Bem-vindo, bienvenido, bienvenu, benvenuto, welcome....


Silêncio cósmico

Pudera eu regressar ao silêncio infinito,

ao cosmos de onde vim.

No espaço interestelar, vazio, negro, frio,

havia de soltar um grito bem profundo

e assim exorcizar todas as dores do mundo.

Regina Gouveia

NOVO BLOGUE

Retomei o blogue que já não usava há anos.

https://reflexoeseinterferncias.blogspot.com/

Dedico-o essencialmente aos mais novos mas todos serão bem vindos, muito em particular pais, avós, encarregados de educação, educadores ...


quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Efemeridade.


Sob o título “Um futuro preocupante” pode ler-se in "De Rerum Natura" o texto que segue, da autoria do Professor Galopim de Carvalho.


No meio de uma campanha eleitoral antecipada e sem qualidade, mais se afirma a preocupação que não podemos deixar de ter sobre o futuro da humanidade.

É nas pedras, ou nas rochas, como se quiser dizer, que se encontra registada a longa e complexa história da Terra e da Vida. E nós estamos a escrever, note-se bem, o último capítulo.

Segundo o relatório da ONG Oxfam internacional, agora publicado, 26 bilionários têm mais dinheiro de metade do mundo e essa metade são os 3800 milhões de pessoas mais pobres do mundo. Insaciáveis pelo dinheiro, estes “donos disto tudo”, à escala do planeta, dominam a economia, a políticas e a justiça (nunca foi tão visível a diferença entre a justiça dos ricos e a dos pobres) e estão a poluí-lo material e moralmente.

O mar, os solos, os rios, os aquíferos e o ar, estão cada vez mais contaminados e são hoje evidentes os sinais de destruição e esgotamento deste nossa “casa”.

A imensa, desmedida, desgovernada e impune agressão de determinadas indústrias privatizam os lucros e socializam a poluição que geram. A par desta situação, que os cientistas não se cansam de denunciar, assiste-se ao aumento da desigualdade entre pobres e ricos, “o que alimenta a raiva no mundo", afirmou Winnie Byanyima, diretora executiva da Oxfam.

Escrevi há dias que num brilhante e arrasador ataque ao neoliberalismo, o plutocrata bilionário americano Nick Hanauer, avisou que “as forquilhas usadas pelo povo na Revolução Francesa, estão de novo prestes a chegar”, forma bem expressiva de dizer que a desigualdade crescente entre pobres e ricos “está prestes a empurrar as nossas sociedades para um estado parecido com a França pré-Revolução”, em finais do século XVIII.

A leitura deste texto  tão lúcido, "levou-me" a recordar dois poemas que escrevi, não sei bem em que datas, mas foi  há vários anos. 

Grito  mudo

O homem, face ao cosmos, é apenas fumo, cinza.
É poeira que dura um só instante,
um surdo calafrio, um grito  mudo, o nada

Gigantes
Na berma da estrada,a criança acariciou a flor singela.
Mas veio o gigante e, num instante,
com a bota enorme e pesada,
pisou a flor, fê-la em nada.
A criança sentiu uma tal dor
como se a esmagada fora ela.
Mas que importa a dor, que importa aquela flor,
se o gigante pode ter ali, no mesmo instante,
um jardim suspenso, se o quiser?
Importa é o poder.
Que importa usar centenas de pessoas
como misseis para matar vários milhares?
Que importa que vá tudo pelos ares?
Que importam as pessoas?
Que importa se centenas de milhões
passam fome e tantas privações?
Que importa se a droga destruir ilusões
de jovens, também eles aos milhões?
Que importa se a guerra destruir várias nações?
Que importam o buraco do ozono, a poluição?
O que importa é ter dinheiro, armas e poder.



Recentemente publiquei o livro "Requiem pelo planeta azul", ao qual fui
"buscar"os poemas que seguem


Navio azul

Terra, navio azul no oceano cósmico infinito.
Fingimos não escutar o teu apelo aflito,
esquecendo que  contigo
iremos naufragar.           

Elegia
Como cantar-te terra?
Uma ode?
     Uma tocata?
          Ou uma elegia,
em sintonia com a tua dor?

  Amazonas

Crescem crateras no pulmão do mundo.
     Para alguns a riqueza desmedida,
          para muitos a fome imerecida.



