segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
Cumplicidades
A minha neta mais velha tem oito anos. Temos, desde há muito, uma relação cheia de cumplicidades. Quando em 2006 foi lançado o meu livro “Era uma vez ciência e poesia no reino da fantasia”, após uma apresentação em Outubro, no Clube Literário do Porto, chegou a casa muito triste e disse-me. Eu também queria ser escritora mas não sei escrever. Expliquei-lhe que havia escritores que não sabiam escrever mas o importante era ter as ideias. Sugeri então que me transmitisse essas ideias e poderia eu passá-las ao papel, sob a forma de pequenas rimas.
Ficou entusiasmadíssima . Combinei com ela o seguinte: vamos nós fazer um livrinho com as histórias que tu me contares e que ilustrarás com desenhos. O título será “A minha neta contou-me”. Podemos oferecer esses livrinhos no Natal, mas era importante que guardasses segredo, para ser surpresa. E para meu espanto, manteve o silêncio até ao Natal. Nem à mãe disse nada.
Capa e um dos textos com as respectivas ilustrações
Poderia relatar muitas mais situações que evidenciam essas cumplicidades. Relato apenas a última. Sábado, dia 12 pediu-me:
Ajuda-me a preparar um jantar surpresa para amanhã oferecer aos meus pais. É que dia 14 é o dia dos namorados, mas nesse dia tenho trabalhos para fazer e não posso preparar nada.
Escrevemos uma ementa alusiva ao dia e fizemos alguns improvisos.
Com um pacote de leite construímos uma forma em forma de coração que serviu para moldar o arroz, pusemos uma mesa com velas, etc, etc. Ela estava feliz e os pais ficaram muito sensibilizados com a surpresa.
As crianças são fantásticas…
E a propósito do dia dos namorados, vou colocar um texto que escrevi para o dia, por sugestão da minha editora
Um belo dia uma raia
resolveu ir passear,
e assim foi a flutuar,
lá desde as águas profundas
onde costuma habitar
quase até à beira mar
onde sabe que há perigos
sempre prontos a atacar.
Foi quando viu um peixinho,
lindo, lindo de encantar,
pendurado duma cana
que viera para o pescar.
Nadou então velozmente
para o fio ir cortar
Ao peixinho, já cansado
de se tentar libertar
quando a viu aproximar
pareceu-lhe ver um anjo
com as asas a adejar.
Liberto daquela cana
que o tentara pescar
tirou-lhe a raia o anzol,
que ainda estava a magoar,
cobriu-o com a barbatana
como se fora um lençol.
Levou-o então mar afora
para a sua casa no fundo
e o peixinho descansou,
dormiu um sono profundo.
Sonhou com o Nemo e a Dora.
A raia que o velava
começou a perceber
que já estava enamorada
Foi então que ele acordou
e ao ver o seu anjo ao lado
ficou logo enfeitiçado.
Foram nadar enlaçados
conhecer o mar inteiro.
Foi quando viram no mar
uma placa a anunciar:
14 de Fevereiro,
o dia dos namorados.
Regina Gouveia, inédito
Ficou entusiasmadíssima . Combinei com ela o seguinte: vamos nós fazer um livrinho com as histórias que tu me contares e que ilustrarás com desenhos. O título será “A minha neta contou-me”. Podemos oferecer esses livrinhos no Natal, mas era importante que guardasses segredo, para ser surpresa. E para meu espanto, manteve o silêncio até ao Natal. Nem à mãe disse nada.
Capa e um dos textos com as respectivas ilustrações
Poderia relatar muitas mais situações que evidenciam essas cumplicidades. Relato apenas a última. Sábado, dia 12 pediu-me:
Ajuda-me a preparar um jantar surpresa para amanhã oferecer aos meus pais. É que dia 14 é o dia dos namorados, mas nesse dia tenho trabalhos para fazer e não posso preparar nada.
Escrevemos uma ementa alusiva ao dia e fizemos alguns improvisos.
Com um pacote de leite construímos uma forma em forma de coração que serviu para moldar o arroz, pusemos uma mesa com velas, etc, etc. Ela estava feliz e os pais ficaram muito sensibilizados com a surpresa.
As crianças são fantásticas…
E a propósito do dia dos namorados, vou colocar um texto que escrevi para o dia, por sugestão da minha editora
Um belo dia uma raia
resolveu ir passear,
e assim foi a flutuar,
lá desde as águas profundas
onde costuma habitar
quase até à beira mar
onde sabe que há perigos
sempre prontos a atacar.
Foi quando viu um peixinho,
lindo, lindo de encantar,
pendurado duma cana
que viera para o pescar.
Nadou então velozmente
para o fio ir cortar
Ao peixinho, já cansado
de se tentar libertar
quando a viu aproximar
pareceu-lhe ver um anjo
com as asas a adejar.
Liberto daquela cana
que o tentara pescar
tirou-lhe a raia o anzol,
que ainda estava a magoar,
cobriu-o com a barbatana
como se fora um lençol.
Levou-o então mar afora
para a sua casa no fundo
e o peixinho descansou,
dormiu um sono profundo.
Sonhou com o Nemo e a Dora.
A raia que o velava
começou a perceber
que já estava enamorada
Foi então que ele acordou
e ao ver o seu anjo ao lado
ficou logo enfeitiçado.
Foram nadar enlaçados
conhecer o mar inteiro.
Foi quando viram no mar
uma placa a anunciar:
14 de Fevereiro,
o dia dos namorados.
Regina Gouveia, inédito
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Lido à uma da manhã, fez-me sorrir.É bom ter cumplicidade com os netos e conseguir com eles essa relação. Nunca se sabe bem qual o nosso papel de Avós, mas uma coisa é certa. Nunca devemos substituir os Pais, apenas ajudar e apoiar nos momentos de necessidade.
ResponderEliminarO meu neto pinta em minha casa, coisa que não faz na dele. Não há dia em que ele não pergunte o que é que eu pintei e não dê uma opinião.
Quando era criança, escrevi dois contos - tinha dez anos, o meu primo que tinha mais 14 anos e era médico escreveu-os à máquina,e eu fiz os desenhos. Ainda o tenho. Ofereci à minha Mãe no Dia da Mãe e ela conservou-o até à morte. Recuperei-o depois quando as coisas dela foram arrumadas.
Poema lindo ou não se passasse no fundo do mar:))
Que lindo,Regina!
ResponderEliminarE que linda é também a cumplicidade com a sua neta!
Um beijo.
Obrigada às duas.
ResponderEliminarA minha neta também só pinta cá em casa e também gosta de acompanhar os meus textos e as minhas pinturas. Mas também sei que o meu papel de modo algum pode ser o de substiruir os pais, bem pelo contrário.Creio que as cumplicidades advêm precisamente de nenhum de nós tentar ocupar o lugar dos outros.
Mas é difícil ser avó, tal como é difícil ser mãe pois por muito que nos empenhemos, ficamos smpre com alguma dúvida sobre se o que fizemos em cada momento teria sido o melhor