Anteontem, dia 31, estive mais uma vez na Escola Básica S.
Lourenço, em Ermesinde, a convite da Professora Bibliotecária. Os alunos de 8º
ano ( 7 turmas com cerca de 30 alunos) têm vindo a desenvolver, desde o início
do ano, um projeto dinamizado pelos professores de Língua Portuguesa e Física e
Química, centrado no livro Breve História
da Química que escrevi em 2011, no âmbito do Ano Internacional da Química,
e cuja edição foi patrocinada pela SPQ.
Estive com as 7 turmas distribuídas por três sessões (45 min
cada), duas de manhã e uma à tarde. Em cada sessão fui surpreendida logo no
início, por intervenções dos alunos. A 1ª, muito interessante, foi uma
simulação de um telejornal em que o apresentador anunciava uma conversa com uma
representante da escritora Regina Gouveia, conversa essa que girou à volta da
obra, com apresentação das várias personagens,
e terminou com o pedido de uma visita da escritora à escola.
A 2ª, foi um “sketch” em que alunos “vestidos” de saltimbancos, segurando tochas simuladas, anunciavam a
minha presença e faziam a respetiva apresentação.
Lembro que a obra começa assim.
Arauto
Venham ao largo da feira, chegaram os saltimbancos.
Se querem ficar sentados, tragam cadeiras ou bancos.
Entram os saltimbancos com uma carroça,
archotes, música. Fazem piruetas
A 3ª foi um PP com a minha apresentação e referências ao
texto.
Mais uma vez, gostei muito de estar na Escola. Os
professores são muito gentis e os alunos estiveram muito bem. Apenas na sessão
da tarde tive que chamar à atenção
alguns alunos, após o que tudo correu lindamente.
À entrada e à saída vi, num “átrio” ,vários alunos empenhados em fazer
e colar cartazes para o Dia do Autismo,
cartazes esses em que predominava a cor azul
Não sabia que 2 de Abril é o Dia do
Autista nem da importância do
simbolismo da cor azul relacionada com a
doença
Vamos VESTIR
AZUL no DIA 02 DE ABRIL... E QUEM SABE A SORTE DE MUITOS OUTROS E OUTRAS PODERÁ
SER MUDADA... eu vesti azul e a minha sorte já mudou. Se o astronauta viu a
Terra vestida de Azul, e se nos últimos dias de Lua Cheia, tão próxima de nós,
os poetas e cantores puderam declamar e cantar em tom de "blues", se
os artistas como Picasso, um dia, tiveram sua "fase azul", que tal
reafirmarmos que O AUTISMO É AZUL. Mas isso só acontece e acontecerá: se nossos
desejos de uma outra vida possível também forem intensificados em um devir azul
como nosso planeta ainda em convulsão e tremores.... A TERRA É AZUL ... E O AUTISMO TAMBÉM! vamos
cuidar, com muita suavidade, para que continuem assim.
Quando cheguei a casa liguei o computador, vim ao blogue e, como sempre,
procurei nos favoritos se havia atualizações.
“O que se passa nas nossas escolas? Maria Filomena Mónica (MFM), num livro recentemente
editado pela Fundação Francisco Soares dos Santos, responde. E a sua resposta
não poderia ser mais incisiva: retratou um inferno, identificou factores para o
insucesso e concluiu que a escola pública é má. Nada de surpreendente. Afinal,
as conclusões a que chega não diferem das que tinha à partida, e que lhe
conhecemos de outras intervenções públicas. Conclusões, aliás, alinhadas com as
críticas habituais dos que desconfiam das escolas do Estado - a indisciplina
reina, a exigência é baixa, os programas das disciplinas são todos péssimos e
os miúdos não aprendem sequer o elementar.
Acontece que essas conclusões são
muito discutíveis. Principalmente, por três razões. A primeira deriva da
própria natureza da obra. Ao basear-se em relatos de uma dúzia de professoras e
alunas, MFM sujeita-se a uma certa tentação pelo insólito, na medida em que só
é digno de relato o que escapa à norma (i.e. o que não acontece normalmente).
Construir generalizações a partir desses relatos é, por definição, abusivo. E
apesar de não se tratar de um estudo científico, como aliás MFM tem referido
nas suas entrevistas, não se pode deixar de realçar o óbvio: para além de um
problema de representatividade da amostra, a obra sofre de um problema de
fiabilidade.
