terça-feira, 7 de janeiro de 2014
De onde vimos? Para onde vamos?
No post anterior
referi que, sendo a esperança a última a morrer, decidi começar o Ano Novo
com uma “saudação” às artes e às ciências. Coube agora a vez às Ciências.
E começo a mensagem com a questão: De onde vimos? Para onde vamos?
A resposta fui buscá-la a alguns textos e vídeos que aqui deixo
(...)Afinal, seria o Big
Bang uma teoria
definitiva? Vejamos se essa é uma hipótese razoável. Ao longo da história,
vimos que a idéia de universo evoluiu muito. Passou por diversos estágios, que
podem ser caracterizados como teorias cosmológicas. Terra plana, modelo
geocêntrico, heliocêntrico, galactocêntrico, Big Bang, Big
Bang inflacionário... Cada
modelo explica o que era conhecido na época e o que as medidas de então podiam
confirmar. Não se pode dizer que essas teorias estavam erradas. Seria melhor
afirmar que eram incompletas. Afinal, para nossa experiência diária, o modelo
de terra plana não é ruim. A terra é redonda e, além do mais, gira em torno do
Sol, e assim por diante. A descoberta de que o universo – tudo o que existe –
evolui de forma que possa ser racionalmente analisado parece ser surpreendente.
Mais surpreendente, o fato de que podemos demonstrar que ele teve uma origem.
As leis que desenvolvemos no nosso pequeno planeta aplicam-se ao universo todo.
Não há evidência de que haja qualquer discrepância mensurável.
Isso encerra a história? Tudo nos
leva a crer que não. Se somos copernicanos no que se refere ao espaço,
aprendemos também a ser copernicanos no que se refere ao tempo e, portanto, não
vivemos num momento especial. O próprio Big Bang deve ser objeto de racionalização, de
detalhamentos. Ao primeiro capítulo já assistimos: o Big
Bang não ocorreu de forma
qualquer; ele foi inflacionário. Quantas etapas mais surgirão na aventura
humana de decifrar a natureza do universo em que vivemos?
A concepção de universo em meados
do século XVII havia já incorporado as noções de espaço e tempo de Newton. O
universo parecia um espaço-tempo estático e infinito, muito distinto daquele em
que o destino humano e os deuses estavam intimamente ligados à concepção de
mundo. O filósofo francês Blaise Pascal expressou assim o sentimento:
"Tragado pela imensidão infinita dos espaços, dos quais não sei nada e o
qual não sabe nada de mim, estou apavorado… O eterno silêncio destes espaços
infinitos me alarma".
Afinal, estamos tão sós quanto
imaginou Pascal? A natureza e o destino humanos estão totalmente desconectados
da estrutura cósmica maior? Hoje sabemos que cada estrela pode conter um
sistema solar e que cada galáxia possui, em média, cerca de 100 bilhões de
estrelas. É legítimo supor que o número de planetas com condições semelhantes
ao do planeta Terra é imenso, só considerando a nossa galáxia. Devemos lembrar
ainda que o número de galáxias observáveis dentro do horizonte cósmico acessível
é de 100 bilhões. Fica claro, pois, que existe um número enorme de planetas com
condições nas quais a vida possa ter surgido e se desenvolvido. Isso não
significa que a vida humana como a nossa seja comum. Não só porque ela pode ter
assumido a sua feição fortuitamente, mas também porque ela é certamente
efêmera, se considerada na escala de tempo cósmica. Exatamente por esse caráter
efêmero e por causa das distâncias envolvidas, dificilmente duas civilizações
de grau de desenvolvimento semelhante poderiam entrar em contato entre si,
mesmo que existam simultaneamente em estrelas ou galáxias separadas.
Uma outra conexão que nos vincula
com as estrelas diz respeito aos elementos químicos, indispensáveis para manter
nossa estrutura física. Cada átomo de oxigênio que inspiramos, assim como cada
átomo de cálcio que está nos nossos ossos ou de ferro e de carbono da nossa
musculatura tiveram uma origem muito especifica, cuja história conhecemos.
Apenas o hidrogênio e o hélio (além do deutério e parte do lítio) foram
formados no Big Bang; os elementos químicos mais
pesados foram todos sintetizados no centro das estrelas. Com a morte dessas, o
gás enriquecido desses elementos pesados foi lançado ao espaço, apenas para se
juntar aos restos de milhares de outras estrelas e formar uma nova geração de
corpos celestes. O Sol já é uma estrela de terceira geração, e graças a isso a
composição química do sistema solar é rica o suficiente para formar a vida como
a conhecemos.
