A tocar em duo com Miguel Carvalhinho há três anos, Luísa Amaro continua o seu trabalho na procura de novos caminhos para a guitarra portuguesa. Assim nasce IN-CANTO - um projecto onde a guitarra portuguesa, e a sua habitual companheira guitarra clássica, se cruzam com outros sons, quiçá remontando às suas origens. Juntam-se aqui à percussão árabe, descobrindo novos timbres e envolvências musicais ilustrados e interpretados por uma outra arte ancestral: a dança oriental.
Para tal, foram convidados Tiago Pereira, um estudioso em percussão oriental, Gonçalo Lopes, clarinetista com vasto repertório de música oriental e Joana Grácio, bailarina de dança oriental, criando um espectáculo onde a sonoridade portuguesa se funde com os ambientes orientais. Instrumentos, ora a solo, ora todos juntos, ora em duo, ora com dança, criam ritmos que transportam o público para lugares longínquos, onde a sedução e a insinuação se fazem sentir.
Um projecto pioneiro que rompe, uma vez mais, com a exclusiva ligação da guitarra portuguesa ao Fado e ao masculino. Neste espectáculo o apelo à sensibilidade, à espiritualidade e à transcendência musical marca presença.
E passando da música à literatura, recordo um livro de que aqui falei em tempos,Capricho 43, cujo autor é o escritor Carlos Vaz que me deu a honra de prefaciar Poemas no espaço tempo, um dos dois livros agora incluídos em Entre margens
Capricho 43 é essencialmente uma obra de ficção de viagem pelo rio Letes, o rio do esquecimento, numa espécie de barco, que é um tanque de cimento, cuja tripulação procura ilhas de encontro, o encontro com a ciência, através das experiências pensadas de Isaac Newton, e o encontro com a arte, mais propriamente a pintura, com o conjunto de desenhos intitulados por Goya de Los Caprichos
Tudo isto narrado sempre num corpo de crescimento e de interrogação quase infantil do estranho homem-que-separa-as-águas e a sua Mãe.
A originalidade do seu estilo literário é considerada pela ensaísta Maria Teresa Dias Furtado, no prefácio à obra, como uma escrita onde "(...) as dicotomias encontradas, medo/coragem, sonho/razão, humanidade/monstruosidade, memória/esquecimento, criança/homem, crítica/sonho, branco/cores, entre outras, geram a metamorfose desejada do leitor numa entrega do seu corpo ao acolher a própria viagem do texto." ainda segundo a mesma ensaísta "(...)
Muito bom.
ResponderEliminarCapricho é uma palavra que aprecio, super ambígua, tanto positiva como negativa e até as palavras que se criam a partir dela são interessantes como "caprichar."
Tanto é usada para pessoas como para objectos como uma bola que se revela caprichosa num jogo de futebol.
Gosto de pessoas caprichosas.
Conheci o Capricho Italiano quando tinha uns dez anos, o meu Pai punha discos e nós tínhamos de adivinhar os compositores. Nunca mais me esqueci desta peça que depois ouvi muitas mais vezes. O Capricho Espanho também conheço, mas não o de Paganini, que vou ouvir.
Bjo
Afinal conhecia muito be o de Paganini, só que não sabia que se chamava assim. Um dia o meu Daniel vai tocá-lo :))
ResponderEliminarMais um post cheio de cultura e conhecimentos. Os Caprichos são uma delícia de música mas não consegui ouvir o de Tchaikovsky. A Luisa Amaro continua a obra do seu grande Mestre. Procurei e ouvi a Canção para Carlos Paredes que achei lindíssima.
ResponderEliminarQuanto ao Capricho 43 de Carlos Vaz nada posso dizer porque não conheço. Mas pelas apreciações deve ser interessantíssimo.
Um beijo de muita amizade, Regina.
Obrigada às duas e parabéns ao Daniel porque tanto quanto sei, o capricho 24 de Paganini é muito difícil.de tocar
ResponderEliminarRegina
"Capricho 43", eis um livro que há muito não ouvia falar. Foi para os raros "seres de afecto" como tu Regina que o escrevi... obrigado por teres andado por lá estes dias. Abraço Carlos
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