(...)Ora, não é porque há escolas
onde tudo corre mal que todo o sistema está comprometido. Tal como não é porque
há escolas onde tudo corre bem que não há espaço para melhorias. Certezas, há
uma. Só se promove a melhoria a partir de diagnósticos correctos. E apesar dos
aspectos interessantes da obra, a base do diagnóstico de MFM não o está.
Não conheço o livro de
Maria Filomena Mónica. Em tempos comprei um livro
seu “Bilhete de Identidade” e confesso que esperava mais da autora das crónicas
que por vezes vezes lia e continuo a ler.
A tal ponto me desiludiu que um dia, um amigo pediu-mo emprestado e eu
dei-lho porque não tinha nenhum interesse especial em tê-lo na minha estante.
Mas voltando ao livro que não conheço, procurei outras referências na NET e reproduzo excertos de uma que podem ler
aqui
A socióloga
Maria Filomena Mónica andou meses a
procurar resposta para a pergunta "O que se passa dentro das nossas salas
de aula?" e as respostas que obteve, a partir dos diários de duas
professoras, quatro alunas e uma mãe, confirmaram os seus piores receios.
"É uma escola criminosa, indigna, estúpida. ". E a culpa, aponta Maria Filomena Mónica é dos sucessivos ministros.
"Os pais que não se convençam que
aquilo só se passa nas escolas públicas. Conheço miúdas das privadas que me
fariam relatos igualzinhos ou piores",
Sem soluções prontas a aplicar, Maria Filomena Mónica aconselha o ministro Nuno
Crato a deixar de tratar os professores "como uns estafermos
incapazes". "
Por
acreditar que os professores precisam de se sentir acarinhados "quer pelo
poder, quer pela sociedade", a socióloga considera que o melhor que Nuno
Crato podia fazer pela escola pública era deixar os professores em paz.
"Deixá-los preparar lições, dar aulas e corrigir os exames dos alunos, em
vez se os pôr a preencher relatórios que não servem para nada".
"Os culpados, segundo Maria Filomena Mónica, “são todos os ministros que se sucederam na
pasta depois de 1974”,porque “foram eles, e não os professores, que não
souberam enfrentar o problema da massificação da escola; foram eles, e não os
professores, quem elaborou os programas; e foram eles, e não os professores,
quem levou as classes médias a retirarem os filhos do ensino público”.
Se em muitos aspectos estou em total concordância, noutros discordo e confesso que não pude deixar
de ficar arrepiada com a frase "É uma escola
criminosa, indigna, estúpida. " O que relatei no início mostra quão descabida é
esta generalização.
Já por mais que uma vez me pronunciei no mesmo
sentido que o excerto que segue:
Por acreditar que os professores
precisam de se sentir acarinhados "quer pelo poder, quer pela
sociedade", a socióloga considera que o melhor que Nuno Crato podia fazer
pela escola pública era deixar os professores em paz. "Deixá-los preparar
lições, dar aulas e corrigir os exames dos alunos, em vez se os pôr a preencher relatórios que não servem para nada".
Há muito mais a enumerar. Mas antes quero deixar uma constatação.
Nos últimos anos tenho visitado dezenas de escolas, a maior
parte públicas, mas também algumas
privadas. Do que tenho visto não deteto grandes diferenças e as que deteto têm
a ver essencialmente com:
- A diferença do número de alunos por turma ( genericamente
maior no público que no privado),
- O nível sócio-cultural dos alunos (genericamente
melhor no privado ).
Mas vamos aos factos e cito apenas dois que, só por
si, revelam problemas das escolas e dos professores.
1º facto
Sei
de um aluno do 1º ciclo, numa escola
pública, cuja professora , ainda nova, sempre o
caracterizou como uma criança
irrequieta (não no sentido de travessa, mas significando precisamente o ter
dificuldade em estar quieta), desconcentrada, um pouco infantil, mas meiga e
educada ( o que corresponde à realidade).
