Bem-vindo, bienvenido, bienvenu, benvenuto, welcome....


Silêncio cósmico

Pudera eu regressar ao silêncio infinito,

ao cosmos de onde vim.

No espaço interestelar, vazio, negro, frio,

havia de soltar um grito bem profundo

e assim exorcizar todas as dores do mundo.

Regina Gouveia

NOVO BLOGUE

Retomei o blogue que já não usava há anos.

https://reflexoeseinterferncias.blogspot.com/

Dedico-o essencialmente aos mais novos mas todos serão bem vindos, muito em particular pais, avós, encarregados de educação, educadores ...


segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Eu fui à terra do bravo...



 Este é o título de uma canção da Ilha Terceira, que podemos ouvir numa versão de Fernando Lopes Graça

No passado dia 3 fui à terra do bravo e regressei ontem dia 7. Fui a convite da BPARAH (Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Angra do Heroísmo). O convite para fazer algumas sessões com crianças na secção infanto-juvenil da referida Biblioteca, foi-me dirigido pelo Dr. Marcolino Candeias, Director da mesma.
As sessões decorreram no Centro Cultural e de Congressos

 Biblioteca
Centro de Congressos (edifício moderno em cima)
A propósito de poesia, centrada essencialmente no meu livro “ciência para meninos em poemas pequeninos” mas não só, foram abordados alguns conceitos científicos, tendo em conta o nível etários dos participantes. Nessa abordagem fizeram-se várias experiências muito simples desde a obtenção dum arco íris à construção de um ludião, passando por várias outras.
As crianças de uma maneira geral reagem muito bem a esta abordagem da ciência e da poesia.

Espero em breve poder colocar imagens das sessões com as crianças, imagens essas que ficaram de me enviar


Já tinha estado uma vez na Ilha Terceira, creio que há nove anos. Fui com toda a família (ainda não tinha netos nessa altura) visitar três ilhas dos Açores: Terceira, S. Miguel e Faial .Gostei imenso de todas elas por razões diferentes. No caso da Terceira, fiquei fascinada com a cidade de Angra. Mas agora, com tempo para a “saborear” sozinha, dei comigo a pensar que não me importaria nada de ali viver. É uma cidade onde apetece estar, não só pelo património inestimável que vai da beleza natural a uma arquitectura ímpar, que a levaram a Património da Humanidade já em 1983, mas também pela simpatia das sua gentes, pela segurança que ali se sente, pela história que ali se respira..

Situada numa pequena e belíssima baía, que está na origem do seu nome, Angra tem muito para contar. Foi elevada a cidade em 1534, a primeira cidade do Arquipélago dos Açores.. O topónimo “Heroísmo” deriva das lutas liberais do século XIX, onde Angra do Heroísmo pautou pela defesa dos ideais de liberdade tal como se tinha oposto com heroísmo ao domínio Castelhano na era dos Filipes. Por seu lado, o actual nome da ilha, que inicialmente era Ilha de Jesus Cristo, parece estar relacionado com o facto de ter sido a "terceira" das ilhas do arquipélago a ser descoberta.

Da janela do meu quarto no hotel que me reservaram, mesmo em frente ao mar, desfrutei estas vistas fantásticas para além de adormecer ouvindo as ondas a ir e voltar.






Não resisto a colocar aqui um poema do meu primeiro livro
Poesia


Gosto do narciso poeta aquela flor cuja corola,

por dentro amarela, é branca por fora.

Colhi duas.

Uma decidi comê-la cuidando assim

engravidar de poesia

Mas a poesia, tão arredia, riu-se de mim.

Cheia de mágoa, à beira da água

lancei ao mar a outra flor, daquelas duas.

E fiquei a olhar, a flor boiar

na onda que vai e que logo vem,

que se reflecte e se refracta,

que interfere e se difracta.

A luz do sol bateu no mar, fê-lo de prata,

reflexão também.

Por entre os meus dedos, a areia fluía suavemente.

A flor boiava dolentemente

e a onda, sempre a ir e voltar,

e o som do mar com seus segredos

e o gosto a sal a pairar no ar

deixando um cheiro a maresia.

Então, por magia, luz , céu e ar,onda do mar, no ir e voltar,

areia, sal , flor a boiar,tudo em redor foi poesia

(in Reflexões e Interferências)
Referi acima que a gentileza e o carinho com que fui tratada. Desde as várias pessoas com quem contactei no Centro Cultural e de Congressos e na Biblioteca (Dr. Marcolino Candeias, Dr.ª Helena Martins, Dr.ª Graça Cardoso, estagiário André, D. Lurdes),ao pessoal do hotel, passando por pessoas a quem pedia uma informação na rua, o trato foi de tal modo afável que esta ida a Angra me tocou profundamente.

Numa das noites jantei em casa do Dr. Marcolino Candeias onde tive ocasião de conhecer a esposa  e filha. Nunca poderei esquecer o carinho com que fui tratada por aquela família de poetas. Já sabia que ia estar na presença de um poeta (foi precisamente através da poesia que eu vim a conhecer o Dr. Marcolino); quanto à esposa fiquei a saber, no referido jantar que também o é.

