sábado, 8 de novembro de 2014
Sempre que o homem sonha, o mundo pula e avança...
Creio que todos
reconhecem o título desta mensagem, retirado do belíssimo poema de António
Gedeão “Pedra Filosofal” , que podemos ouvir na voz de Manuel Freire
O sonho é tema de muitos poetas,
nomeadamente Fernando Pessoa (neste caso Bernardo Soares)
Tenho
uma espécie de dever de sonhar sempre, pois, não sendo mais, nem querendo ser
mais, que um espectador de mim mesmo, tenho que ter o melhor espetáculo que
posso. Assim me construo a ouro e sedas, em salas supostas, palco falso,
cenário antigo, sonho criado entre jogos de luzes brandas e músicas invisíveis. (Bernardo Soares in Livro do Desassossego)
Maria Bethânia diz este trecho numa espécie
de introdução ao poema “Sonho impossível”
de Chico Buarque Podemos ouvi-la também aqui.
O sonho comanda a vida... (António Gedeão)
Há já uns dias, Carlos Fiolhais
colocou em De Rerum Natura , a animação
que também podem ver diretamente aqui
Na verdade o homem nunca deixou sonhar . E continua almejando pisar um dia o
planeta Marte
Em 01/11/2013 a NASA começou a preparar o lançamento da 1.ª missão de exploração da
atmosfera marciana e em 19/11/2013 foi
lançada a sonda Maven (Mars Atmosphere and Volatile Evolution) que no
passado mês de Setembro terminou a sua viagem interplanetária. Um
disparo de 33 minutos do seu propulsor, colocou-a-a numa órbita elítica que
vai encolher durante as próximas seis semanas. A sua tarefa será descobrir o
que aconteceu à atmosfera de Marte.
As sondas e rovers anteriores viram evidências químicas e geológicas de que o Planeta Vermelho já foi muito
parecido com a Terra: quente, húmido, um ambiente amigável para a vida. Mas a
certo ponto, as coisas mudaram: Marte perdeu a maioria da sua atmosfera espessa
que permitia com que a água permanecesse no estado líquido à superfície. Ao
examinar a atmosfera actual e ao observar em tempo real como muda em resposta à
radiação do Sol, a MAVEN vai tentar descobrir o quando e o porquê disso ter
acontecido.
Uma outra sonda, a sonda indiana MOM (Mars
Orbiter Mission, ou Mangalyaan), foi lançada a bordo do veículo de lançamento
indiano PSLV no dia 5 de Novembro de 2013; ficou estacionada em órbita
terrestre até dia 1 de Dezembro. Seguiu-se uma manobra de injeção e a sonda
escapou da órbita da Terra seguindo um percurso que permitiu encontrar-se com o
Planeta Vermelho a 24 de Setembro de 2014. A MOM vai estudar o clima de Marte,
fotografar a superfície e mapear os minerais do planeta, e poderá ser capaz de
determinar de onde é que surgiu o metano detectado por sondas anteriores.
Ambas as sondas chegaram mesmo a tempo de
observar o que promete ser a mais feroz chuva de meteoros já registada. Terá
início quando o Cometa Siding Spring passar pelo planeta em meados de Outubro,
a uns meros 173.000 quilómetros da sua superfície.
A revista Expresso de 28/12/ 2013 dedica algumas páginas a Marte
sob o título Missão Marte 2024
Ainda a propósito da ida a Marte...
A distância entre a Terra e o Planeta Vermelho depende da posição relativa de ambos os planetas, mas o certo é que nunca se encontram a menos de 55 milhões de quilómetros. A NASA estima que, com a actual tecnologia, uma missão tripulada demoraria, na melhor das hipóteses, seis a sete meses a vencer a distância. A viagem, segundo concluiu um grupo de analistas da agência em 2007, poderia ter início em 2028, segundo um plano que contempla, fundamentalmente, enviar em Dezembro desse ano ou Janeiro de 2029 o habitat destinado aos astronautas e à carga.
