Bem-vindo, bienvenido, bienvenu, benvenuto, welcome....


Silêncio cósmico

Pudera eu regressar ao silêncio infinito,

ao cosmos de onde vim.

No espaço interestelar, vazio, negro, frio,

havia de soltar um grito bem profundo

e assim exorcizar todas as dores do mundo.

Regina Gouveia

NOVO BLOGUE

Retomei o blogue que já não usava há anos.

https://reflexoeseinterferncias.blogspot.com/

Dedico-o essencialmente aos mais novos mas todos serão bem vindos, muito em particular pais, avós, encarregados de educação, educadores ...


sexta-feira, 10 de julho de 2020

Fragmentos de memórias...


  
Na minha lista de blogues está incluído  “Ortografia do olhar” https://ortografiadoolhar.blogspot.com/ cuja autora é Graça Pires https://pt.wikipedia.org/wiki/Gra%C3%A7a_Pires

Na sua última “mensagem “ colocou o poema "Naquela aldeia havia uma ribeira" de que gostei muito

Naquela aldeia havia uma ribeira
onde vinham beber os homens e os lobos.
O menino ficava por perto
à espera que eles
 – os homens e os lobos –
viessem beber nas suas mãos.
Em seu olhar cristalino
há ainda um brilho feroz
que desperta no seu peito
as aves da montanha.
Graça Pires
De A solidão é como o vento2020, p. 43
A leitura transportou-me de imediato para um poema meu , Xisto, publicado em “Todo o tempo agora é contra o tempo…”
Xisto
 Muros de xisto, tal como outrora
cobertos de silvas, ostentando amoras.
Caminhos.
Este já foi ribeiro, o ribeiro dos linhos.
Já não existe ribeiro, tão pouco o linho.
O pó esvoaça lento por sobre o chão incerto e poeirento.
 Caminho com dificuldade, o sol poente ofusca-me a visão.
Percorro outro caminho, o da memória
que, como o xisto, se esboroa com o tempo.
Firme, a mão do meu pai segura a minha mão.

Este meu livro é uma reedição de dois livros anteriormente publicados e o título fui busca-lo a um poema de Manuel Alegre, Canção do tempo que passa
de que também gosto muito. O poema, publicado em Livro do português errante (publicações D. Quixote, 2001) nas páginas  48 e 49, pode ser lido aqui https://www.unicepe.pt/associados/texto_49.html

Termino com uma imagem da  obra “Persistência da memória” de Salvador  Dali, retirada de


segunda-feira, 6 de julho de 2020

O Fado do Plástico-cont




que referi na mensagem anterior. “O Fado do Plástico”, podem ver  um “post” dedicado a Amália Rodrigues, onde se inclui O Senhor Extraterrestre


E já que estamos a falar de extraterrestres e ambiente, vou colocar mais um  texto do meu livro “Era uma vez,,Ciência e Poesia no Reino da Fantasia (2006,2008, 2013), já referido na mensagem anterior

