Bem-vindo, bienvenido, bienvenu, benvenuto, welcome....


Silêncio cósmico

Pudera eu regressar ao silêncio infinito,

ao cosmos de onde vim.

No espaço interestelar, vazio, negro, frio,

havia de soltar um grito bem profundo

e assim exorcizar todas as dores do mundo.

Regina Gouveia

NOVO BLOGUE

Retomei o blogue que já não usava há anos.

https://reflexoeseinterferncias.blogspot.com/

Dedico-o essencialmente aos mais novos mas todos serão bem vindos, muito em particular pais, avós, encarregados de educação, educadores ...


sábado, 8 de novembro de 2014

Sempre que o homem sonha, o mundo pula e avança...


Creio que todos reconhecem o título desta mensagem, retirado do belíssimo poema de António Gedeão “Pedra Filosofal” , que podemos ouvir na voz de  Manuel Freire 

O sonho é tema de muitos poetas, nomeadamente Fernando Pessoa (neste caso Bernardo Soares)

Tenho uma espécie de dever de sonhar sempre, pois, não sendo mais, nem querendo ser mais, que um espectador de mim mesmo, tenho que ter o melhor espetáculo que posso. Assim me construo a ouro e sedas, em salas supostas, palco falso, cenário antigo, sonho criado entre jogos de luzes brandas e músicas invisíveis. (Bernardo Soares in Livro do Desassossego)

Maria Bethânia diz este trecho numa espécie de introdução ao poema  “Sonho impossível” de Chico Buarque  Podemos ouvi-la também aqui.

O sonho comanda a vida... (António Gedeão)

Há já uns dias, Carlos Fiolhais colocou  em De Rerum Natura , a animação que  também  podem ver  diretamente aqui

Na verdade o homem nunca deixou  sonhar . E continua almejando pisar um dia o planeta Marte
Em 01/11/2013 a NASA começou a preparar o  lançamento da 1.ª missão de exploração da atmosfera marciana e em  19/11/2013 foi lançada a sonda Maven (Mars Atmosphere and Volatile Evolution) que  no  passado mês de Setembro terminou a sua viagem interplanetária. Um disparo de 33 minutos do seu propulsor, colocou-a-a numa órbita elítica que vai encolher durante as próximas seis semanas. A sua tarefa será descobrir o que aconteceu à atmosfera de Marte.
As sondas e rovers anteriores  viram evidências químicas e geológicas de que o Planeta Vermelho já foi muito parecido com a Terra: quente, húmido, um ambiente amigável para a vida. Mas a certo ponto, as coisas mudaram: Marte perdeu a maioria da sua atmosfera espessa que permitia com que a água permanecesse no estado líquido à superfície. Ao examinar a atmosfera actual e ao observar em tempo real como muda em resposta à radiação do Sol, a MAVEN vai tentar descobrir o quando e o porquê disso ter acontecido.

Uma outra sonda, a sonda indiana MOM (Mars Orbiter Mission, ou Mangalyaan), foi lançada a bordo do veículo de lançamento indiano PSLV no dia 5 de Novembro de 2013; ficou estacionada em órbita terrestre até dia 1 de Dezembro. Seguiu-se uma manobra de injeção e a sonda escapou da órbita da Terra seguindo um percurso que permitiu encontrar-se com o Planeta Vermelho a 24 de Setembro de 2014. A MOM vai estudar o clima de Marte, fotografar a superfície e mapear os minerais do planeta, e poderá ser capaz de determinar de onde é que surgiu o metano detectado por sondas anteriores. 
Ambas as sondas chegaram mesmo a tempo de observar o que promete ser a mais feroz chuva de meteoros já registada. Terá início quando o Cometa Siding Spring passar pelo planeta em meados de Outubro, a uns meros 173.000 quilómetros da sua superfície.
A revista Expresso de  28/12/ 2013 dedica algumas páginas a Marte sob o título Missão Marte 2024 
                                
Ainda a propósito da ida a Marte... 
A distância entre a Terra e o Planeta Vermelho depende da posição relativa de ambos os planetas, mas o certo é que nunca se encontram a menos de 55 milhões de quilómetros. A NASA estima que, com a actual tecnologia, uma missão tripulada demoraria, na melhor das hipóteses, seis a sete meses a vencer a distância. A viagem, segundo concluiu um grupo de analistas da agência em 2007, poderia ter início em 2028, segundo um plano que contempla, fundamentalmente, enviar em Dezembro desse ano ou Janeiro de 2029 o habitat destinado aos astronautas e à carga.

