Creio
que já aqui referi que não sou muito eclética relativamente à música. Gosto
genericamente de quase toda a música geralmente referida como clássica, por vezes impropriamente,
de música brasileira, essencialmente na área da bossa nova, de muita da música dos anos 60, de bandas
filarmónicas, de fado, muito em
particular o de Coimbra ...
Hoje
as minhas escolhas foram precisamente
para este género musical. Comecei por tocar alguns no meu cavaquinho (que toco
muito mal) e em seguida, ouvi alguns
CD que possuo.
Decidi pesquisar na NET as origens deste fado e deparei com uma
tese de dissertação muito interessante
A
Guitarra Portuguesa e a Canção de Coimbra
Subsídios para o seu estudo e contextualização
LUIS
PEDRO RIBEIRO CASTELA
UNIVERSIDADE
DE COIMBRAFACULDADE DE LETRAS 2011
Deixo
um breve excerto, até porque o texto é longo e requer uma análise cuidada
(...)A origem
do Fado, enquanto género musical português, é de difícil localização temporal e
geográfica. Muitas são as teorias, algumas baseadas em provas factuais e consequentes
ilações, outras apenas da intuição desenvolvida por alguns testemunhos vivos da
época que remontam ao seu aparecimento. Assim, vários nomes ligados à musicologia
foram desenvolvendo várias hipóteses para o seu eventual surgimento. Alguns
autores, como o caso de Teófilo Braga,
referem que terá nascido a partir dos cânticos do povo muçulmano,
marcadamente dolentes e melancólicos. Outras teorias, como as de Pinto de
Carvalho, apontam para a origem do fado no Lundum, música dos escravos
brasileiros que teria chegado até nós através dos marinheiros, por volta de
1820. Outra hipótese, defendida por autores como Barreto Mascarenhas, remonta
aos tempos dos trovadores medievais, cujas canções contêm características que o
Fado conserva, defendendo que as cantigas de amigo revelam semelhanças com
alguns temas recorrentes do Fado de Lisboa, assim como as cantigas de amor
possuem a áurea romântica do apelidado “Fado de Coimbra”, ou ainda a crítica política e social tão típica do Fado que remonta
às cantigas de escárnio e maldizer. Porém, no meu entender, todas estas
hipóteses são frágeis não tendo sido apresentada uma fundamentação científica relevante
para qualquer uma delas. Penso que os mitos da origem do Fado aparecem sobretudo
por este ser um canto popular de carácter poético/musical, enraizado numa cultura
repleta de saudosismos históricos, onde a própria origem do género é tema de alguns
dos textos cantados(...).
Neste
contexto o autor apresenta uma estrofe do “Fado Português” de José Régio, poema musicado
por Alain Oulman e cantado
por Amália
O
Fado nasceu um dia,
quando
o vento mal bulia
e
o céu o mar prolongava,
na
amurada dum veleiro,
no
peito dum marinheiro
que,
estando triste, cantava,
que,
estando triste, cantava.
Ai,
que lindeza tamanha,
meu
chão , meu monte, meu vale,
de
folhas, flores, frutas de oiro,
vê
se vês terras de Espanha,
areias
de Portugal,
olhar
ceguinho de choro.
Na
boca dum marinheiro
do
frágil barco veleiro,
morrendo
a canção magoada,
diz
o pungir dos desejos
do
lábio a queimar de beijos
que
beija o ar, e mais nada,
que
beija o ar, e mais nada.
Mãe,
adeus. Adeus, Maria.
Guarda
bem no teu sentido
que
aqui te faço uma jura:
que
ou te levo à sacristia,
ou
foi Deus que foi servido
dar-me
no mar sepultura.
Ora
eis que embora outro dia,
quando
o vento nem bulia
e
o céu o mar prolongava,
à
proa de outro veleiro
velava
outro marinheiro
que,
estando triste, cantava,
que,
estando triste, cantava.
Regresso ao fado de Coimbra e deixo-vos com alguns fados e
baladas. Tive muitas dificuldades na escolha mas acabei por optar por Fado do Alentejo, na
voz de Menano, Samaritana
na voz de Luis Marinho,Trova do
vento que passa , na voz de Adriano, Menina dos olhos tristes na voz de Zé Afonso e Variações em
Ré menor de Artur Paredes com Carlos Paredes na guitarra.
Termino com o O Fado de
José Malhoa Óleo s/ tela 1910
Não sou especial amante do fado,embora seja de Lisboa e nunca fui a uma casa de fados. Quando namorava, enamorei-me do fado de Coimbra onde o meu ex- estudava e ouvia aquele programa Do Choupal até à Lapa com lágrimas nos olhos ( sempre fui chorona). Ultimamente há cantores de fado de que gosto muito, sobretduo quando não imitam a Amália. Gosto do João Braga, da Carminho, Mafalda Arnauth, etc. O fado tem de ser ouvido com ambiente, não é para se ouvir casualmente. Adoro o Carlos Paredes. E esta canção do Zeca faz-me arrepios, pois lembro-me do meu cunhado ( marido da minha irmã e nosso amigo de adolescente, que morreu em Angola e veio no seu caixão trazido pela força aérea, foi um dos momentos mais tristes da minha vida.
ResponderEliminarTambém adoro o Adriano e ouvi-o ao vivo na Póvoa de Varzim...
Bjo
Mas eu gosto de fado!!! Não o da coitadinha/o abandonada/o pelo amante, mas o fado daqueles que sofrem realmente, que lutam, que cantam, chorando como nos diz José Régio no fado da Amália que a Regina apresenta.. Gosto dos nossos poetas cantados em fados maravilhosos, gosto dos que nos nos dizem coisas como ,por exemplo, o fado canção da Amália, "A casa da Mariquinhas", gosto de todos os fados e canções que a regina cita no seu post... mas "A menina dos olhos tristes" ninguém a canta como o Adriano.
ResponderEliminarTambém gosto da tela do José Malhoa.
Um beijo, Regina e até sábado.