Bem-vindo, bienvenido, bienvenu, benvenuto, welcome....


Silêncio cósmico

Pudera eu regressar ao silêncio infinito,

ao cosmos de onde vim.

No espaço interestelar, vazio, negro, frio,

havia de soltar um grito bem profundo

e assim exorcizar todas as dores do mundo.

Regina Gouveia

NOVO BLOGUE

Retomei o blogue que já não usava há anos.

https://reflexoeseinterferncias.blogspot.com/

Dedico-o essencialmente aos mais novos mas todos serão bem vindos, muito em particular pais, avós, encarregados de educação, educadores ...


segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Porque a vida só se dá pra quem se deu ….


Porque a vida só se dá pra quem se deu ….

Este é um dos versos do poema “ Como dizia o Poeta” 

(...)Quem já passou por essa vida e não viveu
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu
Porque a vida só se dá pra quem se deu,
Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu(...)

 e que podemos ouvir cantado nas vozes de Vinicius e Toquinho



Já aqui referi por mais que uma vez que nas manhãs de 5ª feira faço voluntariado no Hospital de Santo António, experiência onde tenho recebido fantásticas lições de vida, algumas das quais já aqui relatei.
Recebi mais uma na passada 5ª feira. Quando regressava de ter ido levar um doente a um serviço, deparei com um invisual encostado à porta de entrada no Edifício Neoclássico, já no interior do mesmo. Perguntei se precisava de alguma ajuda e ele respondeu-me:
O porteiro deixou-me entrar e disse-me para aguardar aqui que deveria chegar uma senhora da Liga (Liga os Amigos do Hospital de Santo António). 
 Respondi-lhe que era eu e fui levar o Zé (assim se identificou) aonde pretendia: Ao 6º piso do edifício novo, onde estava internada a mulher. Pelo caminho foi-me contando o que havia sucedido.
A mulher, Ana Leonor, é também deficiente. Parou de crescer aos 7 anos pelo que toda a sua estrutura óssea se tem vindo progressivamente a degradar. Vivem em S. Miguel e há mais de dois anos que a Ana tem vivido a correr, sem sucesso, para médico e hospitais, na ilha. Decidiram vir ao continente e a Ana foi operada, uma operação muito difícil, a qual, ao que parece correu muito bem.
Quando vieram, a mulher já não andava, pelo que no aeroporto teve que a transportar ao colo, guiado pela bengala. Nessa altura ouviram um comentário de uma funcionária 
“ Que lição de vida. E queixo-me eu quando tenho dores nas costas...”

Disse-me ainda.
A minha mãe vive em Barcelos eu podia ir e vir todos os dias mas prefiro pagar uma pensão e estar aqui para passar o máximo tempo com a minha mulher.

Chegados ao piso da enfermaria, enfermeiros e médicos brincavam com ele: 
Então Zé, vem namorar mais um bocadinho?

Entrando na enfermaria, lá vimos a Ana sentada numa cadeira,com um ar sorridente. Quando viu o marido o rosto irradiava alegria. A ternura do casal é comovente. Ambos se consideram uns privilegiados por se terem encontrado, um dia. Ela conduzia ( não sabe se vai poder continuar a conduzir) pelo que na ilha fazem passeios a pé e de carro, amando a vida apesar das adversidades

Vieram-me logo à ideia duas frases que, a par de outras, guardei em tempos .

O verdadeiro homem mede a sua força, quando se defronta com o obstáculo. (A.Saint-Éxupery)

A coragem conduz às estrelas, e o medo à morte. (Séneca)

Lembrei-me também do poema com que iniciei este texto Hoje votei a lembrá-lo, no Holmes Place.
Após uma aula de reabilitação física, conversava com uma colega muito simpática e com a qual me identifico muito. A dada altura uma jovem (32 anos) dirigiu-se a mim e perguntou. 
Não deu aulas de Física/Química no Carolina Michaëlis?
Foi minha aluna e disse.
Recordo-a com muito carinho embora eu tivesse descido as minhas nota de 18 para 15. Era muito exigente mas gostei muito de a ter como professora. Recordo-me que na sua casa havia um quintal com muitas framboesas. 
E virada para a minha colega:
Uma vez , vários alunos fomos a casa da professora tirar dúvidas.

