Bem-vindo, bienvenido, bienvenu, benvenuto, welcome....


Silêncio cósmico

Pudera eu regressar ao silêncio infinito,

ao cosmos de onde vim.

No espaço interestelar, vazio, negro, frio,

havia de soltar um grito bem profundo

e assim exorcizar todas as dores do mundo.

Regina Gouveia

NOVO BLOGUE

Retomei o blogue que já não usava há anos.

https://reflexoeseinterferncias.blogspot.com/

Dedico-o essencialmente aos mais novos mas todos serão bem vindos, muito em particular pais, avós, encarregados de educação, educadores ...


quinta-feira, 23 de maio de 2019

Chico Buarque e o prémio Camões.


O prémio literário mais importante do universo da língua portuguesa distinguiu nesta terça-feira, na sua 31.ª edição, um ícone da música popular brasileira a que faltava a definitiva consagração como escritor. in https://www.publico.pt/2019/05/21/culturaipsilon/noticia/chico-buarque-premio-camoes-2019-1873609
Já varias vezes me referi,  neste blogue, a Chico Buarque de Holanda , nomeadamente
em 2014, com um “post” a ele dedicado https://docaosaocosmos.blogspot.com/2014/06/chico-buarque.html

Prestando uma modestíssima homenagem ao “cantautor” que mais admiro, deixo um  texto publicado em https://www.unicepe.pt/associados/texto_46.html

De Chico Buarque a Julinho da Adelaide...      por Regina Gouveia 

Chico Buarque de Holanda que, segundo consta, aos 20 anos sonhava cantar como João Gilberto, compor como Tom Jobim e fazer versos como Vinícius de Moraes. é, incontestavelmente, um dos maiores nomes da música popular brasileira.
Filho de Sérgio Buarque de Holanda, historiador e jornalista e de Maria Amélia Cesário Alvim, pintora e pianista, viveu sempre num ambiente extremamente rico do ponto de vista cultural. Niemeyer era amigo de seu pai e de certo modo influenciou o seu ingresso no curso de Arquitetura, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Desistiu do curso em 1965 e começou a dedicar-se por inteiro à carreira artística. Em 1966 ganhou o Festival de Música Popular Brasileira com a canção "A Banda".

Além de compositor e cantor Chico é poeta (para além das letras de inúmeras músicas escreveu, por exemplo, Chapeuzinho Amarelo, um livro-poema para crianças), autor de peças para teatro e de livros de ficção como Estorvo, Benjamim, Budapeste, Leite Derramado e O irmão alemão. Prefiro o cantor /letrista/ compositor ao escritor. No entanto, há textos de Chico que considero verdadeiras obras-primas. Um deles, A casa de Oscar, uma homenagem a Niemeyer, pode ser lido aqui. 
http://blogs.odiario.com/wilameprado/2012/12/06/com-belo-texto-chico-buarque-faz-homenagem-a-oscar-niemeyer/. O outro é Leite derramado , um livro que já li e reli...

Mas centremo-nos no cantor /letrista/ compositor. O primeiro disco que eu comprei, sem ainda ter -gira discos, foi um single que incluía Pedro Pedreiro- 
ver imagem no fim-(o segundo foi o Concerto para Cravo n° 1 in Ré Menor de Bach ...) Já possuidora de um gira discos, fui adquirindo vários LP e singles, até o vinil ser destronado pelo CD.
Quer em vinil, quer em CD, a obra de Chico ocupa um lugar de destaque na minha modesta fonoteca.

Embora grande admiradora de Chico Buarque, só há cerca de 3 ou 4 anos ouvi falar de Julinho da Adelaide, um "heterónimo" de Chico que muitas pessoas desconhecem e que foi usado, durante algum tempo, para driblar a censura.

Lançada em 1970, a canção Apesar de você, supostamente um ataque ao Presidente Médici, conseguiu passar a censura prévia. Posteriormente o Governo Militar proibiu a sua passagem nas rádios. Chico passou então a assinar algumas músicas como Julinho da Adelaide. Entre essas músicas contam-se Jorge Maravilha, Milagre Brasileiro e Acorda Amor, aprovadas pela censura sem nenhum impedimento. Em Jorge Maravilha, Chico canta: "você não gosta de mim, mas sua filha gosta", o que gerou a especulação de que a filha referida na canção seria uma sua fã, Amália Lucy, filha de outro presidente militar, o general Geisel. Chico nunca confirmou essa suspeita

Julinho da Adelaide concedeu uma entrevista ao jornalista
 e escritor Mário Prata que pode ser lida em  http://www.chicobuarque.com.br/texto/artigos/opartigo_09_74.htm e da qual retiro um excerto:

(...) Julinho, ao contrário do Chico, não era tímido. Mas, como o criador, a criatura também bebia e fumava. Falava pelos cotovelos (...) 

Tal como em Portugal, a arte em geral e a música muito em particular, foram, no Brasil, uma grande arma no combate à ditadura. A música de Chico Buarque desempenhou aí um papel preponderante. Várias das suas músicas são verdadeiros hinos de resistência à ditadura militar. Para além de Apesar de você, podemos citar Mulheres de Atenas, composta por Chico Buarque e Augusto Boal em 1976 para a peça Mulheres de Atenas de Boal, Cálice (cuja sonoridade cale-se seria uma clara referência à censura e repressão vivida no país) composta em parceria com Gilberto Gil em 1973, Vai Passar, composta por Chico Buarque e Francis Hime em 1979 que foi o hino da Campanha das Diretas, em 1984, Meu Caro Amigo, também em parceria com Francis Hime, composta para o amigo de Chico, o dramaturgo Augusto Boal, exilado em Lisboa. Em dezembro de 1968, Chico Buarque muda-se para Itália onde chegou a realizar espetáculos com Toquinho. Em 1970 regressa ao Brasil

Tenho muita dificuldade em escolher a canção de Chico de que mais gosto. Refiro algumas das preferidas, que são dezenas: Bem-querer, Quem te viu, quem te vê, Notícia de jornal, Permuta dos santos, Amanhã vai ser outro dia, Fado tropical, Construção....

Termino com a letra de Notícia de jornal.
Atentou contra a existência
Num humilde barracão.
Joana de tal, por causa de um tal João.
Depois de medicada,
Retirou-se pro seu lar.
Aí a notícia carece de exatidão,
O lar não mais existe
Ninguém volta ao que acabou
Joana é mais uma mulata triste que errou.
Errou na dose  Errou no amor Joana errou de João
Ninguém notou  Ninguém morou na dor que era o seu mal
A dor da gente não sai no jornal. 


Eis a capa do disco que comprei em 1967, quando ainda não tinha gira-discos.

A este texto acrescento agora alguns vídeos 







1 comentário:

  1. Parabéns, Regina, por mais esse excelente trabalho. Chico Buarque, um de nossos maiores é, sem dúvida, merecedor dessa homenagem que você generosamente nos faz, a ele a ao Brasil que ele representa.

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