Após
o aniversário do Miguel regressámos à aldeia. Ainda não tínhamos saído para o
campo e ficámos desolados com o abandono em que encontrámos as propriedades. Já
de há muito que as pessoas deixaram de cuidar. Apenas tratam as oliveiras, por
causa dos subsídios. Tudo o resto é deixado a monte. O mato cresce e é “pasto”
para as chamas. Por isso ardeu o amendoal na Adeganha, como referi na mensagem
anterior. Mas este ano, o desleixo agravou-se com a pandemia, a ponto de não
conseguirmos entrar numa propriedade tal era o matagal de silvas. Pensar quanto
ali investiram e trabalharam, avós, bisavós…
Na
aldeia reside uma comunidade búlgara, mas dedicam-se essencialmente a trabalhos
sazonais (apanha de amêndoa, azeitona, cereja). Não gostam de trabalhar o
campo, aliás tarefa árdua porque muitos terrenos não permitem o uso das
máquinas.
O
prazer que outrora tínhamos em passear pelo campo, ir colher fruta, etc, deu
lugar a um sentimento de tristeza. O meu marido particamente não saiu de casa.
Eu passeava ao fim do dia pelos caminhos (muitos deles praticamente intransitáveis)
geralmente acompanhada por uma familiar afastada, Isabel, de quem já aqui tenho
falado e que tem um percurso de vida
interessante. Com formação em teatro e em restauro, viveu largos anos em França.
Decidiu regressar à aldeia da família do avô paterno (com quem passou parte da
infância), após a morte do marido, .Laurent de Gouvion Saint-Cyr (descendente do marquês
homónimo), expert em
arte, autor de Le
romantisme dans l'art du XIX° siecle e de vários outros livros )
https://www.google.com/search?q=laurent+de+gouvion-saint-cyr+Le+romantisme+dans+l%27art+du+XIX%C2%B0+siecle&rlz=1C1PRFI_enPT788PT788&biw=1366&bih=625&sxsrf=ALeKk02S1F76fAkRyej1yGqUKQZoUcPRDg:1602867271586&tbm=isch&source=iu&ictx=1&fir=o9nnf7YNl65kBM%252CAUkqWuIWjYpFjM%252C_&vet=1&usg=AI4_-kRDaJRTEw4-i18e0MQxnafCTSIZZQ&sa=X&ved=2ahUKEwivz-DyybnsAhUC0uAKHd4FDpEQ9QF6BAgKEAg#imgrc=o9nnf7YNl65kBM
Isabel
está a restaurar duas casas e cuida de uma propriedade sua, com horta e árvores
de fruta.
Tem
uma burra que trouxe de França (era pertença dela e do marido), mas como os
tempos são outros, dispõe também de outros meios de deslocação, deste a moto… ao
automóvel
Mas
dizia que, ao fim do dia, caminhava geralmente na sua companhia. Quer ao longo
das caminhadas, quer do terraço de minha casa, pude desfrutar de vários
pores-do- sol

