sexta-feira, 30 de novembro de 2012
Quino , Mafalda e não só
Quino deixou de nos deliciar com as aventuras de
Mafalda mas continua atento ao que se passa à sua volta como podem ver aqui aqui
E já que falámos na Mafalda, recordemo-la
Ver mais tiras aqui
quinta-feira, 29 de novembro de 2012
Do quark à galáxia
Hoje
foi-me enviado, por e-mail, um filme interessante:
“our history in 2 minutes”.
A propósito do filme lembrei-me de três
poemas meus não publicados
Scherzo
Do quark à galáxia, por entre a matéria
escura,
no Cosmos infinito estará disseminada uma
memória futura.
Talvez nessa memória esteja lavrada a
história
dum outro universo, simples mas diverso,
pleno de música, de riso, de cor, sem
ódio, sem guerra, sem dor.
Essa memória futura, algures no espaço-
tempo,
terá, porventura, acordes de um
scherzo lento.
(2006)
E foi o Big Bang, o caos, o cosmos,
o infinitamente grande. E foi o tempo…
Tão longo o tempo em tão longa viagem …
E foi a vida…
Tão breve a vida em tão fugaz passagem…
(2002)
Viagem
Do quark ao átomo, do átomo à célula,
da célula à vida, quanta energia
dispendida,
quanta energia transformada…
Para quê tanto corrida se afinal é
breve a estada ?
Já se aproxima a partida, foi há tão pouco a chegada.
(2002)
E a propósito do cosmos deixo 3 das 43 pinturas que integraram a exposición "Cosmos",
de Pablo Serrano,
no Museo del Chopo no México.
quarta-feira, 28 de novembro de 2012
Incompetência e inocência
Se aprecio alguns comentários de Miguel Sousa Tavares, porque incisivos e lúcidos, detesto outros onde, a meu ver, emerge uma certa arrogância (petulância?) e grande demagogia (estou a lembrar-me, a propósito da restrição de fumar em lugares públicos, de uma intervenção sua altamente demagógica)
Hoje recebi um e-mail com uma intervenção das que considero incisivas e lúcidas e que pode ser encontrada em muitos sites, nomeadamente aqui.
Deixo-a como texto de reflexão ...
Como caixa de ressonância daqueles que de quem é porta-voz (tendo há muito deixado de ter voz própria), o presidente da Comissão Europeia, o português Durão Barroso, veio alinhar-se com os conselhos da troika sobre Portugal: não há outro caminho que não o de seguir a “solução” da austeridade e acelerar as “reformas estruturais” — descer os custos salariais, liberalizar mais ainda os despedimentos e diminuir o alcance do subsídio de desemprego. Que o trio formado pelo careca, o etíope e o alemão ignorem que em Portugal se está a oferecer 650 euros de ordenado a um engenheiro electrotécnico falando três línguas estrangeiras ou 580 euros a um dentista em horário completo é mais ou menos compreensível para quem os portugueses são uma abstracção matemática. Mas que um português, colocado nos altos círculos europeus e instalado nos seus hábitos, também ache que um dos nossos problemas principais são os ordenados elevados, já não é admissível. Lembremo-nos disto quando ele por aí vier candidatar-se a Presidente da República.