O material seria lançado a bordo de enormes foguetões Ares V, os veículos que irão substituir os ultrapassados vaivéns espaciais, que poderiam atingir o seu objectivo entre Outubro e Novembro de 2029. Em Fevereiro de 2031, seria a vez da tripulação, a qual poderia pisar a superfície marciana em Agosto desse ano.
Além de constituir uma impressionante aposta económica e logística, a aventura também implica importantes desafios científicos: precaver a exposição dos astronautas aos nocivos raios cósmicos e acautelar os efeitos sobre o organismo de uma longa viagem em condições de baixa gravidade, assim como os problemas psicológicos decorrentes do isolamento e da falta de privacidade.
Uma coisa é ter a tecnologia para chegar a Marte, outra é fazer a viagem (que demorará entre seis a oito meses) e outra ainda é viver no planeta vermelho, num espaço confinado e com recursos muito limitados. É para avaliar essa capacidade que uma equipa de seis pessoas selecionadas pela NASA se encontra na cratera do vulcão Mauna Loa, no Havai.
A missão HI-SEAS (Hawaiʻi Space Exploration Analog and Simulation) começou esta semana, vai durar oito meses e tem por objetivo avaliar a capacidade de gestão da equipa em diversas vertentes. Por um lado, a aptidão técnica de gerir os escassos recursos, tais como a água e os alimentos, por outro, a habilidade de viver durante oito meses numa cúpula com apenas 10 metros de diâmetro. Como nota o Guardian, este é provavelmente, um dos maiores desafios.
Os seis elementos que constituem a equipa selecionaram-se a eles próprios, após um treino exploratório de uma semana, em que um grupo maior testou as competências de sobrevivência individual, de grupo e a personalidade. No final do treino, votaram uns nos outros com base nas características sociais.
O grupo é constituído maioritariamente por engenheiros, de diversas especialidades. Ao longo dos próximos oito meses, vão viver num espaço muito pequeno, estudar diversas matérias tais com a produção e gestão de energia e alimentos, com algumas saídas exploratórias dentro de fatos especiais que simulam o equipamento real. Aliás, toda a missão prima pelo realismo, até as comunicações com a estação de comando sofrem um atraso simulado de 20 minutos, o tempo que o sinal de rádio demora a percorrer a distância entre a Terra e Marte. Ou seja, entre uma pergunta e uma resposta, passam 40 minutos.
Muito provavelmente, nenhum dos elementos que participa nesta experiência no Havai irá pôr algum dia os pés em Marte (a NASA prevê uma primeira missão tripulada para 2030), mas este tipo de experiência é muito importante para avaliar e estabelecer as condições mínimas em que as pessoas conseguem viver, bem como compreender os mecanismos psicológicos e sociológicos envolvidos em missões que obrigam a uma convivência permanente e num espaço exíguo. Mais que viver num planeta hostil, a ida do Homem a Marte representará um desafio para ele próprio.
O sonho comanda a vida....
Também em mensagem recente, António Piedade postou em De Rerum Natura a
mensagem “Tocar no cometa” de que deixo alguns excertos
Os cometas são anteriores à formação do
nosso planeta Terra. Durante milhares de milhões de anos, antes da nossa
espécie se erguer para o espaço, os cometas sempre cruzaram e embelezaram os
céus. Mais tarde, também despertaram a curiosidade que nos iria conduzir à
ciência.
Os cometas, como escreveu Carl Sagan num
livro lindíssimo sobre estes astros (que a Gradiva reeditou recentemente entre
nós), “são as neves de outrora, os despojos primitivos da criação do sistema
solar, gelos expectantes nas trevas interestelares”.
Durante milhares de anos, na escuridão dos
céus e do nosso conhecimento, a visita dos cometas incendiou a retina e milhões
de sinapses neuronais, o que fertilizou a imaginação humana, criou mitos,
previu a sorte ou o infortúnio, anunciou o nascimento ou a morte de
imperadores, foi expressão de um juízo divino a guiar os nossos destinos.
A observação sistemática da abóbada
deslumbrante permitiu registar uma regularidade frequente no aparecimento dos
cometas. Progressivamente, e com ciência, compreendemos melhor a natureza
destes astros. O conhecimento substituiu o medo, o terror deu lugar a um outro
deslumbramento (....)