O material seria lançado a bordo de enormes foguetões Ares V, os veículos que irão substituir os ultrapassados vaivéns espaciais, que poderiam atingir o seu objectivo entre Outubro e Novembro de 2029. Em Fevereiro de 2031, seria a vez da tripulação, a qual poderia pisar a superfície marciana em Agosto desse ano.

Além de constituir uma impressionante aposta económica e logística, a aventura também implica importantes desafios científicos: precaver a exposição dos astronautas aos nocivos raios cósmicos e acautelar os efeitos sobre o organismo de uma longa viagem em condições de baixa gravidade, assim como os problemas psicológicos decorrentes do isolamento e da falta de privacidade. 


Uma coisa é ter a tecnologia para chegar a Marte, outra é fazer a viagem (que demorará entre seis a oito meses) e outra ainda é viver no planeta vermelho, num espaço confinado e com recursos muito limitados. É para avaliar essa capacidade que uma equipa de seis pessoas selecionadas pela NASA se encontra na cratera do vulcão Mauna Loa, no Havai.

A missão HI-SEAS (Hawaiʻi Space Exploration Analog and Simulation) começou esta semana, vai durar oito meses e tem por objetivo avaliar a capacidade de gestão da equipa em diversas vertentes. Por um lado, a aptidão técnica de gerir os escassos recursos, tais como a água e os alimentos, por outro, a habilidade de viver durante oito meses numa cúpula com apenas 10 metros de diâmetro. Como nota o Guardian, este é provavelmente, um dos maiores desafios.

Os seis elementos que constituem a equipa selecionaram-se a eles próprios, após um treino exploratório de uma semana, em que um grupo maior testou as competências de sobrevivência individual, de grupo e a personalidade. No final do treino, votaram uns nos outros com base nas características sociais.

O grupo é constituído maioritariamente por engenheiros, de diversas especialidades. Ao longo dos próximos oito meses, vão viver num espaço muito pequeno, estudar diversas matérias tais com a produção e gestão de energia e alimentos, com algumas saídas exploratórias dentro de fatos especiais que simulam o equipamento real. Aliás, toda a missão prima pelo realismo, até as comunicações com a estação de comando sofrem um atraso simulado de 20 minutos, o tempo que o sinal de rádio demora a percorrer a distância entre a Terra e Marte. Ou seja, entre uma pergunta e uma resposta, passam 40 minutos.

Muito provavelmente, nenhum dos elementos que participa nesta experiência no Havai irá pôr algum dia os pés em Marte (a NASA prevê uma primeira missão tripulada para 2030), mas este tipo de experiência é muito importante para avaliar e estabelecer as condições mínimas em que as pessoas conseguem viver, bem como compreender os mecanismos psicológicos e sociológicos envolvidos em missões que obrigam a uma convivência permanente e num espaço exíguo. Mais que viver num planeta hostil, a ida do Homem a Marte representará um desafio para ele próprio.

O sonho comanda a vida....


Também em mensagem recente,  António Piedade postou em De Rerum Natura a mensagem “Tocar no cometa” de que deixo alguns excertos