A forma que
esta professora encontrou para atenuar a irrequietude foi retirar-lhe, por
vezes durante semanas seguidas, todos os
intervalos (inclusive o de almoço) e obrigá-lo, sempre que podia gozar do
intervalo, a falar e brincar apenas com meninas, ficando impedido de conversar
com os colegas do sexo masculino
Não teve
sucesso com nenhuma das práticas mas insistiu sempre até que o encarregado de
educação, que várias vezes a abordou no sentido de repensar tais atuações, optou por mudar a criança de escola. Para além disso , a segunda prática gerou um
comportamento de delação por parte das meninas, sempre que o aluno falava com rapazes.
Face à infantilidade, uma das medidas que adotou foi colocar-lhe uma chupeta na boca,
dentro da sala de aula, humilhando-o perante todos os colegas.
A professora tem tido muito sucesso com a
aprendizagem de conteúdos por parte dos alunos, incluindo o aluno em causa. Isso não faz dela uma
boa professora. Esta professora precisava urgentemente de uma formação para
evitar que continue a adotar práticas aberrantes com os seus alunos. E provavelmente quem a “formou”precisaria
também de formação..
Trata-se de
uma escola pública mas conheço relatos de situações diferentes, mas tão graves
quanto estas, que têm lugar em escolas privadas.
2º facto
Sei de professores que trabalham em mais que uma
escola do mesmo Agrupamento, por vezes distantes umas das outras, que lecionam várias
disciplinas em vários níveis, são diretores
de turma, dão aulas de apoio. No caso de serem professores de áreas
experimentais, têm que passar horas nos laboratórios a otimizar as atividades
que irão ser levadas a cabo quer por si, quer pelos alunos. Só quem foi professor nos ensinos básico e
secundário tem consciência da tarefa ciclópica destes professores. Mas a tudo
isto há que somar reuniões sobre reuniões, relatórios sobre relatórios, na esmagadora
maioria das vezes, sem qualquer interesse.
Se houvesse uma vontade séria de melhorar a qualidade da educação, far-se-iam investimentos
na formação e dar-se-iam condições de
trabalho a quem trabalha. E por muito que o que sugiro possa parecer retrógrado, exercer-se-ia uma "fiscalização" séria e isenta, relativamente às práticas de escolas e professores, para detetar necessidades (de formação e outras) e de seguida atuar em conformidade.
Mas as opções dos últimos ministérios tem sido
outras que
nada têm a ver com a melhoria
pretendida..
E os portugueses assistem, impotentes, à asfixia da escola pública que durante muitos e muitos anos foi o "baluarte "do ensino de qualidade em Portugal .
Olá Regina
ResponderEliminarComo esta constipação não me larga ando sem vontade de comentar os blogs, embora os leia..Mas gostei de verificar, aliás era de prever, que na sua
opinião não é a Escola Pública a culpada dos
atropelos à educação. É sim a má gestão dos desgovernos que afeta tanto as públicas como as privadas. Por outro lado sou uma defensora do ensino
público, bem com da saúde. São direitos essenciais que não podem ser objeto de lucro..
Um beijo.
Concordo plenamente consigo.
ResponderEliminarAb e votos de rápidas melhoras
Regina
Já escrevi bastante sobre este assunto e para mim, o erro principal é generalizar. Generalizar é que é "criminoso, indigno e estúpido" pois parte do princípio que é esse o retrato da maioria das escolas, o que é mentira.
ResponderEliminarConheci essa FM quando ela tinha uns 16 anos, era uma "menina bem " com montes de "pecebes" e "não sei quês", aluna das Doroteias que ficava por detrás do MªAmália, escola publica onde andei. As meninas das Doroteias ., que eram umas snobs, na sua maioria, vinham fazer exames na nossa escola e tinha notas muito inferiores às nossas!! Diziam mal de tudo só porque frequentavam o Colégio e usavam bata preta com cintos vermelhos. Fiquei sempre com um pó aos colégios de freiras, que nessa altura albergavam as meninas ricas que não conseguiam ter notas boas nos liceus.
É essa FM que, depois de dar o grito de ipiranga e ter partido para Londres nos anos 70 ( como uma das minhas irmãs, que foi trabalhar como chambermaid num hotel), e de confessar que tudo o que aprendeu da Vida foi em Inglaterra ( sabe-se lá o quê!!! ), vem agora "arrotar postas de pescada" escrevendo sobre o ensino público que ela nunca frequentou, nem sequer visitou pois não era local a que valesse a pena dedicar o seu tempo.
