O Mundo está
doente
A Covid-19
permanecerá por muito tempo como uma marca que definirá estes Tempos…
Que alterações
poderão decorrer desta pandemia? Vejamos o que pensam algumas personalidades.
https://www.youtube.com/watch?v=B23TFomY3Vs
Se algumas perspetivas parecem um pouco
assustadoras, outras parecem augurar tempos melhores, mas pessoalmente, não
estou muito otimista.
E a este propósito, coloco um texto que encontrei em https://brainstorming2point0.blogs.sapo.pt/
Vou ser muito honesta: nos anos que estudei Psicologia e depois na minha experiência na vida adulta (que vale o que vale mas é a única que tenho), cada vez mais me desiludo com o ser humano.
E esta situação da pandemia só veio
reforçar mais esta opinião. É que vê-se com cada coisa, com cada acto egoísta,
um completo desrespeito pelos outros, pela sociedade como um todo...
Nos inícios da pandemia (parece que foi
há anos atrás, em Março), havia pessoas a dizer que podia ser que o ser humano
aprendesse algo com isto e mudasse para melhor. Eu sempre me mantive reticente
quanto a isso. E infelizmente tinha razão (quem me dera neste aspecto não a
ter).
Estamos todos cansados disto - certo.
Tem sido um ano terrível - certo. Há ainda muita incerteza - certo. Mas o
cansaço não é desculpa para desarmar, ignorar o que se passa lá fora e agir
como se estivesse tudo igual há um ano atrás.
Onde estão agora as pessoas que batiam
palmas aos profissionais de saúde? Talvez a passear a um domingo à tarde num
centro comercial apinhado de gente. E as restrições não vêm mudar muita coisa,
presumo eu. Contemplam as mais variadas excepções e não há forma de aplicar a
lei eficazmente caso não sejam cumpridas. No início era tudo desconhecido e
fonte de medo, por isso quando nos mandaram para casa obedecemos. Mas depois
foram-nos dando cada vez mais liberdade, deixaram-nos basicamente à vontade. E
agora querem que voltemos a fechar-nos em casa? As pessoas ainda se lembram do
que passaram no confinamento e duvido que queiram passar por isso outra vez. No
entanto, sem medidas restritivas, isto vira o fim do mundo.
Portanto desta vez espero mesmo, mesmo estar enganada quanto à raça humana. Espero que obedeçam, que façam um esforço pelo bem comum e que a situação melhore.
Mas para além da
COVID, que esperamos, “esteja de passagem”, eu considero que as principais doenças do século
XXI são do foro comportamental
Se há na
sociedade atual, comportamentos humanos duma generosidade ímpar, também pululam,
de forma assustadora, muitos comportamentos egocêntricos e hedonistas
As recentes eleições
para a Presidência dos Estados Unidos, vieram revelar um mundo ensandecido.
Como pode um
país, dito democrático, pactuar com as fantochadas de Donald Trump? Como pode
alguém com um mínimo de senso, propô-lo, pela 2ª vez para Prémio Nobel da Paz?
O mundo está doente.
Não só por causa do Covid, a pandemia do presente
Mas também por alterações dramáticas no ambiente
Pelas desigualdades sociais que aumentam exponencialmente
Pelas condições desumanas, em que vive muita gente
Pelas guerras, conflitos entre povos em tensão permanente.
O mundo é dominado por uma ínfima minoria prepotente,
idólatras do vil metal, que acumulam despudoradamente,
sugando até ao tutano uma esmagadora minoria padecente.
Urge construir um mundo novo, mais solidário e indulgente
Regina Gouveia
A propósito dos comportamentos de Donald Trump, fui
“parar” ao site https://expresso.pt/internacional/2020-07-08-Inseguro-mentiroso-empresario-falhado-narcisista-ao-extremo.-Como-a-sobrinha-de-Trump-o-descreve-num-livro. O
tema interessou-me e fui pesquisar vários outros sites sobre narcisistas
perversos. Após várias leituras, achei que tal transtorno de personalidade se
ajusta, na perfeição, a Donald Trump.
Trata-se de uma perturbação
de personalidade assustadora pois assenta na mentira, na intriga, no rancor. Os
narcisistas perversos não nutrem verdadeiros afetos por ninguém, pois são
extremamente egocêntricos.
