As minhas raízes alfandeguenses vibraram hoje com a mensagem que
que li aqui
Só um professor
compareceu na escola
Apenas um dos 62 professores convocados compareceu no
Agrupamento de Escolas de Alfândega da Fé (Bragança) esta manhã, inviabilizando
a realização do exame de Português, adiantou ao Mensageiro de Bragança José
Lopes, o diretor do agrupamento. “Também os educadores fizeram greve, pelo que
não há nenhuma creche a funcionar”, disse.
Ao todo, foram afetados cerca de 30 alunos. “Como ainda não
saíram as notas da avaliação contínua, todos os nossos alunos internos estavam
propostos a exame”, explicou.
Força,
professores...
O texto que segue, extraído daqui,
não deixa dúvidas quanto à justeza da luta.
Para que serve a greve dos
professores?
(...)Os professores
têm de saber muito bem aquilo que ensinam, mas têm também de saber comunicar o
que sabem. E precisam de saber motivar os alunos, nomeadamente aqueles para
quem o próprio conhecimento não é motivação suficiente. Contudo, isso não
basta. Os professores têm ainda de saber manter a disciplina de modo a que nas
aulas exista um ambiente favorável à aprendizagem. Atualmente espera-se também
que os professores saibam detetar os problemas pessoais e familiares dos alunos
e sejam uma espécie de psicólogos e assistentes sociais. Assim, a um professor
é exigido: conhecimento, clareza e rigor, autoridade, calma e ponderação,
capacidade de reação, criatividade, iniciativa e dinamismo, imparcialidade,
etc.
Mesmo que retirássemos
da lista algumas expectativas exageradas e inadequadas, continuaria a ser muita
coisa. Por isso, mas não só, os professores precisam de tempo para preparar as
aulas, elaborar e corrigir testes e as muitas outras tarefas que têm a seu
cargo. Precisam de tempo para ler e pensar. Precisam de tempo para aprender. E
precisam de tempo para a vida pessoal e familiar: sim, para serem bons
professores precisam de dedicar tempo à vida pessoal e familiar.
Contudo, o que se tem
passado nos últimos anos vai no sentido contrário: mais horas de aulas, mais
disciplinas ou níveis, mais turmas e mais alunos, mais horas de atividades não
letivas, mais relatórios e outras burocracias que consomem cada vez mais tempo.
Atualmente, a maior parte dos professores trabalha muito mais do que as 35
horas semanais que têm no horário e mais até que as 40 horas que o governo quer
implementar. Enquanto muitos professores estão no desemprego, os outros
trabalham demais e com cada vez menos condições para fazer um trabalho de
qualidade.
Os professores
trabalham mais mas recebem menos dinheiro, devido aos cortes salariais e de
subsídios e ao facto de as progressões na carreira estarem congeladas há anos.
Este último aspeto é particularmente absurdo, pois os professores continuam a
fazer as ações de formação exigidas pela lei e a cumprir os trabalhosos e
burocráticos procedimentos da avaliação do desempenho docente, mas depois isso
não tem qualquer consequência nem no salário nem na progressão na carreira.
Não admira por isso
que nas escolas cresça o desalento. Os professores, senão todos pelo menos a
grande maioria, sentem-se pressionados, perseguidos e desrespeitados. Tentam
não se sentir encurralados e não baixar os braços, mas isso é cada vez mais
difícil.
Ora, as medidas que
este governo pretende adotar vão piorar ainda mais essa situação. No próximo
ano as direções de turma deixarão de fazer parte da componente letiva e por
isso muitos professores darão mais uma hora de aulas do que davam. O ministro da
Educação prometeu que o aumento da carga horária para 40 horas semanais não
implicaria um aumento das horas letivas, mas existe o receio – infelizmente
plausível, dados os antecedentes - de que a promessa não seja cumprida ou seja
apenas cumprida formalmente e não na prática (por exemplo através da
transferência dos 100 minutos de apoio para as horas não letivas, à semelhança
do que vai acontecer com a direção de turma). Se a isso acrescentarmos a
mobilidade especial e a possibilidade de ser obrigado a trabalhar muito longe
de casa ou ir para o desemprego, ao desalento provocado pela falta de condições
de trabalho juntam-se a insegurança e o medo.
