Bem-vindo, bienvenido, bienvenu, benvenuto, welcome....


Silêncio cósmico

Pudera eu regressar ao silêncio infinito,

ao cosmos de onde vim.

No espaço interestelar, vazio, negro, frio,

havia de soltar um grito bem profundo

e assim exorcizar todas as dores do mundo.

Regina Gouveia

NOVO BLOGUE

Retomei o blogue que já não usava há anos.

https://reflexoeseinterferncias.blogspot.com/

Dedico-o essencialmente aos mais novos mas todos serão bem vindos, muito em particular pais, avós, encarregados de educação, educadores ...


domingo, 26 de abril de 2020

25 de Abril


25 de Abril de 2020

"Infelizmente, não estou aí. Não haverá entrega de prémios nem descerei com vocês a Avenida [da Liberdade, em Lisboa], mas esta tarde deixarei cravos vermelhos na janela e cantarei, alto e bom som, a "Grândola, Vila Morena", de Zeca Afonso".
(Chico Buarque)

Na impossibilidade de ouvir " Grândola…" cantada pelo Chico, deixo-vos com "Tanto mar" na sua versão origina,l cantada pelo próprio



Deixo também uma versão posterior.....




Que o Chico me perdoe o atrevimento  mas  resolvi improvisar uma letra para o momento…

Não é a festa que sonhavas, pá
Mas haja esperança
Que depois vem a bonança
e “Abril” reflorirá

quinta-feira, 16 de abril de 2020

Um adeus a Luís Sepúlveda e a Maria de Sousa




E o meu irmão sabe muitas coisas.
Sabe, por exemplo,que um grama de pólen é como um grama de si mesmo,
docemente predestinado ao lodo germinal,
ao mistério daquilo que se erguerá vivo de ramos, de frutos e de filhos, 

com a bela certeza das transformações, do começo inevitável e do necessário final, porque o que é imutável encerra o perigo do eterno, 
e só os deuses têm tempo para a eternidade.
Luis Sepúlveda in "As rosas de Atacama"

Não só os deuses...
Luís Sepúlveda partiu mas permanece entre nós através da sua escrita, desde o Velho que lia romances de amor, até à História da Gaivota e do Gato que a ensinou a voar,  com que encantou e continuará a encantar, públicos de várias idades.




Na mesma semana,  o vírus levou também a imunologista Maria de Sousa, que no passado dia  3, pressentindo  o fim deixou a mensagem que anexo (tradução portuguesa do poema escrito em inglês)

 ‘Carta de Amor Numa Pandemia Vírica’,

Gaitas-de-fole tocadas na Escócia
Tenores cantam das varandas em Itália
Os mortos não os ouvirão
E os vivos querem chorar os seus mortos em silêncio
Quem pretendem animar?
As crianças?
Mas as crianças também estão a morrer
Na minha circunstância
Posso morrer
Perguntando-me se vos irei ver de novo
Mas antes de morrer
Quero que saibam
O quanto gosto de vós
O quanto me preocupo convosco
O quanto recordo os momentos partilhados e
queridos
Momentos então
Eternidades agora
Poesia
Riso
O sol-pôr
no mar
A pena que a gaivota levou à nossa mesa
Pequeno-almoço
Botões de punho de oiro
A magnólia
O hospital
Meias pijamas e outras coisas acauteladas
Tudo momentos então
Eternidades agora
Porque posso morrer e vós tereis de viver
Na vossa vida a esperança da minha duração
Maria de Sousa
3 de abril de 2020




segunda-feira, 13 de abril de 2020

Uma Páscoa diferente…



Em 2019, passámos a Páscoa em Trás-os-Montes, na aldeia do meu marido. 
Éramos 15… 

Mas se nesta Páscoa não pudemos estar juntos como em 2019, as novas tecnologias deram uma ajuda…Estivemos em rede aquém e além mar, com filhos, netos, primos, sobrinhos


Para mais tarde recordar, fiz um pequeno opúsculo, de que deixo  capa e conteúdo 


Da Páscoa de 2019 à Páscoa de 2020....


Era Páscoa e estávamos juntos
A mesa estava posta, aguardando,
coelhinhos da Páscoa vigiando
para que o dia irradiasse  amor e harmonia,
as mãozinhas da Marta preparando,
       raminhos de oliveira e alecrim
              
          Pais, tios, primos e avós reunidos,
          desejando que, florisse para sempre,
          um jardim no coração de  toda a gente
          e que os tempo de paz jamais tivessem fim 
              
          Mas um inimigo  espreitava sorrateiro,
          pensando destruir o amor e todos os seus laços….
          Sem armas à vista,  
          espalhou a pandemia, pelo  mundo inteiro
          esquecendo que há muito quem resista
          e que o amor não se esgota em beijos e abraços.







quinta-feira, 9 de abril de 2020

domingo, 5 de abril de 2020

Um aniversário diferente



No passado dia 3, a minha neta Rita fez 18 anos. Tinha programado uma festa  bonita com família e amigos mas…
Também contava ter ido à Holanda num  passeio do colégio mas…
Tentámos que , apesar das circunstâncias, o dia fosse inesquecível. Com fotos e textos que fui fazendo para ela ao longo dos tempos, construí um livro que o avô montou , encadernou, etc
Chama-se Cumplicidades e a imagem da capa “recorda” uma das nossas cumplicidades.