Os cometas são anteriores à formação do nosso planeta Terra. Durante milhares de milhões de anos, antes da nossa espécie se erguer para o espaço, os cometas sempre cruzaram e embelezaram os céus. Mais tarde, também despertaram a curiosidade que nos iria conduzir à ciência.
Os cometas, como escreveu Carl Sagan num livro lindíssimo sobre estes astros (que a Gradiva reeditou recentemente entre nós), “são as neves de outrora, os despojos primitivos da criação do sistema solar, gelos expectantes nas trevas interestelares”.
Durante milhares de anos, na escuridão dos céus e do nosso conhecimento, a visita dos cometas incendiou a retina e milhões de sinapses neuronais, o que fertilizou a imaginação humana, criou mitos, previu a sorte ou o infortúnio, anunciou o nascimento ou a morte de imperadores, foi expressão de um juízo divino a guiar os nossos destinos.
A observação sistemática da abóbada deslumbrante permitiu registar uma regularidade frequente no aparecimento dos cometas. Progressivamente, e com ciência, compreendemos melhor a natureza destes astros. O conhecimento substituiu o medo, o terror deu lugar a um outro deslumbramento (....)
Passamos a esperar o regresso destes corpos gelados, relíquias do passado que é a nossa história, fósseis astronómicos que nos podem ensinar como é que o sistema solar se gerou. As nossas teorias científicas precisam de ser comprovadas experimentalmente. E, assim que a ciência e a tecnologia permitiram, passamos a enviar sondas para os observar o mais próximo possível e para os analisarmos experimentalmente.
Agora, estamos na véspera de assistirmos a mais uma epopeica realização da inteligência humana: já não esperamos que um cometa nos visite, pelo contrário, vamos ao seu encontro para o compreender intimamente.
No próximo dia 12 de novembro, um pequeno robô cúbico, designado por Philae, com não mais de 100 quilos, vai poisar sobre um local meticulosamente escolhido do cometa 67P/Churiumov-Gerasimenko. Vamos poder assistir à primeira “acometagem” da história da humanidade (...).
(...)Os nomes, Rosetta e Philae, com que foram baptizados os elementos desta missão espacial, representam o espírito científico de exploração e de decifração da informação que nos permitirá reconstituir os momentos primordiais da formação do nosso lar cósmico. Tocar nas poeiras estelares que levaram, por último, à evolução da nossa espécie, da inteligência que compreende e se maravilha com o próprio Cosmos.


Outras curiosidades sobre a exploração do espaço podem ser lidas aqui ( Água fora do sistema solar),
aqui (O universo será um buraco negro?)


 Termino com um poema meu que integra a antologia Entre o sono e o sonho (Chiado Editora)

Promenade

Na nossa vida, como na paleta de um artista, há uma única cor que fornece o sentido da vida e da arte. É a cor do amor.
Marc Chagall.

É verde o campo onde o casal passeia.
No povoado, ao fundo,
o tom rosa pálido de uma casa
funde-se com o céu,
destacando-a das demais,
todas elas verdes
como o campo que as rodeia.
Com a mão esquerda, Marc,
o homem visivelmente enamorado,
sustenta Bella, a mulher,
silhueta em tons de rosa forte,
que sobre a cidade esvoaça.
Na mão direita um pássaro.
Junto ao pé, do mesmo lado,
um tufo de flores rubras contrasta
com o verde forte da paisagem.
Uma fantasia?
Um sonho marcado pela nostalgia da infância?
Em S. Petersburg, no State Russian Museum,
a mulher permanece esvoaçante.
Mas, por certo,
acabou por pousar junto do seu amante.
Também o pássaro,
liberto da mão do homem que o prendia,
terá voado lançando no ar
chilreios de alegria.






terça-feira, 4 de novembro de 2014

Sons do espaço

Os sons não se propagam no espaço  porque, tratando-se de ondas mecânicas, necessitam de  um meio material onde se possam propagar. Apesar de não existir som no espaço, existem vibrações eletromagnéticas dado que as ondas eletromagnéticas se propagam no vazio. 

A presença do homem no espaço criou uma variedade de sons que podemos associar à exploração espacial, incluindo a frase que ficou eternizada pelo cinema “Houston, we’ve had a problem” (Houston, tivemos um problema). A bordo do Apollo 13, o astronauta James A. Lovell comunicava à Terra que tinham tido uma rotura no tanque de oxigénio.
"Beeps", ondas, ruídos nas emissões, vozes, problemas e celebrações, mais de 60 sons das missões da agência espacial norte-americana estão livremente disponíveis na internet. 

Esses sons são originados pela interação das partículas eletromagnéticas dos ventos solares, ionosfera – parte da atmosfera a partir dos 80 quilómetros de altura – e o campo magnético dos planetas, permitindo que estas vibrações sejam audíveis pelo ouvido humano.

Há sons na Terra que nos fazem imaginar o espaço, culpa das bandas sonoras dos filmes de ficção científica ou de outras criações artísticas. “Also sprach Zaratrustra”, de Richard Straussé um desses exemplos.

