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Silêncio cósmico

Pudera eu regressar ao silêncio infinito,

ao cosmos de onde vim.

No espaço interestelar, vazio, negro, frio,

havia de soltar um grito bem profundo

e assim exorcizar todas as dores do mundo.

Regina Gouveia

NOVO BLOGUE

Retomei o blogue que já não usava há anos.

https://reflexoeseinterferncias.blogspot.com/

Dedico-o essencialmente aos mais novos mas todos serão bem vindos, muito em particular pais, avós, encarregados de educação, educadores ...


quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Por terras do oriente -3

Anates  de prosseguir  os relatos da viagem gostaria de partilhar algo do pouquíssimo  que aprendi , do imenso que há a saber sobre a China e sua história.
Fernão Mendes Pinto,  face à imensidão do “Reino do Centro”, terá dito que teria que escrever muito e apenas conseguiria descrever pouco.





A 2 de Dezembro de 1929, o paleontólogo chinês Pei Wenzhong encontrou o fóssil do crânio de um Homo erectus pekinensis, que viria a ser conhecido como o “Homem de Pequim”, reconhecida mundialmente como a maior descoberta arqueológica de um hominídeo na Ásia

 Crânio reconstruído do «Homem de Pequim»


A civilização chinesa, com características bem distintas da ocidental principalmente na escrita, filosofia, cultos e artes é uma das mais antigas do mundo. Estudos arqueológicos indicam o vale do rio Amarelo (Huang He) como o berço da civilização chinesa. A primeira dinastia histórica foi a de Shang, por volta do século 17 a.C. Possuíam um sistema de escrita e um calendário. Seguiu-se a dinastia Zhou que dominou do século 11 a.C. até o século 3 a.C. e foi a mais longa das dinastias. O confucionismo  surgiu nesta época.
Após um longo período de conflitos, em 221 a.C. o imperador Chi unifica vários reinos existentes  e cria o reino de Chi. Inicia-se assim a dinastia Chi que vai durar até 206 AC. Escavações arqueológicas em Xi´an, iniciadas em 1974, expuseram os guerreiros de terracota   figuras  em tamanho natural, no túmulo do referido  imperador. Nunca haviam sido mencionados nos registos históricos conhecidos, até que agricultores  chineses perfuraram um poço no local. 



Esta dinastia  trouxe muitas das mudanças duradouras que unificaram a China. Pesos,medidas, moeda e escrita chinesas  foram padronizadas. O Imperador Chi ordenou a construção da Grande Muralha da China para defender o seu reino contra a invasão estrangeira. A Grande Muralha, ampliada e reconstruída por dinastias futuras, estende-se por cerca de 7.000 quilómetros.
O Imperador Chi  cobrava pesadas taxas e impostos ao povo chinês para sustentar as suas extensas campanhas militares e projetos de construção. Devido ao governo cruel e ao excesso de impostos, quando morreu, em 207 a.C., eclodiu uma guerra civil provocando o colapso de sua dinastia

De 206 Ac a 220 DC reina a dinastia Han. Depois o império entra em convulsão, desmembra-se em vários reinos, reunifica-se, desmembra-se e  volta a ser  unificado na  dinastia Tang (618 a 907). Segue-se um novo período de desmembramentos e reunificações.De 960 a 1279 reina a dinastia Song,  dinastia que irá ser progressivamente derrotada pelos mongóis.
A  dinastia mongol, a que pertence Genghis Kan, inicia-se em 1234. Foi durante esta dinastia que Marco Polo visitou Kublai Khan .  
Em 1368 a dinastia mongol  é derrotada pelo primeiro imperador Ming. A dinastia  Ming ficou célebre nomeadamente pelas cerâmicas A cerâmica Ming era policromática e decorativa, na tradição da dinastia Song. Porém, a porcelana adquiriu especial importância, sendo executadas peças de grande valor artístico. Dois centros se destacaram: as oficinas imperiais, em Pequim, onde eram concebidas as peças mais luxuosas, de fundo amarelo ou azul-turquesa, e as oficinas de Funkien, que produziam a conhecida porcelana "azul e branca", constituída por pequenas figuras ou vasilhas, às vezes com motivos decorativos vistos só à contraluz e outros objetos decorados a azul ou várias cores. A maior parte destes objetos foram exportados para países do Médio Oriente, como a Turquia e a Pérsia, e, no século XVI, para a Europa, servindo Lisboa de ponto intermediário, no que toca às porcelanas "azuis e brancas". A partir do século XVII, os Holandeses importaram para Amesterdão muitas destas peças, aumentando ainda mais a difusão da arte chinesa e, em especial, da do período Ming. 



