Hoje não tive dificuldade na escolha da obra. Ontem alguém me diizia que se estivermos atentos quando andamos na rua, vemos que os portugueses andam tristes cabisbaixos e mais agressivos.
Falou, tá falado
Não tem discussão
A minha gente hoje anda
Falando de lado
E olhando pro chão,
Você que inventou esse estado
E inventou de inventar
Toda a escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar
O perdão
Amanhã há de ser
Outro dia
Eu pergunto a você
Onde vai se esconder
Da enorme euforia
Como vai proibir
Quando o galo insistir
Em cantar
Água nova brotando
E a gente se amando
Sem parar
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros, juro
Todo esse amor reprimido
Esse grito contido
Este samba no escuro
Você que inventou a tristeza
Ora, tenha a fineza
De desinventar
Você vai pagar e é dobrado
Cada lágrima rolada
Nesse meu penar
Amanhã há de ser
Outro dia
Inda pago pra ver
O jardim florescer
Qual você não queria
Você vai se amargar
Vendo o dia raiar
Sem lhe pedir licença
E eu vou morrer de rir
Que esse dia há de vir
Antes do que você pensa
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai ter que ver
A manhã renascer
E esbanjar poesia
Como vai se explicar
Vendo o céu clarear
De repente, impunemente
Como vai abafar
Nosso coro a cantar
Na sua frente
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai se dar mal
Etc. e tal
La, laiá, la laiá, la laiá
É natural e são genericamente as pessoas mais idosas pois sentem -se espoliadas com as medidas que têm vindo a ser aplicadas e as que se anunciam.
Abrigam-se os pobres nas ruínas,
com gestos e ademanes de ladrões.
sacode o mundo, tenebrosamente:
dá-me tu, ó Musa, um furor sagrado,
que nos levante, poderosamente!
Uma lira que abale as seguranças
dos que vivem de rapina e trapaças!
Dá-me um canto canoro e eloquente,
que seja para os pobres como um sol,
que faz do pobre grato girassol!
onde copulam gula e impudor!"
É Camões que se definha
Nas ruas de Lisboa abandonadas.
É Camões que a sorte vil, mesquinha,
Faz em noites de fome torturadas,
Ele o velho cantor de heróis guerreiros!...
Vagar errante como os vis rafeiros.
Morreu-lhe o escravo, o seu fiel amigo,
O seu amparo e seu bordão no mundo,
Morreu-lhe o humilde companheiro antigo,
No seu vácuo deixando um vácuo fundo.
Hoje, pois, triste, velho, sem abrigo,
Faminto, abandonado e vagabundo,
Tenta esmolar também pelas esquinas.
Ó lágrimas!... Ó glória! Ó ruínas
Olá Regina
ResponderEliminarOutro excelente post, onde está bem explícito que as palavras são armas, através dos poemas que apresenta.
Só uma pequena nota em relação à canção de Chico Buarque de que eu também gosto muito.. Eu interpretaria assim "apesar da tristeza de você, é por e com você que amanhã será um novo dia".
Um beijo.
Esta canção foi proibida pela ditadura. "Você" referia-se implicitamente ao ditador da altura
ResponderEliminarBjs
Regina
É verdade Regina. Li à pressa e interpretei mal.Obrigada pela correção.. Eu interpretei como sendo a tristeza e o desalento de" você" que hoje é muito comum entre as pessoas.
ResponderEliminarUm beijo.