Durão Barroso é uma espécie de cata-vento da impotência e incompetência dos dirigentes europeus. Todas as semanas ele cheira o vento e vira-se para o lado de onde ele sopra: se os srs. Monti, Draghi, Van Rompuy se mostram vagamente preocupados com o crescimento e o emprego, lá, no alto do edifício europeu, o cata-vento aponta a direcção; se, porém, na semana seguinte, os mesmos senhores mais a srª Merkel repetem que não há vida sem austeridade, recessão e desemprego, o cata-vento vira 180 graus e passa a indicar a direcção oposta. Quando um dia se fizer a triste história destes anos de suicídio europeu, haveremos de perguntar como é que a Europa foi governada e destruída por um clube fechado de irresponsáveis, sem uma direcção, uma ideia, um projecto lógico. Como é que se começou por brincar ao directório castigador para com a Grécia para acabar a fazer implodir tudo em volta. Como é que se conseguiu levar a Lei de Murphy até ao absoluto, fazendo com que tudo o que podia correr mal tivesse corrido mal: o contágio do subprime americano na banca europeia, que era afirmadamente inviável e que estoirou com a Islândia e a Irlanda e colocou a Inglaterra de joelhos; a falência final da Grécia, submetida a um castigo tão exemplar e tão inteligente que só lhe restou a alternativa de negociar com as máfias russas e as Three Gorges chinesas; como é que a tão longamente prevista explosão da bolha imobiliária espanhola acabou por rebentar na cara dos que juravam que a Espanha aguentaria isso e muito mais; como é que as agências de notação, os mercados e a Goldman Sachs puderam livremente atacar a dívida soberana de todos os Estados europeus, excepto a Alemanha, numa estratégia concertada de cerco ao euro, que finalmente tornou toda a Europa insolvente. Ou como é que um pequeno país, como Portugal, experimentou uma receita jamais vista — a de tentar salvar as finanças públicas através da ruína da economia — e que, oh, espanto, produziu o resultado mais provável: arruinou uma coisa e outra. E como é que, no final de tudo isto, as periferias implodiram e só o centro — isto é, a Alemanha e seus satélites — se viu coberto de mercadorias que os seus parceiros europeus não tinham como comprar e atulhado em triliões de euros depositados pelos pobres e desesperados e que lhes puderam servir para comprar tudo, desde as ilhas gregas à água que os portugueses bebiam.
Deixemos os grandes senhores da Europa entregues à sua irrecuperável estupidez e detenhamo-nos sobre o nosso pequeno e infeliz exemplo, que nos serve para perceber que nada aconteceu por acaso, mas sim porque umas vezes a incompetência foi demasiada e outras a inocência foi de menos.
O que podemos nós pensar quando o ex-ministro Teixeira dos Santos ainda consegue jurar que havia um risco sistémico de contágio se não se nacionalizasse aquele covil de bandidos do BPN? Será que todo o restante sistema bancário também assentava na fraude, na evasão fiscal, nos negócios inconfessáveis para amigos, nos bancos-fantasmas em Cabo Verde para esconder dinheiro e toda a restante série de traficâncias que de há muito — de há muito! — se sabia existirem no BPN? E como, com que fundamento, com que ciência, pode continuar a sustentar que a alternativa de encerrar, pura e simplesmente, aquele vão de escada “faria recuar a economia 4%”? Ou que era previsível que a conta da nacionalização para os contribuintes não fosse além dos 700 milhões de euros?
O que poderemos nós pensar quando descobrimos que à despesa declarada e à dívida ocultada pelo dr. Jardim ainda há a somar as facturas escondidas debaixo do tapete, emitidas pelos empreiteiros amigos da “autonomia” e a quem ele prometia conseguir pagar, assim que os ventos de Lisboa lhe soprassem mais favoravelmente?
O que poderemos nós pensar quando, depois de tantos anos a exigir o fim das SCUT, descobrimos que, afinal, o fim das auto-estradas sem portagens ainda iria conseguir sair mais caro ao Estado? Como poderíamos adivinhar que havia uns contratos secretos, escondidos do Tribunal de Contas, em que o Estado garantia aos concessionários das PPP que ganhariam sempre X sem portagens e X+Y com portagens? Mas como poderíamos adivinhá-lo se nos dizem sempre que o Estado tem de recorrer aos serviços de escritórios privados de advocacia (sempre os mesmos), porque, entre os milhares de juristas dos quadros públicos, não há uma meia dúzia que consiga redigir um contrato em que o Estado não seja sempre comido por parvo?
A troika quer reformas estruturais? Ora, imponha ao Governo que faça uma lei retroactiva — sim, retroactiva — que declare a nulidade e renegociação de todos os contratos celebrados pelo Estado com privados em que seja manifesto e reconhecido pelo Tribunal de Contas que só o Estado assumiu riscos, encaixou prejuízos sem correspondência com o negócio e fez figura de anjinho. A Constituição não deixa? Ok, estabeleça-se um imposto extraordinário de 99,9% sobre os lucros excessivos dos contratos de PPP ou outros celebrados com o Estado. Eu conheço vários.
