Bem-vindo, bienvenido, bienvenu, benvenuto, welcome....


Silêncio cósmico

Pudera eu regressar ao silêncio infinito,

ao cosmos de onde vim.

No espaço interestelar, vazio, negro, frio,

havia de soltar um grito bem profundo

e assim exorcizar todas as dores do mundo.

Regina Gouveia

NOVO BLOGUE

Retomei o blogue que já não usava há anos.

https://reflexoeseinterferncias.blogspot.com/

Dedico-o essencialmente aos mais novos mas todos serão bem vindos, muito em particular pais, avós, encarregados de educação, educadores ...


terça-feira, 27 de setembro de 2011

O DIA EM QUE VERDI DERROTOU BERLUSCONI...


Uma amiga enviou-me um e-mail que quero partilhar convosco


O DIA EM QUE VERDI DERROTOU BERLUSCONI
No último 12 de março, Silvio Berlusconi teve que enfrentar a realidade. A Itália festejava o 150º aniversário de sua unificação e, entre as muitas comemorações da importante data, uma decorreu na Ópera de Roma, com a apresentação da obra "Nabucco", de Giuseppi Verdi, dirigida pelo maestro Ricardo Muti.
Antes da apresentação, Gi anni Alemanno, prefeito de Roma, subiu ao cenário para pronunciar um discurso denunciando os cortes no orçamento federal dirigido à cultura que haviam sido feitos pelo governo, do
qual o próprio Alemanno, velho amigo de Berlusconi, é membro. Esta intervenção política,  num momento cultural dos mais simbólicos para a  Itália, produziria um efeito inesperado ao qual Berlusconi, em pessoa,
 foi obrigado a assistir.

Segundo o relatado por Ricardo Muti, "... A princípio houve uma grande salva de palmas pelo público. Começou  a ópera. Tudo correu muito bem até  ao famoso canto Va Pensiero. Imediatamente
senti que a atmosfera entre o público se ia tornando cada vez mais tensa. Existem coisas que não se conseguem descrever, mas que sentimos. Era o silêncio profundo que se fazia sentir! No momento em que o público percebeu que começavam os primeiros acordes de Va Pensiero, o silêncio  transformou-se em verdadeiro fervor. Podia-se sentir a reação visceral dos presentes ante o lamento dos escravos que cantam
Ó pátria minha, tão bela e perdida...
Assim que o coro chegou ao fim, puderam ouvir-se vários pedidos de bis. Começaram os gritos de Viva
Italia e Viva Verdi. As pessoas nas galerias jogavam pequenos papéis escritos com mensagens patrióticas".

Apenas uma única vez Muti havia aceitado fazer um bis de Va Pensiero, numa apresentação no La Scala de Milão em 1986

"Eu não pensava em fazer apenas um bis", disse o maestro , "teria que haver uma intenção especial para fazê-lo", referiu.
Então,  num gesto teatral, Muti  voltou-se para  ao público e para  a Berlusconi  e disse:

"Logo que cessaram os gritos de bis, vocês começaram a gritar Longa vida à Itália. Sim, estou de acordo com isto: Larga vida à Itália. Mas... Já não tenho trinta anos e vivi a minha vida. Corri o mundo e, hoje, tenho vergonha do que acontece no meu país. Por isso, vou aceitar os pedidos para apresentar novamente Va Pensiero. Não só pela alegria patriótica que sinto neste momento mas também  porque, enquanto dirigia o coro que cantou Ai meu país belo e perdido pensei que, se continuarmos assim, vamos matar a cultura sobre a qual erguemos a história da Itália. E, nesse caso, a nossa pátria também estaria bela e perdida.  Durante anos mantive minha boca fechada mas agora, creio que precisaríamos dar sentido a este canto: estamos na nossa casa, o Teatro de Roma, com o coro que cantou magnificamente bem e com a orquestra que o acompanhou esplendidamente. Se quiserem, proponho  que se unam a nós para que cantemos todos juntos".

Assim, o maestro convidou o público a cantar junto com o coro dos  escravos.
Muti continua a sua narrativa:
"Vi grupos de gente  a levantar-se. Toda a Ópera de Roma se levantou. E o coro também. Foi um
 momento mágico! Essa noite não foi apenas mais uma representação de Nabucco, mas também uma declaração, no Teatro da capital italiana, para chamar a atenção dos políticos".

Aqui está o vídeo que registrou este belo momento repleto de emoção.

Ao texto do e-mail acrescento a letra do “Va pensiero” em italiano e traduzida


Ópera "Nabuco" (1842)

PARTE TERZA (Cena IV)

Le sponde dell'Eufrate (Na margem do Eufrates)

Ebrei incatenati e costretti al lavoro. (Hebreus agrilhoados constrangidos ao trabalho)


EBREI:

Va', pensiero, sull'ale dorate;

va', ti posa sui clivi, sui colli,

ove olezzano tepide e molli

l'aure dolci del suolo natal!

Del Giordano le rive saluta,

di Sïonne le torri atterrate...

Oh mia patria sì bella e perduta!

Oh membranza sì cara e fatal!

Arpa d'or dei fatidici vati,

perché muta dal salice pendi?

Le memorie nel petto raccendi,

ci favella del tempo che fu!

O simìle di Sòlima ai fati

traggi un suono di crudo lamento,

o t'ispiri il Signore un concento

che ne infonda al patire virtù!



Hebreus:

(Vai, pensamento, em asas douradas,

vai, pousa sobre as colinas e montes

onde sopram as doces brisas,

a quente e leve fragrância da nossa terra natal

do Jordão, das saudadas margens

e das desoladas torres de Sião

Oh pátria minha tão bela e perdida

Oh lembrança tão querida e fatal

Harpas de ouro dos fatídicos lamentos

porque pendem mudas nos salgueiros?

A memória no peito revive

a qual fala de um tempo que se foi

Cada um como Sodoma nos fados

lança um som de profundo lamento,

que o Senhor te inspire uma canção

que insufle coragem no padecer)

2 comentários:

  1. Já conhecia esse acontecimento.
    Que inveja de quem viveu essa situação!!!!

    Um beijo.

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  2. Grande Itália, grande Maestro, grande música....

    Obrigada pela partilha....

    Bjo

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