sábado, 19 de março de 2011
Março, mês da leitura
Já por várias vezes aqui exprimi a minha tristeza por danos no sistema de ensino-aprendizagem, , a meu ver irreparáveis, consequência da gestão do ministério de MLR .
Há no entanto um aspecto positivo a realçar (creio que é mesmo o único). Refiro-me à Semana da Leitura, lançada pelo Plano Nacional de Leitura em 2006/2007.
Adoptada como uma prática anual por muitas escolas de todo o país e também por várias bibliotecas públicas, está actualmente integrada nos planos anuais de actividades. Decorre geralmente durante o mês de Março, incluindo múltiplas acções, como feiras do livro, jogos, debates, sessões com escritores, maratonas de leitura, dramatizações, recitais de poesia, entre outras.
No âmbito da referida semana desloquei-me já a várias escolas e vou continuar a digressão.
Apesar da iniciativa ser altamente louvável e com resultados evidentes no interesse das crianças pela leitura, creio que seria mais eficaz se em vez da concentração de actividades numa semana, as mesmas fossem dispersas ao longo do ano lectivo. Esta concentração, a meu ver, não permite uma reflexão sobre as diferentes actividades, já que todas se acumulam num período muito curto. Também para os autores é complicado pois não podem desdobrar-se e, consequentemente, não podem dar resposta a muitas solicitações.
Foi por esta razão que estive em alguma escolas ainda em Fevereiro (como noticiei em postagem anterior) e tenho agendadas deslocações em Abril, Maio e Junho.
Mas regresso às escolas já visitadas em Março. A convite da professora bibliotecária Manuela Lima, estive em Esmoriz (duas escolas) e a convite da livraria Índex, estive no Colégio Efanor , em Matosinhos.
Nas várias visitas estive com crianças desde o pré-primário ao 4º ano. Como faço habitualmente, acompanho a leitura de alguns textos com uma ou outra actividade experimental simples, numa perspectiva da “ciência e poesia de mãos dadas”. É altamente compensador ver o olhar extasiado das crianças, nomeadamente as do pré-escolar, querendo todas participar falando das suas experiências. Eu já uma vez vi o arco-íris…Eu também… E quando o espectro da luz solar é projectado na parede batem palmas efusivamente.
E o ar de admiração dos mais velhos quando confrontados com a explicação das estações do ano. Muitas vezes estão convencidos que o Verão e o Inverno, dependem do maior ou menor afastamento da Terra ao Sol. Quando confrontados com o facto de que ao inverno numa parte do globo, corresponde o Inverno na outra, apercebem-se de que a distância sol-terra não pode ser justificação. E ficam perfeitamente atónitos quando lhes é dito que no hemisfério Norte é Verão quando estamos mais longe do Sol e Inverno quando estamos mais perto. E tudo isto emerge das poesias que vão sendo lidas…
Perguntaram à Maria
o que era a poesia
e a Maria respondeu:
É saber olhar o Céu,
ouvir as ondas do mar,
e sentir a maresia,
as aves a chilrear,
desde que o sol se levanta,
deixar a areia escapar
por entre os dedos da mão,
é saber ouvir o vento
que traz sempre uma mensagem
quando chega de viagem.
É acarinhar a terra,
cada animal, cada planta,
cada pedra, cada rio.
É cantar ao desafio com o melro,
o gavião, e também a cotovia,
o pardal , o rouxinol.
É saudar o arco-írisnum dia de chuva e sol
In Ciência para meninos em poemas pequeninos
(…)Por causa da luz que emito, faço a noite e faço o dia,
a Primavera, o Outono, o Inverno e o Verão, o luar na escuridão.
Isto no planeta terra, nos outros é semelhante com alguma alteração.
E já que falo na Terra é divertido contar
que enquanto uns muito transpiram, outros estão a tiritar.
É que todos os planetas estão sempre em translação, giram à volta de mim,
mas também em torno deles estão sempre a rodopiar.
É assim que noite e dia se sucedem à porfia.
Só que a terra enquanto gira,
face ao sol fica inclinada
e recebe a luz solar de uma forma variada.
Umas vezes é no norte que me recebe mais forte,
no Sul é então Inverno, e é o Verão, no Norte,
e quando neste é pleno Inverno, no Sul é o Verão forte.
