniente desmame. Hoje em dia há scanners e computadores baratos que podem fazer e guardar uma cópia de qualquer documento, prescindindo por completo do papel. Na Repartição podiam ter digitalizado o meu cartão e guardado os bits bem guardadinhos. Receio, contudo, que o nosso Estado continue a andar aos papéis, sendo moderno só na aparência. É certo que a Direcção-Geral dos Impostos envia cartas intimidativas pela Internet, mas não é menos certo que elas seguem amiúde para o destino errado. Há dias recebi um emailoficial ameaçando-me por não ter feito a declaração do IRS, quando eu a tinha apresentado no prazo. Não perderam o papel, porque a declaração tinha sido electrónica, mas devem ter perdido os bits. Sugiro que, através do Ministério dos Negócios Estrangeiros, os peçam à NSA norte-americana, que controla a circulação electrónica mundial.

Apesar do desgoverno, a falência do Estado ainda não está consumada. Pouco depois do episódio das Finanças tive que ir à polícia apresentar um documento que não encontrei no porta-luvas do carro durante uma operação stop. O meu cartão de cidadão foi novamente solicitado para a inevitável fotocópia (a milésima cópia que o Estado fazia dele) e, aleluia, naquele lugar, havia fotocópias SCUT, sem custos para o utilizador. Em Portugal, os polícias aindam podem fazer coisas que os professores universitários e os trabalhadores fiscais não conseguem. O Dr. Miguel Macedo ainda tem o papel que falta ao Doutor Crato e à Doutora Albuquerque.


Este e outros  comportamentos, nomeadamente de organismos do estado, lembram-me o aforismo: poupar no farelo para esbanjar na farinha. É que nem no farelo...
O caso  do papel é paradigmático basta ver, por exemplo, o contributo do ME ao exigir relatórios e mais relatórios, fichas e mais fichas, etc. Mas há muito mais. Muitos dos aparelhos de ar condicionado de organismos público e não só, estão de tal modo mal regulados que ao entrar nos mesmos se treme de frio no verão e se transpira no inverno(infelizmente não é um fenómeno apenas português).
Nas casas de banho, as torneiras “automáticas” estão genericamente mal reguladas. Nalgumas já tenho feito a experiência de lavar as mãos dos meus quatro netos, as minhas,  e após as cinco lavagens a água continuar ainda a correr.
Quanto não poderiam poupar estado e cidadãos se fizessem um uso racional de bens essenciais? Mas é mais fácil decretar reduções de salários(ALGUNS) e pensões(ALGUMAS), aumento de impostos, etc, etc

Sempre que falo no uso racional da água não resisto a referir este vídeo

Termino com alguns poemas meus de um projecto ainda não publicado  Requiem pela água e com imagens do Rio da Prata
I
Docemente a chuva foi caindo
cobrindo a terra mãe ressequida, exangue.
Da cópula gerou-se nova vida e eis campos verdejantes,
searas ondulantes e amoras rubras de sumo cor de sangue.
II
Era o riso cristalino das crianças que se confundia com o correr da água no regato, 
era a gota de orvalho sobre a rosa
qual pérola que a ostra protege,mãe ciosa,
era, nas gotas de chuva, a luz refractada
a desdobrar-se num arco-íris imenso
como que a segurar o céu cinzento e denso.
III
Deixou de cair a chuva benfazeja
não por vingança, apenas por cansaço,
e o deserto vai avançando passo a passo.
Suplicante o olhar perdido da criança,
que passa fome e sede sem entender porquê.
Vazio o olhar do velho sem esperança 
que não implora mais, pois já não crê.
IV
A água cantava na fonte onde corria, outrora.
O cantar, o correr eram seu mister.
Agora deixou de correr. Não corre nem canta, só chora .






