Bem-vindo, bienvenido, bienvenu, benvenuto, welcome....


Silêncio cósmico

Pudera eu regressar ao silêncio infinito,

ao cosmos de onde vim.

No espaço interestelar, vazio, negro, frio,

havia de soltar um grito bem profundo

e assim exorcizar todas as dores do mundo.

Regina Gouveia

NOVO BLOGUE

Retomei o blogue que já não usava há anos.

https://reflexoeseinterferncias.blogspot.com/

Dedico-o essencialmente aos mais novos mas todos serão bem vindos, muito em particular pais, avós, encarregados de educação, educadores ...


terça-feira, 2 de junho de 2020

Tomado de empréstimo…



Já por mais que uma vez fiz referência ao site https://www.correiodoporto.pt/

Hoje, navegando pelo mesmo encontrei este texto de José Barbedo, ilustrado por Dacosta que partilho convosco

A Peste e o Posto Ipiranga                2 Abril 2020

Que a desordem e instabilidade sistémica constituíram a base material do projeto de poder de Bolsonaro já tinha sido aqui escrito.
O APELO de Bolsonaro ao “retorno à normalidade” no momento em que os casos de Covid 19 disparavam no Brasil, deixa uma pergunta no ar: quais serão no final das contas, os efeitos da pandemia no seu governo?
Nas redes sociais, as suas declarações sobre o novo vírus viraram anedota pública, e o twitter chegou a tomar a decisão inédita de bloquear vídeos publicados por um Presidente da República. No Congresso, perdeu base política na confrontação com Governadores e segmentos mais conservadores. Mas para a ala neoliberal do seu governo, a agudização da crise pode ser vista como uma oportunidade.
Aos milhões de brasileiros que vivem em condições sanitárias de vulnerabilidade extrema, Bolsonaro respondeu que “brasileiro pula em esgoto e não acontece nada”. Com a mesma negligência, o Presidente negou a necessidade de encerrar escolas, autorizou atividades religiosas e lotéricas durante a quarentena, e chegou a encomendar uma campanha publicitária com o slogan “o Brasil não pode parar”.
Para o político que louva a memória de torturadores em plena assembleia nacional, o sofrimento de centenas de milhares de brasileiros não passa de um mal menor face aos imperativos económicos que representa. Afinal quem vai pagar a fatura mais alta, são tudo o que a extrema direita não precisa: velhos, pobres, presos e índios.
Mais importante para o executivo deste governo, a pandemia pode gerar o contexto ideal para a imposição da sua agenda de privações, flexibilização de leis laborais e liberalização do garimpo em terras indígenas, entre outras atividades e medidas “urgentes” para alavancar os meios financeiros da terapia de choque¹ que se segue.
Que a desordem e instabilidade sistémica constituíram a base material do projeto de poder de Bolsonaro já tinha sido aqui escrito. Agora, o Estado de Calamidade Pública que se anuncia pode ser a carta branca que o seu “Posto Ipiranga” precisa para vender o que resta do Brasil.
Texto de José Barbedo e ilustração de Dacosta

E  veio-me à mente o  Poema das Coisas de António Gedeão 
Amo o espaço e o lugar, e as coisas que não falam.
O estar ali, o ser de certo modo,
o saber-se como é, onde é que está e como,
o aguardar sem pressa, e atender-nos
da forma necessária.

Serenas em si mesmas, sempre iguais a si próprias,
esperam as coisas que o desespero as busque.

Abre-se a porta e o próprio ar nos fala.
As cortinas de rede, exactamente aquelas,
a cadeira onde a memória está sentada,
a mesa, o copo, a chávena, o relógio,
o móvel onde alguém permanece encostado
sem volume e sem tempo,
nós próprios, quando os olhos indignados
nas pálpebras se encobrem.

Põe-se a pedra na mão, e a pedra pesa,
pesa connosco, forma um corpo inteiro

Fecha-se a mão, e a mão toma-lhe a forma,
conhece a pedra, entende-lhe o feitio,
sente-a macia ou áspera, e sabe em que lugares.
Abre-se a mão, e a mesma pedra avulta.

Se fosse o amor dos homens
quando se abrisse a mão já lá não estava.




2 comentários:

  1. Gostei de ler aqui este poema de António Gedeão.
    Uma boa semana com muita saúde.
    Um beijo.

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  2. Conheci pessoalmente Rómulo de Carvalho, em 1970. Fez parte do júri do meu Exame de Estado. Depois, como orientadora de estágio, tive várias reuniões em que RC estava presente. Era uma pessoa um pouco distante e ue era muito tímida. Nunca tive coragem de lhe pedir que me autografasse os vários livros da coleção "Ciência para gente nova" nem as Poesias Completas" de António Gedeão, de que tenho a Primeira Edição. Gosto imenso da poesia de AG.
    Bjs

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