Até sempre amigo
quinta-feira, 17 de dezembro de 2015
É triste que a escola se preocupe sempre mais com a avaliação do que com o ensino...
É triste que a escola se preocupe sempre mais com a avaliação do que com o
ensino disse Manuel Rangel na última entrevista que deu à
Página da Educação
Professor
e diretor da escola Tangerina, Manuel Rangel morreu esta terça-feira,
após doença prolongada. A Tangerina, que a PÁGINA visitou
recentemente, é um projeto pedagógico que privilegia a participação
dos alunos na construção da aprendizagem. "Estamos muito mais
interessados nas perguntas dos miúdos do que nas respostas, e o
ensino preocupa-se muito mais com o contrário: a resposta, o
fechado, o tipificado, o estereotipado, o não questionar... É
triste que a escola se preocupe sempre mais com a avaliação do que
com o ensino. Aliás, pouco se ensina para tanto se avaliar. A Escola
devia estimular a linguagem, a expressão, o conhecimento, o
contacto, a experiência."
Para
ele, aprender e divertir eram
as palavras de ordem do projeto pedagógico a que se entregou. "É
um projeto central na minha vida. E continua a dar-me gozo vir aqui
todos os dias, reencontrar as crianças e pensar no que fazemos.
Tenho sempre uma grande inquietação, nunca estou satisfeito, mas
tenho um grande gozo nisto!" – assim terminou a entrevista.
Manuel Rangel foi meu aluno no então Liceu Alexandre Herculano. Integrava uma turma de 8º ano. Apesar de não ser muito mais velha que eles, nunca me criaram qualquer problema, bem pelo contrário, demo-nos sempre muito bem o que espantava alguns professores mais tradicionais que consideravam a turma muito problemática.
Encontrei-o em Aveiro,no primeiro dia de aulas do Mestrado e Supervisão, que ambos frequentámos na década de 90. Não o reconheci de imediato, mas face ao nome perguntei-lhe se tinha sido aluno no Alexandre Herculano. Mal fiz a pergunta, comentou.
Não me diga que foi minha professora de Física.
Então, perante outros colegas presentes, fez referência ao bom relacionamento que eu, apesar de jovem, tinha com a turma e concluiu:Ainda hoje, em encontros de alunos dessa turma, o seu nome surge sempre como o daquela professora que deixou marcas indeléveis em todos nós.
Trabalhámos muitas vezes juntos durante o ano curricular de Mestrado pois constituímos um grupo de trabalho, juntamente com mais dois colegas do Porto.
Quando posteriormente nos encontrávamos recordávamos os bons momentos passados quando nos reuníamos para trabalhar ou durante as viagens que sempre fizemos em conjunto.
Fui tomando conhecimento do seu percurso nomeadamente no que respeita à criação da escola Tangerina.
Quando foi lançado no Porto o meu livro Ciência para Meninos em Poemas Pequeninos, foi o Rangel que fez a presentação. Foi muito interessante pois ele "testou" o livro com as crianças da Tangerina e durante a apresentação foi mostrando comentários e desenhos que as mesmas fizeram.
Era um professor excecional.
Escreveu vários artigos para o Espaço Professor da Porto Editora. Um deles pode ser lido aqui
Em Junho de 2012 a Revista Pais e Filhos referia-se assim à escola Tangerina:
O
grande objectivo da escola é o desenvolvimento da autonomia –
moral, intelectual e funcional. Este é um dos princípios da escola
A Tangerina, no Porto, onde se vive o gozo de ensinar, aprender,
discutir e perguntar. O direito à participação é aqui praticado
desde os aspectos mais institucionais às mais pequenas atitudes.
«Tem a ver com o ouvir, com o dar voz, exprimir sentimentos,
opiniões, ter o direito de colaborar nas decisões ou na discussão
das coisas, fazer com e tomar parte de», resume Manuel Rangel,
director da instituição. A metodologia de trabalho por projectos
está no ADN da sua filosofia. «Em vez de trabalharmos o programa à
medida do que o professor quer ou seguindo a ordem do livro, vamos
muito atrás daquilo que as crianças querem trabalhar. Parecendo às
vezes insignificante ou folclórico, é decisivo do ponto de vista de
lhes dar voz», defende. Por isso, tanto estudam caracóis no
terceiro ano, como pintores abstractos na sala dos três anos.
«Cria-lhes uma relação totalmente diferente com o saber». Uma
limitação ao exercício do direito à participação nas escolas é
o facto dos professores se sentirem frágeis por não terem resposta
para tudo. Manuel Rangel considera que os adultos têm que basear a
sua segurança e autoridade em aspectos mais interessantes: «É
perceber que somos sobretudo um guia com imensa responsabilidade na
organização das situações. Eles põem-nos, de facto, perguntas
francamente embaraçantes. Mas francamente desafiantes! E, assim,
fartamo-nos de aprender uns com os outros». E acrescenta, com graça:
«Eles vão sempre descobrir que não sabemos tudo».
As
práticas participativas multiplicam-se: assembleias de sala
semanais, assembleias de escola mensais, definição em conjunto das
regras de cada sala. O garante das regras é sempre o adulto; não há
inversão de papéis - o professor não é um igual. «Mas tem a
obrigação de saber que é totalmente diferente fazer um conjunto de
regras de funcionamento da sala sendo ele a impor ou construi-las com
os próprios alunos», reforça o responsável pela Tangerina. As
crianças começam a perceber que aquilo que se passa (seja no grupo,
na sala de aula, na família, na escola, na sociedade) depende de
todos nós. É sua responsabilidade e querem participar porque lhes
diz respeito. Em reunião geral, mensalmente, todas as salas efectuam
pequenas apresentações dos trabalhos que estão a desenvolver. Para
tal, precisam de estudar, pesquisar, chegar a conclusões, saber
pegar nelas e apresentá-las em público. Esta divulgação dá
estatuto às suas vozes e ganham o hábito de perceber que o que as
crianças dizem é importante. Lições para a vida.
Foi com muita consternação que recebi a notícia da morte de Manuel Rangel. Deixa uma marca indelével na educação, que está de luto.
Até sempre amigo
Até sempre amigo
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Não parecem professora e aluno....é um orgulho termos alunos assim e sabermos o que fazem pelo mundo e pela educação....
ResponderEliminarÉ de facto muito gratificante. Eu nunca trocaria a minha profissão por qualquer outra e contigo passar-se-á provavelmente o mesmo
ResponderEliminarAb
Regina