Só agora, quase a entrar no dia 22,
arranjei uns minutos para falar na celebração do Dia da Poesia. Mas como diz
Gedeão, todo o tempo é tempo de poesia.
Tempo de Poesia
Todo o tempo é de poesia
Desde a névoa da manhã
à névoa do outo dia.
Desde a quentura do ventre
à frigidez da agonia
Todo o tempo é de poesia
Entre bombas que deflagram.
Corolas que se desdobram.
Corpos que em sangue
soçobram.
Vidas que a amar se
consagram.
Sob a cúpula sombria
das mãos que pedem
vingança.
Sob o arco da aliança
da celeste alegoria.
Todo o tempo é de poesia.
Desde a arrumação ao caos
à confusão da harmonia.
António Gedeão
Incluo também um poema do meu primeiro
livro Reflexões e Interferências (2002)
Exploração
Qual exploradora, parti um dia.
Embrenhei-me na selva da
vida
onde sabia andar escondida a poesia
Encontrei-a
na luz ténue do sol ao fim
do dia,
na molécula, no átomo, no
quantum de energia,
nas leis de Newton, no
conceito de entropia.
Encontrei-a
na reflexão da luz, na impulsão no ar,
no cheiro a maresia e nas
algas do mar,
no orvalho, na geada, na
chuva, no luar.
Encontrei-a
no ínfimo e no imenso
que a vista não alcança,
nas rugas dum idoso, no rir
de uma criança,
numa tela, num
concerto, numa dança.
Encontrei-a
no voo da gaivota, na
pétala da flor,
na chama que tremula e se
multiplica em cor
e que irradia energia na forma de calor
Encontrei-a
nas estrelas, nas galáxias
mais distantes,
no olhar apaixonado
daqueles dois amantes,
nos extintos dinossauros de
dimensões gigantes.
Encontrei-a
em medusas, corais, nos fundos oceanos,
no vento a agitar nas árvores os ramos,
em pinturas rupestres com vários milhares de
anos
Encontrei-a
na violeta escondida no
canto do jardim
e no frasco que continha
essência de jasmim.
Tentei então guardá-la só
para mim.
Foi assim que ela se evolou
e de novo eu aqui estou
a procurá-la.
Regina Gouveia
Termino com um poema de uma amiga minha que
acaba de publicar o seu primeiro livro de poesia.
Cultivar o amor
Houve amores que chegaram
outros foram sem querer
muitos deles adormeceram
mesmo antes de morrer,
perdidos e não achados
tantos e tantos também
ficaram atormentados o
coração estilhaçado
não souberam querer bem, o
amor não escolhe idade
aparece sem dizer dá conta
quando instalado
incrustado em todo o lado é
chama de lume a arder
e quando esmorece cedo por
força do mal querer
apaga-se o enamorado dá
lugar a outro ser
que pode ter bom futuro ou
acabar por ali
se não se alimenta - tem
fome está condenado a morrer,
mas se cresce e se prolonga
com força e vivacidade
terá por testemunho a sorte
pode o amor com vontade
dizer olá à verdade
tornarem-se companheiros um
do outro ter saudade,
não basta dizer que sim
para colher no estio
as flores, as folhas e os
frutos é preciso bem tratar
como o amor –
cultivar.
Maria Fernanda Bahia
Ouvir Mozart no Brava e ler estes poemas é simplesmente maravilhoso. Já conhecia os dois primeiros, mas adorei o terceiro. A tua amiga promete. Escrevi sobre as árvores e tb sobre a poesia hoje....
ResponderEliminarBom Domingo!
Obrigada. Já enviei o teu comentário à minha amiga. Agora vou ver o teu blogue. Aliás vi o anterior (sobre o pai) mas não consegui comentar.
EliminarBjs
Regina