Decidi então escrever-lhe
Ao Principezinho
Asteróide B612
Caro principezinho.
Deves achar estranha esta carta pois possivelmente nem sabes quem eu sou.
Mas eu conheço-te desde os meus 12 anos e nunca mais te esqueci. Tão pouco esqueci a descrição da tua viagem e as tuas conversas com Saint Exupéry, que ele tão bem nos legou.
Como estão o teu planeta, a tua flor e o teu carneiro? Como resolveste o problema com a mordaça? Tens estado atento aos vulcões e aos baobás? Tenho a cereteza que sim pois, tal como o acendedor de lampiões que encontraste no quinto planeta que visitaste, tens pleno sentido da responsabilidade
Voltaste à Terra? Suponho que não. Não creio, aliás, que gostasses do que irias ver. Está infestada de pessoas que pensam como o homem de negócios e como o rei. O ter e o poder passaram a valores primordiais. Cada vez mais agitados, os homens correm de um lado para o outro sem conhecer o sabor da água de uma fonte cristalina
Gostaria de emigrar para o teu planeta mas sei que é pequeno demais.
Ainda espero que neste meu planeta nos dêmos conta, um dia, de que o essencial é invisível para o olhar. Entretanto vou continuar a estar atenta ao teu riso vindo lá das estrelas
Se quiseres responder-me podes fazê-lo para o meu blogue www.docaosaoscomos.blogspot.com
Surgiu-me a ideia de colocar esta mensagem ao reler pela enésima vez o livro.
Provavelmente todos os que lêem este blogue conhecem o livro.
Se o não conhecem, experimentem lê-lo. Por certo irão gostar.
De qualquer modo deixo dois excertos escritos e o link para três vídeos com o texto não integral ( faltam-lhe excertos belíssimos)
O pricipezinho no planeta do geógrafo
O pricipezinho no planeta do acendedor de lampiões
O quinto planeta era muito curioso. Era o menor de todos. Mal dava para um lampião e o acendedor de lampiões
O principezinho não podia atinar para que pudessem servir, no céu, num planeta sem casa e sem gente, um lampião e o acendedor de lampiões. No entanto, disse consigo mesmo:
- Talvez esse homem seja mesmo absurdo. No entanto, é menos absurdo que o rei, que o vaidoso, que o homem de negócios, que o beberrão. Seu trabalho ao menos tem um sentido. Quando acende o lampião, é como se fizesse nascer mais uma estrela, mais uma flor. Quando o apaga, porém, é estrela ou flor que adormecem. É uma ocupação bonita. E é útil, porque é bonita.
Quando abordou o planeta, saudou respeitosamente o acendedor:
- Bom dia. Por que acabas de apagar teu lampião?
- É o regulamento, respondeu o acendedor. Bom dia.
- Que é o regulamento?
- É apagar meu lampião. Boa noite.
E tornou a acender.
- Mas por que acabas de o acender de novo?
- É o regulamento, respondeu o acendedor.
- Eu não compreendo, disse o principezinho.
- Não é para compreender, disse o acendedor. Regulamento é regulamento. Bom dia.
E apagou o lampião.
Em seguida enxugou a fronte num lenço de quadrinhos vermelhos.
- Eu executo uma tarefa terrível. Antigamente era razoável. Apagava de manhã e acendia à noite. Tinha o resto do dia para descansar e o resto da noite para dormir...
- E depois disso, mudou o regulamento?
- O regulamento não mudou, disse o acendedor. Aí é que está o drama! O planeta de ano em ano gira mais depressa, e o regulamento não muda!
- E então? disse o principezinho.
- Agora, que ele dá uma volta por minuto, não tenho mais um segundo de repouso. Acendo e apago uma vez por minuto!
- Ah! que engraçado! Os dias aqui duram um minuto!
- Não é nada engraçado, disse o acendedor. Já faz um mês que estamos conversando.
- Um mês?
- Sim. Trinta minutos. Trinta dias. Boa noite.
E acendeu o lampião.
O principezinho considerou-o, e amou aquele acendedor tão fiel ao regulamento. Lembrou-se dos pores-do-sol que ele mesmo produzia, recuando um pouco a cadeira. Quis ajudar o amigo.
- Sabes? Eu sei de um modo de descansar quando quiseres...
- Eu sempre quero, disse o acendedor.
Pois a gente pode ser, ao mesmo tempo, fiel e preguiçoso.