Uns a banhar-se no mar outras a usar escalfeta…
In Era uma vez o Sol (in Pelo sistema solar vamos todos viajar)
E porque estamos a falar de leitura de de livros, termino com um poema não publicado
Submissão
Gosto de livros. São objectos simples e muitas vezes belos.
Alguns são mesmo muito belos.
Quando pego num, passeio o meu olhar por título e autor.
Depois, qual ritual, num gesto sensual acaricio a capa e a lombada,
aspiro o seu odor.
Por fim decido-me a abri-lo, a folheá-lo
e de uma forma sôfrega, apressada, começo a lê-lo.
Leio-o por vezes só de uma assentada.
Mais tarde, releio-o lentamente saboreando frases e palavras uma a uma,
tentando adivinhar sentido e intenção na pontuação, se a mesma existe,
na que imagino, quando ausente.
Paulatinamente releio-o uma outra vez, ainda mais uma. Em suma, ler
é uma fonte inesgotável de prazer
Mas o livro não pode ser qualquer. Alguns, simplesmente não os leio,
outros abandono-os quando a meio.
Todos eles simples, submissos, aceitam os meus gestos, manifestos ou omissos.
Há no entanto um aspecto positivo a realçar (creio que é mesmo o único). Refiro-me à Semana da Leitura, lançada pelo Plano Nacional de Leitura em 2006/2007.
Adoptada como uma prática anual por muitas escolas de todo o país e também por várias bibliotecas públicas, está actualmente integrada nos planos anuais de actividades. Decorre geralmente durante o mês de Março, incluindo múltiplas acções, como feiras do livro, jogos, debates, sessões com escritores, maratonas de leitura, dramatizações, recitais de poesia, entre outras.
No âmbito da referida semana desloquei-me já a várias escolas e vou continuar a digressão.
Apesar da iniciativa ser altamente louvável e com resultados evidentes no interesse das crianças pela leitura, creio que seria mais eficaz se em vez da concentração de actividades numa semana, as mesmas fossem dispersas ao longo do ano lectivo. Esta concentração, a meu ver, não permite uma reflexão sobre as diferentes actividades, já que todas se acumulam num período muito curto. Também para os autores é complicado pois não podem desdobrar-se e, consequentemente, não podem dar resposta a muitas solicitações.
Foi por esta razão que estive em alguma escolas ainda em Fevereiro (como noticiei em postagem anterior) e tenho agendadas deslocações em Abril, Maio e Junho.
Mas regresso às escolas já visitadas em Março. A convite da professora bibliotecária Manuela Lima, estive em Esmoriz (duas escolas) e a convite da livraria Índex, estive no Colégio Efanor , em Matosinhos.
Nas várias visitas estive com crianças desde o pré-primário ao 4º ano. Como faço habitualmente, acompanho a leitura de alguns textos com uma ou outra actividade experimental simples, numa perspectiva da “ciência e poesia de mãos dadas”. É altamente compensador ver o olhar extasiado das crianças, nomeadamente as do pré-escolar, querendo todas participar falando das suas experiências. Eu já uma vez vi o arco-íris…Eu também… E quando o espectro da luz solar é projectado na parede batem palmas efusivamente.
E o ar de admiração dos mais velhos quando confrontados com a explicação das estações do ano. Muitas vezes estão convencidos que o Verão e o Inverno, dependem do maior ou menor afastamento da Terra ao Sol. Quando confrontados com o facto de que ao inverno numa parte do globo, corresponde o Inverno na outra, apercebem-se de que a distância sol-terra não pode ser justificação. E ficam perfeitamente atónitos quando lhes é dito que no hemisfério Norte é Verão quando estamos mais longe do Sol e Inverno quando estamos mais perto. E tudo isto emerge das poesias que vão sendo lidas…
Perguntaram à Maria
o que era a poesia
e a Maria respondeu:
É saber olhar o Céu,
ouvir as ondas do mar,
e sentir a maresia,
as aves a chilrear,
desde que o sol se levanta,
deixar a areia escapar
por entre os dedos da mão,
é saber ouvir o vento
que traz sempre uma mensagem
quando chega de viagem.
É acarinhar a terra,
cada animal, cada planta,
cada pedra, cada rio.
