quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
Ciência ao alcance de todos
Ciência ao alcance de todos é a Oficina de Ciência que estou na orientar no Vivacidade-espaço criativo.
Com sons da sinfonia do novo mundo de Dvorak por fundo musical, os participantes começaram com uma viagem panorâmica pelo “mundo à nossa escala e fora dela” . Foram do macrocosmos ao microcosmos e a propósito do infinitamente pequeno falou-se de nanotecnologia que o prémio Nobel Richard Feynman previu já nos anos 50
"Os princípios da física, pelo que eu posso perceber, não falam contra a possibilidade de manipular as coisas átomo por átomo. Não seria uma violação da lei ; é algo que, teoricamente, pode ser feito mas que, na prática, nunca foi levado a cabo porque somos grandes de mais" – Richard Feynman
A propósito da nanotecnologia foram passados dois vídeos
Para além dos três vídeos anteriormente referidos, foram realizadas algumas experiências simples e lidos alguns trechos poéticos
Lá longe, longe, muito mais longe do que o longe que longe quer dizer,
numa distância mais dura que a pedra dura do pensamento
durante a longidão da pedra, que dura, resiste, como a luz, na velocidade,
a ser menos que a luz movente, matéria e energia,
luz distante, pedra longínqua, luz de pedra, pedra de luz.
Lá, pois, longiluz, pedra luzente, quando a estrela solar,
o Sol que aquece e a vida renova em nosso planeta,
daqui a bilhões, bilhões, bilhões, bilhões e bilhões de anos,
estiver chegando, envelhecida, enfim, ao final de si própria
para transformar-se, cumprindo seu destino cósmico, numa anã branca,
lá nesse ponto de fuga, nessa dobradura do espaço-tempo,
de nada valerá a memória de nossas perdas
e das quedas sucessivas do homem em busca da afirmação,
pelo conhecimento, de sua própria humanidade.
Ninguém já saberá de erros, de culpas, de arrependimentos
e os mitos de criação, cumprindo seus presságios,
terão percorrido, na série infinita de gerações,
a saga de suas narrativas que os homens contam, sendo contados,
como a chuva molha e aquece e o solo seca e o Sol esfria.
Quem mandou Galileu também chamar-se Galilei
e repetir-se, assim, quase fechado, no nome arredondado,
como a observação que lhe confirmou a suspeita
de que o repouso era movimento e de que a Terra,
como outros corpos semelhantes, andava em círculos,
circulando o Sol, pelos espaços?
Como não ouvir estrelas se elas, mensageiras do universo,
estiveram, sempre, desde que eles se deram conta,
falando com os homens, traçando-lhes caminhos,
indicando-lhes rotas, desenhando-lhes futuros, revelando-lhes passados,
silentes como a eloquência do silêncio nas pausas da peroração?
Deu no que deu! Nicolau Copérnico, Giordano Bruno, Hans Lippershey,
René Descartes, Isaac Newton, Albert Einstein, John Wheeler,
todos, outros mais e nós também, olhando juntos,
de “perspicillium”para Galileu Galilei.
É o destino – a destinação, melhor talvez fosse dizer –,
que permite enxergar, na longa distância cósmica, o
futuro dos astros e estrelas que daqui já vemos, ou que não vemos, e admiramos:
anã branca, como se tornará o Sol, supernova, buraco negro,
buraco negro supermaciço, sem paradoxo de conceito, só o do dizer, com defeito.
Paradoxo mesmo é o da teoria, a da relatividade geral, que,
de tanto prever tudo o que cabia e o que não cabia,
acabou prevendo o buraco negro, ponto único, alef dos contos siderais,
que em si concentra uma densidade infinita
e no qual as leis da física não têm validade,
nem mesmo as que o previram e explicam
sem, contudo, serem de sua existência e funcionamento explicação.
Freud, cuja morte tem 70 anos,
ao lado dos 150 da publicação de A origem das espécies, de Darwin,
e dos 400 anos das observações telescópicas das estrelas por Galileu,
havia anotado que o homem veio,
ao longo de sua história e de sua vida mítica,
sofrendo quedas traumáticas para a imagem narcísica de sua reputação senhorial.
Cai do paraíso, deixa o centro do universo,
cai do galho da divindade e segue a escala da evolução,
é ejectado do centro da história e, enfim,
do abrigo da consciência para as complicações do inconsciente,
como tijolos de sua solidão.
Tudo isso também se junta num único ponto como uma estrela que colapsa,
como uma singularidade de espaço-tempo,
como um buraco negro, como o que já era previsto pelo que sabíamos,
como o que sabemos o que tem sido a vida,
que expande e resume nosso movimento
para dar sentido ao que não compreendemos
e velar de mistérios nossa compreensão.
Carlos Vogt, Viagem ao Sol
(... )Se ao teu cérebro frio fosse dado pensar,
pensarias no Sol, no Sol que te aqueceu quando andavas no mundo,
nesse dragão magnífico que nos atrai
e obriga a andar em seu redor sem repouso possível.