Quer outra reforma, não sei se estrutural ou conjuntural, mas, pelo menos, moral? Obrigue os bancos a aplicarem todo o dinheiro que vão buscar ao BCE a 1% de juros no financiamento da economia e das empresas viáveis e não em autocapitalização, para taparem os buracos dos negócios de favor e de influência que andaram a financiar aos grupos amigos.
Mais uma? Escrevam uma lei que estabeleça que todas as empresas de construção civil, que estão paradas por falta de obras e a despedir às dezenas de milhares, se possam dedicar à recuperação e remodelação do património urbano, público ou privado, pagando 0% de IRC nessas obras. Bruxelas não deixa? Deixa a Holanda ter um IRC que atrai para lá a sede das nossas empresas do PSI-20, mas não nos deixa baixar parte dos impostos às nossas empresas, numa situação de emergência? OK, Bruxelas que mande então fechar as empresas e despedir os trabalhadores. Cumpra-se a lei!
Outra? Proíbam as privatizações feitas segundo o modelo em moda, que consiste em privatizar a parte das empresas que dá lucro e deixar as “imparidades” a cargo do Estado: quem quiser comprar leva tudo ou não leva nada. E, já agora, que a operação financeira seja obrigatoriamente conduzida pela Caixa Geral de Depósitos (não é para isso que temos um banco público, por enquanto?). O quê, a Caixa não tem vocação ou aptidão para isso? Não me digam! Então, os administradores são pagos como privados, fazem negócios com os grandes grupos privados, até compram acções dos bancos privados e não são capazes de fazer o que os privados fazem? E, quanto à engenharia jurídica, atenta a reiterada falta de vocação e de aptidão dos serviços contratados em outsourcing para defenderem os interesses do cliente Estado, a troika que nos mande uma equipa de juristas para ensinar como se faz.
Tenho muitas mais ideias, algumas tão ingénuas como estas, mas nenhumas tão prejudiciais como aquelas com que nos têm governado. A próxima vez que o careca, o etíope e o alemão cá vierem, estou disponível para tomar um cafezinho com eles no Ritz. Pago eu, porque não tenho dinheiro para os juros que eles cobram se lhes ficar a dever.
segunda-feira, 26 de novembro de 2012
domingo, 25 de novembro de 2012
Continuando a falar de pintura...
Na última mensagem falei de pintura ou melhor, do amadorismo na pintura. Hoje
falo de pintura “a sério”.
No passado dia 10 foi inaugurada, na galeria Cor espontânea uma exposição com obras da colecção de Ernst Lieblich. Só
ontem tive oportunidade de a visitar
A obra da capa do catálogo é de Albuquerque Mendes, um dos
artistas representados a par de outros
como, por exemplo, José
Rodrigues, Gerardo Burmester, Guilherme Camarinha, Augusto Gomes, Maria Keil,
Ângelo de Sousa, Pedro Calapez, Nadir Afonso,
Francisco Laranjo e, obviamente, Júlio
Resende.
Aqui ficam imagens de duas obras deste autor bem como uma de
Pedro Calapez e outra de Francisco Laranjo
Júlio Resende
Pedro Calapez
Francisco Laranjo
Uma exposição a não perder....