terça-feira, 26 de novembro de 2013

Sol dos pequeninos


Sol dos pequeninos é Creche e Jardim de Infância em Miramar quase em frente ao Senhor da Pedra.
Há cerca de 15 dias recebi um e-mail da Diana que fazia parte de um  “duo” de teatro que esteve associado à Editora 7dias6noites e encenou várias vezes, de uma forma muito interessante, a minha obra Breve História da Química, editada pela referida editora.
No e-mail a Diana referia que estava a trabalhar  no Sol dos pequeninos e que, em conversa com uma professora, esta lhe terá dito que gostava muito de contactar uma autora que em tempos e na BMAG (Biblioteca Municipal Almeida Garrett) tinha visto interatuar com crianças, interligando ciência e poesia. A Diana associou de imediato a autora à minha pessoa (o mundo é pequeno...). Foi assim que fui contactada pela Adriana, uma educadora brasileira que me lembro de ter conhecido na BMAG  e que trabalha de uma forma muito interessante com as crianças.
Na passada quinta-feira, dia 21, a Adriana, juntamente com a Diretora da Escola, vieram buscar-me para, a propósito do sistema solar,  estar com as crianças dos 2 aos 5 anos.
Ao chegar esperavam-me a Diana e o Nuno, com quem ela contracenava no teatro.
Antes da sessão fui  visitar a escola e fui esclarecida quanto ao seu projeto, muito interessante
Com as crianças li textos e excertos de Ciência para meninos em poemas pequeninos e Pelo Sistema solar vamos todos viajar, textos que complementei com algumas experiências.
Entre as crianças mais crescidas algumas participaram muito ativamente. Os mais pequeninos reagiram bem essencialmente às experiências.

No fim, os meninos dos 2 aos 4 anos saíram e ficaram apenas os de 5 anos. A dada altura  entrou uma educadora com um cesto cheio de canudos de papel, contando uma história relacionada com o espaço  e incumbiu-me de entregar um canudo a cada menino. Tratava-se de um jogo, sobre o sistema solar, construído pelas educadoras e que deveria ser "resolvido" pelas crianças em interacção com os mais velhos(pais, irmãos, etc).
 






sábado, 23 de novembro de 2013

Os Cratos


Recebi há dias um e-mail cujo conteúdo era o que segue


Não vou falar do Crato Prior mas de Crato, o Pior, e de um outro Crato que eu conheci, não pessoalmente, mas através de algumas das suas publicações, o Nuno Crato investigador e professor de matemática , autor de uma vasta obra de divulgação científica  que acerca de Rómulo de Carvalho, seu professor, refere:


 In Crato. N (org), 2006,  Ser Professor. Antologia de textos de pedagogia e Didática, Gradiva .

Ora a política de Crato, o Pior, nada tem a ver com o que o texto acima defende. Os professores hoje não podem preparar cuidadosamente as aulas nem treinar as experiências.
Seguindo as pegadas de Maria de Lurdes Rodrigues, que até há bem pouco tempo considerava como o(a ) pior ministro(a) da educação que conheci na minha longa carreira de professora,  Crato, o Pior não está preocupado com a qualidade das lições nem com o bom funcionamento das experiências; grande parte do  tempo dos professores  é empregue em reuniões genericamente estéreis, no preenchimento de  relatórios e fichas na sua esmagadora maioria totalmente inúteis.

(...)Para que os professores mais velhos, os únicos ainda com memória, não dêem conta destas falsificações, inventaram relatório atrás de relatório, ficha atrás de ficha, reunião atrás de reunião, impedindo-os assim de exercer o que supostamente seria o seu objectivo: ensinar. E quando nos intervalos de relatórios, fichas, reuniões conseguem o tempo para ensinar, o cansaço e desânimo são tão grandes que até se convencem que os seus conhecimentos estão errados e o livro que têm em frente está correcto e completo.