Ao
longo do dia, fazia duas sessões de hidroterapia na minha “piscininha” adaptação de um ex-lagar de vinho.
A
par disso dediquei-me a uma “empreitada” que já tinha começado há bastante
tempo
Familiares brasileiros, pelo lado da
minha mãe, de há muito manifestavam vontade de saber um pouco sobre as suas
raízes. Como descendem essencialmente de Anadia (Moita) e o PORTAL DE PESQUISA DO ARQUIVO de aveiro, https://digitarq aveiro, está muito bem organizado, em 2016, iniciei a
construção de uma “árvore genealógica”, pesquisando digitalizações de batismos, casamentos
e óbitos, conseguidas a partir dos “LIVROS DE ASSENTO PAROQUIAIS, de 1565 a
1911, em Moita Anadia. Para além dos dados da DIGITARQ, contribuíram outros
dados, alguns retidos na memória, de conversas com a minha mãe, que durante
parte da infância e adolescência, viveu com a família de um irmão da mãe, o tio
Adelino. Alguns desses dados eram desconhecidos de vários elementos da família.
Se
até princípios do século XIX, a pesquisa nos arquivos foi tarefa morosa, mas
relativamente fácil, daí para trás começou a tornar-se difícil e cada vez mais
morosa por várias razões:
1- Alguns párocos deveriam ter uma
instrução muito básica, pelo que a letra é um conjunto de gatafunhos pouco
legíveis e escrevem com muitos erros. Mesmo quando escrevem bem, a letra por vezes
é muito “rebuscada” o que torna a leitura quase impossível. Por exemplo, há
apelidos (Miz, Roiz, Diz, Pais, Reis, ?) cuja grafia tenho dificuldade em
decifrar
2- Os nomes, quase sempre os mesmos,
José Gomez Santhiago, Manuel Gomez Santhiago, António Gomez Santhiago, Luís
Gomez Santhiago, repetem-se, não só em sucessivas gerações, mas também em
primos duma mesma geração
3- Em alguns dos livros há várias
páginas esborratadas, completamente ilegíveis, provavelmente por terem apanhado
água
4- Por vezes a ordem dos apelidos é trocada (Santhiago Gomez em vez de Gomez Santhiago),
ou cai um deles (fica só Gomez ou só Santhiago). Santiagho aparece geralmente
com h, mas nem sempre, tal como Gomez, por vezes termina em s Num documento de
1758, Manuel Gomes Santiago assina apenas Manuel Gomes
5-Registos anteriores a
1700 são genericamente do tipo: “aos…dias
…do mês de….de 15…., nasceu uma criança do sexo masculino, a quem
puseram o nome Manoel, filho de Manoel e Maria..
Com os dados e com fotografias
que consegui juntar, escrevi um opúsculo com algumas das ligações de família
até 1702. Nessa data o registo que encontro é Manoel Gomez Santhiago filho de
Manoel e Maria. A partir daqui os dados anteriores não me merecem grande confiança.
Apenas consegui inferir que descendemos
de uma família Gomez e de uma família Miz (Martins) ambas de Anadia, dado que
aparecem referenciados na Moita
-Aos 5 dias de… de 1571, foi batizada Lianor Filha de Ayres
Gomez e de sua mulher Dona Lianor e foram padrinhos …Miz e sua mulher Dona
Violante
Esta ligação da família Gomez à família Miz manteve-se
ao longo dos tempos. O meu bisavô, Manoel Gomes Santiago, casou com uma senhora cujo
pai tinha por apelido Miz
No
dia 30 de setembro, a minha prima, que agora reside no Porto com o marido e a
filha, fez 50 anos, pelo que me empenhei arduamente em conseguir o maior número
de dados para construir um opúsculo sobre as nossa raízes. É esse o seu título

Consegui
que “Raízes” ficasse pronto a tempo (embora incompleto pois as pesquisas agora serão
muito mais difíceis como já referi). Aliás na aldeia avancei pouco por
dificuldades em aceder à NET
Durante
o período que passei na aldeia, não sendo aconselhável reunir muita gente em
simultâneo, recebi “visitas” por 3 vezes, O meu filho Nuno com os dois filhos,
depois a minha prima, o marido e a filha e por fim o meu filho Miguel, a mulher
e o meu neto Bernardo ( a Rita não pôde ir).
Não
houve a alegria dos demais anos, com toda a família junta, não houve a habitual
escapadinha a Espanha donde vieram antepassados meus pelo lado paterno, tal
como não houve o nosso habitual teatro….
Dessas
“visitas” de familiares deixo algumas fotos
A jantar no terraço com o Nuno e os filhos
No terraço após o pequeno almoço
Preparando a charrete e a burra ( que acima referi a propósito da Isabel) para dar um passeio



Subindo a um poste de observação cuja função ninguém me soube explicar ao certo (observação de pássaros, alerta de incêndios?)
Almoçando com os meus primos
A visita do meu filho Miguel foi tão breve que nos esquecemos de tirar fotos.
A seguir a essa visita, regressámos ao Porto