Esta referência à obra de  Zaratustra aguçou-me a curiosidade sobre o filósofo do qual conhecia pouco mais que o nome. Na Internet encontra-se disponível a obra
bem como comentários que nos ajudam a interpretá-la.
Deixo um excerto de um desses comentários

Nietzsche no livro "Assim falava Zaratustra" dá voz àquele que desejou existir: "o super-homem".
O super-homem é precedido por Zaratustra e por todos os mortais. Nietzsche considera que "deus está morto", mas algo semelhante é capaz de ser criado. Essa criação fundar-se-ia no super-homem, onde um homem supremo viria revolucionar o mundo do comum dos mortais.
Zaratustra, a personagem que precede o super-homem, vive numa caverna e dela, um dia, resolve sair. Após essa saída introduz aos homens, a si mesmo, e às coisas, um discurso superior que, além da super-crítica que faz acerca dos homens, também fala do outro (o super) que poderá existir.
Pouco fica por generalizar e comentar nos discursos de Zaratustra; evidencia a liberdade que os homens podem ter e não exercem apenas por medo; Assim, nos discursos, existe a revelação de que os homens não foram apenas a imagem histórica que as instituições procuraram transmitir. Os homens também foram um ser livre, ou tentaram.
A clarividência de Zaratustra é feita de uma forma discursiva que se demarca pela oralidade nele contida. Assim grita Nietzsche ao mundo na forma de Zaratustra, que não gostando do que vê, fecha-se novamente na sua caverna. E dança...

Alguns excertos
Vede o ar envergonhado e pálido que a lua toma perante a aurora!
Pois eis a aurora que aparece já, ardente; vem cheia de amor pela terra. O amor do sol é sempre inocência e desejo criador.
Olhai-o, acorrendo impaciente de além dos mares. Não sentis a sede e o hálito ardente do seu amor?
Ele quer beber o mar e até aspirar toda a sua profundidade, e o desejo do mar segue para ele os seus milhares de seios.
Quer ser beijado e aspirado pela sede do sol; quer tornar-se brisa e altura e caminho para a luz; e luz ele próprio. Em verdade é com um amor solar que amo a vida e todos os mares profundos.
Luís Rijo  

Ainda a propósito do Nietzsche(1844-1900)



É preciso ter o caos dentro de si para dar uma estrela bailarina (Nietzsche)


Nietzsche Arte e Valores Morais 

domingo, 2 de novembro de 2014

Falando de poesia...

Quando pensei em publicar os meus poemas contactei algumas editoras novas (na altura) por admitir que seria mais fácil aceitarem uma autora desconhecida.
Uma delas foi a Quasi, editora fundada em 1999 pelo escritor Jorge Reis-Sá. Com a criação da empresa Do Impensável - Projecto de Atitudes Culturais, Lda., por este e pelo também escritor Valter Hugo Mãe, onde foi incorporada, passou a ser gerida por ambos até Dezembro de 2004, altura em que o segundo alienou a sua participação na mesma empresa. Desde então até Outubro de 2009, foi novamente Jorge Reis-Sá o único gerente. Nessa data cessou, com o encerramento da empresa, a sua actividade editorial. Tinha sede em Vila Nova de Famalicão.

A resposta foi mais ou menos esta: 
Lamentamos  mas esta editora só publica obras de autores consagrados.

Na verdade a Quasi publicou autores como Ramos Rosa e sua mulher,  Agripina Marques, Casimiro de Brito, Eugénio Lisboa,  Vinicius de Moraes, mas também autores como Jorge Melícias e os próprios Jorge Reis-Sá e Valter Hugo Mãe, que na altura  ainda não tinham o “estatuto” que hoje, merecidamente, têm.  
Entretanto publiquei dois livros : Reflexões e Interferência( Ed. Palavra em mutação) e Magnetismo Terrestre(Ed Calendário de letras) cuja edição foi financiada pelo Clube Literário do Porto (que já não existe).

Algum tempo mais tarde contactei uma outra editora,  cujo nome não recordo. Ainda tenho o e-mail enviado e que transcrevo no essencial

Exos Senhores
Tenho um conjunto de poemas (cerca de 20) com os quais  pretendia editar um livro "Requiem pelo planeta azul". Como o nome indica trata-se de um alerta ecológico e por isso, pertinente.
Envio, como "amostra " três desses poemas. Envio ainda uma sinopse curricular.