Não contente com esta competição com a sua antecessora, Crato, o Pior (se ainda não  destronou MLR, há pelo menos um empate) resolveu criar uma prova para avaliação de professores.
A prova modelo foi aplicada a adolescentes que  responderam à escolha múltipla da prova e passaram 

Eu, como aposentada, estou expectante porque se tal prova é condição necessária ( e porventura suficiente) para se ser professor, então não se gaste mais dinheiro na formação de professores. Contratem-se já todos os adolescentes que mostraram um bom desempenho  e, se necessário, aplique-se de imediato a toda a população adolescente de modo a poder selecionar os melhores....
Com toda esta economia na formação de professores, talvez os aposentados deixem de ser espoliados pelo Governo.

Oh Senhor Ministro, o que pode revelar esta prova sobre o estar em sala de aula ?

Faço minhas as palavras de Leonor Santos 

Mascarar um teste que pretende avaliar conhecimentos e capacidades considerados essenciais para a docência nos diferentes níveis de ensino com um teste psicométrico é no mínimo enganador. Mas mais importante ainda, o que se fica a saber sobre a qualidade do desempenho da função docente de um candidato que obtenha a pontuação máxima nesta prova? Se uma das características essenciais da docência hoje é também ser capaz de antecipar situações de sala de aula e agir no momento face ao inesperado, o que uma prova deste tipo nos revela sobre isso?


Eis  uma carta aberta de um professor ao primeiro-ministro que podem ler aqui 

22/11/2013 - 21:56
Não temo como nunca temi qualquer forma de avaliação, mas não me sujeito ou humilho perante este cenário a que Vossa Excelência nos quer forçar.
O meu nome é Manuel Maria de Magalhães e sou professor profissionalizado do grupo 410 (Filosofia), desde 2002. Desde então fui contratado por 13 escolas, em cinco distritos diferentes (Viana do Castelo, Braga, Porto, Guarda e Viseu). Em todas excedi sempre aquilo que me era pedido, como prova o reconhecimento, em alguns casos público e formal, que alunos, colegas, órgãos das escolas e encarregados de educação prestaram ao meu trabalho.
 Em termos de formação contínua de professores desprezei sempre as acções de formação promovidas pelo ministério através das suas direcções regionais, que conjugam o verbo "encher" na perfeição, para procurar na academia a continuação dos meus estudos sob a forma de congressos ou mesmo na execução de duas pós-graduações nas áreas em que o meu grupo disciplinar se move. Em todas as escolas o meu trabalho foi avaliado, de acordo com o estipulado, tendo inclusivamente sido dos primeiros a submeter-se voluntariamente às "aulas assistidas". Em consequência das suas políticas educativas encontro-me no corrente ano desempregado e sem perspectivas de encontrar colocação nesta área, tal como dezenas de milhares de colegas meus, muitos deles com uma história profissional bem mais dura do que a minha e muitos mais anos de serviço. É neste quadro que Vossa Excelência, através do seu ministro da Educação, nos quer obrigar a fazer um exame para poder continuar a concorrer ao ensino. Era a humilhação que faltava e a maior de todas.
Ao enveredar por este caminho, Vossa Excelência está a descredibilizar todos os docentes com provas dadas nesta causa que é tomada como uma missão em prol do desenvolvimento do país. Está a descredibilizar as universidades que nos formaram e as escolas que nos avaliaram. Está a destruir a credibilidade do próprio ensino, através de uma avaliação retroactiva, sem fundamento, obscura nos seus contornos, pois até esta data pouco se sabe sobre o processo, que é mais próprio de regimes ditatoriais revolucionários do que de democracias maduras, onde todas as partes devem ser ouvidas.
Estou de acordo consigo num ponto: a Educação não está bem,apesar dos esforços de tantos, mas residirá apenas na classe docente a causa desse mal? Já reparou que todos os governos eleitos impuseram uma política de Educação diametralmente diferente dos anteriores? Já se deu conta que a Educação foi verdadeiramente uma área em que se "atirou dinheiro" para cima dos problemas na esperança que passassem? No ensino, como em muitas outras áreas, também existiu o privilégio do betão face à formação. Quantas escolas não têm psicólogos, sobretudo clínicos, que tanta falta fariam aos inúmeros casos dramáticos que assolam milhares de alunos? Que vínculos tem o Estado, através da Segurança Social, para ajudar a estabelecer pontes entre as famílias e a Escola? O que se (não) tem feito em termos de prevenção da indisciplina em ambiente escolar, seja na sala de aula ou fora dela? O que fez o Estado para promover a autoridade (não autoritarismo) do professor e do auxiliar de acção educativa que ainda é tratado, à maneira do Estado Novo, como um mero contínuo, desprezando o seu vital papel nas escolas? Construir ou renovar escolas não chega… Se quer introduzir alterações em atitudes e comportamentos dos docentes, este não é seguramente o melhor caminho. Se analisar a formação que o ministério nos disponibiliza, constatará que não tem, na maioria dos casos, qualquer interesse em termos pedagógicos. Já pensou em fomentar a ligação entre as universidades e as escolas neste sentido? Ao persistir neste caminho, Vossa Excelência encerra em si o pior modelo de docência: o do professor que obriga os alunos a uma avaliação para a qual não os preparou.
Não temo como nunca temi qualquer forma de avaliação, mas não me sujeito ou humilho perante este cenário a que Vossa Excelência nos quer forçar. Não farei qualquer exame retroactivo, imposto de forma ditatorial. Se o preço a pagar for a exclusão definitiva do ensino, assumo-o. Mais importante do que as palavras que proferimos é o exemplo que perdura. A dignidade não está à venda e não posso ser incoerente com tudo o que tenho passado aos alunos que o Estado me entregou. Ainda assim tenho a esperança que Vossa Excelência tenha a humildade (uma das maiores, se não a maior, virtude humana) de reconhecer o erro que esta medida encerra e procurar novas soluções.
Professor de Filosofia

