Bem-vindo, bienvenido, bienvenu, benvenuto, welcome....


Silêncio cósmico

Pudera eu regressar ao silêncio infinito,

ao cosmos de onde vim.

No espaço interestelar, vazio, negro, frio,

havia de soltar um grito bem profundo

e assim exorcizar todas as dores do mundo.

Regina Gouveia

NOVO BLOGUE

Retomei o blogue que já não usava há anos.

https://reflexoeseinterferncias.blogspot.com/

Dedico-o essencialmente aos mais novos mas todos serão bem vindos, muito em particular pais, avós, encarregados de educação, educadores ...


quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

O 1º de Dezembro em anos que já lá vão...

Numa mensagem que escrevi em Agosto, a propósito da peça que fui ver no castelo de Bragança, encenada pelo meu amigo de infância António Afonso, prometi que um dia falaria do tempo em que em Bragança havia necessariamente teatro no 1º de Dezembro


Não sei se os jovens de hoje sabem a razão da celebração do 1º de Dezembro. Para eles aqui fica uma breve informação

A Restauração da Independência é a designação dada à revolta iniciada em 1 de Dezembro de 1640 contra a tentativa de anulação da independência do Reino de Portugal por parte da dinastia filipina, e que vem a culminar com a instauração da Dinastia Portuguesa da casa de Bragança. É comemorada anualmente em Portugal por um feriado no dia 1 de Dezembro.


A ideia de recuperar a independência era cada vez mais poderosa e a ela começaram a aderir todos os grupos sociais. Os burgueses estavam muito desiludidos e empobrecidos com os ataques aos territórios portugueses e aos navios que transportavam os produtos que vinham dessas regiões. A concorrência dos Holandeses, Ingleses e Franceses diminuía-lhes o negócio e os lucros.


Os nobres descontentes viam os seus cargos ocupados pelos espanhóis, tinham perdido privilégios, eram obrigados a alistar-se no exército espanhol e a suportar todas as despesas. Também eles empobreciam e era quase sempre desvalorizada a sua qualidade ou capacidade! A corte estava em Madrid e mesmo a principal gestão da governação do reino de Portugal, que era obrigatoriamente exigida de ser realizada "in loco", era entregue a nobres castelhanos e não a portugueses. Estes últimos viram-se afastados da vida da corte e acabaram por se retirar para a província, onde viviam nos seus palácios ou casas senhoriais, para poderem sobreviver com alguma dignidade imposta pela sua classe social.


Portugal, na prática, era como se fosse uma província espanhola, governada de longe, sem qualquer preocupação com os interesses e necessidades das pessoas que cá viviam... Estas serviam para pagar impostos que ajudavam a custear as despesas do Império Espanhol que também já estava em declínio!


Foi então que um grupo de nobres - cerca de 40 (conjurados)- se começou a reunir, secretamente, procurando analisar a melhor forma de organizar uma revolta contra Filipe IV de Espanha. Uma revolta que pudesse ter êxito....


Em Bragança, a tradição académica tinha como celebração máxima , o 1º de Dezembro.
O teatro era uma das actividades que decorriam nas festividades . Além da apresentação de uma peça de teatro, ensaiada no meu tempo pelo Dr. Subtil ou pelo Dr. Carvalho, havia danças (folclore e não só) e pequenas rábulas.

A par destas representações havia o cortejo e o baile.

Fui encontrar num site a referência a essas festividades. A tradição foi extinta, por um lado porque hoje existe em Bragança Ensino Superior com os rituais da Queima e da recepção aos caloiros , por outro, no pós de 25 de Abril tentou colar-se o 1º de Dezembro a uma manifestação fascista.
Nada mais falso, pelo menos para a maioria, senão a totalidade dos alunos e professores envolvidos.  Por exemplo, em 1961, eu fiz de Princesa das Águas e contracenava com o Gigante Adamastor, Luís Salazar, hoje advogado que tal como o seu pai era,  já  na altura, um fero opositor ao regime do outro Salazar...
Deixo aqui excertos do que encontrei no referido site

