Bem-vindo, bienvenido, bienvenu, benvenuto, welcome....


Silêncio cósmico

Pudera eu regressar ao silêncio infinito,

ao cosmos de onde vim.

No espaço interestelar, vazio, negro, frio,

havia de soltar um grito bem profundo

e assim exorcizar todas as dores do mundo.

Regina Gouveia

NOVO BLOGUE

Retomei o blogue que já não usava há anos.

https://reflexoeseinterferncias.blogspot.com/

Dedico-o essencialmente aos mais novos mas todos serão bem vindos, muito em particular pais, avós, encarregados de educação, educadores ...


quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Por terras do Oriente-7


Não há bela sem senão, diz o provérbio 

De comboio para Pequim....
O programa referia  que a dormida a bordo do comboio se faria em couchetes e que duraria 12 h. Alguns  dias antes da viagem algumas pessoas começaram a contestar porque não sabiam que as couchetes eram de 4 lugares e não de dois. Para além disso consideravam excessivas as 12 h de duração da viagem. A dada altura gerou-se uma discussão no autocarro. Considerei  os protestos descabidos e exprimi a minha opinião. Ao aceitarem o programa sabiam que iriam andar 12h de comboio e quanto às couchetes, se esse problema era tão importante deveriam ter-se esclarecido antes.
Por várias vezes se levantou o problema quanto aos grupos de 4 pessoas que deveriam  ocupar as diferentes couchetes. Para 37 pessoas só havia 9 couchetes reservadas mas, desde logo,  o Graça de Abreu disse que não haveria qualquer problema porque dormiria numa qualquer couchete, com chineses.
Nós e os dois amigos que foram conosco (a minha amiga  Fátima e o António Pimentel que foi companheiro de tropa do meu marido) formámos um grupo e comunicámo-lo à acompanhante da Abreu. 
Não sei se mais alguém tomou tal iniciativa. O certo é que ao entramos para o comboio gerou-se uma tremenda confusão porque as pessoas não se entendiam quanto aos grupos a formar. Os ânimos estavam  exaltados e demorou bastante tempo a que serenassem. Alguém disse que algumas pessoas preferiram passar a noite no corredor a integrar grupos que ficaram  nas couchetes. Não sei se assim foi ou não.
A meu ver houve aqui alguma ineficiência dos acompanhantes  pois os grupos deveriam ter sido bem definidos antes da viagem
Mas os incidentes não se ficaram por aqui. No programa refere que a partida para Pequim, com duração de 12h, seria às 20 h.
A viagem correu bem (eu dormi toda a noite). Nem me apercebi do nascer do Sol que o meu marido fotografou


Eram 7 h 30 min quando o comboio parou numa estação. Como ninguém nos avisou de que tínhamos chegado mantivemo-nos nas couchetes embora saindo para perguntar se ali era o términus da viagem. Pessoalmente admiti que haveria mais que uma estação em Pequim e não seria  naquela que devíamos descer. A dada altura, alguém olhando para a gare viu que um grupo de pessoas já ali estava, juntamente com a acompanhante da Abreu. Gerou-se uma grande confusão  pois não sabíamos sequer se o comboio continuaria para uma outra suposta estação. Com a precipitação da saída o nosso companheiro deixou na couchete uma pequena bolsa em que tinha os documentos e o dinheiro. Infelizmente só deu por ela quando já estávamos na praça Tianamen, para onde fomos diretamente a partir da estação.
Foram desencadeados procedimentos para recuperar pelo menos os documentos, mas sem eficácia. Assim tornou-se necessário arranjar um novo passaporte (provisório) o que foi relativamente fácil pois foi passado pela  Embaixada de Portugal . O grande problema residiu na obtenção do visto de saída que teria que ser passado pela polícia chinesa. Apesar das inúmeras diligências feitas (nesse aspecto ambos os  acompanhantes  foram impecáveis) que implicaram custos e muito  tempo despendido,  a polícia  recusou-se  a entregá-lo  antes de três dias (que provavelmente a lei impõe). Assim, o nosso companheiro de viagem veio a  perder a visita à muralha da China. Para além disso teve que ficar mais um dia em Pequim e não pôde usufruir da viagem ao Dubai, que tinha pago. Encontrou-se com o grupo no aeroporto do Dubai mas na hora do embarque para Lisboa.

