Ontem recebi uma carta muito estranha da qual insiro um excerto.
Ao lê-lo fiquei sem saber se me havia de rir ou de chorar (de raiva...).
Estou aposentada, descontei toda a vida para tudo o que me foi pedido e, tendo em conta as minhas actividades de escrita, estou como trabalhadora independente (autora).
Acontece que da Campo das Letras foram-me pagos os direitos só até a empresa começar a ficar com dificuldades que culminaram na insolvência, pelo que só me pagaram direitos pela terça parte da 1ª edição(nenhuns pela segunda). Passei a trabalhar com a Gatafunho da qual até à dita ainda nada recebi (duas edições de um livro e uma edição de outro), alegadamente por atravessar um momento difícil. Acontece que, relativamente ao primeiro livro, havia um compromisso meu de doar à ONG, Ajuda Amiga, parte dos direitos a fim de serem canalizados para as crianças da Guiné-Bissau. Como fui educada no respeito pelos compromissos, já adiantei, do meu bolso, quinhentos euros, esperando vir a receber os direitos. Estou há meses com nova editora, pelo que ainda não decorreu o prazo para prestação de contas, fixado no contrato .
Se relato isto aqui é para verem o absurdo de me virem pedir, por causa da minha actividade independente, uma contribuição mensal de 124, 09 euros…
Dirigi-me logo de manhã à Rua António Patrício, endereço indicado na carta. Na fila encontravam-se já várias pessoas que tinham recebido uma carta idêntica. Não era ali. Teríamos que nos deslocar a várias repartições possíveis, uma delas em Miguel Bombarda. Quando tirei a senha de atendimento saiu o nº 63. O último nº a ser chamado tinha sido o 4…. Mesmo assim fui aguardando e era meio dia quando saí sem ser atendida (o atendimento ia no nº 26).
À tarde, em regime de voluntariado, fui estar com crianças de escolas de Gaia, do 1º e 3º ano. A sessão, que correu bem, foi na casa Barbot (una casa lindíssima Arte Nova, cujo exterior conheço há mais de quarenta anos, mas onde nunca tinha entrado).
Há muitos anos a casa veio referida numa revista de arquitectura ou decoração, não sei bem. Os interiores eram fabulosos. Lembro-me de uma casa de banho belíssima. Agora há várias divisões, as casas de banho são fracções das que existiam, etc. Mas mesmo assim vale a pena a visita.
Casa Barbot
Mas voltando ao episódio da carta. Acabada a sessão na casa Barbot, meti-me no Metro e fui à Loja do Cidadão. Da estação do Metro à Loja é um estirão mesmo para quem gosta de andar a pé (interrogo-me sempre que faço este percurso: Por que razão a estação de Metro, onde foi gasto muito dinheiro dos contribuintes, foi pensada tendo em conta exclusivamente o estádio do Dragão?).
Cheguei ao balcão de atendimento, passavam 10 min das 16 h. Havia uma fila formada com pessoas sem senha pois a máquina não “dava” senhas. Várias pessoas com senha anteriormente tirada, aguardavam atendimento. A fila foi crescendo sem qualquer explicação por parte dos funcionários. Na fila, ou à espera, vi muitas pessoas com uma carta idêntica à minha. Eram já 18 h, a máquina começou a funcionar.
Eram quase 19 h quando fui atendida; o atendimento, por uma funcionária muito simpática, diga-se de passagem, foi muito breve. Se estou aposentada estou isenta. Pasme-se…Na era da tecnologia, essa informação não existia nos dados de que aquele serviço dispõe.
Eu creio que tenho uma resposta para grande parte dos problemas que assolam o pais (para além da corrupção branqueada, dos compadrios, etc, etc).
A resposta está numa nova classe de funcionários, sejam eles de que departamento forem. São os Excelíocres também chamados mediocrelentes.
Esta espécie, protegida por uma avaliação secreta, muito transparente, nasceu do cruzamento da mediocridade real com a excelência virtual.
Como é espécie protegida, há lobbies que defendem "com unhas e dentes" a sua protecção, lutando por um cada vez maior secretismo na avaliação.
Na educação, e provavelmente em outras situações, há casos de tal modo caricatos que estou a tentar descrevê-los em versos satíricos. Entretanto vou pedindo ajuda a António Aleixo…
Julgando um dever cumprir,
sem descer no meu critério,
- digo verdades a rir
aos que me mentem a sério!
Inteligências há poucas.
Quase sempre as violências
nascem das cabeças ocas,
por medo às inteligências
Co'o mundo pouco te importas
porque julgas ver direito.
Como há-de ver coisas tortas
quem só vê em seu proveito?
E a terminar um cartoon retirado daqui
Que esperar de tão medíocres governos que foram criando os excelíocres e os mdiocrelentes?
ResponderEliminarO "post" é ótimo.
Um beijo.
Também recebi a dita carta e pelo que leio, também devo estar isenta...mas acho melhor falar com a minha contabilista sobre o assunto....:))
ResponderEliminarFui à casa Barbot várias vezes, quando a família lá vivia. O meu filho mais novo era amigo dum dos miudos e davam lá festas de anos com todos os meninos do colégio. Ficava boquiaberta com a beleza e promenores de Art Nouveuau.Diga-se que as pessoas eram muito simpáticas e nada snobs.
Bjinho