Eterno verão
o Sol inicia, ledo, a caminhada rumo a poente,
derramando sombras protetoras pelo chão.
Um azul límpido veste o céu imenso,
onde nuvens breves esvoaçam, dolentes.
Avança o dia.
O Sol é abrasador, as sombras mínimas.
Tudo fica envolto em densa lassidão
que nem chilreios de aves,
nem o zumbir de insectos ousam enfrentar.
Indiferente, o Sol prossegue a caminhada,
num espaço prenhe de cálidos silêncios.
Entardece.
Tímida, a brisa esvoaça agora, difundindo múltiplos aromas.
Ao lado da casa, o perfume da velha tília adeja lento, no ar.
Vagarosamente vão crescendo as sombras.
Zumbidos, chilreios, balidos e vozes lentas,
vão abrindo clareiras na tarde silente.
Por vezes, durante a caminhada,
Eolo e Zeus acompanham Apolo.
Irrompem ventos, chuvas, raios e trovões.
Depois tudo se acalma
e o cheiro a terra molhada dulcifica o ar.
A caminhada aproxima-se do fim.
Despede-se o Sol, agora rubro,
espargindo de oiro e sangue o horizonte.
O tempo tudo acompanha, sobranceiro.
Voraz, em breve engolirá o verão
a que outros se sucederão, ano após ano.
Enquanto espero pelo próximo, invento-o
a partir das múltiplas imagens
e da miríade de sons e aromas, gravados na mente.
Eis o meu artifício
para que o verão dure eternamente.
[1] Segundo várias fontes o poema será da autoria de Vivaldi.
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