Mas falemos de Pequim
Pequim é a capital do país mais populoso do mundo .O seu nome, em  mandarim ,significa "capital do norte". Durante séculos, foi a maior cidade do mundo. Hoje tem cerca de 10 milhões de habitantes.  Ao longo dos tempos o Império chinês teve diferentes capitais (Xian, por exemplo,  foi capital em várias dinastias)mas de 1421 a 1911 a capital foi Pequim. Em 1912 a capital foi transferida para Nanquim, “ capital do Sul”, e a cidade tomou o nome de Beiping (Paz do Norte).Tornou-se a capital da república em 1949 com o nome atual. Situada ao norte do país, Pequim é famosa pela Cidade Proibida, o palácio dos imperadores chineses desde o século XV.

Deixo algumas fotos da cidade proibida mas tudo o que eu poderia dizer sobre a mesma  está condensado neste vídeo 





 Logo em frente está a ampla Praça da Paz Celestial (Tianamen), célebre pelos protestos estudantis e demonstrações militares. Entre ambas passa a Avenida da Paz Eterna

Nesta praça em frente à qual se encontra cidade proibida(destaque para a retrato de  Mao na entrada) ficam o Mausoléu de Mao, o Museu da Revolução  e o Grande Palácio do Povo sede da Assembleia Nacional Popular ( o maior dos três edifícios)

No fim do dia fomos para o Hotel, onde jantámos. (A seguir, uma imagem dum recanto do hotel)


O Hotel está extremamente bem situado na Avenida da Paz Eterna, a maior avenida de Pequim. que atravessa a cidade de este a oeste, numa extensão de 46 quilómetros (está a ser continuada e prevê-se que venha a ter 60 km). Ao  longo dela vêem-se,  para além dos locais já referidos, grandes edifícios que são ministérios , hotéis e também a sede da televisão nacional da China, a Torre Nova de CCTV da autoria do arquitecto  Rem Koolhaas ( autor da Casa da Música, no Porto).



O  2º dia em Pequim foi dedicado à visita à Grande Muralha da China, num troço da mesma, a cerca de 70 km de Pequim

Olha o muro e edifício nunca crido,
Que entre um império e o outro se edifica,
Certíssimo sinal, e conhecido,
Da potência real, soberba e rica. (Os Lusíadas, X, 130, 1-4)

O ‘’muro", como Camões,  João de  Barros e Fernão Mendes Pinto se referem  à muralha, era, ao tempo de Camões,  uma estrutura espantosa pois parecia impossível  que existisse uma edificação com aquela dimensão.  Fernão Mendes Pinto  menciona-a  na Peregrinação mas esse terá andado por perto e eventualmente tê-la-á  visto. Camões, não porque  não passou.de Macau

 A muralha da China foi construída em várias etapas, a primeira delas por indicação de Quin Shi Huangdi, primeiro imperador da China e fundador da dinastia Ch’in. Acredita-se que 400.000 pessoas trabalharam na construção durante o reinado de Quin Shi Huangdi e seus descendentes. Contudo, a grande muralha  continuou crescendo durante mais de 1500 anos, com diferentes materiais e características dependendo da região(...) Sua construção parou definitivamente no século XVII .Para sua realização foram utilizados escravos e recrutas como mão-de-obra. Os primeiros jesuítas que visitaram a região relatam que o trabalho  escravo era exigido até a exaustão.
O principal motivo para a construção da muralha foi o desejo de defender-se dos ataques dos povos nômades do norte e foi utilizada para transladar pessoas e armamentos de um lado para outro, também foram transportadas caravanas que iam desde as cidades chinesas até o golfo pérsico e dele aos portos do mediterrâneo oriental e, desta maneira, tinham acesso aos mercados europeus.
A grande muralha, que atravessa montanhas e rios, continua sendo uma das grandes maravilhas do mundo, muitas das pedras usadas na sua construção medem mais de dois metros e seu peso ultrapassa uma tonelada.
A parte mais famosa da grande muralha está localizada perto de Beijing, no local conhecido como Badaling, foi construída em 1831, durante o reinado do imperador Hongwu, da dinastia imperial Ming (1368-1644). A seção de Jiumenkou tem 1704m de comprimento e tem sido reparada e restaurada diversas vezes.
O muro tem altura de 7 a 8 metros, chegando a 10 em alguns locais. A largura é de 7m na base e 6m no topo. O material usado para a construção da muralha variava de acordo com a região, quer dizer, foram utilizados tijolos, granito  e calcário. O piso da muralha foi construído com uma mistura de pedras de diferentes tamanhos, compactadas por rolos feitos com troncos, o solo ficava pronto depois de serem feitas de 4 a 6 camadas. Os pisos foram pavimentados e, assim, permitiam uma boa circulação.
As torres eram dispostas em distâncias regulares segundo a inclinação do terreno, estas tinham terraços para que fossem feitos sinais óticos de uma à outra. As escadas foram evitadas, dando preferência à construção de rampas para permitir um deslocamento mais fácil. A muralha também possuía portas, fortes, alojamentos para os soldados, estábulos para os animais, depósitos de suprimentos e armas.