sábado, 24 de novembro de 2012
Desafios
Creio que já referi aqui mais que uma vez, o “acaso” que me levou à pintura. Desde há vários anos
que, nos poucos tempos livres, faço adereços reciclando materiais. Eis alguns exemplos:
O meu filho mais novo, talvez porque ligado às artes, sempre me incitou a frequentar uma escola de joalharia. Foi o que tentei fazer logo
que me aposentei. Fui a uma aula para experimentar e, embora achasse muito
interessante, não gostei da forma agressiva como a monitora me falava sempre
que eu cometia qualquer erro. Mesmo assim resolvi inscrever-me. Na vez
seguinte, logo no início da aula quis pagar , mas o dono pediu-me para o fazer
no fim. A meio da aula, a dita monitora “mandou-me” um berro tal que me assustei. Peguei nas "trouxas" e não
voltei à escola (nem paguei, obviamente). Vinha muito incomodada quando passei
pela porta da escola UTOPIA e vi anunciadas aulas de pintura. Decidi
inscrever-me por um mês, no pressuposto que seria apenas uma experiência que
largaria ao fim desse tempo. Isto foi em Novembro de 2006 e ainda hoje continuo na escola. São
várias as razões desde a simpatia dos donos ao bom ambiente da escola. Mas a razão
fundamental reside no professor Domingos Loureiro que considero excepcional . Lança-nos vários desafios o que para mim é muito
estimulante. Vou falar dos dois últimos . A escola organizou uma visita à
exposição Vieira da Silva, O espaço e
outros enigmas, na fundação EDP (Porto). Após a visita, guiada por Domingos
Loureiro, este lançou-nos o desafio de pintar um quadro inspirado nas obra da
artista. Alguns colegas fizeram cópias, outros, como eu, recriámos
Eis o que eu pintei
O segundo desafio consistiu no seguinte. O professor sugeriu que
fôssemos a uma loja de artigos de construção civil e adquiríssemos algo, (custo
máximo 5 euros) que à partida nada tivesse a ver com arte, mas que teríamos que
transformar em “arte”. Escolhi pedaços de persiana.
Eis o trabalho
terça-feira, 20 de novembro de 2012
Linear.Idades.
Cheguei ontem do meu Nordeste.Fui 5ª feira .
Na Casa da Cultura Mestre José Rodrigues, em Alfândega da Fé, está a exposição de fotografia Linear.Idades.
O autor é Paulo Tavares Pereira, um arquitecto.
Gostei imenso. Infelizmente não tinha comigo a máquina fotográfica e não havia catálogos para venda. Gentilmente facultaram-me cópia de uma das páginas do catálogo para consulta.
Aqui fica
Na Casa da Cultura Mestre José Rodrigues, em Alfândega da Fé, está a exposição de fotografia Linear.Idades.
O autor é Paulo Tavares Pereira, um arquitecto.
Gostei imenso. Infelizmente não tinha comigo a máquina fotográfica e não havia catálogos para venda. Gentilmente facultaram-me cópia de uma das páginas do catálogo para consulta.
Aqui fica
segunda-feira, 12 de novembro de 2012
Por terras do Sado
Passei o fim de semana em Setúbal, cidade de que gosto muito.
Desde a última vez que ali tinha estado, há cerca de dois anos, já encontrei mais novidades: a Casa da Baía , a Casa daCultura
o Mercado Municipal remodelado, bem como uma nova galeria de arte, a Casa da Avenida, na
Avenida Luísa Todi, 286. No dia 3 foi ali inaugurada uma
exposição da minha amiga Lourdes Sendas. Muitos dos trabalhos estiveram na
exposição que esteve recentemente em Alfândega da Fé e de que aqui dei conta.
De qualquer modo deixo imagens de algumas das obras expostas. Poderão ver mais
aqui .
Num outro espaço da mesma galeria, no 2º piso do prédio, estavam expostos
trabalhos de fotografia e escultura de
três artistas, entre eles Carlos Eufemia que para além de trabalhos em pedra
calcárea tinha uns trabalhos muito interessantes em madeira. Não tinha comigo a
máquina fotográfica e não encontrei na NET imagens desses trabalhos.
Aproveitei para
visitar o Museu do Trabalho Michel Giacometi que ainda não tinha tido oportunidade de visitar
Deixo duas imagens do interior do Museu, nomeadamente da mercearia Liberdade e do escritório
Quando saí do Museu não resisti a fotografar a baía mas a máquina( ou a fotógrafa?) não conseguiu imagens que traduzissem a beleza que se avistava
A razão fundamental que me levou a Setúbal foi ter sido
contemplada com o 1º prémio no XVII
concurso de poesia da APPACDM de Setúbal , prémio que vai dar lugar à edição de um livro de poesia de
minha autoria, pela Editora Lua de
Marfim.