Já aqui me referi várias vezes à avaliação de professores. Sou do tempo em que no fim do estágio se fazia  exame de estado, perante uns seis metodólogos e  em que os inspetores entravam pela sala de aula sem disso sermos avisados. Nunca temi qualquer avaliação e sempre defendi que a observação de aulas por equipas competentes, logo isentas, sem aviso prévio, será a forma mais fidedigna de avaliar professores. Durante 22 anos fui orientadora de estágio e durante 9 anos lecionei a cadeira de Didática da Física no Mestrado em Física para o Ensino da FCUP. Avaliei para cima de uma centena de professores e candidatos a professores. Sei que há maus e bons professores embora estes últimos sejam a maioria, por mais que se tente denegrir o trabalho docente.


Senhor Ministro deixe os professores ensinar porque ensinar e aprender são  actividades humanas, das mais nobres .

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

De Setúbal ao Porto...

Após 10 dias quebro o silêncio, motivado por algumas deslocações e não só...

No dia 15 fui para Setúbal, onde no dia 16 foi apresentado Entre margens
A apresentação foi integrada na atribuição dos prémios do XVIII Concurso de Poesia e do VIII Concurso de Poesia Comunidade Escola
O júri das provas foi constituído pelos poetas Vítor Cintra, Regina Gouveia e Paulo Afonso Ramos, este último também representante da editora Lua de Marfim.
Na sessão de entrega de prémios foi apresentado o livro de poesia “Entre Margens”, de Regina Gouveia, uma edição da Lua de Marfim que resulta do primeiro lugar atribuído à escritora na edição de 2012 da prova destinada a adultos.

