Além de compositor e cantor Chico é poeta (para além das letras de inúmeras músicas escreveu, por exemplo, Chapeuzinho Amarelo, um livro-poema para crianças), autor de peças para teatro e de livros de ficção como Estorvo, Benjamim, Budapeste, Leite Derramado e O irmão alemão. Prefiro o cantor /letrista/ compositor ao escritor. No entanto, há textos de Chico que considero verdadeiras obras-primas. Um deles, A casa de Oscar, uma homenagem a Niemeyer, pode ser lido aqui. http://blogs.odiario.com/wilameprado/2012/12/06/com-belo-texto-chico-buarque-faz-homenagem-a-oscar-niemeyer/. O outro é Leite derramado , um livro que já li e reli...
Mas centremo-nos no cantor /letrista/ compositor. O primeiro disco que eu comprei, sem ainda ter -gira discos, foi um single que incluía Pedro Pedreiro- ver imagem no fim-(o segundo foi o Concerto para Cravo n° 1 in Ré Menor de Bach ...) Já possuidora de um gira discos, fui adquirindo vários LP e singles, até o vinil ser destronado pelo CD.
Embora grande admiradora de Chico Buarque, só há cerca de 3 ou 4 anos ouvi falar de Julinho da Adelaide, um "heterónimo" de Chico que muitas pessoas desconhecem e que foi usado, durante algum tempo, para driblar a censura.
Lançada em 1970, a canção Apesar de você, supostamente um ataque ao Presidente Médici, conseguiu passar a censura prévia. Posteriormente o Governo Militar proibiu a sua passagem nas rádios. Chico passou então a assinar algumas músicas como Julinho da Adelaide. Entre essas músicas contam-se Jorge Maravilha, Milagre Brasileiro e Acorda Amor, aprovadas pela censura sem nenhum impedimento. Em Jorge Maravilha, Chico canta: "você não gosta de mim, mas sua filha gosta", o que gerou a especulação de que a filha referida na canção seria uma sua fã, Amália Lucy, filha de outro presidente militar, o general Geisel. Chico nunca confirmou essa suspeita
Julinho da Adelaide concedeu uma entrevista ao jornalista e escritor Mário Prata que pode ser lida em http://www.chicobuarque.com.br/texto/artigos/opartigo_09_74.htm e da qual retiro um excerto:
(...) Julinho, ao contrário do Chico, não era tímido. Mas, como o criador, a criatura também bebia e fumava. Falava pelos cotovelos (...)
Tal como em Portugal, a arte em geral e a música muito em particular, foram, no Brasil, uma grande arma no combate à ditadura. A música de Chico Buarque desempenhou aí um papel preponderante. Várias das suas músicas são verdadeiros hinos de resistência à ditadura militar. Para além de Apesar de você, podemos citar Mulheres de Atenas, composta por Chico Buarque e Augusto Boal em 1976 para a peça Mulheres de Atenas de Boal, Cálice (cuja sonoridade cale-se seria uma clara referência à censura e repressão vivida no país) composta em parceria com Gilberto Gil em 1973, Vai Passar, composta por Chico Buarque e Francis Hime em 1979 que foi o hino da Campanha das Diretas, em 1984, Meu Caro Amigo, também em parceria com Francis Hime, composta para o amigo de Chico, o dramaturgo Augusto Boal, exilado em Lisboa. Em dezembro de 1968, Chico Buarque muda-se para Itália onde chegou a realizar espetáculos com Toquinho. Em 1970 regressa ao Brasil
Tenho muita dificuldade em escolher a canção de Chico de que mais gosto. Refiro algumas das preferidas, que são dezenas: Bem-querer, Quem te viu, quem te vê, Notícia de jornal, Permuta dos santos, Amanhã vai ser outro dia, Fado tropical, Construção....
Termino com a letra de Notícia de jornal.
Num humilde barracão.
Joana de tal, por causa de um tal João.
Depois de medicada,
Retirou-se pro seu lar.
Aí a notícia carece de exatidão,
O lar não mais existe
Ninguém volta ao que acabou
Joana é mais uma mulata triste que errou.
Errou na dose Errou no amor Joana errou de João
Ninguém notou Ninguém morou na dor que era o seu mal
A dor da gente não sai no jornal.
Parabéns, Regina, por mais esse excelente trabalho. Chico Buarque, um de nossos maiores é, sem dúvida, merecedor dessa homenagem que você generosamente nos faz, a ele a ao Brasil que ele representa.
ResponderEliminar