Na viagem para a muralha fizemos uma paragem para visitarmos uma fábrica de cloisonné

A técnica do cloisonné é de origem bizantina e foi introduzida na China no século XIV. Sobre um objeto fabricado em metal, geralmente em cobre, aplica-se um conjunto de finos fios de cobre formando os contornos dos motivos desejados ( trabalho que requer a paciência de um chinês) que delimitam um espaço, "cloison"A adesão dos fios ao objecto é feita por compressão  e posteriomente no forno a uma dada temperatura, durante um tempo bem determinado.Os "cloisons" são depois preenchidos com esmaltes coloridos,  após o que regressam novamente ao forno. Os objetos são  depois polidos até atingirem o acabamento desejado




Após a visita seguimos  para a muralha. O autocarro parou num dado local a partir do qual fomos de teleférico até ao ponto onde se iniciou a caminhada pela muralha



 Ali ficámos um pouco desiludidos pois havia uma multidão de chineses e quase não se conseguia andar


Comprámos  livros com fotos da muralha, um deles para oferecermos ao nosso amigo que não pôde ir na sequência da perda dos documentos.
Na falta do livro deixo-vos  um filme com belíssimas imagens
No caminho de regresso  visitámos uma das tumbas dos imperadores Ming , a do imperador Yongle




(...) Entre 1405 e 1421 o terceiro imperador Ming, Yongle, patrocinou uma série de missões no Oceano Índico sob o comando do almirante Zheng He Cheng Ho.
Para estas expedições diplomáticas internacionais foi preparada uma grande frota de novos juncos (...) O maior destes navios pode ter medido até 121 metros 400 pés da proa à popa, com milhares de marinheiros envolvidos nas viagens.(...)Após a morte do imperador, Zheng He liderou uma viagem final, partindo de Nanking em 1431 e retornando em glória a Pequim, em 1433. É muito provável que esta última expedição tenha chegado a Madagáscar. As viagens foram relatados por Ma Huan, um viajante e tradutor muçulmano que acompanhou Zheng He em três das expedições, no relato "Ying-Yai Sheng-Lam"(...)
Estas longas viagens não tiveram seguimento, pois a dinastia Ming recolheu-se numa política de isolacionismo, limitando o comércio marítimo. As viagens terminaram abruptamente após a morte do imperador(...)

Na tumba do imperador pudemos ver uma miniatura do barco onde Zhenh He tará chegado a Mombaça, bem como um mapa da viagem.



Finalmente passámos perto do estádio olímpico onde fotografámos os edificios mais emblemáticos: o ninho de pássaro e o cubo de água




No fim do dia regressámos ao hotel.
Nos dois dias seguintes continuaríamos a nossa visita a Pequim.

3 comentários:

  1. É espantoso como as pessoas conseguem visitar tanta coisa em tão pouco tempo. Admiro a vossa coragem, pois sei que nunca conseguiria aguentar uma viagem assim. Fiz algumas de oito dias a países exòticos com o meu marido e gostei, embora já na altura achasse que se viam demasiadas coisas e não se apreciavam devidamente aquelas que valiam mais a pena - ex. o muro das Lamentações em Jerusalem, onde só nos deixaram estar 15m. Fiquei bastante avessa a excursões e passeios em grupo. Gosto de ver com calma e sobretudo com tempo. Mesmo que se veja menos.
    A tua reportagem e as belas fotos dos teu marido são, contudo, uma bela maneira de conhecer algo que nunca veria....a não ser em documentários.
    Obrigada!

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  2. Obrigada pelo teu comentário.
    Eu também prefiro viajar sem ser em grupo mas para viagens desta natureza e dimensão, em países com língua e escrita indecifráveis, não arrisco...
    Ab
    Regina

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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