E o principezinho prosseguiu:
- Teu planeta é tão pequeno, que podes, com três passos, dar-lhe a volta. Basta andares lentamente, bem lentamente, de modo a ficares sempre ao sol. Quando quiseres descansar, caminharás... e o dia durará quanto queiras.
- Isso não adianta muito, disse o acendedor. O que eu gosto mais na vida é de dormir.
- Então não há remédio, disse o principezinho.
- Não há remédio, disse o acendedor. Bom dia.
E apagou seu lampião.
Esse aí, disse para si o principezinho, ao prosseguir a viagem para mais longe, esse aí seria desprezado por todos os outros, o rei, o vaidoso, o beberrão, o homem de negócios. No entanto, é o único que não me parece ridículo. Talvez porque é o único que se ocupa de outra coisa que não seja ele próprio.
Suspirou de pesar e disse ainda:
- Era o único que eu podia ter feito meu amigo. Mas seu planeta é mesmo pequeno demais. Não há lugar para dois...
O que o principezinho não ousava confessar é que os mil quatrocentos e quarenta pores-do-sol em vinte e quatro horas lhe davam certa saudade do abençoado planeta.
Vídeos
http://www.youtube.com/watch?v=KC3UQ5ekigM&feature=related
(Parte I)
http://www.youtube.com/watch?v=8s8ARIit_5I&NR=1
(Parte II)
http://www.youtube.com/watch?v=6RlJcKhN578&NR=1
(Parte III)
É uma da manhã.
ResponderEliminarRecordo uma aula, a melhor que tive no liceu, em que a professora de francês trouxe o disco em vinil do Principezinho recitado pelo Georges Poujouly e o Gerard Philippe . A voz grave do aviador impressionou-me como me impressionou a voz da raposa. O principezinho era menos atraente. Fiquei apaixonada pela história e pedi á minha Mãe que trouxesse de Paris o disco, que não havia em Portugal. Entretanto saiu o livro em Português e li-o vezes sem conta.
Quando os meus filhos estavam no Colégio Alemão, fizeram a peça em alemão com uma coreografia espectacular e música tocada por eles. O narrador lia maravilhosamente. O meu filho João fez de Rei, prepotente,tronitruante, ordenando ao Principezinho que saisse porque não conseguiu convencê-lo a ficar. Fiz-lhe um manto a preceito com uma colcha e estrelas douradas coladas, a minha filha era o vaidoso, que dava voltas e voltas com um chapéu e pedia ao Principezinho que batesse as palmas. Foi um êxito de que tenho um vídeo.
No casamento do meu filho ele escolheu a passagem da Raposa para ser lida no fim da Missa. Adaptei-a e encurtei-a um pouco.
A minha filha fez de Principezinho e o meu filho mais novo de Raposa. Foi das cenas mais comoventes, a que já assisti, numa cerimónia lindíssima com o coro da Sé.
Entretanto o meu filho trouxe-me o CD de França, com a mesma capa do de vinil. Também tenho aqui na estante uma figura do menino pendurada junto aos livros, a lembrar-me nos momentos mais duros que, além numa estrela distante, há certamente um Amigo a sorrir-nos.
Como tu nos sorris neste blogue todos os dias.
Obrigada Regina....
Obrigada Virgínia.
ResponderEliminarTal como a ti,este livro tocou-me muito. Curiosamente, também "esteve presente" no casamento do meu filho Miguel. O convite de continha um excerto do diálogo com a raposa
Regina
Ainda usei o começo da história numa sessão para professores sobre motivação. Desenhei uma caixa com furos no quadro e disse-lhes que adivinhassem o que lá estava dentro. A ninguém ocorreu a cena do desenho, em que o aviador faz uma caixa e diz que a ovelha está lá dentro. Devemos criar expectativas nos alunos sobre o que o vamos aprender e não dar-lhes tudo já planificado e à vista....
ResponderEliminarEra esta a ideia:)))
bom Domingo!
Bjo
Que lindo o seu post. Sabe que uso muitas vezes o diálogo do principezinho com a raposa para exemplificar a necessidade de nos compreendermos!!!!!!?
ResponderEliminar"É preciso cativar!!!!" É uma frase que utilizo muitas vezes, mesmo só para mim.
Um beijo.
Esqueci-me de te dizer que os vídeos em brasileiro são muito bonitos, mesmo que a nível de imagem muito sucintos.
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