Em https://maestrovirtuale.com/narcisista-perverso-comportamento-e-como-identifica-los/ descrevem-se
alguns comportamentos típicos desses doentes
Uma das caraterísticas é o seu o poder de manipulação que, a meu ver, poderá explicar que, num país pretensamente desenvolvido como os EUA, Trump tenha recolhido tantos votos.
E a propósito de doenças cito Fernando
Pessoa
Há doenças piores que as doenças,
Há dores que não doem, nem na alma
Mas que são dolorosas mais que as outras.
Há angústias sonhadas mais reais
Que as que a vida nos traz, há sensações
Sentidas só com imaginá-las
Que são mais nossas do que a própria vida.
Há tanta cousa que, sem existir,
Existe, existe demoradamente,
E demoradamente é nossa e nós...
Por sobre o verde turvo do amplo rio
Os circunflexos brancos das gaivotas...
Por sobre a alma o adejar inútil
Do que não foi, nem pôde ser, e é tudo.
Dá-me mais vinho, porque a vida é nada
In Poesia 1931-1935, Assírio
& Alvim, 2006
O 1º
verso serviu de mote para o poema que
segue, do autor brasileiro Paulo
Henriques Britto
UMA
DOENÇA
Há doenças piores que as
doenças.
– Fernando Pessoa
I
Há doenças que são mais que doenças,
que não apenas são à vida infensas
como oferecem algumas recompensas
que tornam mais urgente e
mais difícil
o já por vezes inviável ofício
de habitar o íngreme edifício
do não-se-estar-conforme-se-devia
e administrar a frágil fantasia
de que se é o que ninguém seria
se não tivesse (insistentemente)
de convencer-se a si (e a toda gente)
que não se está (mesmo estando) doente.
II
O mundo está fora de esquadro.
Na tênue moldura da mente
as coisas não cabem direito.
A consciência oscila um pouco,
como uma cristaleira em falso.
Em torno de tudo há uma aura
que é claramente postiça.
O mundo precisa de um calço,
fina fatia de cortiça.
III
Nenhuma posição é natural.
Qualquer ordenação de pé e mão
e tronco é tão-somente parcial
e momentânea, uma constelação
tão arbitrária e pouco funcional
quanto a Ursa Maior ou o Escorpião.
Nenhuma é estritamente indispensável.
Nenhuma é realmente lenitiva.
Nenhuma é propriamente confortável.
Apenas uma é definitiva.
In Revista Piaui, 2006
Incluo também um poema de outro poeta brasileiro, Augusto Curry
Cada doença pertence a um doente.
Cada doente tem uma mente.
Cada mente é um universo infinito.
In O vendedor de sonhos, 2008
Partido deste último poema, insiro dois
vídeos relativos a pessoas com mentes perturbadas, mas que ficaram na História
pelas obras que deixaram.
Começo por Luís II da Baviera, com um
poema a ele dedicado, da autoria de Manoel Tavares Rodrigues-Leal (1941-2016) poeta que
eu desconhecia e que escreveu sob vários pseudónimos
Rei Luís II da Baviera
Como abrir a arquitectura à opulência
Crânio da paranóia néctar de ausência
Luís da Baviera eras o néon das salas
Agora somente do cerne da loucura falas
Termino com Van Gogh
1. As cadeiras de Vang Gogh
Amarelo
é cor tipicamente terrestre cuja violência pode ser dolorosa e agressiva.
Kandinsky in “Do Espiritual na arte”.
Cores complementares na cadeira de Gauguin.
Como objeto simbólico, a vela.
Na cadeira de Vincent,
a cor
amarela e um cachimbo.
Ausente o copo de absinto.
O amarelo prevalece nos girassóis,
em inúmeros sóis,
na casa que tem por nome a cor,
e em grande parte da obra do pintor.
Porquê tanto amarelo na obra de Vincent?
Efeito do absinto? Do desassossego?
Da relação entre emoção e cor?
Terá sido num trigal amarelo,
ensombrado por agoirentos corvos em revoada,
que um dia, a mente atormentada,
Vincent atentou contra a vida.
Não, disse Atena.
E concedeu-lhe a imortalidade merecida.
Regina Gouveia in “Entre margens”, 2013
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