sexta-feira, 14 de janeiro de 2011
Requiem pelo guarda chuva
Acho o guarda chuva um objecto obsoleto, por isso raramente o uso. Muno-me de uma capa com capuz e tento enfrentar a chuva. Apesar disso, já perdi dezenas. Não sei se é o meu sub - consciente que rejeita um objecto que é um estorvo. Tentei substituir o estorvo por algo mais funcional.. Comecei pelos guarda chuvas de encartar, menos perdíveis e fáceis de guardar, quando secos….. Há anos vi alguém com um guarda - chuva vulgar, munido de um fio que ligava o cabo à ponta, permitindo transportá-lo ao ombro. Desda essa data passei a adaptar todos os guarda-chuvas de modo a poder usá-los ao ombro.
Mas acabei por constatar que ambas as soluções continuavam obsoletas. Se a chuva vem acompanhada de vento, nenhum guarda - chuva serve, pelo que não adianta abri-los. Foi então que dei comigo, em dias de chuva e vento intensos, toda molhada a passear um guarda chuva ao ombro. Aí disse BASTA
Ora os obsoletos guarda-chuvas têm os dias contados. O Nubrella, guarda-chuva mãos livres, já é patente registada e já chegou a vários países. Em breve chegará a Portugal Se quiserem saber mais consultem Ciência Hoje e vejam o filme
Na Mesopotâmia, região do actual Iraque, há 3400 anos já existiam artefactos destinados a proteger a cabeça dos reis - contra o sol, não contra a chuva, uma raridade naquele lugar. Assim como os abanos, eram feitos de folhas de palmeiras, plumas e papiro.. No Egipto, adquiriram significado religioso e na Grécia e em Roma eram tidos como artigo exclusivamente feminino. Só no século XVIII a obstinação do comerciante inglês Jonas Hanway, um apaixonado por guarda-chuvas (versão inglesa do guarda-sol tropical), conseguiria torná-los dignos também de um gentleman. Embora ridicularizado em vida, após a sua morte, em 1786, os ingleses aceitaram sair à rua munidos do acessório nos sempre frequentes dias de chuvas do país in Wikipedia
Os problemas que decorrem com o vulgar guarda chuva em dias de vento, nasceram com ele.
A explicação, essa surgiu no século XVIII com a lei de Bernouilli
O objecto em si, chegou aos nossos dias com muito pouca evolução. Variações, só quase no nome. Em Portugal, guarda chuva no norte, chapéu de chuva,(ou simplesmente chapéu) no sul. Em Trás-os-Montes, tinha, no meu tempo de criança, outras designações: Se era de homem chamava-se sombreiro e se era de mulher, sombrinha.
Nunca se chegou a chamar basílica, hipótese levantada por Saramago na sua fabulosa obra "Memorial do Convento"
É então que começa a sair a procissão. Vêm à frente as bandeiras dos ofícios(....) a basílica de Santa Maria Maior , que é sombreiro, e também a basílica patriarcal , ambas de gomos alternados, brancos e vermelhos, se daqui a duzentos ou trezentos anos começam a chamar basílica aos chapéus de chuva, Mandei pôr um cabo novo à minha basílica , Tenho a minha basílica com uma vareta partida, Esqueci-me da minha basílica no autocarro...
Mas o guarda chuva tem o seu lado poético, trabalhado por cineastas e pintores. A testemunhá-lo, entre outros, os filmes Mary Poppins , os Chapéus de chuva de Cherburgo, Dancing in the rain e a obra de Renoir "Les Parapluies"
Não sei se foi o meu lado mais poético ou a minha aversão ao guarda chuva que me levou a escrever há já algum tempo, o poema que aqui deixo
(In)sensibilidade
Chove torrencialmente
e o poeta,
náufrago dentro dos sapatos
que a chuva transformou em tristes barcos,
vai e nem se apercebe de que a chuva cai.
Na sua mente enlaçam-se dores, alegrias,
memórias dispersas de longínquos dias.
O poeta vai
e nem se apercebe
de que a chuva cai ímpia, inclemente.
Pendurado no braço, pálio sem função,
vai o guarda chuva, a roçar o chão.
Abrandou a chuva que já cai serena .
O poeta vai
mas não se apercebe de que a chuva cai.
Dançam as memórias , eclode um poema.
No rosto do poeta emerge um sorriso.
Abre o guarda chuva mas já não é preciso.
