As ondas gravitacionais são uma previsão da teoria da relatividade geral que Einstein propôs em 1916, que é ainda hoje a melhor teoria da gravidade disponível. São precisos grandes abalos gravitacionais para as produzir e daí a dificuldade da detecção dessas ondas. Mas se há um evento que produziu sem dúvida ondas gravitacionais foi o Big bang, a criação do próprio espaço e tempo. A confirmarem-se os resultados agora divulgados, passamos a dispor de mais uma prova do Big Bang - e uma prova mais remota que a formação dos átomos - e, ao mesmo tempo, uma prova da teoria da inflação, que era uma componente especulativa do Big Bang. Do ponto de vista teórico estamos em "terra desconhecida", num tempo onde uma teoria física válida tem de unir a teoria da gravitação de Einstein com a teoria quântica, fornecendo uma explicação quântica da gravidade. As marcas vêm da observação pormenorizada da polarização[1] das microondas, isto é, dos planos de vibração das ondas electromagnéticas. A ser verdade temos, pela primeira vez, uma acesso observacional, embora indirecto, ao início do Big Bang. Ou melhor quase ao início, uma vez que o início é inacessível(...)
sexta-feira, 21 de março de 2014
Einstein, um visionário?
Num trabalho datado de 1915,
Albert Einstein previu que um corpo de
grande massa pode criar uma curvatura no espaço-tempo ao seu redor, capaz até
mesmo de curvar a trajetória de um raio de luz que passe pelas imediações.
Em 1919 a curvatura do
luz foi observada durante um eclipse
solar.
Já há algum tempo coloquei
uma mensagem sobre este tema que poderão consultar, por exemplo, aqui e aqui
Nas últimas décadas da sua vida, Einstein dedicou a sua atividade
científica à tentativa de unificar a gravitação com o eletromagnetismo.
Apesar de Einstein ter
falhado na sua missão, a sua influência permanece viva até hoje. A ideia de
unificação de forças é uma das mais populares entre físicos teóricos do mundo
inteiro. Ao eletromagnetismo e à gravitação são adicionadas duas outras forças,
que se manifestam apenas a distâncias subatómicas, que são as forças nucleares
forte e fraca.
Pois bem, anteontem, no
Público pôde ler-se:
O
físico norte-americano Alan Guth propôs, em 1980, a ideia de que quase
imediatamente após o Big Bang – a cataclísmica explosão que criou o espaço e o
tempo, há uns 13.800 milhões de anos –, o Universo, que era inicialmente um
grãozinho microscópico, adquiriu de forma incrivelmente rápida mais ou menos o
tamanho de uma bola de futebol. Esta brutal “inflação” – a palavra é de Guth –
permitia, nomeadamente, explicar por que é que o Universo é tão uniforme em
todas as direcções.Os especialistas sabiam que a inflação teria produzido
ondulações no espaço-tempo, chamadas ondas gravitacionais, previstas pela
Teoria da Relatividade Geral de Einstein mas ainda por confirmar. Esta
segunda-feira, uma equipa internacional de cientistas anunciou nos Estados Unidos ter
finalmente conseguido “ver” directamente, pela primeira vez, ondas
gravitacionais que, quase para além da dúvida, são “ecos” da inflação inicial
do Universo(...)
(...)“Não
só estes resultados são a prova irrefutável da inflação cósmica como também nos
informam sobre o momento em que essa expansão aconteceu e sobre a sua
potência”, diz o físico Avi Loeb, da Universidade de Harvard, citado pela
agência AFP. “E deitam uma luz nova sobre algumas das questões mais
fundamentais, tais como por que é que existimos e como começou o
Universo."
Carlos Fiolhais comentou a notícia em De Rerum Natura. Deixo alguns excertos.