Termino com  The End of the World pintura de John Martim que pode ver-se aqui https://pt.wikipedia.org/wiki/The_End_of_the_World_(pintura)






segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

A poesia é uma espécie de regresso a casa


A poesia é uma espécie de regresso a casa 

Esta foi uma das frases de partida para “À conversa sobre livros” anunciada na última mensagem.

"A poesia é uma espécie de regresso a casa" inspirou a música e a letra de "A Sort Of Homecoming" primeira faixa do álbum do U2 de 1984, "The Unforgettable Fire", após Bono, leitor voraz, ter lido a obra do poeta Paul Celan.

Do poeta, deixo o poema que segue e que fui buscar aqui

O TEU
ALÉM-ESTAR esta noite,
Com palavras te trouxe de volta, aí estás,
tudo é verdadeiro e um esperar
pelo verdadeiro.

O feijão trepa frente
à nossa janela: imagina
quem a nosso lado cresce e
o vê.

Deus, assim o lemos, é
parte de nós e um outro, disperso:
na morte
de todas as vidas ceifadas
vinga ele.

Para além
nos conduz o olhar,
com esta
metade
convivemos.

Ainda a propósito da poesia como regresso a casa, ao longo da conversa foram citados vários autores: Pessoa, Torga, Tolentino de Mendonça, Carlos Drummond de Andrade, David Mourão Ferreira…

Hoje, ao abrir o meu blogue, vi que em “Ortografia do Olharhttp://ortografiadoolhar.blogspot.com/ ,um dos meus blogues favoritos, havia sido postado o poema que segue, de Graça Pires, uma autora de quem gosto bastante.

Por trás de cada sombra 
que resvala por novembro
descubro o espanto no meu rosto de criança.
O irmão no berço entre o choro e o sono.
O riso das irmãs.
Os tropeços na correria ao redor das árvores,
como se déssemos a volta ao mundo.
A mãe, o pai, para sempre.
O universo colado ao destino.
Os bichos-de-conta a rolarem no cimento
impelidos por nossos dedos.
As noites acolhendo os brinquedos de corda
na véspera das tardes mais longas.
O antecipado prazer de ouvir a voz materna
a chamar cada filha como se fosse a única

Graça Pires In: CONTINUUM: antologia poética
Termino com um poema meu e uma aguarela também de minha autoria.

Debruço-me na varanda da casa,
                          há muito demolida.
Derramada no chão, a sombra calma da velha figueira.
Balidos de rebanhos e latidos de cães tilintam, ao  longe.
O sol no ocaso enrubesce o céu
que,  em breve,  vestido de negro e ornado de jóias,
se perderá na noite glamorosa.
Dentro da casa, 
                          há muito demolida,
vagueiam  sons  ilegíveis, palavras desbotadas,
diluídas  na doçura doutros crepúsculos.

Regina Gouveia in Quando  o mel escorre nas searas, Editora Lua de Marfim




terça-feira, 8 de janeiro de 2019

À conversa sobre livros


                                                   
CONVITE     
À conversa sobre livros

No dia 12 de Janeiro de 2019, terá lugar na biblioteca do Clube Fenianos Portuenses na Rua Clube dos Fenianos, 29, (ao lado do edifício da Câmara Municipal), telefone 222 004 034, um evento que reunirá um casal de autores:

Às 15,30…
Fernando Gouveia irá apresentar o seu último livro, Regy, em torno das muitas viagens que tem feito ao longo da sua vida. Transmontano, arquitecto aposentado, começou a escrever aos 52 anos e tem já 3 obras publicadas.




Às 16,30…
Regina Gouveia, com raízes transmontanas, professora de Física e Química aposentada, irá estabelecer com o público um diálogo a propósito de poesia em geral, e da sua, em particular.
Tem diversas obras publicadas (ao todo 18 livros, entre ficção, poesia, e livros para público infanto-juvenil), participa em mais de 20 antologias e tem vários prémios recebidos. Tendo começado a escrever bastante cedo, só se decidiu a publicar depois dos 50 anos. Na sua obra emergem as suas raízes transmontanas. Na sua poesia, além das raízes, emerge a ciência, nomeadamente a física, sua área de eleição.




O Clube Fenianos Portuenses e os autores terão muito gosto na vossa presença