Era uma vez ….um planeta      
Era uma vez  uma nave espacial,  era branca e tinha riscas pretas,
viajava pelo espaço sideral,  entre estrelas, planetas e cometas.
Era uma vez um extraterrestre,  vindo do espaço celeste
e que, há muito, na nave viajava. Tinha um ar estranho, bizarro,
pequeno era o seu tamanho e todo ele gingava.
Tinha umas grossas melenas e usava duas antenas que ao vento estremeciam.
Os olhos mais pareciam os faróis de um autocarro.
Aterrara  num lugar, junto a um imenso mar. Era uma praia dourada,
banhada por  um mar manso  sempre em  recuo e avanço.
De início não viu mais nada. Foi então  que, de repente,  
surgiu bem à sua frente um menino sorridente  com uns olhos cor do céu
que, segundo a mãe dizia, constantemente vivia no reino da fantasia.
Ao ver o extraterrestre todo ele estremeceu.
Mas o extraterrestre, que vinha do espaço sideral,
explicou ao menino que não lhe queria fazer mal.
Contou-lhe então o que vira na sua longa viagem.
Já tinha visto cometas  e estrelas aos milhões, bem  cintilantes.
Uma era o Sol à volta do qual giravam,  
alguns perto, outros distantes, oito distintos planetas.
Um deles, azul safira,  era tão lindo de ver
que logo o extraterrestre decidiu ali descer.
Fez então  uma aterragem e assim pousou na Terra cujo nome não sabia.
Foi o menino quem o esclareceu, o tal menino de olhos cor do céu
e que,  segundo a mãe dizia,   constantemente vivia no reino da fantasia.
Fizeram boa amizade  e, em pouco mais de  um segundo,
o menino embarcou na sua nave. Lá foram o menino e o extraterrestre
que tinha grossas melenas  e usava duas antenas.
Foram dar a volta ao mundo.
Viram uma montanha coberta de neve e, com cuidado, pousaram ao de leve.
Dos ramos das árvores a neve pendia e a paisagem, tão bela, até entontecia.
Tudo era sereno, tudo era tranquilo, apenas avistaram
um gamo e um esquiloque na neve brincavam.
Na dita montanha, já quase no cimo,
nascia um fio de água que era muito fino.
Enquanto descia, engrossava o fio até se tornar num imenso rio.
Salgueiros nas margens davam sombra calma
e  peixes de prata  que na água saltavam,  eram, do rio, a alma.
Era um belo rio muito cristalino que corria ,
corria para o seu destino lá longe no mar.  
E a nave sempre, sempre,  a vaguear
levando o menino e o extraterrestre de aspecto bizarro
cujos olhos lembravam  faróis de autocarro.
Passaram por florestas densas e por planícies extensas,
por cidades com largas avenidas e por aldeias, em montanhas perdidas.  
Viram navios no mar e aviões pelo ar.
Viram o deserto, de dunas  coberto, era muito belo mas com pouca vida.
Só viram camelos numa caravana bastante comprida.
Viram na savana tigres, elefantes, pacatas girafas de pescoços gigantes
e também um leão. Aves aos milhares cruzavam os ares,
cobras e lagartos, rastejavam no chão.  
Passaram por prados cobertos de flores e de  borboletas de múltiplas cores.
Num imenso charco as rãs coaxavame flores de nenúfar,
por cima boiavam. O céu era sempre um céu diferente
mas de rara beleza,  ora azul safira, ora azul turquesa,  
ora muito escuro,ora acinzentado,  isento de nuvens ou muito nublado.
Por vezes cortava-o um arco de cor, era o arco - íris com o seu esplendor.
E a nave lá ia, nos céus vagueava levando o menino
e o extraterrestre que ao andar gingava.
Viram o sol nascente, viram o sol poente, uma maravilha sempre diferente.
Viram,  estremunhada,  a lua acordar  e vaidosa a mirar-se  num lago espelhada.
Mas o extraterrestre tinha que voltar, a hora da partida já estava a chegar.
O extraterrestre de tamanho pequeno, num voo sereno rumou ao destino
levando na nave o dito menino.
Regressaram à praia de onde haviam partido
e já com saudades do que haviam vivido. Era a despedida.
Dos olhos do menino que eram cor do céu,  
uma lágrima tímida pelo rosto escorreu
e no extraterrestre tremiam, tremiam,  
as grossas melenas e as duas antenas.
Muito emocionado, pegou numa delas,  deu-a ao menino.
Quando ouvires um  hino que vem das estrelas, sabes que sou eu.
Comunica comigo.
Então o menino foi à beira mar,  encontrou uma alga da cor do luar,
deu-a ao amigo.
Mesmo à despedida , o extraterrestre  disse para o menino:
Na minha vida  fiz muitas viagens e nunca tinha visto tão belas paisagens. Este é o planeta mais belo que eu vi e sabes porquê?
Tem água, tem ar, que permitem a vida.
Se estragam a água, se estragam o ar um dia o planeta
vai-se transformar  na terra do nada, uma terra perdida  onde nada se vê.
Tu que és um menino e que vais crescer
cuida do planeta, antes que comece a desfalecer.
Deram um abraço, muito apertadinho e o extraterrestre lá partiu sozinho
na nave redonda, branca às riscas pretas,
em busca de estrelas e  de outros planetas.  


