https://www.youtube.com/watch?v=_3H5JbkPXpw
segunda-feira, 22 de janeiro de 2018
Em boa companhia...
A
bursite trocantérica, que me serve de companhia (má companhia, é
óbvio) há cerca de 2 meses e me tem obrigado a fazer uma panóplia
de tratamentos (infiltrações, fisioterapia, eletroterapia….)
tem-me deixado mais tempo tempo livre para outras companhias mas,
desta vez, fantásticas… Refiro-me à literatura e à música.
Desde
que adocei já li e /ou reli vários livros. Um deles
foi-me oferecido pelo meu filho mais velho, já depois de detetado o
meu problema. Trata-se do livro O
bebedor de Horizontes,
livro três da Trilogia As
areias do Imperador,
de Mia Couto. Sabendo que é um autor de que gosto muito,
ofereceu-mo autografado.
O
ouro foi A
guerra do fim do mundo
de Vargas Llosa que o meu marido me ofereceu no meu aniversário, em
Outubro. Como é enorme, tinha reservado a sua leitura para quando
dispusesse de muito tempo.. É muito interessante e simultaneamente
chocante.
O
mesmo acontece com o livro O
Grito Silenciado
de
Ana Torjada que, no Natal, ofereci ao meu marido, que ainda não teve
oportunidade de o ler.
Em
Agosto de 2000, Ana Torjada e duas companheiras deslocaram-se ao Afeganistão e
ao Paquistão. Puderam observar no terreno a situação dos
refugiados afegãos no Paquistão( a miséria, a exploração
laboral, o trabalho infantil e a quase inexistente ajuda
internacional). No Afeganistão, nomeadamente em Cabul,
constataram de perto a repressão taliban. Puderam também testemunhar a
luta clandestina de muitas pessoas que põem em risco a própria vida, usando as armas da educação, da cultura e da tolerância.
A
leitura deste livro levou-me a reler Pensatempos de Mia Couto.
Neste
momento estou a reler Umberto
Ecco, A
Misteriosa Chama da Rainha Loana
Quanto
à música, tenho ouvido a antena 2 e não só. Recebi um mail sobre
o Theremin, instrumento de que, confesso a minha ignorância, nunca
ouvira falar, apesar de ser um dos primeiros instrumentos totalmente
eletrónicos, logo uma dos “prodígios” da Física…
Em
plena Guerra Civil Russa, Léon Theremin andava às voltas com uma
investigação patrocinada pelo governo russo em sensores de
proximidade. Basicamente era um estudo sobre as interferências das
mãos nos transmissores radiofónicos que alteravam as frequências e
prejudicavam irritantemente as comunicações. Certamente dotado de
uma sensibilidade fora do comum, Theremin foi rodeado pela
beleza sonora quase surreal que advinha de tão incómoda
interferência. Tinha à sua frente dois osciladores (basicamente
duas antenas de metal) de alta frequência por onde circulava a
invisível corrente eléctrica, e quando aproximava a mão de uma das
antenas, ao alterar a sua frequência, surgia misterioso e
infinitamente belo este som que o percorria, como um arrepio pela
coluna, como uma corrente leve e agradável. Reparou entretanto que
com uma mão conseguia controlar a frequência e com a outra a
amplitude, ou volume. Foi então que decidiu amplificar estes sons
novíssimos e ligar o instrumento a uma coluna. Aí deu-se o êxtase.
O orgasmo sonoro.
Se
Deus ou Deuses ou Anjos ou Diabos tocassem um instrumento musical,
esse instrumento seria, sem dúvida, o Theremin. Apoteótico,
reveste-se de um som etéreo, capaz de invadir o corpo, capaz de
estilhaçar a alma. É mágico. Um instrumento musical que não se
toca. Ou que se toca sem se tocar. O instrumentista do theremin,
o theremista,
assemelha-se a um maestro sem batuta, a comandar uma orquestra
invisível, a embriagar o ouvinte com éter. O theremin soa como o
vento na frincha da janela, como o canto hipnótico de uma sereia,
como a presença invisível de um
fantasma.
Aqui podemos ver Léon Theremin tocando o “theremin”
https://www.youtube.com/watch?v=_3H5JbkPXpw
https://www.youtube.com/watch?v=_3H5JbkPXpw
Aqui
temos a theremista Clara
Rockmore interpretando The
Swan
de Saint-Saëns
https://www.youtube.com/watch?v=pSzTPGlNa5U
Mais duas interpretações usando o theremin O
Mio Babbino Caro
de Puccini e
Over
The Rainbow
É
por demais sabido como a música ativa o cérebro. A esse propósito
deixo mais um vídeo
E
porque falei de literatura e música deixo alguns poemas meus
Pastoral
Ainda
hoje não sei se apenas o sonhei ou foi real.
A
orquestra tocava a Pastoral e eu, comovida, aplaudia.
Pareceu-me
ver que estremecia a flor que eu usava na lapela.
Creio
que também ela se comovia.
Ou
então seria por causa da tal da ressonância.
Sei
que a minha mente era toda ela sinfonia e fragrância.
Ao
allegro seguia-se o andante e mais adiante
um
outro allegro, a tempestade - Beethoven, a genialidade.