Mas como é que
professores que se sentem desalentados e com medo podem ser rigorosos e
criativos nas aulas? Como é que conseguem ter autoridade diante dos alunos se
são publicamente desrespeitados pelo governo? Um escravo pode ser obrigado a
trabalhar se o trabalho implicar apenas força física, mas não se implicar
inteligência e criatividade. Por isso, mesmo que, por hipótese, o governo tenha
razão quanto à necessidade de austeridade, não tem razão relativamente ao modo
como está a tratar os professores.
O dinheiro que o
governo poupará com as medidas que quer adotar não compensará a despesa
implicada pela diminuição da qualidade do ensino e com o insucesso escolar dela
decorrente.
É por isso, e não por
estarem a ser manipulados pelos sindicatos, que tantos professores fizeram
greve às reuniões de avaliação e hoje não foram vigiar o exame de Português. E
é também por isso que a greve não é contra mas sim a favor dos alunos.
Termino com um comentário publicado no Público
on-line
Não sou aluna de 12.º ano, mas sim de 11.º, com exames
nacionais a realizarem-se amanhã (dia 18, Biologia e Geologia) e sexta-feira
(dia 21, Física e Química A). Contudo, penso que tenho o direito e o dever de
me manifestar.
Tenho
familiares professores e conheço bem a vida precária que têm tido nestes
últimos tempos, quer com a antiga ministra da Educação (no Governo de
Sócrates), quer com o actual ministro, Nuno Crato. E é completamente
justificável, sobretudo por um lado, a greve aos Exames e às reuniões de
Conselho de Turma, pois só uma greve nesta altura é que traria o impacto
necessário… Os professores não são máquinas, são acima de tudo pessoas que
merecem ser valorizadas e recompensadas pelo seu trabalho, pois nenhuma
profissão seria conseguida sem ter por base um professor. Um médico para ser médico
precisou de vários professores.
Se por
um lado esta greve poderá trazer benefícios aos professores (e assim o espero),
esta também é feita a pensar nos estudantes: como é possível uma turma
funcionar com 30 alunos (ou mais)? Como é possível conseguir dar um bom
acompanhamento aos alunos se há 30 dentro de uma sala? Já para não falar em
aulas de turno, nomeadamente, em Física e Química, nas aulas laboratoriais. É
muito difícil gerir um turno de 15 pessoas, cada grupo a desenvolver a sua
actividade prática, ainda para mais se a turma for “complicada”… O Governo
trata mal os funcionários públicos, segundo Marcelo Rebelo de Sousa, e eu
concordo com ele. O Governo, teimoso e manhoso, devia ceder, neste cíclico e
vicioso.
Esta
greve, que em princípio não se prolongará, não irá afectar os meus exames… Mas
afecta os alunos de 12.º ano, cuja média final depende da nota de exame a
Português e, também, necessitam dessa prova para ingresso na universidade. E
agora questiono-me: será justo uns alunos fazerem exame e outros não, na mesma
escola??? Até que ponto esta medida será ética? O que irá garantir aos alunos
uma prova com o mesmo grau de dificuldade? Não seria melhor paralisar tudo? Ou
seja, todos os alunos fazerem a 2.ª fase do exame, contando como 1.ª fase? Onde
está a igualdade de direitos e a igualdade de oportunidades? Isto só gera mais
stress aos alunos e sentimento de frustração, o que não é bom nesta época
fulcral!
Espero
que esta greve tenha feito a mudança… É urgente! É urgente que se tome alguma
medida, é urgente qualidade na Educação, é urgente que o País crie oportunidade
de emprego aos licenciados – é triste ver pessoas a formarem-se para ajudar o
país e, no final de contas, são obrigados a emigrar. Os licenciados
portugueses, veja-se os enfermeiros, são altamente qualificados e formam uma
carreira de sucesso, lá fora. Cá dentro, é vergonhoso o que ganham por dia… De
Portugal, saem excelentes profissionais, é pena que o pais não aproveite o que
é dele, por direito…
Fico
decepcionada com este Governo, em que coloquei a minha confiança…
Ai, regina, já me riscaram de dois blogues por ter dito o que não devia... É incrível...pessoas que se dizem meus amigos!!
ResponderEliminarTambém escrevi sobre este assunto no meu blogue e agradecia que lá pusesses um comentário, pois sinto-me mesmo desanimada.
Um beijo grande!
O país está cheio de grandes "democratas"...Que tristeza
ResponderEliminarBjs
Regina
Grande coragem e justiça na tomada de posição dos professores.
ResponderEliminarE Alfândega da Fé é um exemplo.
Um beijo.