Bem-vindo, bienvenido, bienvenu, benvenuto, welcome....


Silêncio cósmico

Pudera eu regressar ao silêncio infinito,

ao cosmos de onde vim.

No espaço interestelar, vazio, negro, frio,

havia de soltar um grito bem profundo

e assim exorcizar todas as dores do mundo.

Regina Gouveia

NOVO BLOGUE

Retomei o blogue que já não usava há anos.

https://reflexoeseinterferncias.blogspot.com/

Dedico-o essencialmente aos mais novos mas todos serão bem vindos, muito em particular pais, avós, encarregados de educação, educadores ...


sábado, 1 de julho de 2017

Benditos inúteis!

O título desta mensagem fui buscá-lo a um texto de João Paiva, Professor no Departamento de Química da FCUP publicado aqui    sob o título :A apologia da ciência e a inutilidade das artes e das humanidades.
Com a devida autorização do autor,transcrevo alguns excertos

Tenho mais de 30 anos dedicados à ciência, principalmente ao seu ensino e divulgação. Não me canso de sublinhar o fascínio pela forma científica de questionar, conjeturar, observar, experimentar, teorizar e até prever o que se passa no mundo natural. São, resumidamente, duas as pérolas desta empresa científica: a) o sabor, o gozo, o prazer e o deleite de tatear a natureza; b) a potencialidade benfazeja que os conhecimentos científicos encerram, uma vez que, quando aplicados por meio do que chamamos tecnologia, podem beneficiar a humanidade. O aumento médio da esperança e da qualidade de vida, à escala global, é um bom exemplo que sentimos (infelizmente não todos...).

(...)Como químico, sempre fui impelido para as misturas... Nós, químicos, focados na realidade atómico-molecular, passamos a vida a fazer análises e sínteses... As análises permitem-nos saber o que está e quanto está. As sínteses são muito relevantes: ligam, constroem, geram novos materiais e novas vidas. As ciências exatas estão carentes de sínteses. Temos de ter a consciência da artificialidade das disciplinas científicas, face à natureza que teima em ser uma só. Sim, separamos para analisar, mas, se perdemos a noção da floresta, lá ficamos míopes ao ver só a árvore.

(...(Os docentes e investigadores universitários vivem um dilema: a sua carreira é dramaticamente competitiva. As exigências de financiamento não nos permitem desperdiçar oportunidades de projetos. Alguma burocracia, sem retaguarda de secretariados de apoio, subtrai-nos imenso tempo. A leitura e a escrita de artigos em grande número deixam muito pouco tempo para outras leituras. Mas o virar as costas às humanidades pode ser fatal para a ciência. E, portanto, quanto mais não seja pela ciência, teremos de ser criativos para reconhecer e valorizar o que somos e ao que vamos, numa perspetiva humanista. Estar conscientes de que a grande pergunta da ciência, nas palavras de Schrödinger, é também a grande pergunta do Homem: “quem somos nós?”

(...)Estas reflexões deverão ter implicações na vida académica das escolas de ciência. As faculdades, incluindo as de ciências, têm obrigação de proporcionar aos seus alunos, aos seus docentes e investigadores espaços de reflexão transdisciplinar e de alargamento de horizontes culturais.

 (...)Perceber-se-á agora melhor o título deste texto(….)A ciência, recuperando a sua humildade epistemológica, deve saber abrir-se às artes e humanidades. Um cientista sabe que a sua grelha é um dos instrumentos para se ler o mundo, mas nunca o único, nem o melhor. Sabemos que Kant, Tolstói ou Beethoven nos deliciaram e apontaram caminhos... e não tinham laboratórios. Benditos inúteis!

Para além de filósofos, escritores, músicos, podemos encontrar benditos inúteis
em várias outras áreas. Assim atrevo-me a acrescentar alguns de entre os inúmeros que se poderiam citar: Leonardo, Rodin, Pessoa,  Ingmar Bergman , Sebastião Salgado, Picasso, Monet….

Para colocar na mensagem, escolhi Monet e uma das suas obras com nenúfares


Isto porque, num baldio atrás de minha casa, desabrocharam, mais uma vez, flores de uns catos que o meu marido ali plantou para tornar menos lúgubre o espaço.





E não sei bem porquê, as flores lembraram-me de imediato os nenúfares de Monet.


A terminar, regresso ao texto de João Paiva,

As faculdades, incluindo as de ciências, têm obrigação de proporcionar aos seus alunos, aos seus docentes e investigadores espaços de reflexão transdisciplinar e de alargamento de horizontes culturais.

Na minha carreira de professora de Física e Química e de formadora de professores nessa áreas, sempre tentei harmonizar ciências e humanidades. Ambas as áreas desempenham um papel fundamental na formação integral de uma pessoa.

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