É como e vivêssemos no interior de um gigantesco forno de microondas. O
nosso Universo está todo ele impregnado de uma radiação muito uniforme de
microondas, cuja explicação só é dada pela teoria do Big Bang. Quando o
Universo tinha cerca de 350 000 anos, que é como quem diz muito perto da origem
do espaço e do tempo há 13,7 mil milhões de anos, deu-se, por todo o lado, um
importantíssimo evento cósmico: a formação dos átomos. O Universo, em expansão
e em arrefecimento desde o seu início, passou de uma época em que era opaco,
quando a luz não passava por ser absorvida por uma multidão de partículas
vadias, para uma época em que é transparente, uma vez que os átomos só absorvem
certos tipos de luz. Antes os núcleos atómicos leves (não havia pesados, pois
estes só se podem formar nas estrelas e não havia estrelas) e os electrões
andavam numa grande vadiagem. Depois acasalaram, por ser energeticamente mais
favorável estarem juntos do que estarem separados. A luz, hoje visível sob a
forma de microondas, espalhou-se por todo o lado. Antes o Universo era tão
quente que era completamente caótico, depois a descida de temperatura
possibilitou o aparecimento da ordem atómica. A detecção ocasional da radiação
cósmica de fundo há 50 anos por Penzias e Wilson foi um grande momento da
astrofísica: ficou mostrado não só que no início o Universo era mais quente,
mas que o arrefecimento estava na origem da ordem. O Universo tem uma história
e essa história era mais antiga do que a das galáxias, que se estão desde que
existem a afastar umas das outras. Se, antes de 1964, a teoria do Big Bang
era hipotética, deixou de o ser a partir daí. Depois disso, a observação
da radiação cósmica de fundo foi efectuada com grande rigor, varrendo todo o
céu, por satélites colocados acima da atmosfera como o COBE e o Planck. O
retrato de 360 graus conseguido por essas sondas é o retrato mais antigo do
céu, no sentido em que não temos maneira de observar directamente com luz o
Universo antes de ter 350 000 anos. É a imagem do Universo enquanto criança. Mas,
olhando bem para o retrato, procurando com o auxílio de bons telescópios
terrestres, pormenores no retrato mais antigo que se conhece é possível
confirmar (ou não) suposições teóricas sobre no que se passou antes. Uma das
suposições mais consensuais é a existência de um período de expansão muito
rápida do Universo quando a idade deste não passava de uma pequeníssima fracção
de segundo. É a chamada inflação, que permite explicar a grande uniformidade do
Universo, mesmo em regiões que parecem não poderem ter estado relacionadas na
história cósmica.. A era inflacionária foi um período de expansão muito rápida
do Universo, um período que não demorou muito.
Acaba de ser anunciado pelo Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics,
que gere um telescópio de microondas situado perto do Pólo Sul, que a radiação
cósmica de fundo recolhida há marcas da inflação, designadamente marcas das
poderosas ondas gravitacionais do Big Bang, que a inflação permitiu expandir.
As ondas gravitacionais são uma previsão da teoria da relatividade geral que Einstein propôs em 1916, que é ainda hoje a melhor teoria da gravidade disponível. São precisos grandes abalos gravitacionais para as produzir e daí a dificuldade da detecção dessas ondas. Mas se há um evento que produziu sem dúvida ondas gravitacionais foi o Big bang, a criação do próprio espaço e tempo. A confirmarem-se os resultados agora divulgados, passamos a dispor de mais uma prova do Big Bang - e uma prova mais remota que a formação dos átomos - e, ao mesmo tempo, uma prova da teoria da inflação, que era uma componente especulativa do Big Bang. Do ponto de vista teórico estamos em "terra desconhecida", num tempo onde uma teoria física válida tem de unir a teoria da gravitação de Einstein com a teoria quântica, fornecendo uma explicação quântica da gravidade. As marcas vêm da observação pormenorizada da polarização[1] das microondas, isto é, dos planos de vibração das ondas electromagnéticas. A ser verdade temos, pela primeira vez, uma acesso observacional, embora indirecto, ao início do Big Bang. Ou melhor quase ao início, uma vez que o início é inacessível(...)