Numa exposição de pintura minha, teria a Rita uns 5 anos, gostou tanto dum quadro que quis  comprá-lo. A imagem da capa é precisamente a imagem do quadro
O que se passou a seguir serviu de tema para um  “poemasito”.

Exposição de pintura…
Quero comprar-te esse quadro
–disseste-me decidida.
Não será vendido, mas dado,
respondi-te com ternura.
Mas o que eu quero é comprá-lo
e só com o meu dinheiro.
Muito bem, se aceitas pagar um euro,
temos “negócio  fechado”.

E assim passou  a ser propriedade da Rita e está exposto na parede em frente à porta do seu quarto

Ao longo do livrinho vão sendo recordadas várias outras cumplicidades, mas a que mais  me marcou foi a que transcrevo a seguir :

Em setembro de 2005[1], quando da apresentação de um livro da avó, ao chegar a casa, manifestaste a tua tristeza porque querias ser escritora, mas não sabias escrever… Fiz-te um desafio. Dizias o que querias escrever, eu escreveria e tu ilustrarias. Assim surgiu o livrinho “A minha neta contou-me”.






 Seria importante não dizer nada, para ser surpresa no Natal. Para meu espanto, nada disseste, nem aos pais… Foi mesmo uma surpresa para todos, exceto para nós duas….

A partir daí, ao longo do tempo foram surgindo outros livrinhos, com o primo,  mais tarde com o primo e o irmão e por fim com o primo, o irmão e a prima…


  
 


Outra cumplicidade surgiu com os espectáculos que começámos a  fazer para a família, precisamente no Verão de 1975, tradição que temos mantido no tempo. À semelhança do que aconteceu com os livros,  também nos teatros o número de atores foi crescendo no tempo e por vezes outros “atores” têm participado ( amigos, outros familiares...)- Todos os teatrinhos  até ao verão de 2017(inclusive), ao todo 30, estão compilados em “Para mais tarde recordar (volume I). Os cinco que tiveram  lugar posteriormente  aguardam publicação num previsto  segundo volume…
  

Mas voltemos ao aniversário da Rita. 

Os primos brasileiros, que vivem no Porto há cerca de 2 anos, têm uma filha que é muito amiga da Rita.  Partiu dela  e de uma amiga da Rita, a ideia de fazer um vídeo coletivo com a participação da família e dos amigos, vídeo que lhe foi enviado às 0h no dia do aniversário.   Para além disso, o meu filho Nuno (tio e padrinho da Rita) compôs uma música, para a qual também escreveu a letra, e mandou à Rita um vídeo com ele e o José tocando e a Marta cantando.  
Também a família que vive no Brasil  enviou vários vídeos de parabéns .
No dia,  desabrochou  um lírio no quintal, como que a celebrar a efeméride. O avô fotografou a Rita junto à flor.



À tarde, os primos brasileiros que vivem no Porto, vieram de carro até à nossa rua. Eles na rua, a Rita  pais e irmão, nas janelas e nós, avós,  no terraço, cantámos-lhe os parabéns.
Apesar de muito diferente da festa que esperava, disse-me: Adorei este dia.

Termino com as três últimas páginas d o livro  “Cumplicidades”

Animação de festas. Eis o próximo desafio.

 Mais uma cumplicidade, desta vez com uma amiga.

 Tens  talento, experiência, muita força de vontade.

Eu que o diga….

Que seria dos nossas teatros  de Natal e  de verão,

sem a tua participação  e a tua tenacidade…?





O tempo, voraz, fugia sorrateiro
e eu, distraída, sem dar conta
que de menina passavas a mulher.
Ainda há tão pouco pequenina,
brincando na casinha de bonecas que eu sempre sonhei ter…
Ainda há tão pouco criança,
ensaiando, graciosa, os primeiros passos de dança.
Avós privilegiados!
Acompanhámos de bem perto todo este teu crescer.



Ao escrever este texto, recordando tantos momentos fantásticos que tu, o teu irmão e os teus primos nos têm proporcionado, emocionei-me várias vezes. Senti-me imensamente privilegiada. E o teu avô partilha do mesmo sentimento. 

Obrigada, Rita.


Termino com o que escrevi em 10 de dezembro de 2004,dia em que a tua bisavó Vera, se vivesse, teria  feito 84 anos.

 Mensagem
 
Mãe, talvez neste momento,
de uma longínqua estrela me estejas a olhar.
Quando olho o céu procuro vê-la
mas não a sei distinguir entre as demais.
Podias mandar alguns sinais,
talvez por infravermelho ou por radar.
Manda uma mensagem para o Monte Palomar, 
Quem sabe algum telescópio consegue captar.
Entretanto vou continuar a olhar o céu 





De mim pouco ou nada há a dizer, mas talvez gostes de saber
que dei em escrever, escrevo poesias,
porém muito aquém daquilo a que, por certo, aspirarias.
Tenho, no entanto, uma notícia fabulosa para te dar:
és bisavó de uma menina, cujo olhar
tem um encanto  tal, tem tal magia, que nele eu vejo o teu.