Passado algum tempo recebi a resposta que transcrevo na íntegra

Exmª Senhora
Também nós partilhamos algumas das suas preocupações ecológicas. Uma das medidas que incrementámos foi a não edição de livros de qualidade duvidosa. A floresta agradece. A literatura rejubila.
Jorge Melícias

A minha primeira reação foi não responder mas, passado algum tempo, decidi fazê-lo :

Sr. Jorge Melícias
Hesitei um pouco em responder-lhe mas acabei por decidir fazê-lo. É óbvio que só partilha algumas das minhas preocupações ecológicas pois se a ecologia tem a ver com o respeito pela natureza, a espécie humana não pode ficar de fora. Ora o seu e-mail, cujo juízo respeito dado que o direito à opinião é um direito consagrado, pela forma arrogante e pouco delicada como é escrito revela muito pouco respeito pela minha pessoa e pela minha idade. Nas minhas preocupações ecológicas  o respeito pelo planeta não pode deixar de passar pelo respeito às pessoas que nele vivem.
Regina Gouveia

A este e-mail já respondeu  doutro modo:

Srª  Regina Gouveia
Tem toda a razão. A minha resposta foi arrogante. Por isso me desculpo.
Desejo-lhe a maior das felicidades na procura de uma editora que aposte no seu trabalho.
Jorge Melícias

Jorge Melícias é precisamente um dos autores que a Quasi editou e que para mim era totalmente desconhecido. Por isso naveguei pela NET e o que encontrei  veio reforçar a ideia com que eu ficara depois de ler a sua resposta .

POESIA - PALAVRAS -SENTIDO, não são absolutos, nem deuses inquestionáveis. Precisam como dizia Camões de "honesto estudo" com "amarga experiência misturado". Não são uns espontâneos armados em iluminados, que pelos vistos, já sabem tudo, que lá chegarão com facilidade. Anónimo

Para escrever algo como "O poema são fogueiras levantadas na garganta"*, queiram-me desculpar, não é necessário arriscar nem a unha do dedo mindinho. Duas coisas bastam. Primeiro: ter lido e relido Herberto Helder em doses cavalares, até nenhuma desintoxicação ser já possível. Segundo: ter analisado ao microscópio (nuclear) as estratégias sintácticas, o leque de recursos estilísticos e as escolhas lexicais do mesmo Herberto Helder. E é preciso ainda - já me ia esquecendo! - saber escrever bem (no sentido mais lato que consigam imaginar). Rui Lage
*autor Jorge Melícias

A que propósito fui eu  buscar todo este “passado” ?
A editora Lua de Marfim acaba de me surpreender ao ter-me  escolhido para integrar o 1º número da coleção Novilúnio, a par de poetas tão consagrados como Ramos Rosa, Agripina Marques, Casimiro de Brito e  Amadeu Batista, anteriormente referidos a propósito da Quasi Editora.



Foi para mim um incentivo para continuar a escrever, tal como o foi o prémio que no passado dia 31  fui receber em Oliveira de Azeméis. 



 Este é o 6º primeiro prémio de poesia que recebo. 

  O 1º foi precisamente em Oliveira de Azeméis, em 2005


O concurso que começou por ser nacional e agora é internacional (o 2º lugar foi para uma autora brasileira) pretende homenagear o poeta Agostinho Gomes(1918-1998).

Termino com três poemas seus

Luar
Lá fora anda o luar
A perguntar 
Se queremos vê-lo.
Mas nós apenas temos olhos 
Para o néon dos candeeiros
Debruçados pelas ruas

Rio de Janeiro
As mãos das montanhas 
Cheias
Apanham o azul...
Depois,
Perdulariamente,
Desbaratam-nas
Nas águas da Baía

Poeta
Dia a dia, este ofício,
Penoso, mas aceite
De tecelão das palavras....
Só para vestir a Primavera
E imitar o canto dos pássaros.

in Paisagem sem cantora

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Dia da Biblioteca Escolar

Outubro é o Mês Internacional da Biblioteca Escolar. Em todo o mundo, este período é aproveitado para reforçar a visibilidade das bibliotecas escolares e a consciencialização acerca do seu valor nas aprendizagens.
A International Association of School Librarianship (IASL) propõe, como anualmente acontece, um tema aglutinador  e um conjunto de projetos nos quais as bibliotecas podem participar.
Para 2014, o Gabinete da Rede de Bibliotecas Escolares estabeleceu 27 de outubro como Dia da Biblioteca Escolar

Neste contexto, no passado dia 28 estive no Centro Escolar das Árvores ( Agrupamento de escolas Diogo Cão, em Vila Real) , com quatro turmas de alunos, duas de 3º ano e duas de 4º ano.
Os professores tinham trabalhado com as crianças, a nova edição (3ª) de Ciência para meninos em poemas pequeninos. 


Atendendo aos programas, os poemas trabalhados foram diferentes de sessão para sessão.
No 3º ano escolheram poemas mais relacionados com a natureza. Um dos poemas explorados neste contexto foi  “Pintaínho”.