Vaso chinês da dinastia Ming vendido por 16 milhões de euros 

Mais ou menos coincidente em termos cronológicos com a nossa dinastia de Avis, a dinastia Ming dura até  1644 quando é derrotada pelos  manchus. Inicia-se então a última dinastia imperial- a dinastia Quing  que vai durar até 1911. Nos últimos 48 anos dessa dinastia, quem realmente governou a China foi a imperatriz CiXi que,  antes de morrer, nomeou imperador o jovem Puyi, ainda criança. Foi o "último imperador", imortalizado décadas mais tarde, no cinema, por Bernardo Bertolucci.

Entretanto  em 1911 o regime imperial vai  cair . Um levante militar iniciado em 10 de outubro de 1911 levou à formação de um governo provisório da República da China em Nanquim, Em 1912. Sun Yat-sen foi o primeiro a assumir a presidência. Nos anos 1920, Sun Yat-sen estabeleceu uma base revolucionária no sul da China e lançou-se na unificação do país. Com auxílio soviético  aliou-se ao Partido Comunista da China (PCC) fundado em 1921, tal como o PCP. Após a morte de Yat-sen, em 1925, um de seus protegidos, Chiang Kai-shek, assumiu o controle do Kuomintang (Partido Nacionalista, ou KMT) e logrou reunir sob seu governo a maior parte do sul e do centro da China numa campanha militar conhecida como a Expedição do Norte. Após derrotar os chefes guerreiros daquelas regiões, Chiang obteve a fidelidade nominal dos líderes do norte. Em 1927, voltou-se contra o PCC e expulsou os exércitos comunistas e seus chefes de suas bases no sul e no leste da China. Em 1934, as tropas do PCC empreenderam a Longa Marcha, através da região mais inóspita da China a noroeste, onde estabeleceram uma base guerrilheira.
Durante a Longa Marcha, os comunistas reorganizaram-se sob um novo chefe, Mao Tse-tung. O conflito entre o KMT e o PCC continuou, aberta ou clandestinamente, ao longo dos catorze anos da invasão japonesa, apesar da aliança nominal entre ambos os partidos para se opor aos japoneses em 1937. A guerra civil chinesa continuou após a derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial em 1945. Em 1949, o PCC já ocupava a maior parte do país. Chiang Kai-shek refugiou-se, com o resto de seu governo, em Taiwan, onde declarou Taipé a capital provisória da República da China e afirmou seu propósito de reconquistar a China continental.
Liu Shaoqi foi indicado por Mao para a presidência do país em 1959. Ele conduziu uma reestruturação económica da China, mas, por desavenças com Mao, foi destituído durante a Revolução Cultural em 1968
Quando a Revolução Cultural ficou fora de controle, a autoridade de Mao diminuiu. Os seus principais colaboradores -a sua terceira esposa Jiang Qing e  Lin Biao -foram manipulando a turbulência glorificando Mao a um status divino, ignorando algumas de suas diretrizes. Havia pessoas que lançavam granizo em Mao com o significado “Viva por muito tempo por dez mil anos", uma antiga tradição feudal reservada para imperadores. A situação caótica criada pela Guarda Vermelha foi muito além do que a liderança do partido previa e, em janeiro de 1967, Mao tentou atuar de forma a  impedir os excessos. Isso permitiu a Lin Biao ganhar o controle do partido para se  tornar o possível sucessor de Mao.
No entanto, a aparente vitória de Lin Biao seria muito curta. Embora o IX Congresso confirmasse a liderança absoluta de Mao e a condição de Lin como sucessor, a adulação extrema deste último provocou a desconfiança de Mao, que via na atitude de Lin um simples interesse de tomar o poder. Mao retirou a sua confiança a Lin Biao, e este chegou a promover dois golpes de Estado. Após ser descoberto na segunda tentativa de golpe, Lin Biao tentou fugir para Moscovo. Morreu na fuga  quando, segundo a versão oficial, o avião se despenhou na  Mongólia, 
Já muito doente Mao  nomeou seu sucessor Hua Guofeng, Perante  a impotência do Bando dos Quatro, Hua foi aprovado como o sucessor de MaoTse-tung. Após morte de Mao a ausência de mecanismos formais de sucessão abriram uma luta de poder entre Hua Guofeng e o Bando dos Quatro. Hua sabia que Jiang Qing e os outros quatro queriam relegá-lo e tomar o poder. Para fazer isso, tinham o controle da mídia. No entanto, Hua sabendo que o exército e grandes segmentos do partido e da sociedade desconfiavam de Jiang e seus três colaboradores,  lançou um ataque para consolidar o seu poder. Em1976, os quatro foram convocados para uma reunião na sede do Politburo. A reunião foi na verdade uma armadilha para detê-los. Wang Hongwen resistiu  mas acabou por ser detido. Depois de Wang, chegaram Zhang Chunqiao e Yao Wenyuan, que foram imediatamente presos. Jiang Qing foi presa no seu próprio quarto.   Hua Guofeng foi assim consolidado no poder.
Entre 1988 e 1993 governou a China Yang Shangkun, mas realmente quem liderava era  Deng Xiaoping, mesmo não sendo o presidente de direito.  Os acontecimentos em Tiananmen ocorreram neste período (em  1989). Em 1993 Shangkun  deixou o cargo após desavenças com, Deng Xiaoping. Sucedeu-lhe   Jiang Zemin  (1993-2003) e posteriormente  Hu Jintao (2003-2012) Desde 2013 a China é governada por Xi Jinping conjuntamente  com  uma assembleia nacional . O país continua a pretender ser uma república popular comunista mas o que   se torna evidente pode ser  traduzido pela fórmula “um país, dois sistemas” que Deng Xiaoping começou a implementar em 1977. Atualmente  a China  tem  um  dos maiores crescimentos económicos do mundo.

