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Silêncio cósmico

Pudera eu regressar ao silêncio infinito,

ao cosmos de onde vim.

No espaço interestelar, vazio, negro, frio,

havia de soltar um grito bem profundo

e assim exorcizar todas as dores do mundo.

Regina Gouveia

NOVO BLOGUE

Retomei o blogue que já não usava há anos.

https://reflexoeseinterferncias.blogspot.com/

Dedico-o essencialmente aos mais novos mas todos serão bem vindos, muito em particular pais, avós, encarregados de educação, educadores ...


quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Meu quintal é maior do que o mundo.


Em mensagem anterior referi que me foi solicitada autorização para integrar o poema Big- Bang num “material didático de Química para o 1º ano do Ensino Médio, na Rede Salesiana Brasil”.

Big- Bang

Na minha infância,

o Universo estendia-se do Castelo até às Eiras,

envolvendo a Praça e o Cabecinho onde ficava a minha escola.

À volta eram ladeiras que velavam o sono do rio lá no fundo.

Era assim o meu mundo que, para mim, era maior que o infinito

e que em cinco linhas aqui ficou descrito, contrariando assim,

à evidência, uma das conjecturas da ciência.

Desde o seu Big-Bang o meu Universo contrai-se, não se expande.

 Gouveia, R.in Magnetismo Terrestre

Há dias, relia Manoel de Barros  e o poema que segue, de sua autoria, fez-me lembrar um pouco este meu poema Big-Bang.
O título desta mensagem fui buscá-lo precisamente ao poema de Manoel de Barros

Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas
mais que a dos mísseis.
Tenho em mim
esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância
de ser feliz por isso.
Meu quintal
É maior do que o mundo.

A propósito ainda de Manoel de Barros, há dias descobri na NET uma série de textos seus dedicados ao público mais jovem. Alguns trechos lembram-me Mia Couto. Aqui os deixo bem como um vídeo

O MENINO QUE CARREGAVA ÁGUA NA PENEIRA


Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino
que carregava água na peneira.
A mãe disse que carregar água na peneira

Era o mesmo que roubar um vento

e sair correndo com ele para mostrar aos irmãos
A mãe disse que era o mesmo que
catar espinhos na água
O mesmo que criar peixes no bolso.
O menino era ligado em despropósitos.

Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos.

A mãe reparou que o menino
gostava mais do vazio
do que do cheio.
Falava que os vazios são maiores
e até infinitos.
Com o tempo aquele menino
que era cismado e esquisito
porque gostava de carregar água na peneira Com o tempo descobriu que escrever seria o mesmo que carregar água na peneira
No escrever o menino viu
que era capaz de ser
noviça, monge ou mendigo
ao mesmo tempo.
O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens. Foi capaz de interromper o voo de um pássaro botando ponto no final da frase. Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.
O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor!
A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou:
Meu filho você vai ser poeta. Você vai carregar água na peneira a vida toda. Você vai encher os
vazios com as suas peraltagens e algumas pessoas
vão te amar por seus despropósitos.

 A MENINA AVOADA

Foi na fazenda de meu pai antigamente
Eu teria dois anos; meu irmão, nove.

Meu irmão pregava no caixote
duas rodas de lata de goiabada.
A gente ia viajar.

As rodas ficavam cambaias debaixo do caixote:

Uma olhava para a outra.

Na hora de caminhar

as rodas se abriam para o lado de fora.

De forma que o carro se arrastava no chão.

Eu ia pousada dentro do caixote

com as perninhas encolhidas.

Imitava estar viajando.

Meu irmão puxava o caixote

por uma corda de embira.

Mas o carro era diz-que puxado por dois bois.

Eu comandava os bois:

- Puxa, Maravilha!

- Avança, Redomão!

Meu irmão falava

que eu tomasse cuidado

porque Redomão era coiceiro.

As cigarras derretiam a tarde com seus cantos.

Meu irmão desejava alcançar logo a cidade -

Porque ele tinha uma namorada lá.

A namorada do meu irmão dava febre no corpo dele.

Isso ele contava.

No caminho, antes, a gente precisava

de atravessar um rio inventado.

Na travessia o carro afundou

e os bois morreram afogados.

Eu não morri porque o rio era inventado.

Sempre a gente só chegava no fim do quintal

E meu irmão nunca via a namorada dele -

Que diz-que dava febre em seu corpo.

2 comentários:

  1. Que maravilha, Regina os poemas, o video , o hino à vida simples e à criatividade das crianças. Claro que não podemos esquecer o progresso e a evolução mas temos que dar espaço à criança para ela poder crescer por si própria, apesar das maravilhas da tecnologia que já nascem com elas. Também é importante o amor à Natureza que está sempre presente no texto, no video e nos poemas incluindo o seu

    Um beijo..

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