No quarto ano foram trabalhados poemas mais relacionados com a tecnologia Um dos poemas foi  “Caleidoscópio”



A partir dos poemas que exploraram no livro, os alunos escreveram  outros que estavam expostos num cartaz  

Ficaram de mos enviar. Logo que cheguem colocarei alguns aqui no blogue.

Em cada sessão os alunos colocaram várias questões, quer relativamente aos poemas, quer a experiências muito simples que realizei, relacionadas com conceitos implícitos ou explícitos nos textos. Os alunos do 4º ano construíram dois caleidoscópios, um dos quais me ofereceram.  Os alunos de 3º ano ofereceram-me uma saquinha com um  conjunto de marcadores feitos por eles e que tinham a ver com a visita de outro escritor que visitou a escola no mesmo dia.



Como já tenho referido, a forma como os alunos reagem a estas sessões, seria uma forma bem mais séria de avaliar o desempenho dos professores, do que  as que têm sido levadas a cabo nos diversos experimentalismos do Ministério da Educação.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

De música e de cor...


A minha amiga Virgínia Barros  não imagina viver sem música. Eu também não. Nem sem música, nem sem cor...
Nas minhas deambulações pela NET tenho encontrado vários vídeos que associam os sons  e as cores de génios da pintura e da música. Vou partilhá-los convosco

Gauguin e Schubert

Klint e Mozart

Rembrandt e Bach

Turner e Debussy

Picasso e Mahler

Egon Schiele  e Tchaikovsky

Dali e Beethoven

Renoir e Tchaikovsky

Degas ao som de Ravel

Picasso e Manuel de Falla

Matisse e Dvorak

Miró e Messian

Chagall e Stravinsky

Monet e Chopin

Paul Klee e Puccini

Vieira da Silva  e Dvorak

Manet, Chopin, Mendelssohn e Lizt

Modigliani e Guy Farley







segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Improvisos...


 (...)uma coisa que eu queria assegurar aos senhores deputados, nós, na preparação do próximo ano lectivo não vamos fazer experimentalismos(...)

Nuno Crato que terminou a audição garantindo que o próximo ano lectivo será preparado atempadamente,  referia-se não aos vários experimentalismos em que o Ministério da Educação(e não apenas com este ministro) gasta tempo e dinheiro com improvisos sem sentido, mas apenas aos experimentalismos  na colocação de professores.

Presume-se que os outros irão continuar...

Na mensagem anterior  falei da coadjuvação, um dos muitos improvisos em que os alunos ( e também os professores) servem de cobaias. 

 Numa determinada aula estavam dois professores, a professora da turma mais o professor coadjuvante. A primeira, uma professora excelente (e não sou apenas eu que o digo pois foi assim classificada na última avaliação) cujas aulas, a que várias vezes assisti, não se limitam a um debitar de matéria,  o que contrasta em absoluto com as aulas do professor coadjuvante,   um professor cerca de 15 anos  mais velho.
Tratava-se da primeira aula de coadjuvação e calhou ser na turma da professora.
Logo que se pôs em prática este “improviso” da coadjuvação, a professora foi ter com o colega e sugeriu que, antes de cada aula, cada professor conhecesse o plano de aula do outro. O professor coadjuvante referiu que não via nenhum interesse nessa sugestão.

Regressemos então à primeira aula. O professor coadjuvante sentou-se na secretária enquanto a professora ia conversando com os alunos, com vista à interpretação de dados recolhidos numa tarefa experimental anterior.
O professor coadjuvante interrompia sistematicamente dizendo: colega, não devia primeiro fazer isto .... não devia primeiro fazer aquilo... Ela ia respondendo calmamente. A seu tempo eu vou lá chegar.
Atónitos, os alunos olhavam para a professora e para o coadjuvante.
Após a aula a professora, que durante toda a aula fez um esforço enorme para se manter serena, retirou-se e tentou acalmar. Depois foi ter com o colega e fez-lhe notar que o conhecimento do plano da aula  teria evitado  as interrupções que só serviram para causar confusão nos alunos.
A segunda “experiência” teve lugar uma aula do professor, sendo coadjuvante a professora.  
Esta sentou-se atrás enquanto o professor fez uma exposição sobre a matéria, exposição assente apenas no formalismo matemático, sem a mínima referência a situações do conhecimento dos alunos que ajudassem a compreender os conceitos. A  exposição foi breve e de seguida passou-se à resolução de exercícios. A partir desse  momento a colega levantou-se e foi de carteira em carteira tentando ajudar os alunos.
A partir dessa aula o professor jamais interrompeu a colega e, se a aula é de introdução da matéria, fica todo o tempo sentado atrás,  à espera que a aula acabe, o mesmo procedimento que a colega adota.
Como a coadjuvação tem que decorrer nas aulas não desdobradas, precisamente aquelas indicadas para a introdução da matéria, dado que estão todos os alunos presentes, a coadjuvação, tal como eu previa não faz qualquer sentido.
Estes e outros improvisos, altamente nefastos, têm vindo a degradar sistematicamente o sistema educativo em Portugal.