Os poemas a concurso tinham que abordar temas relacionados
com a problemática da deficiência mental.
Simultaneamente foram também entregues os prémios de um outro concurso, o VII Concurso "Comunidade Escolar" direcionado aos alunos (Ensino Básico - 1º, 2º e 3º Ciclos e secundário)dos estabelecimentos de ensino e instituições ligadas à problemática da deficiência mental (APPACDM's e Cercis) no continente e ilhas.
Na cerimónia de entrega dos prémios, que teve lugar no salão
Nobre da CMSetúbal, actuou um grupo de “violetas” constituído por alunos do
Conservatório de Setúbal bem como um grupo de bombos que incluía pessoas com
alguma deficiência mental e que actuaram de forma fantástica. Também fantásticos
foram alguns dos poemas premiados, escritos por jovens com deficiência.
Deixo algumas imagens da cerimónia bem como o poema com que
venci o concurso
Estilhaços.
(…)The
cup, white on the inside, patches of yellow and orange on the outside, turned
into a memory.
Tito Rajarshi Mukhopadhyay
Uma simples taça,
branca no interior,
o exterior maculado,
amarelo e alaranjado.
Uma simples taça
transformada em memória,
na árvore da mente pendurada.
Uma simples taça
pousada no outro lado do silêncio,
um silêncio denso e opressor,
muito para além
das fronteiras do mutismo.
Uma simples taça,
branca no interior,
o exterior maculado,
amarelo e alaranjado.
Uma simples taça
arremessada no silêncio do autismo.
Desfez-se a taça em mil pedaços
e a
poesia irrompeu dos estilhaços.
sexta-feira, 9 de novembro de 2012
Ser professor em Portugal
E em Portugal?
Deixo para reflexão a carta anexa.
Carta da Sara, filha de Professora, aos Professores
Carta a professores, alunos, pais, governantes, cidadãos e quaisquer outros que possam sentir-se tocados e identificados.As reformas na educação estão na boca do mundo há mais anos do que os que conseguimos recordar, chegando ao ponto de nem sabermos como começaram nem de onde vieram. Confessando, sou apenas uma das que passou das aulas de uma hora para as aulas de noventa minutos e achei aquilo um disparate total. Tirava-nos intervalos, tirava-nos momentos de caçadinhas e de saltar à corda e obrigava-nos a estar mais tempo sentados a ouvir sobre reis, rios, palavras estrangeiras e números primos.
Depois veio o secundário e deixámos de ter “folgas” porque passou a haver professores que tinham que substituir os que faltavam e nós ficávamos tristes. Não era porque não queríamos aprender, era porque as “aulas de substituição” nos cansavam mais do que as outras. Os professores não nos conheciam, abusávamos deles e era como voltar ao zero.
Eu era pequenina. E nunca me passou pela cabeça pensar no lado dos professores.Até ao dia 1 de Março.
Foi o culminar de tudo. Durante semanas e semanas ouvi a minha mãe, uma das melhores professoras de Inglês que conheci, o meu pilar, a minha luz, a minha companhia, a encher a boca séria com a palavra depressão. A seguir vinham os tremores, as preocupações, as queixas de pais, as crianças a quem não conseguimos chamar crianças porque são tão indisciplinadas que parece que lhes falta a meninice. Acreditem ou não, há pais que não sabem o que estão a criar. Como dizia um amigo meu: “Antigamente, fazíamos asneiras na escola e quando chegávamos a casa levávamos uma chapada do pai ou da mãe. Hoje, os miúdos fazem asneiras e os pais vão à escola para dar a dita chapada nos professores”. Sim, nos professores. Aqueles que tomam conta de tantos filhos cujos pais não têm tempo nem paciência para os educar. Sim, os professores que fazem de nós adultos competentes, formados, civilizados. Ou faziam, porque agora não conseguem.