Claro que esta história não tem nada a ver com a lição de vida que recebi no Hospital mas pensei:

Acho que dei um pouco de mim , quando professora. Fi-lo com paixão e estes momentos de reencontro com alunos que me recordam com saudade, são exremamente gratificantes.


9 comentários:

  1. Regina, sei que tudo isso é verdade, eu própria já te admirei e elogiei muitas vezes, mas este tipo de posts moralizadores nem sempre são muito bem interpretados e quem lê fica com a ideia de que queres sempre auto-elogiar-te. Desculpa a franqueza.
    Quem me dera poder subir escadas ou mesmo deslocar-me a um hospital...neste momento sou eu que vou ter de pedir ajuda cada vez que sair!

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    Respostas
    1. Agradeço a franqueza mas a minha intenção era precisamente o contrário pois perante estas situações sinto-me tão pequenina, tão pequenina...
      Quanto a ti,quando precisares da minha ajuda diz,pois ajudar-te-ei naquilo que puder.
      A operação já está perto e vais ficar melhor com certeza.
      Um grande bj
      Regina

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    2. Talvez tenha sido um pouco precipitada no meu comentário. Ando um pouco nervosa e irritável por razões que não têm nada a ver com o resto do mundo. E mais valia estar calada...se quiseres apaga o meu comentário anterior. Ainda bem que praticas o bem e fazes sempre aquilo que é melhor para os outros. Não sou capaz de tamanha generosidade a não ser com os meus mais próximos, por eles faço tudo. Quanto aos alunos, sei que dei o meu melhor, mas muitas vezes fui injusta com os mais fracos...
      Bjo

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    3. Relativamente à "generosidade" de ser voluntária,uma manhã por semana, não a considero como tal, apenas como um gesto de cidadania que felizmente posso por em prática dado que tenho saúde e posso dispor de uma manhã a prestar um serviço, muito modesto à comunidade.
      Quanto aos alunos sei que também deste o teu melhor e de modo algum quis pôr-me em "bicos de pés", até porque há com certeza muitos ex-alunos que não partilharão da opinião da jovem que referi.
      Fico sempre muito satisfeita quando ouço destes comentários feitos por alunos mas sinceramente, não considero isso vaidade. De qualquer modo irei falar sobre "vaidade" numa próxima mensagem
      Ab

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  2. A Virgínia tem razão, também acho que és um pouco vaidosa, desculpa lá! Não se diz que "a mão direita não deve saber o que faz a esquerda"?

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  3. Não sei se consideras vaidade falar da minha experiência como voluntária mas se assim for não entendo. Vaidade de quê se o que relatei enaltece o casal e não a mim? Ou consideras vaidade ficar feliz quando encontro antigos alunos que me recordam com saudade? Não será maio demosntração de vaidade comentar uma mensagem dizendo “ porque eu fiz”, “porque eu sou”,…
    De qualquer modo deste-me o mote para uma próxima mensagem
    Ab
    Regina

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  4. Mas é exatamente o que tu escreves a propósito das tuas actividades, as meritórias e as outras, "eu fiz" "eu fui"... Falando sempre. Na primeira pessoa e portanto sempre centrada em ti! Pelos vistos a Virgínia, que aré te conhece, é da mesma opinião, apenas talvez menos direta!y

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  5. Considero que sentirmo-nos orgulhosos daquilo que fazemos não é vaidade, mas relatarmos em blogues os nossos feitos - quer na comunidade, quer na família - acaba por ser um pouco fátuo. Mas como dizia o meu irmão, cada um escreve o que quer, quem não quiser, não lê....

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  6. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

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