Na altura não havia ensino superior em Bragança e o Liceu, a propósito das comemorações do 1 de Dezembro, fazia uma espécie de imitação de Coimbra. (Passadas mais de três décadas o modelo seguido pelas instituições superiores de ensino, criadas num movimento de tentativa de democratização do acesso ao saber, mima, sistematicamente, a velha universidade, como forma de manifestação social da garantia de acesso ao conhecimento, dessincronizada como o movimento criador da instituição, ou de qualquer criação).
Inédito em Bragança era o ritual de roubar galinhas; uma transgressão que, passadas tantas décadas, poucos assumem. Esta não confissão é cristalizada na frase: “Eu nunca roubei galinhas. Alguma vez ia confessar uma coisa dessas!”. Mais fácil é dizer que as comeram, que sabem de alguém que as roubou e ia na Praça da Sé, com uma mala enorme, cheia delas, com outro rapaz. Mandados parar pela polícia e, numa cena tirada de um filme da época, um dos moços larga a mala e foge, com a polícia atrás dele, enquanto e outro agarra a mala e segue caminho, até à taberna, onde estaria já preparada a combinação de matar, depenar e cozinhar, em segredo, as ditas galinhas da mala. Esta história passou-se com alguém das relações de Teófilo Vaz, que, apesar de ter chegado a Bragança numa altura em que a tradição já estava em declínio, em 1972, ainda participou em algumas comemorações do 1 de Dezembro. Segundo nos conta, tudo começava com os ensaios da peça, que haviam de apresentar depois. Teófilo Vaz refere que, durante muito tempo, o professor responsável pelos ensaios foi Fernando Subtil, que, numa noite verdadeiramente épica, apresentou Macbeth de Shakespeare. “Ele quis levar aquilo de uma forma muito realista e durou até às quatro ou cinco da manhã, com perús inteiros e jantares autênticos”.
A representação terá durado tanto que o público acabou por debandar e o secretário do Governador Civil, que tinha a função de Inspector da Direcção Geral de Espectáculos, encarregado de acompanhar as representações para ver se cumpriam o que a censura determinava, o “Dr. Carmona, acabou por “pedir ao Dr. Subtil para acelerar a representação"
Além de Fernando Subtil, há, ainda, a memória de que Graça Morais elaborou, durante um certo período, os cenários de algumas apresentações teatrais do 1 de Dezembro. “Fala-se muito nos cenários que elaborou para várias peças. Na altura tinha 16 ou 17 anos, ainda não era conhecida”, refere Teófilo Vaz.
A apresentação da peça tinha lugar no dia 1 de Dezembro. Octávio conta-nos que as comemorações começavam no dia anterior, à noite, com as serenatas. Primeiro os músicos iam a casa do Reitor do liceu. Depois, faziam serenatas às professoras ou professores que mais gostavam, em seguida, às raparigas, muitas das quais, não podiam aparecer. Essas, que não podiam abrir janela sequer, para dizer que tinham gostado, acendiam e apagavam a luz, três vezes.
No dia um de manhã, tinha lugar o cortejo(...)


Termino com imagens do 1º de Dezembro de 1961:
  • da abertura das festividades com o Dr. Carvalho, encenador nesse ano,
  • do cortejo com a presença do Reitor e do Vice-reitor bem como de individualidades da cidade,
  • do teatro em que a Princesa das Águas (eu) contracena com o Gigante Adamastor (Luís Salazar),
  • dançando uma “cota “ sendo meu par o Francisco Almeida,
  • do baile em que danço com o Fernando (hoje meu marido) e à mesa com várias pessoas, entre elas colegas e professores, um deles o Dr. Carvalho, encenador.



1 comentário:

  1. Muito lindo e elucidativo o seu post. Hoje, o Povo Português que sempre esteve do lado dos 40 fidalgos , devia também unir-se para reconquistar a independência que todos os dias vai sendo usurpada.

    Um beijo.

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