com uma dedicatória ao meu marido que com ele teve algumas conversas muito interessantes sobre diversos temas
Num dos textos incluídos no livro anteriormente referido, João Lima Pinharanda diz
E ainda a propósito de Fernando Lanhas e Pinharanda pode ler-se
Com Fernando Lanhas, Pinharanda espera ter aprendido a perceber que "entre o cotão que tirava dos bolsos como exemplo de coisas humildes e os seixos rolados que escolhia nas praias e nos leitos secos dos ribeiros, austeramente coloria e guardava nas gavetas das cómodas lá de casa, entre os estudos das estrelas cadentes e a idade que atribuia ao granito de que se fazem as casas, entre o universo em expansão e as suas pinturas austeras, onde chegou a misturar pó de pedra e onde a geometria é antes uma metafísica, há apenas uma diferença de escala." Escreve o comissário que "Lanhas sempre entendeu a sua obra material (de artista, arquitecto, poeta, astrónomo, arqueólogo, paleontólogo) como uma fracção nessa imensidão a que agora se reúne."
Ainda no mesmo livro, Fernando Guedes refere:
Trancrevo um desses poemas
Ficamos assim a olhar para as coisas…
a não entender a mancha que não vive
mas desce e diminui,
não morre
mas seca e ali fica,
a trocar de cor
como se tivesse a finalidade
de um fim
Nenhuma direcção nos serve
ficamos assim
sem posição de olhar;
sem saber porque é que
porque
é
O mérito de Fernando lanhas foi reconhecido em vida, o que nem sempre acontece. A prová-lo duas homenagens de entre as muitas que lhe foram feitas, um poema de José Viale Moutinho e um vídeo da Exposição Comemorativa 86º Aniversário de Nascimento de Fernando Lanhas FERNANDO LANHAS, PARAR... PENSAR... SENTIR... "
HOMENAGEM AO PINTOR FERNANDO LANHAS (por José Viale Moutinho)
1
dele é o grande livro dos astros
as linhas da idade pertencem-lhe
assim como todos os museus da terra
e o crânio do homem de cromagnon
vejamos as horas que restam no saber
do tempo nestes relógios de sol vivo
como evoluiu o linho o trigo o milho
quanto vale um minuto isolado por aí
como se passa da cor à ausência dela
no espelho das cinzas nos tecidos
o fogo acabado de descobrir os olhos
postos numa boneca de louça antiga
esquece-se das chaves do automóvel
as casas suspensas nos estiradores
uma porta que não existe ainda oca
tudo tão relativo como a ampulheta
2
servem-nos os melhores vinhos o lápis
que traduz o chapéu de palha da madeira
essa estrada por entre os arvoredos
deus se existe vai no porta-bagagens
adiante no tablier ninguém escuta as
perdas e os danos o inquieto barro
que se permite no largo de s. joão novo
num palácio de nasoni entre muralhas
de que me lembro e aonde devo guardar
este barco dos anos trinta este folheto
de monstros de há trezentos anos a lua
naquele tempo não imaginava a sua morte
quantas vezes voltamos ao lugar onde
nem a sibila adivinharia as sombras
com os nossos números de ordem astros
de um universo perdido nas palavras
Um dos vários auto retratos do autor
Algumas outras obras de F.Lanhas podem ser vistas aqui
Olá Regina
ResponderEliminarTenho tido o meu computador avariado.
Agora já funciona e este é o primeiro comentário que faço desde que o recebi.
Gostei muito da sua homenagem ao Fernando Lanhas, homem multifacetado e cheio de valor.
Um dia fui a uma conferência, de Máximo Ferreiro, sobre Astronomia e ele lá estava, sempre interveniente, a apresentar os seus pontos de vista.
O meu marido também tem bastantes obras sobre ele e algumas fotografias.
Muitas pessoas nos têm deixado nestes últimos tempos. É a lei inexorável da vida.
E eu(será pieguice) também como ele não temo a morte , mas penso nela e isso incomoda-me.
Um beijo grande, Regina.
Obrigada por toda esta info sobre alguém que , infelizmente, não conhecia, a não ser vagamente de nome. Ao ler tudo isto fiquei com a impressão de que sou mesmo ignorante e tenho de aprender muito, muito...este blogue é excelente para isso.
ResponderEliminarParabéns tb pelo teu empenho e conhecimentos.
Bjo
Obrigada às duas.
ResponderEliminarGraciete, uma grande amiga minha era uma lutadora, tinha um problema de diabetes terrível, foi sendo amputada e morreu cedo. Era muito alegre e dizia que a melhor maneira de viver a vida era viver o mais intensamente possível, um dia de cada vez. Deixou uma filha para quem a vida também tem sido um pouco cruel mas diz-me sempre. Eu sigo o lema da minha mãe e por isso não me angustio
Virgínia,enquanto eu dava o meu modesto contributo sobre F.Lanhas tu dava-lo sobre Tápies. Há muitos anos, uma galeria na R. do Rosário fez uma exposição da sua obra e ele estava lá. Vi-o mas reduzi-me à minha insignificância e não tive coragem de o abordar. Gosto muito de algumas obras dele. Doutras não consigo gostar
Aproveito para dizer algo que me esqueci de colocar no blog. F.Lanhas era primo do Mestre Resende(Fernando Resende da Silva Magalhães Lanhas).
Um grande amigo nosso(filho do maestro Resende Dias, irmão do Mestre Resende)teve como tios o Mestre e Fernando Lanhas...
Um grande abraço às duas
Regina