Em ciência Hoje pode ler-se :
Carlos Corrêa, professor Emérito do departamento de Química e Bioquímica da Faculdade de Ciências da Universidade, vai ser o Conselheiro Ciência Hoje para o Ano Internacional da Química que decorre em 2011.
(...)Que significa isto? Que o professor catedrático, jubilado em 2006, acompanhará o Ciência Hoje no noticiário relacionado com tudo o que tenha a ver com este Ano Internacional, nomeadamente dando sugestões, fazendo recomendações e fornecendo respostas a questões que nos sejam colocadas neste âmbito.
(...)«Dado que tenho mais tempo que os meus colegas no activo, sinto-me na obrigação de dar a minha colaboração ao CienciaHoje (que muito estimo). Não se trata de "alguém muito qualificado" mas alguém que tentará ajudar recorrendo a colegas nas diferentes áreas da Química quando achar necessário. Alguém que, do ponto de vista químico,tentará ajudar o vosso trabalho ao longo do ano», escreveu-nos respondendo ao convite que lhe foi endereçado.
Tive o privilégio de trabalhar alguns anos com o Professor Carlos Corrêa, essencialmente na orientação dos estágios pedagógicos, mas também em outros projectos. Alia de uma forma invulgar, o humor a química e o ensino da mesma.
E porque neste blogue se fala também de poesia, deixo alguns poemas relacionados com a química
Química
Sublimemos, amor. Assim as flores
No jardim não morreram se o perfume
No cristal da essência se defende.
Passemos nós as provas, os ardores:
Não caldeiam instintos sem o lume
Nem o secreto aroma que rescende.
José Saramago, in "Os Poemas Possíveis"
Poema das folhas secas de plátano
As folhas dos plátanos desprendem-se e lançam-se na aventura do espaço,
e os olhos de uma pobre criatura comovidos as seguem.
São belas as folhas dos plátanos quando caem, nas tardes de Novembro
contra o fundo de um céu desgrenhado e sangrento.
Ondulam como os braços da preguiça no indolente bocejo.
Sobem e descem, baloiçam-se e repousam,
traçam erres e esses, cicloides e volutas,
no espaço escrevem com o pecíolo breve,
numa caligrafia requintada, o nome que se pensa,
e seguem e regressam, dedilhando em compassos sonolentos
a música outonal do entardecer.
São belas as folhas dos plátanos espalhadas no chão.
Eram lisas e verdes no apogeu da sua juventude em clorofila,
mas agora, no outono de si mesmas,
o velho citoplasma, queimado e exausto pela luz do Sol,
deixou-se trespassar por afiado ácidos.
A verde clorofila, perdido o seu magnésio, vestiu-se de burel,
de um tom que não é cor, nem se sabe dizer que nome tenha,
a não ser o seu próprio, folha seca de plátano.
A secura do Sol causticou-a de rugas,
um castanho mais denso acentuou-lhe os nervos,
e esta real e pobre criatura
vendo o solo coberto de folhas outonais
medita no malogro das coisas que a rodeiam:
dá-lhes o tom a ausência de magnésio;os olhos, a beleza
António Gedeão in “Poemas Póstumos”
Cores outonais
O muro de xisto é já uma ruína
mas a vinha, velha e tão cansada,
exibe de novo os seus tons outonais.
Numa subtil gradação de frequências a folhagem é agora amarelada, acobreada,
cor de vinho, acastanhada.
Ostentam cores outonais também,
mais além, a pereira e o marmeleiro.
Enquanto transferências de electrões desencadeiam oxidações e reduções,
carotenos e antocianinas
Regina Gouveia in "Magnetismo Terrestre" (foto de Fernando Gouveia)
Indicador
Indicador, o que indica, pode ser dedo da mão,
mas também identifica carácter de solução.
Pode ser o tornesol ou a fenolftaleína,
pode ser bromotimol, ou também heliantina.
Há quem não encontre o rumo e precise de um sinal,
talvez um fio de prumo que lhe indique a vertical.
Há quem passe pela vida,só entregue à sua sorte,
com a bússola perdida, jamais encontrando o norte,
deixando confusos rastos.
Há quem diga que os astros no Universo em expansão
são grandes indicadores.
Há quem neles leia amores, venturas e dissabores.
E há quem leia uma paixão num simples ramo de flores
Regina Gouveia in "Reflexões e interferências"
E a terminar, “lágrima de preta” de António Gedeão, na voz de Manuel Freire
Nunca gostei de Química, a não ser daquela que aproxima dois seres que se amam e os faz ter a certeza de que nasceram um para o outro!! :))
ResponderEliminarAcredito que se possa ser apaixonado por esta ciência, mas tanto quanto a Física me fascinava por ter sempre explicação para os fenómenos da Natureza, a Química era um labirinto para mim, com contas e mais contas, fórmulas e mais fórmulas, matemática à mistura, demasiado abstracta para meu gosto.
Mas de poesia gosto e é como juntar o mel ao fel.....consigo apreciar melhor as fórmulas e aplicar a teoria :)))
Bjo
A Física também me fascina mais que a Química mas, por exemplo,na magia das cores da natureza, no outono de que tanto gostas, a química está muito presente. E não só aí, obviamente...
ResponderEliminarPor outro lado cada vez mais as fronteiras entre as ciências se esbatem.
Quando apareces para tomar um café?
Um beijinho grande
Regina
Hoje a Química e a Física confundem-se. As fórmulas e as equações são explicadas pela Física. Eu gosto muito das duas disciplinas mas procuro interpretar a Química através da Física.
ResponderEliminarDe qualquer modo os posts e poemas que a Regina apresenta continuam lindos. Os dois últimos poemas, que são da autoria da Regina, são mesmo muito bons e aí a Física e a Química estão bem presentes.
Um beijo grande, Regina.