Presos sem grades somos e assim presos
vogamos pelo espaço à mercê de um braseiro,
roendo as unhas limpas, sem ferrugem.
Ontem eras tu frio; hoje são outros; amanhã outros, outros;
e assim pelo tempo fora até que, também ele, o tal dragão magnífico,
o indispensável centro do carrossel celeste em que penamos,
como tu, como eu, como um qualquer de nós, acabará em frio.
O que aquece, arrefece. O inexorável tempo
que é cego, surdo e mudo pulverizá-lo-á
num formidável estrondo sem ruído.
Entretanto, enquanto isso não vem (nem é comigo)
enfio as mãos nos bolsos e aconchego-as
António Gedeão in Poema das mãos frias
O Universo é feito essencialmente de coisa nenhuma.
Intervalos, distâncias, buracos, porosidade etérea.
Espaço vazio em suma. O resto é a matéria.
Daí que este arrepio
Este chamá-lo e tê- lo, erguê-lo e defrontá- lo,
Esta fresta de nada aberta no vazio, deve ser um intervalo.
Gedeão.A, Máquina do Mundo
Tempo
Para os físicos, o tempo é uma grandeza,
não por ser grande, com toda a certeza.
É grandeza porque é mensurável
e é esta ideia que eu acho contestável.
Usando raciocínios, em geral profundos,
os físicos, a contratempo,
em horas, minutos e segundos, tentam dividir o tempo.
E ainda usam múltiplos, outras vezes submúltiplos,
como nano, pico, fento.
Ora há minutos que duram como vidas
e há vidas que nem segundos duram,
como há imagens que ficam esquecidas
enquanto outras para sempre perduram.
O tempo do calendário e da agenda
é simplesmente um tempo por encomenda.
Que saudades eu tenho do tempo de criança,
tempo da ilusão, do sonho, da esperança, tempo de quimera,
em que o tempo não era tempo,
porque o tempo, simplesmente não era.
Mas voa o meu pensamento para as crianças da rua,
que embaladas pelo vento, tendo a velá-las a lua,
dormem no chão ao relento, enquanto passa, alheio, o tempo.
Gouveia, R in Reflexões e Interferências
A esta viagem já se seguiram outras e mais se seguirão. Delas, a seu tempo,
iremos dando conta,
Termino com a obra Nostalgia do Infinito de Giorgio de Chirico
Com sons da sinfonia do novo mundo de Dvorak por fundo musical, os participantes começaram com uma viagem panorâmica pelo “mundo à nossa escala e fora dela” . Foram do macrocosmos ao microcosmos e a propósito do infinitamente pequeno falou-se de nanotecnologia que o prémio Nobel Richard Feynman previu já nos anos 50
"Os princípios da física, pelo que eu posso perceber, não falam contra a possibilidade de manipular as coisas átomo por átomo. Não seria uma violação da lei ; é algo que, teoricamente, pode ser feito mas que, na prática, nunca foi levado a cabo porque somos grandes de mais" – Richard Feynman
A propósito da nanotecnologia foram passados dois vídeos
Para além dos três vídeos anteriormente referidos, foram realizadas algumas experiências simples e lidos alguns trechos poéticos
Lá longe, longe, muito mais longe do que o longe que longe quer dizer,
numa distância mais dura que a pedra dura do pensamento
durante a longidão da pedra, que dura, resiste, como a luz, na velocidade,
a ser menos que a luz movente, matéria e energia,
luz distante, pedra longínqua, luz de pedra, pedra de luz.
Lá, pois, longiluz, pedra luzente, quando a estrela solar,
o Sol que aquece e a vida renova em nosso planeta,
daqui a bilhões, bilhões, bilhões, bilhões e bilhões de anos,
estiver chegando, envelhecida, enfim, ao final de si própria
para transformar-se, cumprindo seu destino cósmico, numa anã branca,
lá nesse ponto de fuga, nessa dobradura do espaço-tempo,
de nada valerá a memória de nossas perdas
e das quedas sucessivas do homem em busca da afirmação,
pelo conhecimento, de sua própria humanidade.
Ninguém já saberá de erros, de culpas, de arrependimentos
e os mitos de criação, cumprindo seus presságios,
terão percorrido, na série infinita de gerações,
a saga de suas narrativas que os homens contam, sendo contados,
como a chuva molha e aquece e o solo seca e o Sol esfria.
Quem mandou Galileu também chamar-se Galilei
e repetir-se, assim, quase fechado, no nome arredondado,
como a observação que lhe confirmou a suspeita
de que o repouso era movimento e de que a Terra,
como outros corpos semelhantes, andava em círculos,
circulando o Sol, pelos espaços?
Como não ouvir estrelas se elas, mensageiras do universo,
estiveram, sempre, desde que eles se deram conta,
falando com os homens, traçando-lhes caminhos,
indicando-lhes rotas, desenhando-lhes futuros, revelando-lhes passados,
silentes como a eloquência do silêncio nas pausas da peroração?