A minha mãe levou a maior chapada de todas e não resistiu. Desculpem o dramatismo mas a escola, o sistema educativo, a educação especial, a educação sexual, as provas de aferição e toda aquela enormidade de coisas que não consigo sequer enumerar, levaram deste mundo uma das melhores pessoas que por cá andou. E revolta-me não conseguir fazer-lhe justiça.
Professores e responsáveis pela educação, espero que leiam isto e acordem, revoltem-se, manifestem-se (ainda mais) mas, sobretudo e acima de qualquer outra coisa, conversem e ajudem-se uns aos outros. Levem a história da minha mãe para as bocas do mundo, para as conversas na sala dos professores e nos intervalos, a história de uma mulher maravilhosa que se suicidou não por causa de uma vida instável, não por causa de uma família desestruturada, não por dificuldades económicas, não por desgostos amorosos mas por causa de um trabalho que amava, ao qual se dedicou de alma e coração durante 36 anos.
De todos os problemas que a minha mãe teve no trabalho desde que me conheço (todos os temos, todos os conhecemos), nunca ouvi a palavra “incapaz” sair da boca dela. Nunca a vi tão indefesa, nunca a conheci como desistente, nunca pensei ouvir “ando a enganar-me a mim mesma e não sei ser professora”. Mas era verdade. Ela soube. Ela foi. Ela ensinou centenas de crianças, ela riu, ela fez o pino no meio da sala de aulas, ela escreveu em quadros a giz e depois em quadros electrónicos. Ela aprendeu as novas tecnologias. O que ela não aprendeu foi a suportar a carga imensa e descabida que lhe puseram sobre os ombros sem sentido rigorosamente nenhum. Eu, pelo menos, não o consigo ver.
E, assim, me manifesto contra toda esta gentinha que desvaloriza os professores mais velhos, que os destrói e os obriga a adaptarem-se a uma realidade que nunca conheceram. E tudo isto de um momento para o outro, sem qualquer tipo de preparação ou ajuda.
Esta, sim, é a minha maneira de me revoltar contra aquilo que a minha mãe não teve forças para combater. Quem me dera ter conseguido aliviá-la, tirar-lhe aquela carga estupidamente pesada e que ninguém, a não ser quem a vive, compreende. Eu vivi através dela e nunca cheguei a compreender. Professores, ajudem-se. Conversem. E, acima de tudo, não deixem que a educação seja um fardo em vez de ser a profissão que vocês escolheram com tanto amor.
Pensem no amor. E, com ele, honrem a vida maravilhosa que a minha mãe teve, até não poder mais.
Sara Fidalgo
À Sara e a tantos outros, filhos, pais, cônjuges, companheiros, amigos que testemunham dia a dia a angústia de muitos professores, deixo a minha solidariedade.
Como já aqui referi por mais que uma vez foi com muita angústia que pedi a aposentação aos 60 anos, com 39 de serviço (na altura ainda o podia fazer sem penalização).
Sei que existem situações problemáticas com alunos, gravíssimas em alguns casos, mas felizmente dos alunos só guardo boas recordações. O mesmo já não posso dizer daqueles que têm sido responsáveis pelas políticas de (des)educação nos últimos anos. Cheguei a acreditar que com Nuno Crato as coisas melhorariam mas em breve me convenci que "era mais do mesmo..."
E desengane-ser que pensa que só são desvalorizados os professores mais velhos. Neste mesmo blogue escrevi em Dezembro de 2011, dois textos com o título Excelíocres
ou Mediocrelentes
referindo uma nova classe de
funcionários que, muitas vezes, são aqueles que o sistema valoriza. Têm uma característica muito especial, são altamente subservientes, pelo que de mediocridade são facilmente guindados à excelência. E as escolas não ficaram imunes a esta "praga"...
terça-feira, 6 de novembro de 2012
Respect our home
No Blog de Ciência, um dos blogues incluídos nos meus favoritos, foi colocado um vídeo que sugiro.
"Watchin' this video
you notice yourself everything we are destroying and forgettin. All these pictures were there when we were born. We're
not the universe center. Respect our home. NYC, Tokio, Paris... can be beautiful but these pictures don't have
yet any word to describe it. Wonderful is just a little for it."