No pouco que visitei  face à imensidão do país, pude constatar um nível elevado nomeadamente no  que respeita a vias de comunicação, ao arranjo das cidades ( existência de zonas verdes, respeito pelos lugares históricos, edifícios com muita qualidade), à hotelaria e restauração, ao turismo interno (a esmagadora maioria dos turistas são chineses), aos transportes públicos.

A descoberta da China pelos europeus

O "Tratado das cousas da China", publicado em 1569, por Frei Gaspar da Cruz foi a primeira obra completa sobre a China e a Dinastia Ming publicada na Europa, desde Marco Polo. Incluindo informações sobre a geografia, províncias, realeza, funcionários, burocracia, transportes, arquitetura, agricultura, artesanato, assuntos comerciais, de vestuário, costumes religiosos e sociais, música e instrumentos, escrita, educação e justiça veio influenciar a  imagem que os europeus tinham da China(...)
Jorge Álvares foi  o primeiro europeu a aportar à China, na Ilha de Lintin, no estuário do Rio das Pérolas, em  1513. Em 1517 o mercador português Fernão Pires de Andrade estabelece o primeiro contato comercial moderno com os chineses no estuário do Rio das Pérolas e depois em Cantão (Guangzhou). Em 1542 Fernão Mendes Pinto é um dos primeiros europeus a chegar ao Japão após uma viagem através de Sumatra, na Malásia, ao Reino do Sião (Tailândia), China, possivelmente na Coreia e Cochinchina (Vietname).  Em inícios de 1606 Bento de Góis chegou a Sochaw junto da Muralha da China). Góis provou assim que o reino de Catai e o reino da China eram afinal o mesmo, tal como a cidade de Khambalaik, de Marco Polo, era a cidade de Pequim. Em 1610 chegou à China o Padre Manuel Dias (Yang Ma-No),missionário jesuíta, que chegaria a Pequim em 1613. Apenas três anos após Galileu ter divulgado o primeiro telescópio, Manuel Dias divulgou os seus princípios e funcionamento pela primeira vez na China. Em 1615 foi autor da obra Tian Wen Lüe (Explicatio Sphaerae Coelestis), que apresenta os mais avançados conhecimentos astronómicos europeus da época na forma de perguntas e respostas às questões postas pelos chineses.
Em 1672 chegou a Macau Tomás Pereira, que viveu na China até à sua morte em 1708. Foi apresentado ao imperador Kangxi pelo colega jesuíta Ferdinand Verbiest. Astrónomo, geógrafo e principalmente músico, foi autor de um tratado sob a música europeia traduzido para Chinês, responsável pela criação dos nomes chineses para os termos técnicos musicais do Ocidente, muitos dos quais usados ainda hoje.
Em 1614  é publicada a  "Peregrinação" de Fernão Mendes Pinto, o livro português de literatura de viagem mais traduzido e famoso.