É cantar ao desafio com o melro,
o gavião, e também a cotovia,
o pardal , o rouxinol.
É saudar o arco-írisnum dia de chuva e sol
In Ciência para meninos em poemas pequeninos
(…)Por causa da luz que emito, faço a noite e faço o dia,
a Primavera, o Outono, o Inverno e o Verão, o luar na escuridão.
Isto no planeta terra, nos outros é semelhante com alguma alteração.
E já que falo na Terra é divertido contar
que enquanto uns muito transpiram, outros estão a tiritar.
É que todos os planetas estão sempre em translação, giram à volta de mim,
mas também em torno deles estão sempre a rodopiar.
É assim que noite e dia se sucedem à porfia.
Só que a terra enquanto gira,
face ao sol fica inclinada
e recebe a luz solar de uma forma variada.
Umas vezes é no norte que me recebe mais forte,
no Sul é então Inverno, e é o Verão, no Norte,
e quando neste é pleno Inverno, no Sul é o Verão forte.
Uns a banhar-se no mar outras a usar escalfeta…
In Era uma vez o Sol (in Pelo sistema solar vamos todos viajar)
E porque estamos a falar de leitura de de livros, termino com um poema não publicado
Submissão
Gosto de livros. São objectos simples e muitas vezes belos.
Alguns são mesmo muito belos.
Quando pego num, passeio o meu olhar por título e autor.
Depois, qual ritual, num gesto sensual acaricio a capa e a lombada,
aspiro o seu odor.
Por fim decido-me a abri-lo, a folheá-lo
e de uma forma sôfrega, apressada, começo a lê-lo.
Leio-o por vezes só de uma assentada.
Mais tarde, releio-o lentamente saboreando frases e palavras uma a uma,
tentando adivinhar sentido e intenção na pontuação, se a mesma existe,
na que imagino, quando ausente.
Paulatinamente releio-o uma outra vez, ainda mais uma. Em suma, ler
é uma fonte inesgotável de prazer
Mas o livro não pode ser qualquer. Alguns, simplesmente não os leio,
outros abandono-os quando a meio.
Todos eles simples, submissos, aceitam os meus gestos, manifestos ou omissos.
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Ontem escrevi-te um comentário em resposta e sumiu-se...fico furiosa nestas ocasiões e às vezes já nem escrevo mais nenhum. Mas porque o teu post merece, aqui fica mais um obrigada por tantas e tantas experiências partilhadas, certa que estou de que todas essas crianças e profs se vão lembrar da Maria e dos planetas em translação, um dia quando já forem grandes:)
ResponderEliminarQuanto aos livros, não concebo uma casa sem livros, passei toda a minha infancia e juventude a devorar romances, como tu, li-os duma assentada e às vezes até faltava a uma aula para acabar de os ler. Sempre gostei de ler sem parar e hoje é cada vez mais difícil para mim ter tempo e concentração para ler grandes obras. Li muitas na FLUP, clássicas sobretudo, mas tb modernas francesas, alemãs e inglesas ou americanas no original. Pena é que a TV e a net nos afastem cada vez mais dos livros, é inevitável, os meus netos ainda não têm muito a noção do que é ler de fio a pavio, espero que ganhem esse vício como nós.
Bom fim de semana e boa LUA!
Obrigada Virgínia
ResponderEliminarUltimamnete tenho tido o tempo tão ocupado que nem tenho feito comentários ao teu blogue, embora o visite praticamente todos os dias, nem tenho respondido aos comentários que tu, a Graciete e outros têm colocado
A próxima semana vai ser de "caixeiro-viajante" : Cantanhede, Vila Pouca de Aguiar, Bragança.
Quanto à Lua, logo à noite lá estarei no quintal a vê-la.
Bjs
Regina
Ainda bem Regina que anda, tal como um caixeiro viajante, a distribuir cultura, ciência e poesia por essas Escolas fora. Acho também que, como a Regina diz, se essa sensibilização para a leitura se fizesse ao longo do ano escolar, talvez a eficácia fosse maior.
ResponderEliminarNo entanto penso que as novas tecnologias, cuja importância considero indiscutível, retiram um pouco às crianças o gosto de ler por serem apresentadas muitas vezes como entretenimento e não como outra fonte de aprendizagem e conhecimento. Será que tenho razão?
Um beijo, Regina.