O
som crescia, enchia todo o ar, e, de repente,
um
dos violinos pareceu-me ser um querubim
não
sei se aquele do canto do jardim
se
o outro, na capela à direita no altar.
Pareceu-me
que eu estava a flutuar
e
que a orquestra tocava a Pastoral só para mim.
Ainda
hoje não sei se tudo isto eu sonhei
ou
se foi mesmo assim tudo real.
(in
Reflexões e Interferências, 2002)
Acordes
Que
acordes são estes que subtis irrompem no meu espaço-tempo?
De
onde vêm estes sons que me transportam
a
outra dimensão no cosmos infinito?
Presto
assai, allegro moderato, andante lento -
sinfonia
que vem do alfa e vai em direção a um ómega ignoto,
difundida
por entre as estrelas, a propagar-se na matéria escura
talvez
vinda dum tempo remoto, em que ainda não havia tempo,
talvez
ainda antes da criação do mundo,
quem
sabe transportada pela radiação de fundo.
Na
noite calma, embala-me esta música que não identifico,
e
onde, entre um tanger de cítaras e harpas, se impõe sublime, um
violino
Acordo,
deixo o cosmos etéreo, esfuma-se o som divino.
O
som que escuto agora é bem real. Apenas um bater de coração
aflito.
In
“Poemas no espaço tempo (2013)
(…)
Que no entanto o rio nos iluda, com sua eterna melopeia aguda.
David Mourão-Ferreira.
Pastoral
de Beethoven, 6ªsinfonia em fá maior.
Allegro
ma non troppo, Andante molto mosso,
Allegro,
Allegro, Allegretto.
Flautas,
oboés e clarinetes, fagotes, trompas e trompetes,
tímpanos,
violoncelos, contrabaixos, violas, violinos.
A
música, como se fora um rio,
ora
doce, ora revolto.
E
o rio, a fluir, compondo hinos.
In
Entre margens (2013)
Salpicos
de sangue em mar de tons verdes,
as
papoilas de Monet
derramam
acordes na sonata nº 5 de Beethoven.
A
noite apagou o Sol que ateou
as
searas de Van Gogh.
Enleiam-se
sonhos nos acordes de Mendelssohn.
Vestiu-se
em tons de ocre e ferrugem
a
vinha de Malhoa,
prima
dona no concerto em fá maior de Vivaldi.
Árvores
desnudas dançam, lânguidas,
nas
telas nevadas de Sisley.
Sopram
os ventos de inverno de Chopin.
In
Quando o mel escorre nas searas (2016)
Mudo,
o piano a carecer de afinação.
Outrora,
mãos virtuosas
faziam
escorrer do teclado
suites,
tocatas, fugas,noturnos de Chopin, sonatas de Schubert.
O
ar ficava impregnado de azul, madressilva e mel.
In
Quando o mel escorre nas searas (2016)
Mussorsky
Em
tons laranja, ocre e pastel,
a
grande porta de Kiev,
que
Hartmann esboçou,
não
passou da tela e do papel.
Mussorsky
imortalizou-a numa partitura.
Sob
a batuta de Gustav Dudamel,
os
acordes gravados a laser no CD
flutuam
no ar.
Pela
janela entra a luz crepuscular
e
a sala inunda-se de uma claridade
rósea
e leda.
In
Quando o mistério se dilui na penumbra (2017)
Schöenberg
Estrelas
bordam a ouro um firmamento de breu.
No
silêncio da noite, o lúgubre piar de uma coruja.
Sinal
de agouro, morte...
O
vento norte sopra dolente e frio.
Os
ramos das árvores oscilam languidamente,
evocando
sofrimento e dor.
Ao
longe flutua uma melopeia
que
se insinua no ar.
De
início fria, violenta e dissonante,
vai-se
transformando lentamente.
Sob
os acordes de Schoenberg
tudo
se transfigura.
No
outro lado da noite adormeceu o vento
e
já não se ouve o piar agoirento.
In
Quando mistério se dilui na penumbra, 2017
Quando
Kandinsky assistiu a um concerto de Arnold Schönberg, em 1911, ficou
impressionado com a ordem musical atonal e alógica composta pelo
músico. O quadro Impressão
III (Concerto) foi
pintado a partir das sensações ao ouvir o referido concerto.
A este propósito, incluo o vídeo anexo
Termino com o texto anexo, interessantíssimo, que pode ser lido no site anteriormente citado
The
early years of the 20th Century signed a terrific advance in the
Physical Sciences. The Special (1905) and General (1916) Theories of
Relativity and the advent of Quantum Mechanics (1926) changed our
lives profoundly. Around the same years, a similar revolution took
place in both Music and Art. The year 1909 marks a decisive break
with tonality (the structure of classical music) by Arnold Schönberg
in his "Three Piano Pieces". The term 'Atonality' is
commonly used to express this new type of composition. Wassily
Kandinsky is credited with painting the first 'purely abstract'
works. His production is vast and I could only include 20 of his
works here, selected from a period of time that overlaps with the
musical pieces by Schönberg presented in this video. They knew each
other and have possibly influenced their works reciprocally. The
video is an attempt to evince this intriguing 'connection' between
music and painting.
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