Lançar os olhos em volta,
moderado e complacente,
e tratar com toda a gente
sem tristeza nem revolta?
Sentir-se um homem feliz,
satisfeito com o que sente,
com o que pensa e com o que diz?
Como será estar contente?(...)
Hoje recebi um e-mail que me deixou contente. Diziam-me para consultar um site http://www.ecoliteracia.iec.uminho.pt/recensao_044.htm
Trata-se de uma recensão ao meu livro Ciência para meninos em poemas pequeninos
Perdoem-me a imodéstia, não resisti a partilhá-la convosco
Coletânea de trinta poemas destinados a crianças, este livro é percorrido, como o próprio título indicia, pelos topoï da ciência e da Natureza, recriando fenómenos naturais e propondo a reflexão sobre o mundo que nos rodeia. Apostados em chamar a atenção dos leitores para a realidade circundante, os textos dão conta do ciclo da água, explicam o que é a trovoada, como se forma a neve ou como funcionam fenómenos como a reflexão, a refração da luz, as fases da lua ou os balões de ar quente - tudo de forma minimal e acessível. Os pequenos e grandes mistérios da Natureza, capazes de surpreenderem e espantarem as crianças, transformam-se em mote poético para a literatura, mas também para o conhecimento. Motivando o questionamento e a reflexão, sem caírem no didatismo mais óbvio, os poemas são sobretudo pontos de partida para a descoberta da diversidade e da complexidade do mundo que nos rodeia, da vida e das suas múltiplas formas, dos elementos da Natureza, do caráter cíclico dos fenómenos e das consequências de alguns dos nossos atos, potenciando a criação de uma literacia ecológica. Alguns destes poemas apresentam os estados de coisas de modo muito indireto, como aquele em que se refere as duas bonecas de uma menina, uma deles de pasta de papel e a outra de porcelana, e a consequência de se ter dado banho à primeira, ou o risco de deixar cair a segunda. E não se furtam a alguma dimensão social crítica, como a que se manifesta no poema em que um sujeito de enunciação reclama com o Pai Natal por este ser parcial, não distribuindo os presentes de forma igualitária entre todos os meninos.
O olhar do sujeito poético, quase sempre próximo do da criança, carateriza-se pelo deslumbramento perante a variedade e a complexidade, mas também perante outras dimensões, como a beleza. É igualmente percetível uma certa ternura na forma delicada e sensível como os temas, personagens e motivos são recriados. A linguagem simples e acessível e a opção pela aproximação ao universo narrativo transformam cada texto numa história que pode continuar a ser contada depois de terminada a leitura. A formação científica da autora e a sua dinamização de oficinas que juntam a poesia e a ciência com crianças explicará a centralidade do tema.
As ilustrações, muito simples, procuram recriar as personagens ou os motivos centrais do texto, apoiando a descodificação dos mesmos. O volume inclui ainda um endereço online com sugestões de atividades a realizar a partir da leitura dos poemas.
Ramos, A. M. & Ramos, R., 2010
Regresso ao belíssimo poema de António Gedeão.
Deve haver qualquer mecânica,
qualquer retesada mola
que se solta e desenrola
no próprio instante preciso,
para que um homem de carne,
de olhos pregados no rosto,
posso olhar e rir com gosto
sem estranhar o som do riso.
Na minha tosca engrenagem,
de ferrugenta sucata,
há qualquer mola de lata
que não se distende bem,
qualquer dessorada glândula
ou nervo que não se enfeixa,
qualquer coisa que não deixa
deflagrar essa girândola
de timbres que o riso tem.
Não ter riso e não ter casa,
nem dinheiro nem saúde,
não se conta por virtude
que a miséria é ferro em brasa.
Mas ter casa, ter dinheiro,
ter saúde e não ter riso,
flagelar-se o dia inteiro
como se o sangrar primeiro
fosse um tormento preciso,
tê-lo sempre forte e vivo,
espantado a todo o momento,
isso sim, será motivo
de grande contentamento.”
(António Gadeão)
Falar em contentamento sugeriu-me outros estados de alma, como alegria e felicidade.
A terminar incluo um poema meu "Alegria", a obra "Alegria de Viver" de Matisse e um vídeo sobre a obra de Henri Rousseau a quem se atribui a frase
Alegria
Estou em crer que a alegria nos rodeia, dia a dia, sob a forma de vapor.
Se encontra núcleos de amor onde possa condensar
surge na forma dum riso, no cintilar de um sorriso ou no brilho de um olhar.
Mas, se por falta de amor, não consegue condensar
acaba por cristalizar em sofrimento e em dor.
A alegria de Viver (Matisse)
Obra de Rousseau
Se não fosse professora de Física, não sei se os seus poemas teriam tão grade dimensão. O seu poema ALEGRIA, não sei se já o tinha lido, mas acho-o extraordinário. A Física e a poesia entrelaçam-se aí de uma maneira espantosa.
ResponderEliminarQuanto ao texto sobre o seu livro estou em total acordo.
Um beijo
Estamos todos de parabéns por a termos conhecido; a nós a quem chama amigos... É muito bom!
ResponderEliminarComo a Regina, também nos sentimos alegres e felizes e gostamos da vida. Obrigada por dar o seu contributo para nos sentirmos assim!...
Um grande beijo
Adelaide Pereira
Há quem diga que não se pode sentir felicidade enquanto houver tanta miséria no mundo. Não concordo. Há momentos em que temos de acolher o que nos é dado sem regatear, darmos graças por estarmos vivos e podermos apreciar as maravilhas que nos rodeiam. Nesse ponto sinto como Rousseau, não há nada que me faça mais feliz que a Natureza....e acrescentaria ainda a Música.
ResponderEliminarFelizes os que, como tu, sabem dar e receber com simplicidade. A Felicidade é-lhes inteiramente merecida.
Bjo