Bom dia, bom dia,
Hoje recebi um email que ainda não abri mas cujo título era " Facebook já era?" e fiquei a pensar naquilo que já há muito tenho vontade de partilhar contigo.
Há demasiado barulho e ruído. Vejo contas (de instagram, sobretudo) onde se publica todos os dias, até duas vezes por dia. Como se o silêncio não fosse de ouro e como se a paragem momentânea dos likes, dos shares significasse o nosso valor ou a falta dele. Perco a vontade de estar na presença dessas contas e dessas pessoas porque, apesar dos textos longos e profundos, o que "vendem" não bate certo com o que fazem. Oversharing, overtalking e overlikes e, portanto, ausência de silêncio, de tempo, de pausa e lentidão que impedem o mergulho verdadeiro nas nossas vidas reais, com gente de carne e osso. Não bate certo.
Vejo muita gente a apregoar um estilo de vida sensato, equilibrado, com base em valores humanistas até, com uma retórica quase que imaculada mas a forma como o comunica é totalmente o inverso: ansiedade, consumismo, exposição contínua. Como dizia uma amiga minha há uns dias, parece que algumas acordam de manhã a pensar: como é que as pessoas hoje vão gostar ainda mais de mim? O que é que eu preciso de lhes dar para isso acontecer?
E o jogo é dos dois lados. Ora dou às pessoas aquilo que elas precisam para gostarem de mim, ora eu aplaudo, sem pensamento crítico, aquilo que as pessoas de quem eu gosto, acabaram de postar. Só porque sim. E a vida segue...
Tudo serve para filmar e tudo parece ter de ser registado. E por isso mesmo, muito pouco é autêntico. O dedo bate duas vezes na imagem e o coração surge. E com isto surge culpa de não ser tão fantástica, e com isto há cópia para ser igual.
Quando reparas, sabes que a filha mais velha daquela bloguer tem um feitio difícil, que aquela tem um discurso de encorajamento e que a outra tem dois filhos que são top of the top. No meio deste cocktail, desejas ter a casa da primeira, o feed lindo da segunda e dois filhos como os da terceira. Acabas por conhecê-las e perceber que não é nada disso. Como disse uma amiga minha ontem, bluff! A primeira não sabe lidar com a filha porque ela própria é autoritária e o que importa é o "eu, eu, eu!" , a segunda é, na verdade, uma mulher com uma auto-estima baixa, perceptível pelo oversharing e pela construção de uma persona, e a terceira não suporta as falhas dos filhos porque acredita serem as suas. Vidas e pessoas comuns, portanto. Com isto tudo, a coerência é uma palavra que cai em desuso e praticamente desaparece dos dicionários da vida de todos os dias. Acabou-se a intimidade, acabou-se o debate, acabou-se o que é razoável. Tudo são montras, tudo é descartável e o que é hoje já não é daqui a pouco. Só que nos esquecemos que uma vez na rede, para sempre na rede. E é angustiante o caminho que se está a traçar. Aprender a colocar em questão não só o que lemos e o que vemos, como também os sentimentos que tudo aquilo nos provoca torna-se necessário, diria até obrigatório. Para que o debate possa ressurgir, para que a reflexão renasça e até para que o sentido do rídiculo e do questionamento possam voltar à ordem do dia.
Se as empresas têm responsabilidades sociais, contas com muitos seguidores (eu diria todas as contas, até!) deveriam saber que também a têm. Enquanto profissional que trabalha com o digital (e pessoa!) é minha responsabilidade aquilo que comunico e a forma como o faço. O impacto que tenho nos outros aumenta-me a responsabilidade. E eu creio que está na hora de começarmos a pensar na forma como o fazemos e naquilo que podemos estar (todos) a criar.
As minhas inseguranças, os meus medos, a história dos meus apenas a mim diz respeito. Se preciso da validação dos outros, a resposta não está no oversharing, no overlikings...
Fica o convite à reflexão. Para que, no final, não sejamos todos uma grande fraude!
Bom fim-de-semana, gente boa!
Magda