Aqui uma entrevista onde o autor nos fala desse livro
sexta-feira, 1 de dezembro de 2017
A poesia “clara, límpida, diamantina” de Manuel Alegre
"A
poesia dele é clara,
límpida, diamantina, atravessa todas as camadas sociais, toda a
gente a entende perfeitamente",
foi assim que Lídia Jorge se
referiu à poesia de Manuel Alegre, aquando da atribuição do Prémio
Camões, em Junho passado. Afirmou
ainda
que, ao
saber
da notícia, pensou que o prémio lhe
era atribuído pela segunda vez pois
já há muito tempo o deveria
ter
recebido.
Ora,
no passado dia 22, a
Universidade de Pádua, atribuiu ao português Manuel Alegre um
Doutoramento Honoris Causa. Do
seu discurso, aquando
da
cerimónia, que
pode ser lido aqui, transcrevo
alguns excertos
.
(...)Ninguém
está fora do espaço e do tempo. Ninguém está fora da história. A
escrita e a vida são inseparáveis. A liberdade, afirmou o mexicano
Octávio Paz, “não é uma filosofia e nem sequer uma ideia, é um
movimento de consciência que nos leva em certos momentos, a
pronunciar dois monossílabos: Sim e Não.” A minha
circunstância levou-me a dizer não, e a dizê-lo em verso,
segundo um certo ritmo, uma certa toada, uma certa correspondência
de sons e imagens. Não por qualquer intenção programática,
mas por um impulso, uma energia, uma irresistível confiança na
força da palavra poética. Apesar da idade e dos desenganos,
mantenho, hoje como sempre, a mesma confiança na força libertadora
da palavra. Concordo com Octávio Paz: “A actividade poética é
revolucionária por natureza; exercício espiritual, é um método da
libertação interior.”
Creio que o ritmo da escrita é
inseparável do ritmo da terra e das marés. Está antes da palavra e
a a palavra cantada ou dançada está antes da palavra escrita. Como
o poeta português Teixeira de Pascoaes, eu creio que “a poesia
nasceu da dança e que o ritmo é a substância das coisas.” Como
ele estou convencido que “a palavra liberta e cria: é a própria
terra do Outro Mundo.”
(...)Segundo
Nadejda Mandelstam, viúva do grande poeta russo, “em certas
épocas, só a palavra poética, pela sua natureza cósmica, é capaz
de apreender a realidade.” Por seu lado, para Rainer Maria Rilke
“os versos não são feitos com sentimentos” e “…para
escrever um só verso é preciso ter visto muitas cidades, muitos
homens e muitas coisas. É preciso lembrar caminhos em regiões
desconhecidas, encontros inesperados e despedidas há muito
previstas.” Tudo isso é vida e de tudo se faz o poema.
(...)Tenho por vezes a sensação de ter vivido
várias vidas numa só vida e de ter sido várias pessoas na mesma
pessoa. Conheci os momentos extremos: guerra, prisão política,
exílio. Mas também tive o privilégio de alegrias incomparáveis,
como a vitória da revolução dos cravos e a reconquista da
liberdade. Costumo dizer que a minha vida foi intensa, densa e tensa.
Talvez por isso os meus romances tenham um cunho autobiográfico. Não
posso dizer que tenha sido injustiçado. Recebi os principais prémios
literários da língua portuguesa. A República concedeu-me as mais
altas condecorações. Mas de todos os prémios o mais importante foi
o reconhecimento e carinho dos meus leitores.
Comecei
por conhecer a sua obra através das vozes de Zeca
Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Manuel Freire, Luís Cília…
Depois
comecei a adquirir os seus livros. Primeiro Praça
da Canção
e O
canto e as armas, depois vários outros, à medida que foram saindo. Muitos deles estão
autografados pelo autor mas
embora
goste da sua narrativa, aprecio
mais a
sua obra poética, de que gosto
imenso. E
nela incluo um livro que acho fabuloso- A terceira Rosa- que para mim
é prosa poética..
"Olá,
disseste. E a terra tremeu"
“A paixão passa e não passa”
Aqui uma entrevista onde o autor nos fala desse livro
Termino
com alguns poemas do autor.
Sei
que outros ventos outro mar
a
teoria das brumas e o teorema
daquela
ilha sempre por achar.
Seu
nome é Pico. E fica no poema
In
Escrito no mar (2007)
Na
velha casa passou um rio
passou
a cheia o tempo um arrepio.
Quem
eu chamo já não vem.
Tanto
quarto vazio
tanta
sala sem ninguém.
E
frio.
In
Doze naus (2007)
I
Coimbra
era um puro acontecer
uma
vivência de dentro um exercício
um
jogo de metáforas e sintaxes
ó
corpos cintilantes diante dos espelhos
cabelos
loiros sobre os ombros: cidade
por
nossas mãos perdida e reinventada.
Por
fim era um rumor de poesia
uma
frase uma prosódia uma palavra.
E
dessa redacção é que nascia
in
Combra nunca vista (2003)
Uma
árvore floriu por detrás da casa
Uma
árvore dentro de Março
Contra
a rotina
E
contra o espaço
Ela
só capaz de flor
E
golpe de asa
Deixai-me
a árvore
Por
detrás da casa
In
chegar aqui (1984)
Gosto
muito deste poema e lembrei-me muito dele nos últimos dias. Tenho
estado com uma bursite trocantéria que me tem limitado bastante.
Ontem fiz uma infiltração e melhorei um pouco mas...
continuo com dificuldade em caminhar
As
rimas em ar estão porventura a acabar...
Parabéns Manuel Alegre pelo reconhecimento mais que merecido e obrigada pela sua poesia que, tantas vezes, me tem servido de
alento ….
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Lindos os poemas.
ResponderEliminarO meu M. que não era nada alegre fez algumas assim e também ele era um homem de Coimbra...
Espero que a tua bursite vá passando, não te esforces demais, sabes que na nossa idade,há que caminhar, sem correr...
Bjo
No outro dia despedi-me dos meus discos vinis e um deles era do Adriano Correia de Oliveira, que o M. adorava, mais do que do Zeca Afonso. Também dei dois deste e ainda estou triste. Mas eles foram para o meu sobrinho que tem uma banda e é Músico. Estas canções fazem-me umas saudades enormes dos anos 60, do meu tempo de Coimbra por afinidade, nunca lá estudei, mas vibrei com todas as Queimas do M e fui lá muito quando estava na Beira Baixa. Era uma cidade alegre, airosa e com cantinhos românticos como o Porto. Lisboa não tem nada disso, na minha opinião.... :)
ResponderEliminarA minha bursite complicou-se um pouco. Fiz uma infiltração e melhorei. Continuo a tomar anti-inflamatórios mas, caso não melhor, terei que fazer mais infiltrações.
ResponderEliminarEu ainda não tive coragem para me desfazer de determinadas coisas, nomeadamente livros e discos. Mas vou ter que o fazer um dia.
Também a mim estas canções fazem saudades. Agora, que estou um pouco imobilizada, tenho tocado bastante (melhor, finjo que toco...) ukulele. E uma das canções que tenho tocado é precisamente a "Trova do vento que passa" a par de "Pensamento" e outras baladas de Coimbra
Ab
Regina