As ondas gravitacionais são uma previsão da teoria da relatividade geral que Einstein propôs em 1916, que é ainda hoje a melhor teoria da gravidade disponível. São precisos grandes abalos gravitacionais para as produzir e daí a dificuldade da detecção dessas ondas. Mas se há um evento que produziu sem dúvida ondas gravitacionais foi o Big bang, a criação do próprio espaço e tempo. A confirmarem-se os resultados agora divulgados, passamos a dispor de mais uma prova do Big Bang - e uma prova mais remota que a formação dos átomos - e, ao mesmo tempo, uma prova da teoria da inflação, que era uma componente especulativa do Big Bang. Do ponto de vista teórico estamos em "terra desconhecida", num tempo onde uma teoria física válida tem de unir a teoria da gravitação de Einstein com a teoria quântica, fornecendo uma explicação quântica da gravidade. As marcas vêm da observação pormenorizada da polarização[1] das microondas, isto é, dos planos de vibração das ondas electromagnéticas. A ser verdade temos, pela primeira vez, uma acesso observacional, embora indirecto, ao início do Big Bang. Ou melhor quase ao início, uma vez que o início é inacessível(...)
Na imagem: a radiação cósmica de fundo vista pelo satélite Planck.
Também aqui podem encontrar comentários
(...)Cientistas em
um observatório no polo sul anunciaram a detecção de ondas gravitacionais.
(...)O impacto
dessa descoberta precisa de uma historinha para ser entendido, e é uma história
bem antiga. Aliás, é a mais antiga: no princípio, houve uma explosão. Ninguém
sabe exatamente o que aconteceu entre o segundo zero e 10−34 segundos, mas os astrofísicos e
cosmólogos têm muitas teorias que começam a valer a parte dessa marca dos 10−34 s . A melhor delas é a da inflação
cósmica: o espaço-tempo expandiu de forma drasticamente acelerada e em seguida
diminuiu a taxa de expansão. Essa teoria surgiu para explicar muita coisa
estranha nesse nosso universo, muita gente tenta ajustar nessa teoria grandes
questões não-explicadas, desde problemas na formação de galáxias à grande
desproporção entre matéria e antimatéria no universo. Essa inflação deve ter
causado muito alvoroço no universo, mas aconteceu em um passado tão remoto que
muitos achavam impossível encontrar qualquer traço direto dela hoje. Muitos
achavam, mas não todos. Existe uma boa quantidade de radiação atingindo a terra
que vem de um período muito antigo no universo(...) Recebemos essa radiação
porque ela ainda está “chegando à Terra”, desde aquele período. A grande
descoberta vinda do polo sul é sobre a polarização dessa luz (...)
Para ser claro,
não foram detectadas exata e diretamente ondas gravitacionais, e há gente séria
trabalhando nisso, assim como nunca encontramos um dinossauro. Mas os ecos
dessas ondas foram descobertos, e o escrutínio da comunidade científica será
intenso para confirmar se as tais ondas são de fato a única, ou a melhor,
explicação para esse quadro lindo de azuis e vermelhos que observamos na imagem
acima.
o
infinitamente grande.
E foi o tempo…
Tão longo o
tempo em tão longa viagem …
E foi a vida…
Tão breve a
vida em tão fugaz passagem…
(2002)
[1] Uma explicação
muito primária da polarização pode ser lida aqui http://www.seara.ufc.br/tintim/fisica/polarizacao/polarizacao4.htm
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Olá Regina
ResponderEliminarPara comentar este post era preciso ter muitos conhecimentos que não possuo. Mas li tudo o que
nos enviou e, embora muitas dúvidas persistissem, a
verdade é que se fica com a certeza de que a Astronomia é uma Ciência fascinante que aos poucos vai desvendado o Universo. Já tinha lido no blog
AstroPt que um grupo de cientistas nos EU detetou, pela primeira vez as ondas gravitacionais. Não tenho uma ideia muito definida sobre o assunto mas é com
muita emoção que verifico o quanto a Ciência vai evoluindo.
Quanto ao seu poema, Regina, leva-nos em poucas
mas belas palavras do infinitamente grande, o COSMOS, até à pequenez da nossa vida que, às vezes é bem caótica.
Um beijo, com a amizade e admiração de sempre.
.
Não é só a Graciete que não possui os conhecimentos necessários para apreender tudo isto. Eu também não mas igualmente me fascino.
EliminarUm gd bj
Regina