Na
mensagem anterior, a que dei o título Miscelânea, o tema transversal a todos os
textos incluídos foi a vida. Continuemos então a falar de vida.
Comecemos
com a questão Existirá vida fora da Terra
colocada em 10 de Junho, em De Rerum
Natura
A
Terra é habitada por milhões de milhões de seres, alguns considerados vivos, outros não. Todos eles são formados por
elementos químicos. Onde reside então a diferença ? Essencialmente na forma de
organização desses elementos. A vida é uma manifestação fantástica da
organização de elementos químicos.
O mundo com todas as
suas fragrâncias
é feito de elementos,
misturas, substâncias.
Elementos mais ou menos cem.
Como pode acreditar
alguém, com senso,
que a diversidade de
um universo tão imenso
a partir de tão
pouco seja conseguida?
Mas o mais estranho
é o que agora vem.
Muito menos
elementos tem
aquilo a que
resolvemos chamar vida.
Gouveia R. in Reflexões e Interferências
Possuindo
não apenas unidade de composição mas também unidade funcional, a célula é a
unidade básica da vida de todos os seres vivos, de cujo trabalho depende a
própria vida.
Todo ser vivo é formado por células, alguns
por uma única célula, seres unicelulares, outros por várias, pluricelulares.
O ser humano é pluricelular. O corpo humano adulto é formado por cerca de
10 triliões de células. As maiores células do corpo humano têm aproximadamente
o mesmo diâmetro de um fio de cabelo, mas a maioria são menores do que isso têm
cerca de um décimo do diâmetro de um fio de cabelo humano, ou seja, um fio de
cabelo tem cerca de 100 mícrons de
diâmetro (um mícron é um milionésimo de um metro assim 100 mícrons correspondem a um décimo de um
milímetro), deste modo uma célula humana comum pode ter cerca de um décimo do
diâmetro de um fio de cabelo (10 mícrons).
O dedo mínimo do pé representa 2 a 3 bilhões
de células, dependendo do seu tamanho, em analogia considerando uma casa grande
cheia de ervilhas, a casa corresponderia ao dedo mínimo do pé e as ervilhas às
células.
Entre as várias células que compõem o corpo humano, as que mais me
fascinam são os neurónios, responsáveis
por quase tudo que ocorre no nosso corpo.
O neurónio é uma
célula nervosa, estrutura básica do sistema nervoso, comum à maioria dos
vertebrados. Os neurónios são células altamente estimuláveis, que processam e
transmitem informação através de sinais eletroquímicos. Uma das suas
características é a capacidade das suas membranas plasmáticas gerarem impulsos
nervosos.
E a
propósito de neurónios não posso deixar de referir o texto Caminhos neuronais, da autoria do bioquímico António Piedade,
incluído no livro “Caminhos de Ciência”
O referido texto pode ser ser lido na íntegra aqui
Caminhos neuronais
Caminho adentro um trilho
florestal debruado por pinheiros e eucaliptos. As folhas acompanham-me com os
versos do poeta andaluz, Manuel Machado: “…caminante
no hay camino, se hace el camino al andar”. De facto, só ao caminhar
desvendo o fluir do caminho, os seus trilhos efluentes, as suas sendas que
ficam inexoráveis para trás.
Caminho à beira-mar com a água salina a ondular a areia em vagas pulsantes. A
cada onda, desaparecem os rastos dos meus passos. É como se a água levasse o
caminho feito. A cada onda, renova-se o areal horizonte de meus passos futuros,
como se uma nova folha se esbranquiçasse para receber, novamente virgem, o
traço seguinte.
Caminho ao longo de um axónio imaginário, prolongamento celular nervoso que
nasce do corpo neuronal e se espraia até à enseada da sua ligação, ou sinapse,
com o neurónio a quem passa o testemunho de uma mensagem que flui. Flui como
uma onda salina de potássio e sódio, propulsionada por uma acção potencial de
natureza electroquímica. A passagem de testemunho tem cambiantes químicos que
modelam a mensagem com neurotransmissores específicos: serotonina e
noradrenalina associadas ao “humor”; dopamina ao controlo motor; acetilcolina à
aprendizagem e memória; ácido gama-aminobutírico à inibição; glutamato e
aspartato à estimulação; et cetera.
A vaga neurotransmissora banha o neurónio pós-sináptico, passo seguinte, e uma
nova onda se espoleta e conflui com milhares de outras vindas de tantos outros
neurónios, numa raiz dendrítica que encorpa no integrante corpo celular.
E assim, de sinapse em sinapse, passo a passo, a mensagem faz o seu caminho e a
via neuronal se estabelece, consequente, numa acção causal de efeitos complexos
ainda pouco estabelecidos, porque muitos são os caminhos e muitas as suas intercomunicações
em rede(…).
(…)Um dia, se o sonho tiver natureza neuronal, peço emprestado o verso ao poeta
luso António Gedeão e digo que “Eles
nem sabem nem sonham, que o sonho comanda à vida” e que é pelo sonho que
caminhamos!
Fotografias
de neurónios feitas em alguns dos principais laboratórios de neurociências do
mundo foram reunidas sob a inédita forma de uma exposição de artes plásticas
que já passou por cidades como Barcelona, Chicago e Rio de Janeiro.
O Espaço Ciência Viva, no Rio de Janeiro, realizou
uma atividade com o tema “Cérebro –
Viajando na Linguagem”, integrada num Projeto
Ciência e Arte. Os participantes foram envolvidos na criação artística de Redes Neurais.
Aqui ficam duas imagens de trabalhos realizados
Termino com mais um poema...
Viagem
Do quark ao átomo, do átomo à célula, da célula
à vida,
quanta energia despendida, quanta energia
transformada…
Para quê tanto corrida se afinal é breve
a estada ?
Já se aproxima a partida, foi há tão
pouco a chegada.
Gouveia
R. (in Pro tempore Suo tempore, a aguardar publicação)
Ótimo texto que devia ser partilhado no site do Professor Calafate com quem ultimamente tenho trocado algumas opiniôes.
ResponderEliminarParabéns Regina e um grande beijo.
Obrigada Graciete pelas suas generosas palavras.... Conforme a sua sugestão, já enviei o texto ao João Pedro.
ResponderEliminarUm abraço
Regina
Cara Regina
ResponderEliminarAgradeço a referência ao meu texto e ao meu livro. Bem haja. Um abraço. António Piedade
Caro António Piedade
ResponderEliminarNão tem nada que me agradecer. Eu, como leitora, é que agradeço ter-me presenteado com um livro cujos textos, para além de muito ricos em conteúdo científico, são autênticos textos poéticos.
Ab
Regina Gouveia