Na viagem para Setúbal o Intercidades não foi direto, como  acontece por vezes.
Mudei de comboio no Oriente e a meu lado sentou-se uma senhora, já de certa idade, cheia de tralhas, malas, sacos,  que dispôs a seus pés, ao colo, em cima da mesa rebatível, no corredor.. Comentou que não era aquele o seu lugar mas ficou por ali. Quando anunciaram que a próxima estação seria Pinhal Novo, onde eu teria que sair para apanhar o comboio urbano par Setúbal, pedi à senhora para me libertar o espaço a fim de eu poder passar. Como estava ao telemóvel fazia tudo lentamente só com uma mão. Entretanto o comboio parou e eu continuava impedida de sair. Quando por fim me libertou o espaço (só com uma mão porque a outra segurava o telemóvel) fui a correr pelo corredor, caí e fiquei com um braço e um joelho danificados.
Valeu-me um jovem que me ajudou a levantar e me levou até à gare arriscando-se a perder ele o comboio.
Ainda tenho dores e  ando com dificuldade. No próximo dia 3 irei a um ortopedista para analisar “os estragos”.
Mas tirando o incidente, a minha estada em Setúbal foi, como sempre, muito agradável. Fiquei em casa da minha amiga de infância Lourdes Sendas e juntou-se a nós a Isabel, uma amiga e ainda familiar minha, de quem falei já numa mensagem colocada no Verão de 2012. Demos um belíssimo passeio pela serra Arrábida e no dia 18 regressámos no carro da Isabel que vive habitualmente em França  mas que, tal como a Lourdes, em tempos viveu no Porto (fez parte do grupo de teatro pé de vento), cidade que já não visitava há muitos anos. No dia 19 fui com ambas rever lugares conhecidos e mostrar-lhes outros. Saímos de manhã. Fomos ao mercado do Bom Sucesso e ao Centro Português de Fotografia.
Aqui visitámos uma exposição belíssima, embora chocante,  de Gervásio Sanches.


A exposição está ordenada de forma cronológica, através de um percurso articulado em cinco grandes blocos temáticos: América Latina, Balcãs, África, Vidas minadas e Desaparecidos.
Além disso, a mostra inclui oito murais distintos, com aproximadamente 100 retratos de pessoas diretamente afetadas por algumas das realidades documentadas por Gervasio Sánchez: vítimas de mutilações e ex-meninos-soldados, ambos em Serra Leoa, e vítimas de minas antipessoais e familiares de pessoas desaparecidas em diversos países do mundo
 De seguida fomos  ao Palacete dos Viscondes de Balsemão onde visitámos uma exposição muito interessante, Pinturas Acromáticas de  António Fercundini  e o banco de materiais. Dali seguimos para a  loja do Luís Buchinho na Rua  José Falcão.
Sobre António Fercundini não havia no espaço qualquer informação biográfica nem ninguém ali nos soube informar. Pesquisando na NET encontrei o site  colocado acima
Almoçámos no “Piolho” que frequentávamos quando estudantes. A Isabel, perante o espanto do empregado, pediu caldo verde e papas de sarrabulho pois queria matar saudades dos respetivos sabores.
Após o almoço fomos visitar o “Passeio dos Clérigos”, entrámos em algumas lojas e  depois descemos a rua até aos Loios. No caminho entrámos numa loja que tinha várias malhas, algumas da marca Sidney, a preços muito convidativos. A Isabel fez algumas compras por achar que em França seria impensável ter aqueles preços.
Dos Loios fomos visitar a área restaurada junto ao Passeio das Cardosas, que tem gerado alguma controvérsia.
Por fim regressámos a casa. Havia muito mais para ver mas os dias pequenos acabam depressa...
No dia seguinte as duas partiram para Trás-os-Montes.
Entre as três, muitos pontos em comum nomeadamente uma grande paixão pelo Porto... 

No passeio perdi o meu relógio que me estava uma pouco largo, mas de que gostava muito. Já revisitei todos os espaços por onde andámos mas não o reencontrei.

A mensagem já vai longa. Termino-a com Porto Sentido e o porto aqui tão perto 

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Suécia versus Portugal...

Na origem da crise que atinge o povo português( salvo as vergonhosas excepções ) estão vários fatores mas alguns nunca são referidos porque não convém. Vejam o vídeo anexo 


segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Eventos...


