Trago dentro do meu coração,
Como num cofre que se não pode fechar de
cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de
janelas ou vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o
que eu quero.
A entrada de Singapura, manhã subindo, cor
verde,
O coral das Maldivas em passagem cálida,
Macau à uma hora da noite... Acordo de
repente...
Yat-lô--ô-ôôô-ô-ô-ô-ô-ô-ô...Ghi-...
E aquilo soa-me do fundo de uma outra
realidade...
Álvaro de Campos in Passagem das horas
(...)Macau é um daqueles lugares capazes de
oferecer ao recém-chegado a ilusão de que ele pode perder- se da vista das
pessoas, ficar submerso e anónimo no emaranhado de ruas e becos da cidade
velha, afogado pelas casas, a humidade, os novelos e teias de fios eléctricos
que trepam pelas fachadas e saltam de prédio para prédio em ligações piratas.
Dizem-me, e estou pronto a acreditar, que essa ilusão não dura muito tempo e
que o verdadeiro problema, para um europeu, é nunca conseguir passar
despercebido. Mas eu ainda estou chegado de fresco e portanto fui capaz de
gozar a sensação de fuga, durante as primeiras horas da manhã, ajudado por uma
chuva miúda que punha no dia um filtro cinzento-claro sem conseguir refrescar o
ar pesado
João Aguiar in O comedores de pérolas
Macau, junto à foz do rio das Pérolas, a
sul de Cantão, foi a última colónia Portuguesa, a última colónia Europeia na
Ásia e a primeira e última na China. Em 1557 foi reconhecido oficialmente como entreposto comercial de Macau. Foi um
território Português por quase 500 anos desde 1535 até 1999. Tal como Hong Kong
que lhe fica em frente, também na foz do
mesmo rio, Macau é hoje uma Região Administrativa Especial da China. Tem a sua própria bandeira, moeda (a pataca). As línguas oficiais são o Chinês e o Português. Tem também um crioulo (o patuá) falado por pouca parte da população luso-chinesa (macaense).
Chegámos a Macau, idos de Hong Kong, no dia 17 de Agosto, à tarde.
Nesse dia visitámos as ilhas de Taipa e Coloane (hoje ligadas entre si). Passámos por vários pontos entre eles visitámos o Centro Comercial
Venetian Macau com casino, hotel e centro comercial, propriedade de uma multinacional de Las Vegas. Não é propriamente o tipo de "coisas" que procure nas viagens mas gostei de ver. No seu interior há uma "réplica de Veneza,onde o céu, artificial, parece real
Visitámos também vários locais turísticos de interesse nomeadamente a capela de S. Francisco Xavier em Coloane em cujo interior há uma imagem de Nossa Senhora com o menino ao colo, ambos representados como chineses
Almoçámos num restaurante flutuante, propriedade de Stanley Ho. Vê-se por detrás do barco onde nos deslocámos para ali ir.
No final do dia fomos transportados para o hotel, em Macau, onde jantámos (buffet)
No dia 18 visitámos Macau propriamente dita. Fomos às ruínas de S.Paulo, à Igreja de S. Francisco Xavier, à Praça do Senado, ao templo de
A Ma,
Vimos também o antigo hospital que por detrás tem um cemitério. Ao lado foi instalado o 1º casino
que não funcionou pois os chineses,muito supersticiosos, tinham receio de tão assustadora vizinhança..
Almoçámos na Torre Macau, num restaurante giratório, tudo propriedade de Stanley Ho. Dali pudemos desfrutar de uma magnífica vista sobre todo o território bem como das pontes que ligam ilhas e península . Também pudemos assistir a vários saltos de bungee jumping do cima da torre, com 338 m de
altura
Falar de Macau é falar também de casinos e de ópio
(...)Wang Wu assistiu, portanto, aos amuos de dois impérios decadentes, o do Céu e o dos Lusitanos(...) Enquanto o leão inglês prosperava, sorrindo de tanta impotência- e impunha o ópio à China e vinha a Macau para se embebedar e jogar(...)João Aguiar in O comedores de pérolas
A grande fonte de rendimento de Macau é o jogo e ali acorrem inúmeros chineses da China e de Hong Kong bem como de todas as partes do mundo.
Quanto ao ópio...
(...)Produtos chineses como a seda, porcelanas e
chá vendiam-se então facilmente no Ocidente, mas era difícil escoar os produtos
da Europa industrializada no mercado chinês, que continuava praticamente
fechado. Para inverter esse défice comercial, difundiu-se na China o ópio, um
esforço conduzido sobretudo pela Inglaterra (que o trazia da Índia), o que veio
a originar as guerras do ópio (primeira fase: 1839–1842; segunda fase:
1856–1860). A China importava ópio apenas para uso medicinal, mas as grandes
quantidades que passaram a entrar através de Macau e Hong-Kong levaram a
excessos de consumo, atingindo todas as camadas da população. A China perdia,
assim, enormes quantidades de prata para pagar as importações de ópio,
decretando a sua proibição, o que acabaria por levar a Inglaterra a declarar
guerra. A superioridade tecnológica e naval britânica ditou a destruição dos
obsoletos juncos chineses. A paz chegou com a assinatura do Tratado de Nanquim,
que permitiu a abertura de vários portos aos ingleses (incluindo Xangai e
Ningbo), passando ainda a ilha de Hong-Kong para o poder britânico até 1997(...).
Falar de ópio e Macau implica falar de Camilo Pessanha (1867 - 1926), um dos maiores poetas simbolistas portugueses. Dependente do ópio até à hora da morte, aos 59 anos em Macau, vítima de
tuberculose. Da sua obra, destaca-se o poema Branco e Vermelho, onde o poeta
descreve o estado de privação dos opiómanos.
Até ao chão, curvados,
Exaustos e curvados,
Vão um a um, curvados,
Os seus magros perfis;
Escravos condenados,
No poente recortados,
Em negro recortados,
Magros, mesquinhos, vis....
Também por ali passou o imortal Camões cujo busto podemos ver no Jardim de Camões
De tarde deixámos Macau. fomos de autocarro para Cantão, atravessando as
portas do cerco, fronteira com a China
Havia muito mais a dizer mas deixo-vos com belíssimas imagens de Macau que podem ver aqui
(as fotos, à exceção da última, são da autoria de Fernando Gouveia (arquiteto)
Muito interessante.
ResponderEliminarOs meus sobrinhos que ali vivem não tencionam voltar nos próximos anos. São formados em Direito e trabalham em advocacia, e os tres filhos já sabem chinês!! Têm uma empregada filipina que toma conta deles quando não estão na escola. Parecem muito contentes e felizes.
O que os Ingleses fizeram na China, fizeram os americanos com os Indios, encheram-nos de álcool até ficarem dependentes e trocarem tudo por álcool. Uma vergonha......
A História é como é....infelizmente a sede de poder é imensa. Não ha muitos Gandhis, nem Mandelas....
Bom fds!
Mais um comentário. É de mim ou as visitas à China resumem-se todas aos mesmos locais para turistas? É que já vi tantas fotos iguais a estas - com pessoas diferentes, claro - e nunca ma aparece nada de novo. Não fico com vontade nenhuma de lá ir. A Índia seduz-me muito mais por todas as razões e mais algumas...mas neste momento estou virada para o ocidente....California dream..... :)
ResponderEliminarOlá Regina já comecei a ler os seus post, tão lindos, e esclarecedores e onde a sua grande cultura está bem patente. Hoje ainda estou bastante cansada, mas vou ler melhor enquanto espero mais notícias.
ResponderEliminarUm beijo.