Em mensagem anterior referi
que me foi solicitada autorização para integrar o poema Big- Bang num “material didático de Química
para o 1º ano do Ensino Médio, na Rede Salesiana Brasil”.
Big- Bang
Na minha infância,
o Universo
estendia-se do Castelo até às Eiras,
envolvendo a Praça
e o Cabecinho onde ficava a minha escola.
À volta eram
ladeiras que velavam o sono do rio lá no fundo.
Era assim o meu
mundo que, para mim, era maior que o infinito
e que em cinco
linhas aqui ficou descrito, contrariando assim,
à evidência, uma das
conjecturas da ciência.
Desde o seu Big-Bang o meu
Universo contrai-se, não se expande.
Gouveia, R.in Magnetismo Terrestre
Há dias, relia Manoel
de Barros e o poema que segue,
de sua autoria, fez-me lembrar um pouco este meu poema Big-Bang.
O título desta
mensagem fui buscá-lo precisamente ao poema de Manoel de Barros
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas
mais que a dos mísseis.
Tenho em mim
esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância
de ser feliz por isso.
Meu quintal
É maior do que o mundo.
A propósito ainda
de Manoel de Barros, há dias descobri na NET uma série de textos seus dedicados
ao público mais jovem. Alguns trechos lembram-me Mia Couto. Aqui os deixo bem
como um vídeo
O MENINO QUE CARREGAVA ÁGUA NA PENEIRA
Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino
que carregava água na peneira.
A mãe disse que carregar água na peneira
Era o mesmo que roubar um vento
e sair correndo com ele para mostrar aos irmãos
A mãe disse que era o mesmo que
catar espinhos na água
O mesmo que criar peixes no bolso.
O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos.
A mãe
reparou que o menino
gostava mais do vazio
do que do cheio.
Falava que os vazios são maiores
e até infinitos.
Com o tempo aquele menino
que era cismado e esquisito
porque gostava de carregar água na peneira Com o tempo descobriu que escrever seria
o mesmo que carregar água na peneira
No escrever o menino viu
que era capaz de ser
noviça, monge ou mendigo
ao mesmo tempo.
O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens. Foi capaz de interromper o voo de um pássaro
botando ponto no final da frase. Foi capaz de modificar a tarde botando uma
chuva nela.
O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor!
A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou:
Meu filho você vai ser poeta. Você vai carregar água na peneira a vida toda. Você
vai encher os
vazios com as suas peraltagens e algumas pessoas
vão te amar por seus despropósitos.
A MENINA AVOADA
Foi na fazenda de meu pai antigamente
Eu teria dois anos; meu irmão, nove.
Meu irmão pregava no caixote
duas rodas de lata de goiabada.
A gente ia viajar.
As rodas ficavam cambaias debaixo do caixote:
Uma olhava para a outra.
Na hora de caminhar
as rodas se abriam para o lado de fora.
De forma que o carro se arrastava no chão.
Eu ia pousada dentro do caixote
com as perninhas encolhidas.
Imitava estar viajando.
Meu irmão puxava o caixote
por uma corda de embira.
Mas o carro era diz-que puxado por dois bois.
Eu comandava os bois:
- Puxa, Maravilha!
- Avança, Redomão!
Meu irmão falava
que eu tomasse cuidado
porque Redomão era coiceiro.
As cigarras derretiam a tarde com seus cantos.
Meu irmão desejava alcançar logo a cidade -
Porque ele tinha uma namorada lá.
A namorada do meu irmão dava febre no corpo dele.
Isso ele contava.
No caminho, antes, a gente precisava
de atravessar um rio inventado.
Na travessia o carro afundou
e os bois morreram afogados.
Eu não morri porque o rio era inventado.
Sempre a gente só chegava no fim do quintal
E meu irmão nunca via a namorada dele -
Que diz-que dava febre em seu corpo.
Que maravilha, Regina os poemas, o video , o hino à vida simples e à criatividade das crianças. Claro que não podemos esquecer o progresso e a evolução mas temos que dar espaço à criança para ela poder crescer por si própria, apesar das maravilhas da tecnologia que já nascem com elas. Também é importante o amor à Natureza que está sempre presente no texto, no video e nos poemas incluindo o seu
ResponderEliminarUm beijo..
Obrigada Graciete
ResponderEliminarBjs
Regina