domingo, 5 de julho de 2020

O Fado do Plástico


O título desta mensagem fui buscá-lo  a Contos das Estrelas https://contosdasestrelas.blogs.sapo.pt/ 
Deixo um pequeno excerto do texto introdutório
O plástico não tem de ser um Fado, algo que se usa sempre e sempre origina problemas quando o deitamos fora. Ontem foi o Dia Internacional Sem Plástico e esta data faz-nos recordar que podemos reutilizar pelo menos alguns dos sacos que vamos comprando ou que nos vão dando, que os podemos colocar no ecoponto da reciclagem do plástico e que podemos mesmo evitar a sua utilização, por exemplo utilizando sacos de pano para o pão. E quem sabe reutilizar os sacos de plástico para fazer algo que surja na nossa imaginação?.....


Já há muito que trago sempre, dentro da carteira, um saco de pano onde coloco as compras, prescindindo dos sacos plásticos em lojas e supermercados. Mas nestes, continuam a embalar em plástico a carne, os vegetais, o peixe.  Em casa separamos o lixo. Temos  a sorte de ter uma casa grande, pelo que vamos  guardando o lixo em sacos grandes(um para plásticos e metal, outro para vidro, outro para papel) e,  até há cerca de 4 ou 5 meses,  quando os sacos ficavam cheios ligávamos para o serviço de recolha porta a porta e o lixo era levado. Como o meu filho mais velho mora ao nosso lado, para reduzir o número de deslocações da equipa porta a porta (menos tempo e combustível gastos), genericamente levavam o lixo das duas casas. 
Infelizmente esse serviço acabou, pelo menos na cidade do Porto. Porquê? 
Tentando encontrar resposta, fui ter ao site imagem
Só encontrei vantagens. Haverá desvantagens que superem as vantagens?
Pensava eu que os partidos ambientalistas se pronunciariam sobre esta situação. Se o fizerem, não dei por isso. Infelizmente, as pessoas, muito em particular os políticos, nem sempre distinguem o essencial do acessório. E não me refiro a compras supérfluas ( também aqui se poderia reduzir muito o lixo que produzimos), refiro-me  a desperdício de tempo em discutir o “sexo dos anjos”, muitas vezes apenas por razões partidárias que nada têm a ver com o real interesse dos cidadãos e do país,  em vez de discutir problemas importantes.
E já que falei em compras supérfluas, poderia escrever várias mensagens sobre as prendas que se oferecem a crianças, muitas delas sem qualquer valor educativo, seja do ponto de vista cognitivo, afectivo, relacional ou mesmo lúdico.
Grande parte desses brinquedos, que o marketing mete pelos olhos dentro das crianças,  dos pais e educadores incautos, passado pouco tempo vai parar ao lixo.

As fotos, que coloco a seguir, datam de há dias. O meu filho mais velho brinca com o filho. Algumas peças do LEGO já eram do pai. Até a minha neta mais velha que há pouco fez 18 anos, brinca também...

Na foto  abaixo estão  algumas das inúmeras construções feitas pelos  4 netos... Algumas  das peças Lego tê mais de 40 anos.

E porque se fala de reciclar, reduzir, reutilizar, deixo um texto  do meu livro “Era uma vez,,Ciência e Poesia no Reino da Fantasia (2006,2008, 2013)

Era uma vez …um ecoponto

Esta é a história de  um ecoponto ali na esquina da  rua que com o largo confina.

Ao sol, à chuva, às geadas, respirando ar poluído,

fustigado pelo vento, lá vai passando o seu tempo.

À noite, mais sossegado, gosta de olhar a lua e o céu todo estrelado.

É um ecoponto engraçado, direi mesmo divertido. 

Ao todo três contentores mais um outro pequenito, conjunto de  quatro cores.

