Quando pensei em publicar os meus poemas
contactei algumas editoras novas (na altura) por admitir que seria mais fácil
aceitarem uma autora desconhecida.
Uma delas foi a Quasi, editora fundada em 1999 pelo escritor Jorge Reis-Sá. Com a criação da
empresa Do Impensável - Projecto de Atitudes Culturais, Lda., por este e pelo
também escritor Valter Hugo Mãe, onde foi incorporada, passou a ser gerida por ambos
até Dezembro de 2004, altura em que o segundo alienou a sua participação na
mesma empresa. Desde então até Outubro de 2009, foi novamente Jorge Reis-Sá o
único gerente. Nessa data cessou, com o encerramento da empresa, a sua
actividade editorial. Tinha sede em Vila Nova de Famalicão.
A resposta foi mais ou menos esta:
Lamentamos mas esta editora só publica obras de autores
consagrados.
Na verdade a Quasi publicou autores como
Ramos Rosa e sua mulher, Agripina Marques,
Casimiro de Brito, Eugénio Lisboa, Vinicius
de Moraes, mas também autores como Jorge Melícias e os próprios Jorge Reis-Sá e
Valter Hugo Mãe, que na altura ainda
não tinham o “estatuto” que hoje, merecidamente, têm.
Entretanto publiquei dois livros : Reflexões
e Interferência( Ed. Palavra em mutação) e Magnetismo Terrestre(Ed Calendário
de letras) cuja edição foi financiada pelo Clube Literário do Porto (que já não
existe).
Algum tempo mais tarde contactei uma outra
editora, cujo nome não recordo. Ainda tenho
o e-mail enviado e que transcrevo no essencial
Exos
Senhores
Tenho
um conjunto de poemas (cerca de 20) com os quais pretendia editar
um livro "Requiem pelo planeta azul". Como o nome indica trata-se de
um alerta
ecológico e por isso, pertinente.
Envio,
como "amostra " três desses poemas. Envio ainda uma sinopse
curricular.
Passado algum tempo recebi a resposta que
transcrevo na íntegra
Exmª
Senhora
Também
nós partilhamos algumas das suas preocupações ecológicas. Uma das
medidas que incrementámos foi a não edição de livros de qualidade duvidosa.
A floresta agradece. A literatura rejubila.
Jorge
Melícias
A minha primeira reação foi não responder
mas, passado algum tempo, decidi fazê-lo :
Sr. Jorge Melícias
Hesitei um pouco em responder-lhe mas acabei por
decidir fazê-lo. É óbvio que só partilha algumas das minhas
preocupações ecológicas pois se a ecologia tem a ver com o respeito pela
natureza, a espécie humana não pode ficar de fora. Ora o seu e-mail, cujo
juízo respeito dado que o direito à opinião é um direito consagrado,
pela forma arrogante e pouco delicada como é escrito revela muito
pouco respeito pela minha pessoa e pela minha idade. Nas minhas preocupações ecológicas o respeito pelo planeta não pode deixar de passar pelo respeito às pessoas que nele
vivem.
Regina
Gouveia
A este e-mail já respondeu doutro modo:
Srª Regina Gouveia
Tem
toda a razão. A minha resposta foi arrogante. Por isso me desculpo.
Desejo-lhe
a maior das felicidades na procura de uma editora que aposte no seu trabalho.
Jorge
Melícias
Jorge Melícias é precisamente um dos autores
que a Quasi editou e que para mim era totalmente desconhecido. Por isso
naveguei pela NET e o que encontrei veio
reforçar a ideia com que eu ficara depois de ler a sua resposta .
POESIA
- PALAVRAS -SENTIDO, não são absolutos, nem deuses inquestionáveis. Precisam
como dizia Camões de "honesto estudo" com "amarga experiência
misturado". Não são uns espontâneos armados em iluminados, que pelos
vistos, já sabem tudo, que lá chegarão com facilidade. Anónimo
Para
escrever algo como "O poema são fogueiras levantadas na garganta"*,
queiram-me desculpar, não é necessário arriscar nem a unha do dedo mindinho.
Duas coisas bastam. Primeiro: ter lido e relido Herberto Helder em doses
cavalares, até nenhuma desintoxicação ser já possível. Segundo: ter analisado
ao microscópio (nuclear) as estratégias sintácticas, o leque de recursos
estilísticos e as escolhas lexicais do mesmo Herberto Helder. E é preciso ainda
- já me ia esquecendo! - saber escrever bem (no sentido mais lato que consigam
imaginar). Rui Lage
*autor Jorge Melícias
A que propósito fui eu buscar todo este “passado” ?
A editora Lua de Marfim acaba de me
surpreender ao ter-me escolhido para
integrar o 1º número da coleção Novilúnio, a par de poetas tão consagrados como Ramos
Rosa, Agripina Marques, Casimiro de Brito e Amadeu Batista, anteriormente referidos a
propósito da Quasi Editora.
Foi para mim um incentivo para continuar a
escrever, tal como o foi o prémio que no passado dia 31 fui receber em Oliveira de Azeméis.
Este é o 6º primeiro prémio de poesia que recebo.
O 1º
foi precisamente em Oliveira de Azeméis, em 2005
O concurso que começou por ser nacional e agora é internacional (o 2º lugar foi para uma autora brasileira) pretende homenagear o poeta Agostinho Gomes(1918-1998).
Termino com três poemas seus
Luar
Lá fora anda o luar
A perguntar
Se queremos vê-lo.
Mas nós apenas temos olhos
Para o néon dos candeeiros
Debruçados pelas ruas
Rio de Janeiro
As mãos das montanhas
Cheias
Apanham o azul...
Depois,
Perdulariamente,
Desbaratam-nas
Nas águas da Baía
Poeta
Dia a dia, este ofício,
Penoso, mas aceite
De tecelão das palavras....
Só para vestir a Primavera
E imitar o canto dos pássaros.
in Paisagem sem cantora
Não gosto de toda a poesia....gosto de alguns poemas deste ou daquele poeta. Sou muito franca, estes teus poemas são uma sombra dos que já li teus e até me admira tu tê-los escolhido para demonstrar a estupidez e arrogância de quem negou editar os teus livros.
ResponderEliminarPara além de poeta, és uma pessoa com enorme valor pedagógico, científico e social, uma grande Mulher.
E como diria Shakespeare: The rest is silence.
Abraço, Regina!
Não sei a que poemas te referes pois os que coloquei" Ode à noite" e "Os rios da memória"( que podes ler nos "panfletos" colocados na mensagem) não foram escolha minha mas dos respetivos júris.
EliminarOs três poemas com que finalizo a mensagem são do poeta Agostinho Gomes que o concurso pretende homenagear e constam do seu livro "Paisagem sem cantora", prefaciado por Arnaldo Saraiva e com uma recensão muito elogiosa de Isabel Pires de Lima
Quanto à grande mulher, nem sequer em tamanho....
Ab
Regina
Desculpa, Regina, atribuí a ti os últimos poemas....já leio mal no computador, emvez de seus. li meus. Como vês fiz-te um elogio, pois acho a tua poesia a anos luz desta.
ResponderEliminarNão sei como é as editoras não te publicam mal apanham o original....é que se vê tanta coisa publicada....que não presta!!!
bjinho
Muito obrigada pelo elogio mas sob pena de me repetir, é a visão de uma amiga, que sei que o és, e por isso, involuntariamente "inflacionada".
ResponderEliminarAb
Regina