E para afastar o espectro  destes maus improvisos, termino com os magníficos improvisos,  D. 899 / Op. 90 de Schubert interpretados  por Maria João Pires 






terça-feira, 30 de setembro de 2014

Falando de educação e responsabilidade.....


Já há algum tempo que comecei a escrever esta mensagem mas  a reportagem sobre a viagem à China 
acabou por ser mais longa do que eu previa.
No passado dia 19 Maria Helena Damião colocou no de Rerum Natura uma mensagem muito interessante 
"Não estão nisto por gostarem dos miúdos ou por estarem interessados na educação",que transcrevo 
a seguir.


Nós, portugueses, que tão impelidos somos a seguir modelos pedagógicos inovadores, a citar autores que não lemos, a dissertar sobre teorias exóticas, em vez de seguirmos critérios filosóficos racionais e conhecimentos científicos confiáveis, deveríamos pensar duas vezes antes de adoptarmos e insistirmos em medidas educativas que não oferecem garantia, por referência ao que é certo e justo. Estas características mas não exclusivamente nossas, bem sei, mas são muito nossas.


Uma das recentes modas que seguimos, muito acriticamente, é a de confiar a educação pública a empresas privadas e só encontrar nisso vantagens, desde as mais elevadas, como o direito de escolha da escola dos filhos e a melhoria da aprendizagem, até às mais pragmáticas, como as de uma gestão financeira mais benéfica e transparente (os exemplos não terão sido os melhores porque, bem vistas as coisas, ambos caem por terra).

Estados Unidos da América e Suécia adoptaram, em grande escala, o discurso e a estratégia da empresarialização da educação formal. Mas, ambos os países têm analisados resultados académicos e feito contas. Não, não resulta! E estão a voltar à ideia de que ao Estado cabe proporcionar uma escola para todos.

Mas não são apenas os resultados e as contas que, nesta questão, têm sido destacadas pelos analistas. Assinalam um outro factor que faz toda a diferença: as empresas “não estão nisto por gostarem dos miúdos ou por estarem interessados na educação. Estão nisto porque querem fazer dinheiro rapidamente”.

Quem está na educação por outra razão que não seja a educação, não pode ser consentido na educação.

Sobre esta questão poderá ler-se o recente artigo Suecos decepcionados com o sistema de educação, da autoria de Helen Warrell (Financial Times) e traduzido para português por Ana Pina.

Dois dias antes (17/9) a mesma autora havia colocado uma outra mensagem,  Escolas-2

Na sequência da publicação do meu texto Escolas-1, dedicado ao livro O Berço da desigualdade, da autoria de Sebastião Salgado (fotografias) e Cristovam Buarque (textos), o leitor Manuel Silva deixou uma pergunta: "tem esse livro fotografias de África, países pobres, zonas rurais...?"




Sim, tem. E belíssimas. Duas das minhas preferidas são as que abaixo reproduzo: uma tirada no Quénia e outra no Brasil.

Quénia: Escola para jovens refugiados do sul do Sudão, Sebastião Salgado,1993
Brasil: Escola itinerante do Movimento dos Sem Terra, 1996, Sebastião Salgado






























A recordação do leitor traduz o que nelas é essencial:

"Vi em tempos algumas fotos de uma escola numa zona dessas, com os alunos sentados no chão, o professor de pé, um pedaço de ardósia velha e partida pendurada por um fio na «parede». Nada mais. Mas olhares vivos, cheios de curiosidade, interessados, alegres, havia-os em todos os alunos, que seriam uns 15 ou 20."
E acrescenta:
"A escola, para além de nos por a todos num patamar mais elevado de conhecimento, tem ajudado a igualar muita gente muito desigual à partida."
É essa, aliás, a função da escola. Tendo interesse por esta ideia, poderá ler um extracto do livro Escola, igualdade e diferença, da autoria de Joaquim Valentim (aqui) ou ler o livro integralmente. 