A cosmologia científica, ao
contrário das cosmologias tradicionais, não tenta ligar a história do cosmos a
como os homens devem se comportar (diferentemente do que, ainda hoje, os
adeptos da astrologia nos propõem). É papel dos cientistas, artistas, filósofos
e outras pessoas criativas entendê-la e expressar o sentido humano nela. O
pleno impacto dessa cosmovisão sobre a cultura humana só se dará quando a
compreensão da nossa realidade física for plenamente entendida pelo cidadão
comum.
Enquanto isso, a missão da
astronomia é de nos dizer onde estamos, de onde viemos e para onde vamos. E,
pelo visto, essa missão parece não ter fim.
As confirmações do Big Bang
No final dos anos de 1940, o
astrônomo George Gamow sugeriu que a explosão inicial poderia ter deixado
resquícios observáveis até hoje. Ele pensou que um universo tão compacto e
quente teria emitido muita luz. Com a expansão, a temperatura característica
dessa luz teria abaixado. Segundo cálculos simples, hoje ela talvez pudesse ser
observada na radiação de microondas, com uma temperatura de cerca de 5 graus
Kelvin. Em 1965, dois engenheiros, Arno Penzias e Robert Wilson, procuravam a
origem de um ruído eletromagnético que estava atrapalhando as radiopropagações
de interesse para um sistema de telecomunicações. Descobriram que a radiação
vinha de todas as direções para as quais apontassem sua antena. Mediram a
temperatura dessa radiação; eles encontraram um valor para a temperatura não
muito diferente do previsto, de 2,7 graus Kelvin (próximo ao zero absoluto).
Era a confirmação da teoria do Big Bang; Penzias e Wilson receberam
o Prêmio Nobel de Física em 1978.
Criação (de Marcelo Gleiser)
Ninguém
testemunhou o que estava para acontecer.
O
"tempo" não existia;
A
realidade existia fora do tempo, pura permanência.
O
espaço não existia.
A
distância entre dois pontos era imensurável.
Os
pontos podiam estar aqui ou ali, suspensos, saltitantes.
Entrelaçado
em si próprio,
o
espaço aprisionava o infinito.
De
repente, um tremor;
uma
vibração,
uma
ordem que nascia.
O
espaço pulsava, ondulando sobre o nada.
O
que era perto se afastou. O agora virou passado.
O
espaço nasceu com o tempo.
Ao
falarmos em espaço, pensamos em conteúdo.
Ao
falarmos em tempo, pensamos em transformação.
E
assim foi.
O
espaço borbulhou; o tempo, incerto, iniciou sua marcha.
Da
agitação conjunta do espaço e do tempo surgiu a matéria,
expelida
de seus poros.
Mas
atenção!
Essa
não era uma matéria ordinária feito a nossa.
Ela
fez o espaço crescer,
inflar,
como um balão.
Esse
balão é o nosso Universo.
(...)Segundo
algumas teorias modernas que lidam com a origem do espaço, do tempo e da
matéria, existe um "nada quântico", uma entidade de onde
universos-bebês podem surgir ocasionalmente chamada de "multiverso"
ou "megaverso". Em algumas versões, esse multiverso é eterno e,
portanto, não criado: o multiverso dispensa a Primeira Causa. Dessa existência
cósmica atemporal, flutuações de energia a partir do "nada" ocorrem
aleatoriamente, dando origem a pequenas bolhas de espaço, os universos-bebês. A
maioria dessas flutuações desaparece, retornando à sopa quântica de onde
vieram. Raramente algumas crescem. Um equilíbrio entre a força da gravidade e a
energia armazenada no espaço permite que os universos-bebês surjam sem qualquer
custo de energia. Ou seja, é possível, ao menos em tese, criar um universo a
partir do nada: creatio ex nihilo. O
tempo inicia a sua marcha quando a bolha cósmica sobrevive e começa a evoluir,
isto é, quando existem mudanças que podem ser quantificadas. Se nada muda, o
tempo é desnecessário.
As teorias que invocam o multiverso propõem
que existimos numa dessas bolhas que conseguiu desprender-se da sopa primordial
e crescer, produto de uma flutuação energética tão aleatória quanto a
responsável por partículas ejetadas de núcleos radioativos. Nossa bolha, nosso
Universo com "U" maiúsculo (para diferenciar de universos hipotéticos
ou de partes do universo além dos nossos telescópios e instrumentos de
observação), aparentemente tem a rara distinção de haver existido por tempo
suficiente para que a matéria em seu interior tenha se organizado em galáxias,
estrelas e pessoas: segundo essas teorias da cosmologia moderna, somos
resultado do nascimento deveras improvável de um cosmo que, por ter as
propriedades certas, foi capaz de evoluir a ponto de gerar criaturas capazes de
se perguntar sobre suas próprias origens. Certamente, essa visão científica é
um tanto distante da criação premeditada e sobrenatural retratada no Gênese.
