Todo o tempo é de poesia
à frigidez da agonia
Entre bombas que deflagram.
Corolas que se desdobram.
Corpos que em sangue soçobram.
Sob a cúpula sombria
das mãos que pedem vingança.
da celeste alegoria.
Todo o tempo é de poesia.
Desde a arrumação ao caos
à confusão da harmonia.
António Gedeão
E porque de poesia falamos, deixo um poema de Camões e outro de Fernando Pessoa, porventura os dois expoentes máximos da poesia portuguesa
Verdes são os campos
Verdes são os campos,
De cor de limão:
Assim são os olhos
Do meu coração.
Campo, que te estendes
Com verdura bela;
Vosso pasto tendes,
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.
Gados que pasceis
Com contentamento,
Vosso mantimento
Não no entendereis;
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.
Luís de Camões
Ouçamos o poema, com música de José Afonso (também poeta), na voz de Teresa Silva Carvalho
Camões visto por Júlio Pomar – azulejos da estação de metro Alto dos Moinhos
Autopsicografia
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
Fernando Pessoa (Ortónimo)
Ouçamos o poema na voz de João Villaret
Retrato de Fernando Pessoa da autoria de Almada Negreiros, também ele poeta
Termino com um poema bem menor, um poema meu do primeiro livro publicado, Reflexões e Interferências
E para ilustrá- lo, dois pequenos quadros (20x30cm), os meus primeiros quadros a óleo
Exploração
Qual exploradora, parti um dia.
Embrenhei-me na selva da vida
onde sabia andar escondida
a poesia
Encontrei-a
na luz ténue do sol ao fim do dia,
na molécula, no átomo, no quantum de energia,
Encontrei-a
na reflexão da luz, na impulsão no ar,
no cheiro a maresia e nas algas do mar,
no orvalho, na geada, na chuva, no luar.
Encontrei-a
no ínfimo e no imenso que a vista não alcança,
nas rugas dum idoso, no rir de uma criança,
numa tela, num concerto, numa dança.
Encontrei-a
no voo da gaivota, na pétala da flor,
na chama que tremula e se multiplica em cor
e que irradia energia na forma de calor
em pinturas rupestres com vários milhares de anos
Encontrei-a
na violeta escondida no canto do jardim
e no frasco que continha essência de jasmim.
Tentei então guardá-la só para mim.
Foi assim que ela se evolou
e de novo eu aqui estou
a procurá-la.
Hoje é também o dia Mundial da Árvore
Estive no Agrupamento de Escolas de Cantanhede. Mais uma vez me deliciei com a atenção a a curiosidade das crianças. Numa das escolas as crianças distribuíam pequenas árvores em cartolina. Eis a frente o verso, este com uma semente.
Hoje é o Dia de todas as celebrações.
ResponderEliminarE que dia lindo esteve.
Parabés pelos teus óleos que não conhecia...os poemas já os conheço a todos e continuo a gostar deles.
Bjo
Todo o seu post é um hino à Poesia, à Primavera, à Ciência e à Vida(no seu lindo poema) e à luta também(no poema de Gedeão).
ResponderEliminarSerá que algum dia chegaremos da "confusão à harmonia"?
Parabéns ,Regina. Como sempre gostei muito deste seu post.
Um beijo.