Já em mensagem anterior referi  que em fevereiro passado, a livraria Poetria lançou o concurso O AMOR EM VISITA
O poema que eu enviei foi um dos selecionados para integrar uma coletânea que foi lançada no passado dia 8 de Novembro. Como também referi, não pude estar presente no lançamento porque nesse mesmo dia estive em Carrazeda de Ansiães, a convite de Biblioteca Municipal e num evento integrado na 25ª feira do livro. No dia seguinte apresentei em Alfândega da Fé, o livro Entre margens

Regressando à coletânea, hoje fui buscar o exemplar a que tive direito por ter sido selecionado o poema que enviei e que incluo a seguir
Cicatriz

Foi numa tarde cálida de agosto
que, há muito tempo,
no tronco de uma velha amendoeira
gravámos os nossos nomes, a cinzel.
As incisões, profundas, pintámo-las de  azul,
matiz dos amantes de Chagall.
O tempo foi fluindo.
Agonizava o  inverno,  
quando a árvore ancestral
se cobriu de nacaradas flores,
derramando no ar
o sempiterno odor a mel.
Chegou o verão.
Com ele agosto
e o tempo da apanha.
O primeiro fruto que colhemos
albergava, enlaçados,
dois grãos no seu interior.
Capricho da natureza?
Sortilégio do amor?

Cansada, a velha amendoeira
já quase não dá frutos,
mas no tronco, desbotada,
persiste a cicatriz.

E já que estamos a falar de coletâneas, em Junho   foi editada uma antologia de autores transmontanos que inclui 11 poemas meus, poemas esses que constam em Entre Margens
Em Carrazeda fiz três apresentações, envolvendo todos os alunos do pré primário e do primário. Eram muitas crianças mas correu bem.
Em Alfândega gostei muito da apresentação feita pelo meu amigo Francisco José Lopes, Diretor
Executivo do Agrupamento de Escolas. Para além disso, após a apresentação gerou-se uma conversa muito interessante em que o público participou


Na foto, Francisco José Lopes e a  Presidente da Câmara de Alfândega da Fé, Dra Berta Nunes 

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

O falecido Governo


O título desta mensagem é o título de uma crónica de Carlos Fiolhais que podem ler aqui e que não resisto a transcrever

Com a aprovação da generalidade do Orçamento que foi feita, na véspera do Dia de Finados, sem direito a palmas, pela maioria do PSD e CDS na Assembleia da República, o governo passou a ter morte anunciada. Não se sabe se o último suspiro será amanhã ou depois, mas não parece distante. As tensões sociais, que já estavam visíveis, vão a partir de agora agravar-se, em especial na classe média, alvo maior deste Orçamento. É muito dificil compreender como é que um governo dito liberal pôs em prática um programa de proletarização geral, que transforma largos sectores da classe média em pobres, enquanto deixa os pobres sem qualquer esperança de ascensão social. A situação pode ser descrita como fez o australiano Jeff Sparrow: “Tudo o que temíamos do comunismo – que perderíamos as nossas casas e as nossas poupanças e nos obrigariam a trabalhar eternamente por escassos salários e sem ter voz no sistema – converteu-se em realidade sob o capitalismo”.

Anunciado o passamento do governo, fica a questão de saber como se vai passar. O certificado de óbito poderá ser emitido pelo Tribunal Constitucional, que para ser coerente não deixará de intervir. Ou, com evidente economia de tempo, poderá ser emitido pelo Presidente da República, que, apesar de ser co-responsável pela situação actual, tem ainda uma oportunidade de se redimir. E há ainda uma terceira hipótese. A coligação governamental, colada a cuspo, poder-se-á desmanchar por si própria. Foi patético ver o vice primeiro-ministro Paulo Portas defender entusiasmado, em alocução televisiva, uma versão português-suave do “TSU das viúvas” para só depois a ministra de Estado e das Finanças, Maria Luís Albuquerque, anunciar apaticamente uma versão português-brutal do Orçamento de Estado. É bom lembrar que o primeiro se demitiu, com estrondo, por não gostar da segunda, e agora espera que nós nos esqueçamos desse incidente. Depois, já estava o Orçamento na Assembleia, Portas veio, em nova charla televisiva, anunciar o guião da reforma do Estado, tentando desviar as atenções das agruras dos cortes. Mas já tudo tinha sido dito sobre a reforma do Estado: faltava apenas fazê-la. A um governo com maioria absoluta que, após meia legislatura, ainda não fez a reforma que reclama fica-lhe mal falar dela. Aliás, por alguma razão, o PSD guardou de Conrado um prudente silêncio. Aquela não era uma reforma do Estado levada pelo primeiro-ministro ao Parlamento, era um manifesto eleitoral levado pelo líder do CDS à comunicação social.