Guerras do ópio

Desde há muito que produtos chineses como a seda, porcelanas e chá se vendiam  facilmente no Ocidente, mas era difícil escoar os produtos da Europa industrializada no mercado chinês, que continuava praticamente fechado. Para inverter esse défice comercial, difundiu-se na China o ópio, um esforço conduzido sobretudo pela Inglaterra (que o trazia da Índia), o que veio a originar as guerras do ópio (primeira fase: 1839–1842; segunda fase: 1856–1860). A China importava ópio apenas para uso medicinal, mas as grandes quantidades que passaram a entrar através de Macau e Hong-Kong levaram a excessos de consumo, atingindo todas as camadas da população. A China perdia assim enormes quantidades de prata para pagar as importações de ópio, decretando a sua proibição, o que acabaria por levar a Inglaterra a declarar-lhe guerra. A superioridade tecnológica e naval britânica ditou a destruição dos obsoletos juncos chineses. Em 1861 o imperador japonês,  homem evoluído, manda jovens para Inglaterra  a fim de  aprenderem a tecnologia ali usada  e tenta  a dominar a China, nomeadamente Hong Kong  que viria a ser  ocupado pelos ingleses em 1898. A paz chegou com a assinatura do Tratado de Nanquim, que permitiu a abertura de vários portos aos ingleses (incluindo Xangai e Ningbo), passando ainda a ilha de Hong-Kong para o poder britânico até 1997.



Caracteres chineses

Os  carateres chineses(sinogramas) representam uma ideia completa e não um único som como o nosso alfabeto
Assim, através da escrita, um falante de mandarim pode comunicar com um falante de cantonês, embora os dialetos sejam mutuamente ininteligíveis. Aliás na China há uma enorme variedade de dialectos, pelo que a escrita tem sido um símbolo de unidade cultural .
Numa tentativa para melhorar o nível de literacia entre a população, o governo chinês, nas décadas de 1950 e 1960, promoveu a simplificação de muitos caracteres, através de uma diminuição do número de traços.



4 comentários:

  1. Excelente lição de História, Regina.
    Não sei o que se está passando na China, mas fiquei contente com o progresso que a Regina encontrou.
    Outra coisa que também me impressionou foi "o acordo ortográfico" que veio simplificar a escrita para melhorar o nível de literacia.
    Obrigada Regina por tanta informação.
    Um beijo.

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    1. Obrigada Graciete. Eu vi apenas uma pequena faixa da China mas creio que ainda há muitas bolsas de pobreza no interior
      Um gd beijo
      Regina

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  2. Acho que há realmente muitas bolsas de pobreza lá para o interior e desigualdades que chocam. Espero, no entanto, que algo se faça para modificar e melhorar essas situações . Será difícil num País tão grande, mas não impossível, creio eu.
    Mais um abraço.

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  3. Consegui finalmente arranjar coragem para ler este tratado sobre a China, ao som da Apassionata tocada por um pianista chinês, Lang-Lang. Coincidência!! Estava a tocar no Brava HD, que subscrevi e vale muito a pena, pois apresenta música clássica em directo.
    Vi O Ultimo Imperador e impressionou-me muitíssimo na altura. Gostava de saber mais coisas sobre o que viste, impressões tuas....

    Obrigada.
    Bjo

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