segunda-feira, 16 de setembro de 2013
Adeganha
7 de Agosto. Partiram os últimos e na casa ficou uma terrível sensação de vazio… Mas durou pouco pois aguardava-nos uma tarefa ciclópica quenão deixaria tempo para pensar nesse vazio…
Há cerca de um ano faleceu
o único irmão do meu marido a quem coube por herança ( o meu cunhado era
solteiro)uma casa senhorial na Adeganha, aldeia no concelho de Moncorvo, a cerca de 20 min de
carro da minha aldeia. O meu cunhado sofria de doença bipolar e em consequência
disso era comprador compulsivo. A par disso tinha outras complicações de saúde
e há cerca de 12 anos tinha estado, cerca de um mês, entre a vida e a morte.
Felizmente recuperou bastante mas teve que se aposentar e foi viver para a
aldeia na casa que lhe tinha pertencido por herança. Esta casa é uma casa com
cerca de 200 anos que pertencia à família da minha sogra.
A viver ali sozinho, bastante isolado por vontade própria, a
característica de comprador compulsivo foi-se agravando extraordinariamente.
Era quase impossível entrar em qualquer dos compartimentos
da casa pois tudo ali se amontoava do chão ao tecto. Sem sabermos muito bem o
que fazer com a casa, impunha-se esvaziá-la de toda aquela tralha.
Começámos a tarefa em Novembro passado e já conseguimos
tirar tudo da casa propriamente dita. Muitas das coisas foram dadas a
particulares e a instituições mas é preciso passar tudo a “pente fino” pois no
meio de toda aquela confusão temos encontrado coisas interessantes que seria
uma pena perder. Como exemplos, um louvor ao pai da minha sogra, juiz em
Moncorvo, assinado por Bernardino Machado, uma pintura feita pela mãe da minha
sogra quando ainda era solteira, pinturas feitas por outros familiares,
fotografias muito antigas, dados sobre a árvore genealógica, etc, etc, etc .
Ainda há imensa “tralha” a analisar. Limitámo-nos a
colocá-la nas diferentes adegas que a casa possui. Ao longo do tempo (talvez
anos…) ir-se-á desbravando o “entulho”
Mas se gastava imenso dinheiro em compras sem sentido, nunca
se preocupou em criar condições de habitabilidade na casa. Por fora mandou-a
restaurar mas por dentro era inconcebível o estado de muitos compartimentos,
muito em particular a cozinha e a casa de banho. Para além do lixo havia uma grande degradação em
tudo.
A tarefa ciclópica que já iniciáramos em Novembro foi, como
anteriormente disse, conseguir retirar todo o “entulho” da casa propriamente
dita e torná-la minimamente habitável . Depois, juntamente com a família, há que decidir o que fazer com ela
Saíamos de manhã da minha aldeia, passávamos o dia na
Adeganha e ao fim do dia regressávamos, exaustos .
No dia 17 já tínhamos conseguido criar condições mínimas na
cozinha, na casa de banho, num quarto e numa saleta. Decidimos dormir lá. Por
volta das 23 h o sino tocou a rebate. Um incêndio aproximava-se da aldeia.
Felizmente não chegou a atingir as casas mas criou sobressalto na população.
O meu marido foi ver de perto, tanto quanto bombeiros e GNR
permitiram, e tirou algumas fotos. Eu não fui. Pedi-lhe apenas que me fosse
chamar se visse que poderia ser útil em
alguma coisa.
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É normal as pessoas com doenças desse tipo que descreves serem compradores compulsivos. Tb uma minha ex-cunhada sofre do mesmo mal e quando falecer, as filhas vão ter um trabalho insano a deitar fora ou dar o que ela colecciona em casa na Graça. Foi uma das visões mais traumatizantes da minha vida, ir a casa dela quando namorava o meu ex. Não havia canto que não tivesse qualquer objecto, para lá das roupas que se acumulavam pelas gavetas, armários ou baús. Um terror! Luto para não acumular coisas em casa e mesmo assim há quadros meus a mais, roupa a mais, sapatos a mais. Só não tenho loiça a mais pois deixei tudo para trás....
ResponderEliminarNão sei como é que se junta tanta coisa e às vezes dá-me vontade de em vez de um aspirador, não ter um exterminador ,-)
Tanto trabalho, em férias, mas compensador pelas coisas interessantes que encontrou. Eu também tenho muita tralha na minha casa, principalmente livros e quadros. Nada que se pareça com o que a Regina descreve em relação ao seu cunhado. No entanto, atualmente, só desejava uma casa pequena, com o indispensável para viver, um pequeno quintal e...paz. Claro que não dispensaria alguns quadros e livros entre eles os da Regina.
ResponderEliminarUm beijo.
Obrigada pelos vossos comentários mas é de facto indescritível o quanto tivemos que tirar de dentro de casa. Infelizmente não estava só em armários e baús mas empilhado do chão ao tecto (por entre ratos e baratas...) num área de cerca de 200m2, área habitável pois há outro tanto de adegas que também tinham e têm imensas coisas e para as quais transportámos tudo o que ainda não conseguimos despachar(apesar de já terem saído algumas camionetas carregadas com tralha...)
ResponderEliminarInfelizmente nunca foi tratado pois nem ele nem a mãe aceitavam tratar-se de uma doença