O pequeno é vermelhito, há quem lhe chame  encarnado, e é para  pilhas estragadas.

 O  verde é  o vidrão, o azul  é o papelão  e falta o amarelado para plástico, metal,

mas não todo, por sinal. Convém ler as instruções para não haver confusões. 

Numa certa sexta-feira uma gaivota pousou no referido ecoponto. 

Disse-lhe este  num lamento:

Ecoponto

Estou muito preocupado, muito triste, descontente

com a falta de cuidado que se tem com o ambiente.

São escapes de automóveis a lançar poluição,

são óleos, são detergentes,  são indústrias poluentes,

é lixo amontoado, ou espalhado no chão.

Pois não queres tu lá saber… Imagina só gaivota

que,  na passada terça feira, um senhor todo janota  quis fazer do chão lixeira.

Lixo todo misturado, pelo chão ficou espalhado

e aqui mesmo ao meu  lado. Mas que falta de cuidado…

Levantou-se um vento forte e vê tu a minha sorte,

fustigado pelo vento e com o lixo à mistura. Valeu-me ter  pele dura….

Gaivota

Oh que grande novidade, bem se vê que estás parado

não conheces a cidade. Eu que estou sempre a voar

posso bem avaliar. Há lixo por todo o lado:

são pausinhos de gelados,  plásticos amarfanhados

quanta boneca sem braços, quanta vassoura  em pedaços,

quanta garrafa partida, quanta embalagem perdida, pilhas  já danificadas…

Ecoponto

Mas isso é um grande perigo…

Gaivota

Pois é, eu sei meu amigo mas que se há-de fazer?

Ecoponto

Isso assim não pode ser. Acabo de ter uma ideia

que penso ser genial. Os meninos, em geral,

salvo uma ou outra excepção gostam de mim, por sinal.

Vamos ter que  lhes pedir uma colaboração.

Pedem ao pai e à mãe que tenham mais atenção.

Gaivota

E podem fazer uns cartazes para toda a população.

Lixo nos contentores, sim e fora dos contentores, não….

Com o lixo separado, muito será reciclado…

Proteger  o ambiente  é bom para toda a gente…

Ecoponto

Que boa ideia menina,  mas deixa vir ao de cima toda a sua inspiração.

Tu não sabes que os meninos têm muita imaginação?

Gaivota

É verdade, tens razão.

Ecoponto

Que mais podemos fazer?

Gaivota

Tu vais ter que te arranjar com um ar muito cuidado.

Assim qualquer um que passe fica bem impressionado

talvez deite em ti o lixo, em vez de o deixar ao lado.

Ecoponto

E tu não vais fazer nada?

Gaivota

Acabo de ter uma ideia, uma grande solução.

Quando alguém mais descuidado  deitar o lixo no chão

ou o trouxer misturado,  sem qualquer separação,

leva logo uma bicada  para ter mais atenção.

Ecoponto

Que boa ideia gaivota! Olha ali vem o janota…

Gaivota

Não queres ver o figurão… Deitou o lixo no chão

mas levou uma bicada,  não vai esquecer a lição.

Ecoponto
Lá vêm  muitos meninos, é a saída da escola,

trazem papel reciclado dentro da sua sacola.

Gaivota

Repara neste, que amor…. A lata de coca-cola  deitou-a no contentor.

Fê- lo com todo o cuidado, usou o amarelado.

E o pedaço de papel que segurava na mão, deitou-o no papelão.

Ecoponto

Vê tu aquela menina…Ainda tão pequenina,

viu a garrafa no chão e foi pô-la no vidrão.

Gaivota

Repara,  que maravilha….Aquele, mais crescidito,

tirou do bolso uma pilha, deitou-a no vermelhito

Ecoponto

Sabes, já estou mais contente

só de ver tanto menino que respeita o ambiente.

Gaivota

Eu até estou comovida… Bem, tenho que ir à minha vida.

Ecoponto

Vejo que estás de partida. Já vais embora gaivota?

Gaivota

Estou mesmo na despedida mas amanhã estou de volta.