Talvez há uns dez anos, quando preparava uma sessão sobre Física e Poesia, fiz uma pesquisa sobre poemas nessa interface. Já conhecia, entre outros, António Gedeão e Vitorino Nemésio (natural da Ilha Terceira). Mas vim a conhecer alguns mais, nomeadamente os brasileiros Carlos Vogt, Marco Lucchesi, Millôr Fernandes e o terceirense Marcolino Candeias cujo poema “Mensagem“ me fascinou


Mensagem
Desculpa esta emissão de amor a seis horas de diferença TMG

Desculpa que seja telegráfico

Porém teu coração estará captando

em toda a plenitude de teu ser

este código de saudade que sinto mas não decifro
Primeiro uma suave onda curta

depois uma longa onda média

Seguidamente a onda te envolverá tornando-se infinita

e as fibras do teu coração subitamente ficarão ao rubro

Então as teorias relativistas cairão por terra

porque em nosso amor não existe espaço e tempo
(in "Na Distância deste Tempo")



Na NET procurei informações sobre o autor.Soube que nascera na Ilha Terceira, que se revelara como poeta aos dezassete anos, que fora professor nas Universidades de Coimbra e na dos Açores e que desde 1986 exercia o Leitorado de Português na Universidade de Montreal, onde também leccionava Cultura Portuguesa e Brasileira).
Eram estes os dados que eu tinha até 2008, ano em que fui convidada pela Dra. Cristina Carvalhinho, para participar nos “15ºs Encontros Filosóficos. Educação para o século XX”, que tiveram lugar na Cidade da Horta, no Faial. Convidado também para os mesmo encontros, estava presente o Dr. Laborinho Lúcio, que tive o privilégio de então conhecer pessoalmente. Uma pessoa extraordinariamente culta e afável. Em conversa falei no poeta Marcolino Candeias. Disse-me ser seu amigo, contactou-o e assim, a partir daí, passei a comunicar via e-mail com o Director da Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Angra do Heroísmo.

Soube então que regressara aos Açores em 1998, onde foi ocupando vários lugares de destaque nomeadamente o que hoje ocupa.

Ofereceu-me o seu livro "Na Distância deste Tempo" com poemas belíssimos de entre os quais destaco o que segue.



Tive curiosidade em entrar no café Aliança mas segundo o autor, já pouco tem a ver com o referido no poema.


E para além do café Aliança, visitei a Sé e muitas outras igrejas, o Jardim e o Pico da Memória, o Museu no Convento de S. Francisco, as duas fortalezas, o teatro Angrense onde fui assistir a um concerto com várias filarmónicas, o Mercado, o Centro de Ciência (mesmo à beira do meu hotel), o Palácio dos Capitães Generais e tantos outros locais de interesse que poderia enumerar











Propositadamente deixei para o fim a referência aos Impérios. Fotografei vários em Angra e um em S. Mateus, aldeia piscatória, onde muito gentilmente a Drª Helena me levou. Mas sobre os Impérios prometo falar noutra mensagem.


Uma imagem de S. Mateus

5 comentários:

  1. Boa tarde, Drª Regina!
    Foi um prazer enorme poder tê-la conhecido. Desde a pessoa, à profissional, tudo é encantador e simultaneamente surpreendente. Foram dias muito bons, onde todos aprendemos imenso.
    Espero poder voltar a cruzar-me consigo. Até porque estar ao lado de uma pessoa que tem tanto para ensinar é maravihoso.

    Deixo-lhe um grande beijinho, com muito carinho,
    André Fernandes

    ResponderEliminar
  2. Bela experiência. quem me dera ser criança....

    Belo texto, belas fotos duma ilha que anseio por visitar, notáveis pormenores da visita, lindos e sentidos poemas.
    Esta entrada é para ler e reler...e mesmo assim o comentário será sempre pobre.

    Ainda bem - para todos os intervenientes e para nós - que ainda tens coragem para estas aventuras. As comunidades ficam mais ricas e nós mais orgulhosos de sermos teus amigos.

    ResponderEliminar
  3. Olá Regina, de facto acho um privilégio tê-la conhecido.
    Gostei tanto tanto deste post tão bem escrito, com tão bonitas fotografias, com tão belos poemas, incluindo o seu, com a sensibilidade e afectividade com que fala das pessoas e das coisas, que me encantou.
    Encontrá-la foi mais uma das coisas boas que me aconteceram por frequentar a UPP. Os meus parabéns por este blog e por tudo o que a Regina é.
    E agora, já que este seu post se refere aos Açores,gostava de perguntar-lhe se conhece a Ilha do Pico.Das 4 ilhas que visitei (S. Miguel, Terceira, Faial e Pico), esta última
    deixou-me uma recordação especial por ser de uma beleza tão selvagem, tão simples, ainda tão"ingénua(pareceu-me), que gostaria imenso de lá viver.

    Um grande abraço Regina com toda a minha admiração e simpatia.

    ResponderEliminar
  4. André
    Obrigada pelas palavras tão amáveis que me dirigiu. Também eu tive muito prazer em conhecê-lo. Quando vier ao Porto terei muito gosto em estar consigo, quando mais não seja para tomar um cafezinho
    Um abraço
    Regina

    ResponderEliminar
  5. Virgínia e Graciete
    Obrigada também às duas pelas vossas palavras mas se o post é bom, é-o essencialmente porque Angra, na realidade, é uma cidade muito especial.
    Para além da Terceira, conheço S. Miguel, Faial e Pico.Em termos de beleza natural S. Miguel e o Pico "ganham" à Terceira mas, em termos de cidades, nenhuma se compara a Ángra
    Um abraço
    Regina

    ResponderEliminar