Deu no que deu! Nicolau Copérnico, Giordano Bruno, Hans Lippershey,
René Descartes, Isaac Newton, Albert Einstein, John Wheeler,
todos, outros mais e nós também, olhando juntos,
de “perspicillium”para Galileu Galilei.
É o destino – a destinação, melhor talvez fosse dizer –,
que permite enxergar, na longa distância cósmica, o
futuro dos astros e estrelas que daqui já vemos, ou que não vemos, e admiramos:
anã branca, como se tornará o Sol, supernova, buraco negro,
buraco negro supermaciço, sem paradoxo de conceito, só o do dizer, com defeito.
Paradoxo mesmo é o da teoria, a da relatividade geral, que,
de tanto prever tudo o que cabia e o que não cabia,
acabou prevendo o buraco negro, ponto único, alef dos contos siderais,
que em si concentra uma densidade infinita
e no qual as leis da física não têm validade,
nem mesmo as que o previram e explicam
sem, contudo, serem de sua existência e funcionamento explicação.
Freud, cuja morte tem 70 anos,
ao lado dos 150 da publicação de A origem das espécies, de Darwin,
e dos 400 anos das observações telescópicas das estrelas por Galileu,
havia anotado que o homem veio,
ao longo de sua história e de sua vida mítica,
sofrendo quedas traumáticas para a imagem narcísica de sua reputação senhorial.
Cai do paraíso, deixa o centro do universo,
cai do galho da divindade e segue a escala da evolução,
é ejectado do centro da história e, enfim,
do abrigo da consciência para as complicações do inconsciente,
como tijolos de sua solidão.
Tudo isso também se junta num único ponto como uma estrela que colapsa,
como uma singularidade de espaço-tempo,
como um buraco negro, como o que já era previsto pelo que sabíamos,
como o que sabemos o que tem sido a vida,
que expande e resume nosso movimento
para dar sentido ao que não compreendemos
e velar de mistérios nossa compreensão.
Carlos Vogt, Viagem ao Sol
(... )Se ao teu cérebro frio fosse dado pensar,
pensarias no Sol, no Sol que te aqueceu quando andavas no mundo,
nesse dragão magnífico que nos atrai
e obriga a andar em seu redor sem repouso possível.
Presos sem grades somos e assim presos
vogamos pelo espaço à mercê de um braseiro,
roendo as unhas limpas, sem ferrugem.
Ontem eras tu frio; hoje são outros; amanhã outros, outros;
e assim pelo tempo fora até que, também ele, o tal dragão magnífico,
o indispensável centro do carrossel celeste em que penamos,
como tu, como eu, como um qualquer de nós, acabará em frio.
O que aquece, arrefece. O inexorável tempo
que é cego, surdo e mudo pulverizá-lo-á
num formidável estrondo sem ruído.
Entretanto, enquanto isso não vem (nem é comigo)
enfio as mãos nos bolsos e aconchego-as
António Gedeão in Poema das mãos frias
O Universo é feito essencialmente de coisa nenhuma.
Intervalos, distâncias, buracos, porosidade etérea.
Espaço vazio em suma. O resto é a matéria.
Daí que este arrepio
Este chamá-lo e tê- lo, erguê-lo e defrontá- lo,
Esta fresta de nada aberta no vazio, deve ser um intervalo.
Gedeão.A, Máquina do Mundo
Tempo
Para os físicos, o tempo é uma grandeza,
não por ser grande, com toda a certeza.
É grandeza porque é mensurável
e é esta ideia que eu acho contestável.
Usando raciocínios, em geral profundos,
os físicos, a contratempo,
em horas, minutos e segundos, tentam dividir o tempo.
E ainda usam múltiplos, outras vezes submúltiplos,
como nano, pico, fento.
Ora há minutos que duram como vidas
e há vidas que nem segundos duram,
como há imagens que ficam esquecidas
enquanto outras para sempre perduram.
O tempo do calendário e da agenda
é simplesmente um tempo por encomenda.
Que saudades eu tenho do tempo de criança,
tempo da ilusão, do sonho, da esperança, tempo de quimera,
em que o tempo não era tempo,
porque o tempo, simplesmente não era.
Mas voa o meu pensamento para as crianças da rua,
que embaladas pelo vento, tendo a velá-las a lua,
dormem no chão ao relento, enquanto passa, alheio, o tempo.
Gouveia, R in Reflexões e Interferências
A esta viagem já se seguiram outras e mais se seguirão. Delas, a seu tempo,
iremos dando conta,
Termino com a obra Nostalgia do Infinito de Giorgio de Chirico
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Regina, que pena eu tenho de não ter oidido ir ao seu curso!!!!!. Ia fazer-me muito bem.Mas, se um dia o repetir, eu vou de certeza, a não ser que a Natureza não o permita.
ResponderEliminarNão conhecia o Pintor Chirico. Vou ver se encontro alguma obra.
Um beijo.
Obrigada mais uma vez Graciete
ResponderEliminarEu também teria muito gosto em tê-la no curso mas não iria ver nada de diferente daquilo que fui fazendo na UPP.
Um beijinho muito grande
Regina