domingo, 31 de outubro de 2010
Crise para quem?
Sentei-me no bar do Centro Cultural de Alfândega da Fé e comecei a folhear a última Visão. Gonçalo M. Tavares, virtuoso na arte de escrever micro contos, insere dois na sua crónica. Aqui fica aquele de que mais gostei.
Umas páginas mais à frente, Alfredo Bruto da Costa, na rubrica economia insere o texto “Pode haver 500 mil pessoas em pobreza extrema”. Analisando essencialmente o caso português e a propósito do aumento de impostos para a classe com maiores rendimentos comenta (sic): Faz umas cócegas mas não os atinge de forma substancial. Não deixa de inserir dados arrepiantes a nível mundial(sic) As 500 pessoas mais ricas do mundo têm ativos correspondentes ao rendimento de 417 milhões de pessoas(…) Um certo grau de desigualdade é inevitável e até pode ser útil à economia. Mas há um desequilíbrio no rendimento que não é justificado por nenhuma exigência económica sã.
Voltando ao caso português refere (sic). Se compararmos os 5% mais ricos com os 5% mais pobres, concluímos que somos o país da Europa onde os desequilíbrios são maiores.
E estes números causam-me uma espécie de náusea. Somos bombardeados permanentemente com o fantasma da crise em nome da qual se impõem sacrifícios. Mas sacrifícios e crise para quem?
E lembrei-me de imediato de um texto publicado há tempos no JN da autoria de Manuel António Pina,
Os novos pobres
A crise quando chega toca a todos, e eu já não sei se hei-de ter pena dos milhares de homens e mulheres que, por esse país, fora, todos os dias ficam sem emprego se dos infelizes gestores do Banco Comercial Português que, por iniciativa de alguns accionistas, poderão vir a ter o seu ganha-pão drasticamente reduzido em 50%, ou mesmo a ver extintos os por assim dizer postos de trabalho.
A triste notícia vem no DN: o presidente do Conselho Geral e de Supervisão daquele banco arrisca-se a deixar de cobrar 90 000 euros por cada reunião a que se digna estar presente e passar a receber só 45 000; por sua vez, o vice-presidente, que ganha 290 000 anuais, poderá ter que contentar-se com 145 000; e os nove vogais verão o seu salário de miséria (150 000 euros, fora as alcavalas) reduzido a 25% do do presidente. Ou seja, o BCP prepara-se para gerar 11 novos pobres, atirando ainda para o desemprego com um número indeterminado de membros do seu distinto Conselho Superior. Aconselha a prudência que o Banco Alimentar contra a Fome comece a reforçar os "stocks" de caviar e Veuve Clicquot, pois esta gente está habituada a comer bem.
Já quase no fim da revista, uma interessante entrevista a António Lobo Antunes, conduzida por Ricardo Araújo Pereira. Não se falou de crise mas de livros, de vida, de morte, de talento e de bondade e a este propósito cito António Lobo Antunes (sic). Há uma coisa muito mais importante que o talento: é a bondade.
E a bondade, a meu ver, não é compatível com a ganância desmedida e com o egoísmo feroz ( em que não se olha a meios para atingir os fins), esses sim,os grandes responsáveis pela crise.
Umas páginas mais à frente, Alfredo Bruto da Costa, na rubrica economia insere o texto “Pode haver 500 mil pessoas em pobreza extrema”. Analisando essencialmente o caso português e a propósito do aumento de impostos para a classe com maiores rendimentos comenta (sic): Faz umas cócegas mas não os atinge de forma substancial. Não deixa de inserir dados arrepiantes a nível mundial(sic) As 500 pessoas mais ricas do mundo têm ativos correspondentes ao rendimento de 417 milhões de pessoas(…) Um certo grau de desigualdade é inevitável e até pode ser útil à economia. Mas há um desequilíbrio no rendimento que não é justificado por nenhuma exigência económica sã.
Voltando ao caso português refere (sic). Se compararmos os 5% mais ricos com os 5% mais pobres, concluímos que somos o país da Europa onde os desequilíbrios são maiores.
E estes números causam-me uma espécie de náusea. Somos bombardeados permanentemente com o fantasma da crise em nome da qual se impõem sacrifícios. Mas sacrifícios e crise para quem?
E lembrei-me de imediato de um texto publicado há tempos no JN da autoria de Manuel António Pina,
Os novos pobres
A crise quando chega toca a todos, e eu já não sei se hei-de ter pena dos milhares de homens e mulheres que, por esse país, fora, todos os dias ficam sem emprego se dos infelizes gestores do Banco Comercial Português que, por iniciativa de alguns accionistas, poderão vir a ter o seu ganha-pão drasticamente reduzido em 50%, ou mesmo a ver extintos os por assim dizer postos de trabalho.
A triste notícia vem no DN: o presidente do Conselho Geral e de Supervisão daquele banco arrisca-se a deixar de cobrar 90 000 euros por cada reunião a que se digna estar presente e passar a receber só 45 000; por sua vez, o vice-presidente, que ganha 290 000 anuais, poderá ter que contentar-se com 145 000; e os nove vogais verão o seu salário de miséria (150 000 euros, fora as alcavalas) reduzido a 25% do do presidente. Ou seja, o BCP prepara-se para gerar 11 novos pobres, atirando ainda para o desemprego com um número indeterminado de membros do seu distinto Conselho Superior. Aconselha a prudência que o Banco Alimentar contra a Fome comece a reforçar os "stocks" de caviar e Veuve Clicquot, pois esta gente está habituada a comer bem.
Já quase no fim da revista, uma interessante entrevista a António Lobo Antunes, conduzida por Ricardo Araújo Pereira. Não se falou de crise mas de livros, de vida, de morte, de talento e de bondade e a este propósito cito António Lobo Antunes (sic). Há uma coisa muito mais importante que o talento: é a bondade.
E a bondade, a meu ver, não é compatível com a ganância desmedida e com o egoísmo feroz ( em que não se olha a meios para atingir os fins), esses sim,os grandes responsáveis pela crise.
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Olá Regina , gostei do seu post. É muito realista e mais uma vez põe em evidência o seu espírito de pesquisa que nos traz coisas tão bonitas.
ResponderEliminarTal como a Regina também acho que a palavra bondade assim como a palavra caridade, deviam ser substituídas pela palavra JUSTIÇA.
Um beijo.
Tinha respondido com um post enorme e ele desapareceu quando o quis enviar...pena!
ResponderEliminarTb não compreendo as disparidades neste país tão pequeno. Os dinheiros são mal geridos e hºa muita desonestidade nos quenos governam ou ocupam lugares de destaque. ética é uma palavra desconhecida...
Mas também não compreendo como é que o Pavilhão Atlantico se enche com 30.000 pessoas para o con certo dum cantor canadian desconhecido. Os bilhetes são carissimos e há sempre lisboetas - e outros - a irem a tudo.É um mistério.
Bjo
Só agora li os vossos comentários pois tenho andado numa roda viva...Amanhã parto para a terceira, a convite da Biblioteca de Angra e regresso no domingo. Relativamente ao comentário da Graciete, também não gosto da palavra caridade. Já o referi num poema...
ResponderEliminarQuanto ao comentário da Virgínia, acho que o sector bancário contribuiu muito para o conceito de "chapa ganha, chapa gasta" A crise talvez faça rever esse aspecto ...