Passamos a esperar o regresso destes corpos
gelados, relíquias do passado que é a nossa história, fósseis astronómicos que
nos podem ensinar como é que o sistema solar se gerou. As nossas teorias
científicas precisam de ser comprovadas experimentalmente. E, assim que a
ciência e a tecnologia permitiram, passamos a enviar sondas para os observar o
mais próximo possível e para os analisarmos experimentalmente.
Agora, estamos na véspera de assistirmos a
mais uma epopeica realização da inteligência humana: já não esperamos que um
cometa nos visite, pelo contrário, vamos ao seu encontro para o compreender
intimamente.
No próximo dia 12 de novembro, um pequeno
robô cúbico, designado por Philae, com não mais de 100 quilos, vai poisar sobre
um local meticulosamente escolhido do cometa 67P/Churiumov-Gerasimenko. Vamos
poder assistir à primeira “acometagem” da história da humanidade (...).
(...)Os nomes, Rosetta e Philae, com que
foram baptizados os elementos desta missão espacial, representam o espírito
científico de exploração e de decifração da informação que nos permitirá
reconstituir os momentos primordiais da formação do nosso lar cósmico. Tocar
nas poeiras estelares que levaram, por último, à evolução da nossa espécie, da
inteligência que compreende e se maravilha com o próprio Cosmos.
Outras curiosidades sobre a exploração do
espaço podem ser lidas aqui ( Água fora do sistema solar),
aqui (O universo será um buraco negro?)
Termino com um poema meu que integra a antologia Entre o sono e o sonho (Chiado Editora)
Promenade
Na nossa vida, como na paleta de
um artista, há uma única cor que fornece o sentido da vida e da arte. É a cor
do amor.
Marc
Chagall.
É
verde o campo onde o casal passeia.
No
povoado, ao fundo,
o
tom rosa pálido de uma casa
funde-se
com o céu,
destacando-a
das demais,
todas
elas verdes
como
o campo que as rodeia.
Com
a mão esquerda, Marc,
o
homem visivelmente enamorado,
sustenta
Bella, a mulher,
silhueta
em tons de rosa forte,
que
sobre a cidade esvoaça.
Na
mão direita um pássaro.
Junto
ao pé, do mesmo lado,
um
tufo de flores rubras contrasta
com
o verde forte da paisagem.
Uma
fantasia?
Um
sonho marcado pela nostalgia da infância?
Em
S. Petersburg, no State Russian Museum,
a mulher permanece esvoaçante.
Mas,
por certo,
acabou
por pousar junto do seu amante.
Também
o pássaro,
liberto
da mão do homem que o prendia,
terá
voado lançando no ar
chilreios
de alegria.
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Lido às 4 da manhã....entre o sono e o sonho....mas mais durante a insónia.
ResponderEliminarLindo.
Em Silicon Valley tive ocasião de ouvir a Directora do SETI - instituto de investigação de inteligência extra-terrestre, Jill Tarter falar das descobertas que se têm feito na área do conhecimento das galáxias e planetas. A senhora era de carne e osso, mas falava de sonhos que tem desde criança, quando pela primeira vez tentou contactar outros seres através duma rádio. O seu marido inventou o telescópio mais potente de Aracibo.
Fiquei fascinada, como agora ao deparar com esta entrada....as galáxias sempre me atraíram.....
Boa noite, Regina.
O Universo é fantástico e a mente humana também. Pena que nem sempre seja usada da melhor forma...
ResponderEliminarAb
Regina
O vídeo sobre Marte, conquanto seja notável, dá-me uma sensação de inóspito, lugar onde nunca conseguiria viver...porque será que se gasta tanto dinheiro neste tipo de investigação quando a Terra ainda tem tanto para oferecer e melhorar? I wonder....
ResponderEliminarPassei hoje por aqui e só encontro uma palavra para qualificar o seu post FANTÁSTICO.
ResponderEliminarVou melhorando, mas sem força suficiente para ultrapassar esta depressão.
Um beijo muito grande.