1000% agreeded ♥
Ao ver o vídeo lembrei-me de inúmeras pedras belíssimas nas margens do Sabor., que em breve irão desaparecer. Aqui ficam algumas imagens para memória futura
sábado, 3 de novembro de 2012
Gerhard Richter
Um dos meus hobbies é fazer “pesquisas” na NET, em
áreas como a ciência, a poesia, a música, as artes plásticas. Foi assim que
tomei conhecimento da obra de Edith Cohen-Gewerc que podem consultar a partir
deste blogue (ver faixa do lado direito).
Desta vez encontrei o artista Gerhard Richter
Gostei de algumas das suas obras que podem consultar aqui
Deixo-vos com duas dessas obras
sexta-feira, 2 de novembro de 2012
“Ilha das flores”, a ironia das palavras…
Segundo a Embrapa
Agroindústria de Alimentos,nada menos do que
dez toneladas de alimentos vão parar no lixo diariamente. O desperdício de
alimentos no mundo se fosse atacado, abriria espaço para saciar a fome de um
bilhão * de pessoas mundo afora, sendo que 19 milhões no Brasil — mais do que os
13 milhões de brasileiros com fome.
O cálculo famintos
versus desperdício é de pesquisadores da Universidade finlandesa de Aalto e foi publicado, este mês, na
revista americana “Science”.
Para outros especialistas, porém, a conclusão sobre a redução da fome pode ser precipitada, uma vez que não leva em
conta o tipo de alimento descartado e a qualidade do produto, além da forma de
acesso das populações mais pobres aos produtos
agrícolas, considerados commodities.
As Nações Unidas cravam que 870 milhões de pessoas passam fome, seja porque não
têm terra — o que dificulta a agricultura
de subsistência — ou porque não têm dinheiro para pagar o preço de
mercado.(…)
(…)Em pleno século XXI, 870 milhões de pessoas vão dormir diariamente com fome. Isso
significa que 12,5% da população mundial estão subnutridas, segundo a Organização das Nações Unidas para
Alimentação e Agricultura (FAO,
sigla em inglês). A propósito da divulgação dos novos números, seu
diretor-geral, o brasileiro José
Graziano da Silva, escreveu: “não há escassez de oferta ou deficiência
tecnológica que justifique esses indicadores”.
( * leia-se mil milhões)
O
documentário chocante, “Ilha das Flores”
de Jorge Furtado, mostra a
problemática da sociedade de consumo, a riqueza e a desigualdade.
O Feitiço da Índia
O
Feitiço da Índia
é o título de um livro que ando a ler e que recebi no meu aniversário O autor é Miguel Real
Conta a história de três homens que se deixaram encantar não só por esse
país, mas pelas suas mulheres irresistíveis. Um deles foi com o Gama e as
primeiras naus e por lá ficou. O segundo deixou a família em Lisboa, partiu
para Goa para fazer dinheiro e apaixonou-se pela filha de um brâmane. E o
terceiro é o seu filho, que parte à procura do progenitor desaparecido e acaba
enredado na mesma teia. Retrato fascinante de Goa e da Costa do Malabar em três
épocas marcantes, esta é uma obra bela e cruel, ousada e sensual.
Nunca visitei Goa. Na viagem que fiz à Índia em 2011 visitei apenas Deli, Jaipur e Agra. Do que vi, achei o país fascinante, apesar da imensa pobreza ( a contrastar com a ostentação de palácios e edifícios luxuosos atuais). Na altura escrevi uma série de mensagens com o relato da viagem
O livro de Miguel Real, veio ativar esse fascínio. Daí que ultimamente tenha retomado as minhas pesquisas, essencialmente on-line, sobre a Índia.
Nas pesquisas efetuadas, li que Erik Satie foi influenciado pela música clássica indiana. Do compositor deixo três Gnossiennes
Também como resultado das pesquisas encontrei a referência a um artista plástico que me fez lembrar a portuguesa Joana Vasconcelos. Chama-se Subodh Gupta
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