A leitura das mensagens acima referidas serviu de mote para esta minha mensagem.



Há quatro anos o meu marido foi numa missão humanitária à Guiné Bissau onde, como alferes miliciano, cumpriu cerca de 2 anos de serviço militar. Levaram várias coisas, nomeadamente livros que foram entregar a diversas escolas. Algumas ao ar livre, sem carteiras (as crianças sentavam-se no chão ou em banquinhos improvisados).












Outras, já algo apetrechadas... 




Em todas elas o que mais os impressionou  foram a ânsia de aprender revelada pelas crianças e o respeito pelo professor.

Desde há muito que em Portugal os sucessivos ministérios da educação se esqueceram que a principal função seria precisamente educar, com tudo o que isso comporta, instruir, desenvolver competências e atitudes, nomeadamente sentido de responsabilidade. Ora vejamos:

  • Há uns anos (creio que há mais de cinco) uma medida para conseguir o "sucesso" dos alunos dos cursos profissionais era fazer testes até que o aluno tivesse um  resultado satisfatório (creio que a medida se mantém mas não estou certa). E esta medida tinha que ser posta em prática mesmo que o aluno faltasse sistematicamente, não  mostrasse o mínimo interesse nas aulas, perturbasse... 

Em vez de se responsabilizarem alunos e famílias, penaliza-se  o professor que terá que fazer um teste, outro e mais outro e ainda mais outro, até que o aluno tenha um mínimo de sucesso (obviamente aparente)
  • Duas das práticas agora adotadas para diminuir o insucesso são a supervisão de uns professores por outros e a criação de coadjuvações. Neste último caso, dois professores (titular e coadjuvante) estão ao mesmo tempo  na mesma sala de aula. Quando tentei saber a razão de tais práticas foi-me dito que são medidas para substituir as aulas de apoio.Ingenuamente perguntei qual a razão da substituição e fiquei atónita quando ouvi:  como as aulas de apoio não eram obrigatórias, muitos  alunos não apareciam.
Novamente, em vez de se responsabilizarem alunos e famílias pelo desinteresse manifestado, arranja-se uma qualquer outra solução.

Mas voltemos à coadjuvação
Em algumas escolas, não sei se em todas, na disciplina  de Física e Química (e provavelmente nas outras) na maior parte das vezes essa presença terá que ocorrer em aulas de apresentação da matéria. Que sentido pode fazer estarem dois professores numa mesma sala a apresentarem a mesma matéria? A coadjuvação, a meu ver, só fará sentido e poderá  ser extremamente útil nas aulas  de aplicação dos conhecimentos, através de exercícios,  problemas etc,  e nas de actividade experimental. 
A sensação com que se fica é que tudo é feito em cima dos joelhos e  ninguém é responsabilizado...
Não me admiro se já estiver na forja um qualquer outro improviso para "diminuir" o insucesso. 
Há pouco chegaram  às escolas novas diretivas sobre as  provas intermédias.  No documento pode ler-se:
(...)Em relação aos testes aplicados no 3.º ciclo do ensino básico e no ensino secundário, 
considerando as evidências que os relatórios de anos anteriores têm revelado, 
nomeadamente o facto de ser residual, ou mesmo impercetível, o seu impacto na melhoria do desempenho dos alunos, entende-se, passados quase 10 anos desde o início do projeto, já não se justificar a sua continuidade nos moldes vigentes(...).

A falta de responsabilização de quem (des)governa o ME vem de há muito. 

Provavelmente já pouca gente se lembra do experimentalismo de Roberto Carneiro com as PGA, nomeadamente a primeira, “introduzida” a meio do ano letivo e que levou a situações gritantes. Alunos (de escolas de referência), com médias de 18 e 19 valores ficaram de fora, enquanto outros com notas muito inferiores entraram no Ensino Superior.
E a criação dos famigerados professores titulares, improviso de  Maria de Lurdes Rodrigues?
E o que aconteceu e ainda está a acontecer com a colocação dos professores em 2014/2015?

O problema é que, por estes e muitos outros erros educacionais, nenhum ministro foi alguma vez responsabilizado...
O exemplo devia vir de cima, mas infelizmente não vem.