Regina Gouveia ( não publicado)
Morreu o Umbrella. Viva o Nubrella
Mas acabei por constatar que ambas as soluções continuavam obsoletas. Se a chuva vem acompanhada de vento, nenhum guarda - chuva serve, pelo que não adianta abri-los. Foi então que dei comigo, em dias de chuva e vento intensos, toda molhada a passear um guarda chuva ao ombro. Aí disse BASTA
Ora os obsoletos guarda-chuvas têm os dias contados. O Nubrella, guarda-chuva mãos livres, já é patente registada e já chegou a vários países. Em breve chegará a Portugal Se quiserem saber mais consultem Ciência Hoje e vejam o filme
Na Mesopotâmia, região do actual Iraque, há 3400 anos já existiam artefactos destinados a proteger a cabeça dos reis - contra o sol, não contra a chuva, uma raridade naquele lugar. Assim como os abanos, eram feitos de folhas de palmeiras, plumas e papiro.. No Egipto, adquiriram significado religioso e na Grécia e em Roma eram tidos como artigo exclusivamente feminino. Só no século XVIII a obstinação do comerciante inglês Jonas Hanway, um apaixonado por guarda-chuvas (versão inglesa do guarda-sol tropical), conseguiria torná-los dignos também de um gentleman. Embora ridicularizado em vida, após a sua morte, em 1786, os ingleses aceitaram sair à rua munidos do acessório nos sempre frequentes dias de chuvas do país in Wikipedia
Os problemas que decorrem com o vulgar guarda chuva em dias de vento, nasceram com ele.
A explicação, essa surgiu no século XVIII com a lei de Bernouilli
O objecto em si, chegou aos nossos dias com muito pouca evolução. Variações, só quase no nome. Em Portugal, guarda chuva no norte, chapéu de chuva,(ou simplesmente chapéu) no sul. Em Trás-os-Montes, tinha, no meu tempo de criança, outras designações: Se era de homem chamava-se sombreiro e se era de mulher, sombrinha.
Nunca se chegou a chamar basílica, hipótese levantada por Saramago na sua fabulosa obra "Memorial do Convento"
É então que começa a sair a procissão. Vêm à frente as bandeiras dos ofícios(....) a basílica de Santa Maria Maior , que é sombreiro, e também a basílica patriarcal , ambas de gomos alternados, brancos e vermelhos, se daqui a duzentos ou trezentos anos começam a chamar basílica aos chapéus de chuva, Mandei pôr um cabo novo à minha basílica , Tenho a minha basílica com uma vareta partida, Esqueci-me da minha basílica no autocarro...
Mas o guarda chuva tem o seu lado poético, trabalhado por cineastas e pintores. A testemunhá-lo, entre outros, os filmes Mary Poppins , os Chapéus de chuva de Cherburgo, Dancing in the rain e a obra de Renoir "Les Parapluies"
Não sei se foi o meu lado mais poético ou a minha aversão ao guarda chuva que me levou a escrever há já algum tempo, o poema que aqui deixo
(In)sensibilidade
Chove torrencialmente
e o poeta,
náufrago dentro dos sapatos
que a chuva transformou em tristes barcos,
vai e nem se apercebe de que a chuva cai.
Na sua mente enlaçam-se dores, alegrias,
memórias dispersas de longínquos dias.
O poeta vai
e nem se apercebe
de que a chuva cai ímpia, inclemente.
Pendurado no braço, pálio sem função,
vai o guarda chuva, a roçar o chão.
Abrandou a chuva que já cai serena .
O poeta vai
mas não se apercebe de que a chuva cai.
Dançam as memórias , eclode um poema.
No rosto do poeta emerge um sorriso.
Abre o guarda chuva mas já não é preciso.
Regina Gouveia ( não publicado)
Morreu o Umbrella. Viva o Nubrella
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Olá Regina
ResponderEliminarAté do guarda chuva, objecto tão incómodo, faz ciência e pesia.
Fantástico.
Um beijo.
Maravilha de poema....
ResponderEliminarGosto de guarda chuvas, mas perco-os constantemente. reconheço que são chatos, e incómodos, mas são os unicos que protegem os pezinhos e o cabelo . Claro que não há melhor que aqueles capuzes de plastico que as inglesas enfiavam na cabeça a toda a hora.
Venha o Nubrella......
Esqueceste-te da cena mais maravilhosa que jamais vi no cinema ( com guarda chuva, claro): Dancing in the rain. Gene Kelly feliz dançando com o seu guarda chuva....merecia ter aqui o vídeo ( sugestão).
ResponderEliminarBjo
Olá Graciete e Virgínia.
ResponderEliminarObrigada pelos comentários. Quanto ao dancing in the rain, tens todas a razão Virgínia. A cena é fantástica e a música inesquecível.
Vou procurar no youtube
Bjs
Regina
Regina Gouveia,
ResponderEliminarÉ urgente a publicação de toda a sua poesia. Não só a poesia para crianças!
Precisamos, urgentemente, toda esta poesia publicada; dá-la a conhecer e a saborear a muita gente! É uma pena estes e outros poemas tão bonitos que escreve serem conhecidos por tão pouca gente. Nós somos uns previligiados por pudermos ler um ou outro aqui. Sei que tem muitos mais. Aguardamos o livro de poemas da sua autoria!
Adelaide Pereira