Mas será que ela é, de fato, capaz de abordar a questão da origem de todas as
coisas?
Qualquer
versão científica da criação (a ser explorada em detalhe mais adiante),
inclusive essa valiosa tentativa de abordar racionalmente o problema da
Primeira Causa, precisa ser formulada de acordo com princípios e leis físicas:
a energia deve ser conservada; a velocidade da luz e outras constantes
fundamentais da Natureza devem ter os valores corretos para garantir a
viabilidade do nosso Universo. Ademais, um "nada quântico", com sua
sopa borbulhante de universos-bebês, não é exatamente o que podemos chamar de
um nada absoluto. O problema é que nós, humanos, não sabemos como criar algo a
partir do nada. Precisamos dos materiais; precisamos das instruções. Essa
limitação torna- se evidente quando tentamos lidar com a primeira das criações,
a do Universo. Não se deixe levar por afirmações ao contrário, mesmo que usem
termos inspiradores como "decaimento do vácuo quântico",
"supercordas", "espaço-tempo com dimensões extra" ou
"colisões de multibranas": estamos longe de obter uma narrativa
científica da criação capaz de ser empiricamente validada (ou seja, testada por
experimentos). Mesmo se, um dia, formos capazes de construir tal teoria, ela
deverá ser qualificada como uma teoria científica da
criação, baseada numa série de suposições.
A
ciência precisa de uma estrutura, de um arcabouço de leis e princípios, para
funcionar. Não pode explicar tudo simplesmente porque precisa começar com algo.
Como exemplo desses pontos de partida, cito os axiomas dos teoremas matemáticos
— afirmações não demonstradas, aceitas como evidentes e, portanto, como
verdadeiras — e, nas teorias físicas, uma série de leis e princípios da
Natureza, como as leis de conservação de energia e de carga elétrica, cuja
validade é extrapolada muito além dos limites em que podemos testá-las. Como essas
leis descrevem eficientemente os fenômenos naturais que podemos observar,
supomos que continuarão a ser válidas nas condições extremas prevalentes na
vizinhança do Big Bang, o evento que marca a origem do tempo. Porém, não
podemos ter certeza se nossas extrapolações estão corretas — e cientistas não
deveriam afirmar o contrário — até termos confirmação experimental. Como disse
o paleontólogo J. William Schopf, da Universidade da Califórnia,
"Asserções extraordinárias necessitam de provas extraordinárias".
Quase a terminar um vídeo longo, mas extraordinariamente interessante, Além do Big Bang e um outro mais breve
Por fim alguns poemas
E foi o Big
Bang, o caos, o cosmos,
o
infinitamente grande.
E foi o tempo…
Tão longo o
tempo em tão longa viagem …
E foi a vida…
Tão breve a
vida em tão fugaz passagem…
(Gouveia.R, 2002, não publicado)
Todos os
elementos que constituem a vida
tiveram,
à partida, há muitos milhões de anos,
origem
nas estrelas.
Foi da
poeira cósmica que a espécie humana nasceu
e com
ela, a poesia e a lira de Orfeu.
Shiva,
dançando, destruiu e recriou o universo,
o espaço
e o tempo em plena conjunção.
Eis o om criador, a sílaba sagrada, a emergir
do nada,
a poeira
cósmica gerando astros,
quais
navios sem mastros,
a vogar
no universo em expansão.
Um dia
nasceram as palavras.
Nasceram
também os poetas que,
em suas
lavras,
com
palavras fizeram poesia.
A vida é
apenas uma espera.
Esperamos
que a noite suceda a cada dia,
e que a
uma dor pungente suceda a alegria.
Esperamos
o fim anunciado
em que a
luz dá lugar à eterna escuridão.
Esperamos
que, num orgasmo de energia,
uma
supernova expluda um dia
e, num raio de luz que atravessa a imensidão,
um longínquo passado nos seja devolvido,
por
magia.
Uma esfera de gás incandescente
plasma de matéria quente,
ionizada.
Ei-lo, o astro rei de morte
anunciada.
A luz que nos chega
após oito minutos de viagem,
deixou retida
na voragem de um silêncio denso e
frio,
uma sinfonia dissonante que eclodiu
e ficou refém, no mesmo instante,
da
imensidão de um cosmos feito de vazio.
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Extraordinária lição, Regina. O video maior tenho que o ver com mais atenção, pois estou cansada e, de vez em quando, perdia-me. Quanto aos poemas está tudo dito. São da Regina. Ciência e Poesia.
ResponderEliminarUm grande abraço, Regina.
O vídeo maior é de facto longo, embora muito interessante
ResponderEliminarAb
Regina