O novo orçamento do governo de Pedro Passos Coelho porfia no empobrecimento. Continua o rolo compressor a apertar os contribuintes, na porfiada busca da igualdade social num nível abaixo de cão. Enquanto houver um cêntimo por extrair, seja por se andar de carro ou por se comer fora, seja por se ter casa ou por se ter conta bancária, seja por se ter cão ou por se ter gato, o governo supostamente liberal não descansa enquanto não o for buscar. Gosta tanto de pobres que quer que todos nós o sejamos. O governo poderá dizer que temos uma dívida para pagar, mas o certo é que, apesar dos enormes esforços ao longo dos últimos anos, não vemos a dívida desaparecer: nós é que estamos a desaparecer. Poderá também dizer que não há dinheiro nos cofres do Estado, mas é precisamente quando não há dinheiro que é preciso discernir o essencial do acessório. Não são só os cofres que estão vazios, são também algumas cabeças. Veja-se, num exemplo entre outros, o caso das escolas de ensino superior, cuja missão é vital para o país, que continuam a sofrer por parte das Finanças tratos de polé.

 Haverá solução quando o governo cair? Com a actual Assembleia está visto que não. Porém, no quadro democrático, há sempre uma solução. Se o Tribunal Constitucional chumbar o Orçamento, ou se antes disso o Presidente deixar de ser um espectador passivo ou ainda se Paulo Portas voltar a não gostar de Maria Luís Albuquerque não haverá melhor remédio do que eleições antecipadas. Será a maneira de os cidadãos recuperarem a voz. Isto no caso de aqui ficarem, pois uma outra solução, individual e não colectiva, consiste em emigrar, como estão a fazer dez mil pessoas todos os meses, muitas delas com formação superior. O governo não é sensível a essa debandada. Mas ele é que poderia emigrar, indo morrer longe.

Há, contudo, um problema com as eleições. O PS não parece preparado para governar e é por isso que muitos eleitores receiam votar nele. Tal como o chefe do governo, também o líder da oposição, além de não conseguir unir o seu partido, já se mostrou incapaz de propor um rumo para o país. Que ideias concretas tem? Que maioria tem, ou vai ter, para dirigir o nosso destino comum? Será pedir muito querer eleições com outros lideres? Até pode ser que, como aconteceu na Alemanha, os dois novos líderes se entendam.


E pegando no último parágrafo lembro a reportagem anexa que eventualmente terão visto na TVI. 
Os culpados são muitos e de há muito....
Eles comem tudo               
Todos eles deveriam ir morrer longe....

terça-feira, 5 de novembro de 2013

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Pequenas estórias edificantes


Pequenas estórias edificantes é o título de uma mensagem de António Mouzinho, “postada” em de Rerum Natura. Não resisto a colocar aqui as duas últimas. 