Confesso que qualquer coisa escrita por essa senhora me cheira a preconceito e dos grandes. Quem a não conhecer que a compre.
Quanto a ti, continua o teu plériplo pois a escola publica agradece e é assim que ela melhora.
Virgínia: "Confesso que qualquer coisa escrita por essa senhora me cheira a preconceito e dos grandes. Quem a não conhecer que a compre.Confesso que qualquer coisa escrita por essa senhora me cheira a preconceito e dos grandes. Quem a não conhecer que a compre."
ResponderEliminarComo eu já tinha notado (por motivos errados) na cópia deste texto no De Rerum Natura, a Maria Filomena Mónica criticou tanto as escolas privadas como as públicas no seu livro, dizendo até que eram as escolas privadas as piores, por isso não vejo o "preconceito" (neste caso, contra as escolas públicas "de pobres") que notou.
Aliás, quanto ao outro preconceito que notou (contra os próprios pobres), ela é crítica da direita e das classes altas justamente por causa dos seus preconceitos contra os pobres, sendo aliás de esquerda. (Note-se desde já que ela é socióloga; nunca ouviu dizer que não existe isso de sociólogo conservador? :) )
Disse que a conheceu aos 16 anos, quando estava num liceu público e ela num colégio de freiras, e que ficou com a ideia de que ela e todas as alunas de colégios de freiras eram snobes. Bem, ela pode ter mudado bastante em Inglaterra, não acha? E, para quem que tudo o que vem da Maria Filomena Mónica é preconceito, você está a proferir um preconceito!
Aceito a crítica....fui injusta talvez, mas já a ouvi muitas vezes e só confirmo as minhas expectativas. Conheço bem as meninas bem de Lisboa, pois vivi lá quase 30 anos. Também era de "boas famílias", mas nunca consegui "gramar" a sociedade pseudo-intelectual da capital. Agora que vivo no Porto, noto que há pessoas intelectualmente muito superiores e sem a snobeira da capital. Desculpe, mas é mesmo assim....não me alongo mais, porque este blogue não é meu e não quero entrar em picardias. Boa tarde!
ResponderEliminarUm excerto do artigo do Publico, assinado por Paulo Guinote sobre o ataque de MFM às escolas públicas:
ResponderEliminarErro meu o de pensar que quem quer debater um tema o gostará de fazer com quem tem ideias ou posições diferentes. Já sou suficientemente crescido para não ser tão ingénuo.
Vem isto a propósito da reacção de Maria Filomena Mónica (MFM) a algumas menções que fiz ao seu último livro em três singelos parágrafos de um artigo de opinião que escrevi e que se podem resumir da seguinte forma: MFM escreveu um livro sobre o quotidiano das salas de aula com uma sustentação empírica muito parcelar (confessar isso na introdução não elimina o facto), que as apresenta como um cenário de caos e que traça um retrato catastrófico das escolas públicas.
Acrescentei que isso agradou a muitos docentes que se sentem desanimados e espezinhados, mas também a quem convém apresentar as escolas públicas como um cenário algo dantesco, a evitar. Por essa razão, considerei “perigoso” um retrato com apenas duas cores (vermelho e negro) que esquece o que de bom é feito nas salas de aula e escolas públicas deste país. Não fui além disto, não fiz insinuações sobre as motivações da autora – apenas alertei para alguns efeitos indesejados da sua caracterização redutora –, não fiz alusões curriculares, juízos de valor académicos ou políticos.
Perante isso, MFM decidiu chamar a terreiro a sua artilharia adjectival, Eça e uma série de juízos de valor e carácter, incluindo suposições sobre algo que eu nunca escrevi.
Donde se pode demonstrar que não sou só eu que tenho uma opinião bastante negativa sobre o modo radical como a senhora olha para a escola pública.
Poderão ver o artigo completo aqui:
http://www.publico.pt/sociedade/noticia/num-debate-prefiro-as-ideias-aos-adjectivos-1631438
Virgínia
ResponderEliminarNão tenho tido tempo de vir ao blogue mas já tinha lido o texto de Paulo Guinote: De qualquer forma agradeço-te pele sua referência aqui.
Ab
Regina