Bem-vindo, bienvenido, bienvenu, benvenuto, welcome....


Silêncio cósmico

Pudera eu regressar ao silêncio infinito,

ao cosmos de onde vim.

No espaço interestelar, vazio, negro, frio,

havia de soltar um grito bem profundo

e assim exorcizar todas as dores do mundo.

Regina Gouveia

NOVO BLOGUE

Retomei o blogue que já não usava há anos.

https://reflexoeseinterferncias.blogspot.com/

Dedico-o essencialmente aos mais novos mas todos serão bem vindos, muito em particular pais, avós, encarregados de educação, educadores ...


segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

A poesia é uma espécie de regresso a casa


A poesia é uma espécie de regresso a casa 

Esta foi uma das frases de partida para “À conversa sobre livros” anunciada na última mensagem.

"A poesia é uma espécie de regresso a casa" inspirou a música e a letra de "A Sort Of Homecoming" primeira faixa do álbum do U2 de 1984, "The Unforgettable Fire", após Bono, leitor voraz, ter lido a obra do poeta Paul Celan.

Do poeta, deixo o poema que segue e que fui buscar aqui

O TEU
ALÉM-ESTAR esta noite,
Com palavras te trouxe de volta, aí estás,
tudo é verdadeiro e um esperar
pelo verdadeiro.

O feijão trepa frente
à nossa janela: imagina
quem a nosso lado cresce e
o vê.

Deus, assim o lemos, é
parte de nós e um outro, disperso:
na morte
de todas as vidas ceifadas
vinga ele.

Para além
nos conduz o olhar,
com esta
metade
convivemos.

Ainda a propósito da poesia como regresso a casa, ao longo da conversa foram citados vários autores: Pessoa, Torga, Tolentino de Mendonça, Carlos Drummond de Andrade, David Mourão Ferreira…

Hoje, ao abrir o meu blogue, vi que em “Ortografia do Olharhttp://ortografiadoolhar.blogspot.com/ ,um dos meus blogues favoritos, havia sido postado o poema que segue, de Graça Pires, uma autora de quem gosto bastante.

Por trás de cada sombra 
que resvala por novembro
descubro o espanto no meu rosto de criança.
O irmão no berço entre o choro e o sono.
O riso das irmãs.
Os tropeços na correria ao redor das árvores,
como se déssemos a volta ao mundo.
A mãe, o pai, para sempre.
O universo colado ao destino.
Os bichos-de-conta a rolarem no cimento
impelidos por nossos dedos.
As noites acolhendo os brinquedos de corda
na véspera das tardes mais longas.
O antecipado prazer de ouvir a voz materna
a chamar cada filha como se fosse a única

Graça Pires In: CONTINUUM: antologia poética
Termino com um poema meu e uma aguarela também de minha autoria.

Debruço-me na varanda da casa,
                          há muito demolida.
Derramada no chão, a sombra calma da velha figueira.
Balidos de rebanhos e latidos de cães tilintam, ao  longe.
O sol no ocaso enrubesce o céu
que,  em breve,  vestido de negro e ornado de jóias,
se perderá na noite glamorosa.
Dentro da casa, 
                          há muito demolida,
vagueiam  sons  ilegíveis, palavras desbotadas,
diluídas  na doçura doutros crepúsculos.

Regina Gouveia in Quando  o mel escorre nas searas, Editora Lua de Marfim




Sem comentários:

Enviar um comentário