Segunda:
Recentemente, numa escolinha (adoro «escolinha»…) que eu cá sei, um senhor inspetor chumbou uns quantos horários: horários do secundário, de professores com ombros largos, em fim de carreira (uma espécie de brucewillies do secundário).
A dita escolinha decidiu, em remate de silly season, acabar com dias sem carga letiva: ter a certeza de que não havia nenhum professor que estivesse mais de 2 dias sem ir à escola—o sábado e o domingo. Mas apesar deste esmero, deste zelo administrativo (detroika local), com resultados engraçadíssimos nos professores mais antigos e com cargas letivas mais pequenas (por via da antiguidade e dum alívio—confesso, discutível—da carga estritamente de aulas), apesar, dizia eu, deste zeloso delírio—o senhor inspetor chumbou!
Os horários deviam ter 14 horas letivas, mas as disciplinas dadas proporcionavam horários de 13 (em Geometria Descritiva) ou 12 (em Matemática). As horas que faltavam eram completadas com componentes de horário equiparadas a tempos lectivos. Isto proporcionava algumas manobras interessantes, mas uma misturadora de betão conhecida por direção geral entreteve-se a baralhar e criar restrições às possibilidades, de forma que ninguém consegue acertar esse tipo de equação. Consegue-se empatar o professor na escola todos os dias da semana, consegue-se as horas de trabalho semanal que mandam os cânones, consegue-se tudo menos acertar a coisa para o senhor inspetor.
Parece idiota?
Emudeço de pasmo.
Perguntou o inspetor: porque foi que a escola fez estes horários com estas disciplinas, níveis e professores? Respondeu a escolinha: porque temos professores mais hábeis do que outros a dar estes níveis e disciplinas.
(Vantagem para o aluno…)
Retorquiu o inspetor: não quero saber disso para nada—o meu ponto de vista é administrativo, não pedagógico; reformulem-se os horários, ou há processo disciplinar.
Assim vai o ensino secundário neste país?
É de crer que sim…
Sabe «ler», o senhor inspetor?
Sabe: nós é que ainda não percebemos que estas duas estórias são versões da mesma, e espelham, não um exemplar, mas um ror de governações. O único que sabe ler é o senhor inspetor (decorou a silhueta da coisa), e quem não acreditar leva um processo disciplinar.
Moral da estória: cada ministro que chega que se cuide: isto está repleto de candidatos ao título de «O Piorrrr De Sempre», o próprio ministro é concorrente, e não dá para todos—há percentis.

Terceira:
Adoeci este ano. Nunca acontece; aconteceu.
Fiz o que mais detesto: faltei a aulas.
Ignorante de novidades neste domínio, de que não ando a par, pus-me ao telefone para tomar previdências: avisar o coordenador da ausência de uma semana e pedir-lhe que tomasse algumas medidas para esse período; avisar o representante dos pais de uma turma de que sou diretor, dar-lhe uma satisfação e pedir alguma continuidade no trabalho pessoal dos alunos; avisar a direção e saber, da secretaria, se o certificado médico de doença que tinha em meu poder era suficiente, e em que prazos deveria proceder à respetiva entrega.
Da secretaria deram-me os esclarecimentos necessários, e acrescentaram: sabe que não vai receber o ordenado dos três primeiros dias e, de seguida, só recebe 90%?
Não sabia.
Quando voltei à escola, tinha a vida atrasada uma semana. Ora se, numa repartição de finanças, um funcionário faltar—o que acontece?: o atendimento é feito pelos colegas.
O patife é penalizado financeiramente, porque o trabalho dele foi garantido por outros.
Se, na limpeza de ruas, faltar um funcionário, que é que se passa?: a recolha é dividida por colegas.
O marau leva um chumbo no ordenado, porque a limpeza ficou feita, e ele não esteve presente.
Se um médico, num hospital do estado, baquear, o que é que se segue?: os doentes são tratados na mesma, e o país segue, imperturbável.
O tratante nem sequer devia estar doente—é médico, que diabo!—e os colegas é que asseguraram a saúde pública.
Ora: a mim ninguém me substituiu. Cheguei à escola e lá estavam, todos juntos, os meus alunos, com os conhecimentos no mesmo estado.
Que posso concluir? Que o ordenado que me foi retirado me dispensa de dar a matéria que estava prevista para essa semana.
Que o ministério vai pegar no carcanhol—enfim, na massa—e dirá a um colega com a minha experiência e careca: "ó rapaz, vai ali àquela escola dar esta matéria assim assim, que o biltre adoeceu—mas já lhe sacámos o nosso!, e alea iacta est."
Estou, portanto descansado: essa semana de matéria será garantida—por outro funcionário.
Moral da estória: pfff, sei lá!
António Mouzinho